Já terão passado mais de dez Natais desde aquela manhã em que, ao preparar-me para mais uma jornada de observação de aves no nosso estuário, logo ali no início da “Recta de Ofir” junto à margem esquerda do Cávado, subitamente me deparei com a terna imagem de uma jovem mãe acompanhada pela filha que experimentava as primeiras emoções dos preparativos para o culto da Árvore de Natal. Num olhar mais atento reparei que a progenitora, munida de serrote afiado, avaliava inocentemente e sem o devido critério a forma e a dimensão daqueles pinheirinhos que nos habituamos a ver crescer ladeando o principal acesso à nossa praia.
Então, ao perceber que a senhora se aprontava para desferir o golpe fatal na conífera que tinha elegido para lhe adornar o lar, não consegui conter um impulso quase herético e numa interjeição que me saiu da alma travei os movimentos ritmados da dita serra cuja lâmina já feria quase irremediavelmente a nossa personagem principal. Naquele instante ensaiei o meu primeiro e atrapalhado discurso ambientalista que inesperadamente resultou (!!!), ou seja, a minha interlocutora prestou-se ao aborrecimento de ouvir os meus fundamentos e seguiu a sugestão para que concluísse o corte da árvore, acima de dois ramos que, já bem robustos junto à base do tronco, foram poupados.
Em consequência deste “pequeno pormenor”, passo a redundância da expressão, aquela menina teve de igual modo um Natal devidamente decorado e manteve-se todo o potencial para a árvore, embora amputada, se desenvolver e contribuir para a harmonia daquele conjunto arbóreo – um dos mais belos postais deste “torrãozinho sem igual”. E, confesso, a partir daquele momento cultivei uma relação quase afectuosa com aquele pinheirinho que, no meu íntimo, comecei a chamar de “A Minha Árvore de Natal” e para a qual nunca mais deixei de olhar atentamente sempre que por ali passava, contemplando cada centímetro do seu crescimento. E sei que felizmente esta sensibilidade não me é exclusiva. Basta reparar nos briosos cuidados que a nossa autarquia e o Parque Natural dedicam àquele espaço que têm mantido arborizado “contra ventos e marés” (que é como quem diz, contra as cheias do Cávado e as habituais nortadas).
Contra ventos e marés … mas não contra … o egoísmo. Desculpem-me o palavrão, mas não encontro outro termo para adjectivar o cavalheiro que tem tido o descaramento de ano após ano, árvore após árvore, as decepar obviamente com o único propósito de desobstruir a panorâmica que julga ter “comprado” para seu exclusivo usufruto no momento em que adquiriu o luxuoso apartamento de amplas janelas voltadas para o Cávado espraiado.
Nem só de fortificações, castros, templos religiosos e outras edificações históricas se faz a memória colectiva de um povo. Tal como quando um qualquer pseudo-graffiter borra a superfície de um monumento o apelidamos de vândalo, importa indignarmo-nos com estes atentados contra o bem-comum que é o património natural que aprendemos a estimar e ao qual atribuímos múltiplos simbolismos e nos afeiçoámos desde as primeiras “aventuras” de infância.VOTOS DE UM NATAL EM PAZ E UM ANO NOVO PLENO DE SAÚDE





.jpg)

.jpg)
.jpg)

.jpg)













.jpg)
.jpg)


.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)





.jpg)


.jpg)
.jpg)
.jpg)


.jpg)



.jpg)
.jpg)

.jpg)

.jpg)
.jpg)


.jpg)


.jpg)
.jpg)

.jpg)



.jpg)
+Kuehneromyces+mutabilis.jpg)



.jpg)
.jpg)
.jpg)

.jpg)
.jpg)



.jpg)


.jpg)

.jpg)

.jpg)
