quinta-feira, 27 de agosto de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXV)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Aves Exóticas

Agora que está terminada a apresentação da extensa Ordem dos Passeriformes autóctones e ainda antes de regressar à Ordem dos Charadriiformes (quatro famílias do relevante grupo das limícolas), que propositadamente reservei para a conclusão deste estudo, farei uma breve abordagem às aves não indígenas no nosso País, em particular à, por enquanto, única espécie que ocorre e nidifica com regularidade nesta região – o pequeno passeriforme a que nos habituamos a chamar de Bico-de-lacre.

(Não esquecer que já na Parte VII foi feita uma primeira referência a algumas aves exóticas que ocorrem neste estuário, em concreto a alguns anatídeos, onde salientei a importância do acompanhamento da evolução da distribuição destas espécies no nosso território no sentido de se evitarem em tempo útil alguns riscos que essas potenciais invasoras possam representar para a ecologia das nativas.)


Ordem Passeriformes

Família Estrildidae
(uma espécie)


Estrilda astrild (Bico-de-lacre)



















Originária de África, esta ave, com estatuto de conservação não aplicável à realidade nacional, mas que, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), é Pouco Preocupante nas regiões do globo de onde é nativa, terá sido introduzida em Portugal há mais de quarenta anos, provavelmente a partir da região centro (Oeste) e do Vale do Tejo. Quanto ao litoral norte, recordo-me que, no mínimo, já desde inícios da década de 80, a zona envolvente à «Lagoa da Apúlia» era muito concorrida pelos passarinheiros que capturavam estas aves, já então muito numerosas, para fins ornamentais.

Quanto à realidade actual na faixa costeira minhota, é seguro referir que a espécie é comum e já se reproduz com frequência. Apesar de estas aves poderem ser consideradas residentes na região, a comparação das notas de campo desde 1998 indicia um claro aumento do número de indivíduos observados a partir do mês de Setembro até Novembro (desconheço se poderemos estar perante migradores de passagem). São facilmente detectáveis, tanto por apresentarem o bico e a plumagem (lista ao longo dos olhos tipo máscara e o peito) vistosamente colorida de vermelho, ou então pelas vocalizações (“tchetché tchetché”) perfeitamente audíveis enquanto se transferem de poleiro normalmente em voos curtos. A sua identificação também não oferece grandes dificuldades pois o seu aspecto geral é simplesmente único. Adaptaram-se com sucesso a vários tipos de habitats diferentes mas aparentemente preferem as imediações de planos de águas ou zonas húmidas, tais como, ambas as margens do Estuário do Cávado pelos campos agrícolas e incultos de Gandra ou de Fão (entre as Pedreiras, a orla do juncal adjacente e daqui até ao Sapal) e, como já referi, a agra em torno do Caniçal da Apúlia e ao longo da Mata de Pinheiro e Folhosas entre Fão e Apúlia, por onde são avistados frequentemente em bandos (como documentam as imagens).



















No Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (AANP) foi incluído na secção das espécies não autóctones com nidificação regular (onde consta que a sua área de distribuição se estende de norte a sul do País sobretudo pelo litoral).



Outras Ordens, Famílias ou Espécies
(número indeterminado)

Além desta última ave, tanto no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal como no Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (AANP) (ambas as obras da responsabilidade do insuspeito Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade), ainda consta um número considerável de outras espécies exóticas de ocorrência regular no nosso País, algumas delas com populações estáveis e que já nidificam em estado selvagem após processo de introdução por sucessivas fugas ao cativeiro. De entre um número crescente de espécies, gostaria, então, de destacar as que esporadicamente já observei em liberdade neste estuário, em zonas adjacentes ou em regiões relativamente próximas, mas cuja nidificação nunca comprovei, a saber:


ORDEM PSITTACIFORMES

FAMÍLIA PSITTACIDAE

Psittacula krameri (Periquito-de-colar)

Os primeiros registos de ocorrência regular no território nacional deste periquito de grande porte, originário das regiões tropicais de África e da Ásia, datam do início dos anos 80. Na década seguinte pude atestar que nos jardins com árvores mais frondosas da cidade de Lisboa, em particular na zona da Lapa e da Estrela, já ocorriam bandos constituídos por várias dezenas de indivíduos que por ali tinham um dormitório, tratando-se obviamente de uma população selvagem bem estabelecida. Ainda antes de entrarmos neste século, em plena cidade de Aveiro (e arredores), cheguei a observar por mais do que uma vez a ocorrência destas aves (nunca isoladas). Em 2001, nos meses de Fevereiro (dois indivíduos) e de Outubro (quatro indivíduos), testemunhei a passagem de periquitos em tudo semelhantes a estes pelo Estuário do Cávado (em ambos os episódios entre o Hotel do Pinhal e a Estalagem do Parque do Rio e daqui para a margem oposta). De qualquer modo não estou seguro que fossem efectivamente desta espécie ou, mesmo que tal se confirmasse, se fariam parte de alguma população selvagem ou, ainda, se estaria perante meros episódios de evasões recentes ao cativeiro. Presentemente, nos Jardins de Serralves e no Parque da Cidade no Porto é muito frequente observarem-se em liberdade periquitos com silhueta e dimensões equivalentes.
Assim, embora permaneçam por confirmar episódios de reprodução da espécie por estas latitudes (considere-se, contudo, que na Europa e em climas menos temperados do que o do norte de Portugal isso já ocorra, por exemplo em Londres), e tendo em conta que, conforme o referido no AANP, relativamente a esta espécie “nota-se uma clara expansão num intervalo de poucos anos”, não será de surpreender que nesta região e a breve prazo possa suceder o estabelecimento de populações viáveis destas aves na natureza.

No AANP foi incluído na secção das espécies não autóctones com nidificação regular (confirmada na região da Grande Lisboa e Vale do Tejo, bem como já numa pequena parcela do Litoral Centro).




ORDEM PASSERIFORMES

FAMÍLIA STURNIDAE

Lamprotornis sp. (Melros ou Estorninhos-metálicos)

Devido às suas cores vivas e iridescentes, são muito populares como aves de gaiola e, por tal, havendo o risco das fugas se multiplicarem, registam-se alguns avistamentos de indivíduos deste género dos pássaros em liberdade. Apesar disso, não consta que estes parentes próximos dos “nossos” tão familiares estorninhos, mas de distribuição geográfica quase exclusiva ao continente africano, se tenham adaptado com sucesso ao nosso clima e estabelecido populações selvagens no território nacional.
Nesta região também se podem testemunhar alguns episódios esporádicos de espécimes escapados ao cativeiro e, curiosamente, as aves são, em regra, encontradas em habitats ou em circunstâncias semelhantes às dos estorninhos. Em 2001, durante algumas semanas, foi observado um indivíduo que, acompanhado de melros e estorninhos, frequentava o relvado da Pousada da Juventude em Fão, onde obtinha com relativa abundância o alimento. Desde então, até ao presente ano (p.ex. na zona do Ramalhão em Fão), já assinalei a presença de vários indivíduos isolados, sobretudo em jardins públicos ou particulares, onde a vegetação exótica envolvente lhes proporciona condições para sobreviverem durante períodos mais ou menos alargados.

No AANP não estão incluídos em qualquer secção.


Acridotheres tristis
(Mainá-indiano
ou Mainato-de-mascarilha-amarela)

Nativa do longínquo Sudeste da Ásia, esta ave, ainda aparentada com a anterior, também se vulgarizou como ornamental, não pelos mesmos motivos estéticos mas antes pelos seus dotes enquanto imitadora das vocalizações de outros animais. Embora esteja inscrita em várias listas internacionais como espécie potencialmente invasora (as suas evasões ao cativeiro são uma séria ameaça para as espécies autóctones), por enquanto, não há indícios de se ter naturalizado em Portugal, mas é uma das aves exóticas mais vistas em liberdade e o litoral norte do País não foge à regra. Já foi registada a sua presença nas imediações do «Fojo» em Fão (em Dezembro de 2000), um indivíduo visivelmente saudável que, após ter revolvido uma pilha de lixo durante mais de meia hora, capturou uma lagartixa que lhe serviu de alimento. Posteriormente (no Verão de 2006), foi observado outro perto da Pousada da Juventude, também rente ao solo (tipo melro) aparentemente à procura de algo para comer (nesta mesma altura e em circunstâncias semelhantes também foi avistado um indivíduo na margens do vizinho Rio Lima perto de Viana do Castelo).

No AANP não estão incluídos em qualquer secção, todavia, ali surge o congénere Acridotheres cristatellus (Mainato-de-poupa ou de crista) na secção das espécies não autóctones com nidificação regular (confirmada na região da Grande Lisboa e Península de Setúbal).



FAMÍLIA PLOCEIDAE

Euplectes afer (Arcebispo ou Bispo-de-coroa-amarela)

A comercialização massiva de aves desta família, provenientes principalmente de África e que são conhecidas vulgarmente por Tecelões, Viúvas ou Bispos, tornou-as numas das espécies não indígenas mais vistas em liberdade em Portugal Continental. Assim, mais uma vez graças à intervenção humana, algumas destas aves já encontraram no nosso território, em particular nas zonas húmidas, condições para proliferarem em estado selvagem.
Entre Julho de 1998 e Outubro do mesmo ano (durante quase três meses) permaneceram no Estuário do Cávado (no juncal) dois machos exibindo as suas vistosas plumagens “pintadas” de negro e amarelo brilhante próprias da época de reprodução, contudo, as fêmeas, bem mais discretas por não serem muito diferentes das dos pardais, não foram detectadas durante o mesmo período (possivelmente por não serem tão conspícuas). No Verão seguinte já só foi confirmada a presença de um macho e, depois destes dois anos consecutivos, apenas no Verão de 2006 voltou a ser registada a sua ocorrência (também um macho).
Assinalo ainda que, supostamente num processo de dispersão de sul para norte, no Baixo Vouga Lagunar, habitat com características favoráveis, é cada vez mais comum o avistamento de alguns destes espécimes, pelo que a sua naturalização para breve naquela região “vizinha” não será impossível.

No AANP esta ave foi incluída na secção das espécies não autóctones com nidificação regular (confirmada sobretudo no Estuário e ao longo do Rio Tejo, mas também estão registados avistamentos pontuais pelo litoral até à região da Ria de Aveiro onde a sua nidificação será provável).



FAMÍLIA ESTRILDIDAE

Lonchura malacca (Bico-de-chumbo ou Capuchinho-de-cabeça-preta)

Espécie indígena na Ásia e na Indonésia que também logrou escapar ao triste destino enquanto simples ave ornamental e que já começou a colonizar o nosso território. Sendo muito requisitada para estes fins, é provável que o avistamento de indivíduos desta espécie por estas paragens seja o resultado de meras fugas ou largadas fortuitas, mas, efectivamente, em Abril de 2001, no Caniçal da Apúlia foram detectados dois espécimes, aparentemente saudáveis, num campo de ervas altas acompanhando um extenso bando de pardais. Pela mesma altura, quase que seguramente um indivíduo da mesma espécie foi observado num charco temporário resultante de um abaixamento do solo onde abundava vegetação palustre, especialmente Tábua (Typha sp.), no seio da mata de pinheiro a sul de Fão.

No AANP esta ave foi incluída na secção das espécies não autóctones com nidificação regular (confirmada sobretudo pelos Rios Tejo e Sado, mas também há registos da sua ocorrência pelo litoral norte).



domingo, 23 de agosto de 2009

As vias estruturantes


















Ao regressar do trabalho… hoje… Domingo… final de tarde… pleno mês de Agosto… não pude deixar de me reter num olhar agonizante dirigido para a imagem “terceiromundista” de centenas e centenas e centenas de automóveis ávidos de nos escaparem pelo funil, erro, queria dizer, pelas auto-estradas… na “boca” das quais jaziam imóveis, parados, estáticos, quietos, sem se mexerem um milímetro sequer, desesperados…

… e imaginar a (in)utilidade das famigeradas “vias estruturantes” que, dilacerando o que resta das nossas últimas zonas verdes, os levariam mais rapidamente até às auto-estradas… na “boca” das quais jazeriam imóveis, parados, estáticos, quietos, sem se mexerem um milímetro sequer, desesperados…


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXIV)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Ordem Passeriformes

Família Passeridae

(duas espécies)


Passer montanus (Pardal-montês)





































1 – (Estatuto de conservação) Pouco Preocupante;
2 – (Quando observar) Residente, mas o número de registos de ocorrências flutua significativamente de uma época para a outra ou mesmo entre anos consecutivos; tendem a ser mais facilmente avistados durante a Primavera;
3 – (Abundância) Pouco comum;
4 – (Espécies parecidas) Distingue-se do Pardal-comum, com o qual partilha muitas afinidades, principalmente por apresentar a coroa castanha e pela pinta preta nas faces;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Associam-se frequentemente aos bandos de Pardais-comuns (motivo pelo qual passam muitas vezes despercebidos), podendo mesmo surgirem nos nossos jardins e parques arborizados, mas é mais vulgar encontrá-los em meios de maior influência rural com a presença de árvores e menor pressão urbana; apresentam-se, assim, como bons locais de observação, por exemplo, a orla da mata de pinheiro e folhosas entre Fão e Apúlia e ambas as margens do estuário, pelos campos de cultivo de Gandra, ao longo do pinhal em Ofir e também na área agrícola das Pedreiras em Fão;
6 – (Tolerância à nossa presença) Apesar de reservarem sempre uma distância mínima de uns dez metros, são relativamente pouco tímidos;
7 – (Outros dados de interesse) Ao contrário do parente Pardal-comum (e de grande parte das aves em geral), nesta espécie não se verifica dimorfismo sexual, ou seja, o macho e a fêmea são semelhantes.


Passer domesticus (Pardal-comum
ou Pardal-dos-telhados)

























































































1 – Pouco Preocupante;
2 – Residente;
3 – Muito abundante;
4 – Ver igual número da espécie anterior;
5 – Com excepção do meio aquático propriamente dito, as capacidades adaptativas destas aves permitiram-lhes colonizarem todos os nichos ecológicos naturais, semi-naturais e, sobretudo, os artificiais; as árvores que envolvem o «Fojo», próximo da ponte em Fão, são poiso habitual para pernoita de hordas destes pássaros – em menos de uma hora de observação é possível contabilizar mais de um milhar indivíduos a recolherem para aquele local, chegando a ser estridente o som das suas vocalizações enquanto “protestam” com aqueles que vão sucessivamente chegando;
6 – É manifestamente a espécie mais associada ao meio urbano e nem evitam sequer uma visita aos beirais das nossas janelas na procura de migalhas;
7 – Na observação da fauna selvagem é-nos muito útil conhecer previamente algumas “espécies de referência” para assim pudermos estabelecer comparações que nos ajudem a identificar um determinado animal até então desconhecido e, no caso da avifauna, o Pardal-comum, bem conhecido de todos, com um comprimento de cerca 15 cm (informação apresentada em qualquer guia de campo), surge-nos sempre como uma dessas espécie de tamanho padrão – por exemplo, no caso das cotovias em geral, a memória da dimensão do pardal pode auxiliar-nos a distinguir uma Cotovia-pequena (cerca de 15 cm) da congénere Laverca ou do parecido Trigueirão (substancialmente maiores com 18 cm); o mesmo ocorre com o também muito familiar Melro-preto que, conforme já referi anteriormente, é decisivo na distinção entre um Tordo-músico (mais pequeno) e a Tordeia (visivelmente maior); assim, antes de iniciarmos as primeiras visitas de campo, pode ter muito interesse a anotação numa “cábula” do comprimento de espécies como esta ou outras igualmente comuns, como os 31-35 cm do Pombo-da-rocha (ou doméstico), os 55-62 cm do Pato-real, os 50-56 cm da Águia-de-asa-redonda, os 33-36 cm do Peneireiro-vulgar, os 16-19 cm do Pilrito-comum, os 54-60 da Gaivota-de-patas-amarelas, entre outros.



Família Emberizidae
(três espécies)


Emberiza cirlus (Escrevedeira-de-garganta-preta)















































































1 – Pouco Preocupante;
2 – Residente com nidificação comprovada mas aparentemente mais numerosa no Inverno;
3 – Relativamente comum;
4 – Caso exiba a cabeça com nitidez, o macho torna-se inconfundível, contudo as fêmeas de quase todas as “escrevedeiras” (no caso do Trigueirão, também o macho) são muito parecidas; assim, neste aspecto em particular, deveremos ter em atenção as outras espécies que surgem comprovadamente na região (aqui mencionadas) e ainda a Cia (Emberiza cia) que na caracterização biológica do Parque Natural Litoral Norte está referenciada na respectiva Lista de Aves (pessoalmente, neste concelho, apenas confirmo a sua ocorrência nos Montes de Faro e de S. Lourenço);
5 – Ocorrem sobretudo no pinhal entre o Hotel Ofir e a restinga, nos matos rasteiros atrás do Hotel do Pinhal ao longo do passadiço, ou ainda nos limites da Mata de Pinheiro e Folhosas entre Fão e Apúlia pela orla dos campos de cultivo; embora sejam aves conspícuas, nota-se mais facilmente a sua presença na época da reprodução quando as crias perseguem os progenitores; normalmente as aves adultas, ainda antes de serem avistadas, detectam-se pelos característicos chamamentos agudos “tzi tzi tzi tzi tzi” a partir de um poleiro;
6 – Quando pousadas no alto do ramo de um pinheiro ou de um fio eléctrico, são muito tolerantes, mas esse ângulo não proporciona bons planos a quem pretenda fotografar estas aves;
7 – Nada a referir.


Emberiza schoeniclus (Escrevedeira-dos-caniços)
























1 – As aves visitantes (subespécie E. s. schoenniclus) têm o estatuto de Pouco Preocupante, todavia as populações residentes no nosso País (subespécie E. s. lusitanica endémica da Península Ibérica) estão classificadas como Vulneráveis; é uma espécie definida como de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte, onde a sua nidificação já terá sido confirmada (não pessoalmente, mas indicado na respectiva caracterização biológica e corroborado no Atlas das Aves Nidificantes em Portugal);
2 – Principalmente Invernante; nos anos de 1998 e de 2002 confirmei a permanência de pelo menos um casal ao longo de todo o período de reprodução da espécie no juncal do Cávado;
3 – Rara;
4 – Considerar precisamente o mesmo que foi referido na espécie anterior;
5 – São vistos pontualmente nas zonas de menor acessibilidade no estuário a equilibrarem-se no topo de um junco;
6 – À distância de uns seguros 20 metros deixam-se observar tranquilamente e bem expostas;
7 – A possibilidade desta espécie nidificar nesta região demonstra, por si só, a grande importância desta pequena zona húmida que é o Estuário do Cávado e toda a sua esfera de influência – no território nacional esta espécie apenas se reproduz regularmente na Ria de Aveiro e no litoral minhoto e no norte de Espanha tem-se verificado um decréscimo acentuado na sua área de distribuição (in Atlas das Aves Nidificantes em Portugal).


Emberiza calandra (Trigueirão)



















1 – Pouco Preocupante;
2 – Praticamente toda a literatura consultada classifica esta espécie como uma das residentes mais comuns no continente europeu e, por tal, até à recente publicação pelo ICNB do Atlas das Aves Nidificantes em Portugal, sempre estranhei o facto de nunca ter observado estas aves em todo o litoral norte do nosso País (precisamente o que está indicado naquele livro); no início do mês de Maio último, numa altura em que procurava Lavercas pelas dunas em Ofir, mais precisamente na zona da restinga, obtive a fotografia que acompanha estas palavras, a qual, apesar da possibilidade de confusão com algumas cotovias, expõe evidentemente um Trigueirão e que, até à data, constitui o único momento em que registei a ocorrência desta espécie na região;
3 – Nada a acrescentar;
4 – As fêmeas das outras “escrevedeiras” são muito parecidas, mas o Trigueirão tem uma aparência visivelmente mais robusta (ver o que mencionei no ponto nº. 7 do Pardal-comum e estabelecer respectivas comparações);
5 – Nada a acrescentar;
6 – O único espécime observado fitou-me curioso e demoradamente num poleiro bem exposto a cerca de 10 metros de distância;
7 – Numa última revisão, a comunidade científica designou esta ave, que não consta na Lista de Aves do PNLN, com o nome específico acima indicado, porém, na grande maioria da literatura disponível no mercado ainda consta o sinónimo Miliaria calandra.



sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXIII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Ordem Passeriformes

Família Corvidae

(três espécies)

Garrulus glandarius (Gaio)





































1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Cada vez mais comum;
4 – (Espécies parecidas) Nenhuma;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Dificilmente abandonam a “cortina” protectora do pinhal; são mais abundantes na mata entre Fão e Apúlia onde pontuam algumas manchas de folhosas, do que na orla do estuário pelo menos tranquilo Núcleo Turístico de Ofir; anunciam os seus movimentos por entre os ramos das árvores ou no solo através de chamamentos ruidosos e ásperos, como aquele “xxiiáá… xiá iá” lentamente repetido quando voam com aparência desajeitada ou saltitam pelo chão na procura de alimento; a partir do final do Inverno são detectados mais facilmente em virtude de se agregarem em pequenos grupos que parecem manterem demoradas “conversas” constituídas por uma panóplia infindável de sons curiosos; a barra azul brilhante nas penas de cobertura das asas e o uropígio branco tornam-na uma ave muito vistosa;
6 – (Tolerância à nossa presença) Muito cautelosos, aliás, se um dos elementos de um bando nos descobre, o que acontece quase sempre, logo lançará o alarme aos restantes com chamamentos barulhentos e acelerados, provocando a debandada geral (até de indivíduos de outras espécies); o sombrio registo fotográfico do exemplar pousado só foi conseguido com recurso a esconderijo e o da ave em voo, resultado de um mero acaso, apenas o exibo por considerar importante mostrar o realce colorido de azul cintilante na asa;
7 – (Outros dados de interesse) Ver igual número da congénere seguinte, onde é feita referência ao facto destas aves (corvídeos) desenvolverem a capacidade de imitarem vocalizações de outras espécies; foi cómico perceber que um dos membros do bando do exemplar da primeira foto (talvez o próprio) emitia constantemente um chamamento igual ao “piiiiiiiiuuuuu” de longo alcance característico da Águia-de-asa-redonda.


Pica pica (Pega)






















































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Cada vez menos comum;
4 – Inconfundível;
5 – Geralmente vêem-se aos pares ou em pequenos bandos a sobrevoarem a zona do estuário entre o Núcleo Turístico de Ofir, onde parece que principalmente pernoitam (e um ou outro casal comprovadamente nidifica), e a margem oposta dos campos de cultivo em Gandra onde passam várias horas a alimentarem-se; também é vulgar encontrá-las perto dos lodaçais a descoberto na maré vaza por entre as pequenas aves limícolas; apesar de se avistarem habitualmente a sobrevoar o pinhal nas redondezas da estalagem e dos hotéis em Ofir até sensivelmente à capela da Sra. da Bonança, daqui para a mata que se estende a sul quase nunca são observadas, sendo então substituídas pelos “primos” Gaios; há, pelo menos, dois casais que frequentam um pequeno pomar abandonado no seio da malha urbana de Fão e também não é raro ver um ou outro indivíduo a aventurar-se a apanhar “petiscos” (é uma ave omnívora e oportunista) em relvados em plena cidade de Esposende ou ainda a debicar carcaças de animais atropelados nas beiras das estradas;
6 – Bastante ariscas; são tão vistosas quanto barulhentas (quem nunca ouviu por aí aquele “Xiiá… Xá Xá Xá Xá Xá Xá” decrescente e rápido como uma gargalhada, ou aquele chamamento que mais parece o som do obturador de uma máquina fotográfica antiga a disparar?); assim, pode considerar-se que são muito fáceis de localizar, contudo a sua agitação é constante e fogem sempre que nos vêem; vale-nos o hábito que têm de voarem lentamente e a baixa altitude, o que nos permite captar com relativa facilidade o exuberante colorido metalizado das suas penas esverdeadas na longa cauda e azuladas nas asas sobre um fundo contrastante de branco e preto;
7 – Devido à facilidade de se domesticarem, também por desenvolverem a capacidade de palrar, ou seja, imitarem a voz humana (como os papagaios) e por serem, manifestamente, aves muito inteligentes e interagirem com as pessoas, tornou-se tradição a manutenção de corvídeos (gaios, pegas, gralhas e corvos) em cativeiro; muitos destes exemplares, enclausurados mas sempre selvagens, desenvolvem doenças associadas à privação da liberdade como o stress que se traduz, por exemplo, na repetição constante de determinados movimentos e gestos ou ainda na auto-flagelação como o arranque das próprias penas; felizmente já não faltam centros de acolhimento para animais vítimas deste género de agressões, onde o drama poderá ser reparado ou minorado; por exemplo, os próprios serviços do Parque Natural podem ajudar quem pretenda (fazer) encaminhar estas aves para um fim mais digno.


Corvus corone (Gralha-preta)
1 – Pouco preocupante;
2 – Os poucos registos de ocorrência desta ave no Estuário do Cávado verificaram-se quase sempre entre Outubro e Março, sobretudo entre os anos de 1999 até 2002 (sempre indivíduos isolados);
3 – Embora seja abundante em grande parte do continente nacional, onde ocorre como residente, nesta região em concreto será pouco mais do que Acidental; nas zonas mais elevadas do concelho de Esposende, nomeadamente nos Montes de Faro e de S. Lourenço são observadas com maior regularidade mas sempre escassamente (avistado este ano um indivíduo no sopé do primeiro a 27 de Março);
4 – Ainda existem outras espécies de Gralhas e até o próprio Corvo que partilham muitas semelhanças com esta espécie, todavia, nenhuma delas terá sido observada na região; ver ainda o ponto número 7;
5 – Na bibliografia em que apoio este estudo (com a confirmação das minhas observações de campo noutras regiões do país), é indicado que esta espécie ocorre em todos os tipos de habitats naturais, semi-naturais e urbanos, entre os quais surgem como muito favoráveis os rios e estuários, os biótopos litorais e os pinhais (que privilegia para nidificar), bem como zonas agro-florestais, ou seja, um pouco o retrato desta área; deste modo, revela-se muito estranho o quase desaparecimento desta espécie no concelho de Esposende; recordo-me que há mais de vinte anos era relativamente comum verem-se alguns indivíduos a pairarem nos nossos céus, em particular sobre os campos de cultivo desde Gandra até à Barca do Lago e mesmo sobre a zona das Pedreiras em Fão;
6 – Tenho a vaga sensação de que são fugidias como os seus congéneres anteriores;
7 – Na Península Ibérica e em boa parte do Reino Unido e da Europa Ocidental ocorre a subespécie C. c. corone; no restante continente europeu mais para leste, países nórdicos, Itália e ilhas adjacentes e ainda norte das Ilhas Britânicas está presente a C. c. cornix; distinguem-se facilmente em virtude de, enquanto a “nossa” ser totalmente negra, a subespécie mais oriental apresenta o abdómen e o dorso cinzento; até há cerca de dez anos era habitual observar-se uma gralha com as cores preta e cinzenta a sobrevoar parte da malha urbana de Fão até às imediações do Hotel do Pinhal e mesmo o estuário, que, efectivamente, era da subespécie C. c. cornix, contudo soube-se que foi simplesmente trazida em cativeiro e para fins ornamentais por emigrantes na ilha da Córsega onde estas aves serão vulgares.



Família Sturnidae(duas espécies)


Sturnus vulgaris (Estorninho-malhado)























1 – Pouco preocupante; espécie cinegética, alvo das espingardas dos caçadores desde 1 de Novembro até 21 de Fevereiro;
2 – Surgem em Setembro, alguns raramente em Agosto; embora permaneçam por cá alguns indivíduos até Março (Invernantes), devem ser considerados principalmente Migradores de Passagem;
3 – Apenas são comuns, ou mesmo pontualmente numerosos, em Setembro ou Outubro;
4 – Notavelmente mais sarapintado e colorido que o Estorninho-preto (ver igual número desta espécie);
5 – Tendem a ser aves muito gregárias, o que eventualmente poderá ocorrer com as que atravessam estas paragens, contudo, tais circunstâncias verificam-se em particular nos locais onde a espécie dispõe de importantes dormitórios (o mais próximo que conheço localiza-se num dos pontos mais elevados da cidade do Porto); os campos de cultivo ao longo do Estuário do Cávado por toda a extensão da margem direita até aos Estaleiros em Esposende e nas Pedreiras do lado de Fão, são óptimos locais para as observar pousadas no solo a alimentarem-se, bem como nos fios de alta tensão a descansarem, ou ainda a atravessarem o rio em formações extensas;
6 – No aspecto comportamental também se compara, de algum modo, ao congénere Estorninho-preto (ver igual número desta espécie);
7 – São estas as aves que inspiraram aquele anúncio de uma marca francesa de automóveis, que ainda há bem pouco tempo podíamos ver na televisão, em que um bando em voo compacto formava várias figuras curiosas nos céus a um ritmo sincronizado; por cá estes admiráveis espectáculos, infelizmente, são pouco comuns, mas se porventura, principalmente sobre o Cávado e ao fim da tarde, tivermos a sorte de assistir ao momento da passagem de um grande bando de estorninhos em que a determinada altura todos mudam de direcção em simultâneo, certamente ficaremos deslumbrados com esta visão “mágica” da natureza.


Sturnus unicolor (Estorninho-preto)

































































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum, mas, principalmente a partir de Setembro, pode tornar-se muito abundante;
4 – A sua silhueta é praticamente igual à do Estorninho-malhado mas a plumagem é mais uniformemente negra e bastante menos iridescente (consultar guias de campo para mais pormenores); para os menos familiarizados com a observação de aves, também há a considerar alguns aspectos relacionados com a aparência (tamanho, penas pretas e bico amarelo) e hábitos comuns (p.ex. procura de minhocas em relvados de jardins e prados) iguais aos do Melro-preto, do qual os estorninhos se distinguem por apresentarem a cauda muito mais curta e por caminharem (parece que coxeiam) quando estão no solo, em vez de saltitarem como o melro;
5 – Normalmente encontram-se em bandos compostos por um número de indivíduos que pode ir desde menos de uma dezena até às muitas centenas; conforme o já referido, são comparáveis aos Estorninhos-malhados, até nos locais de ocorrência;
6 – Por serem muito ruidosos, em particular quando se acomodam numa árvore para dormirem, facilmente se detectam; à semelhança do que já foi indicado para o Melro-preto, o à-vontade com que permitem a aproximação das pessoas aumenta na mesma medida em que crescem os aglomerados urbanos, ou seja, enquanto aqueles que ocorrem no campo são fugidios, nos jardins das cidades manifestam-se muito acostumados à nossa presença;
7 – Diariamente, a partir dos finais de tarde, um elevadíssimo número destas aves coloniza uma pequena zona arborizada próxima da Alameda do Bom Jesus em Fão, tornando-se interessante observar os inúmeros bandos a chegarem numa cadência crescente à medida que a noite se aproxima; nestas circunstâncias é comum verem-se as aves num voo laborioso em aproximação rápida ao local de pernoita, seguida de um abrandamento até que quase param no ar com as asas imóveis e por fim “mergulham” à vez, uns atrás dos outros, parecendo que “chovem” até desaparecerem por entre a folhagem da árvore escolhida.