terça-feira, 23 de dezembro de 2008

CONTO DE UMA “ÁRVORE DE NATAL”

Já terão passado mais de dez Natais desde aquela manhã em que, ao preparar-me para mais uma jornada de observação de aves no nosso estuário, logo ali no início da “Recta de Ofir” junto à margem esquerda do Cávado, subitamente me deparei com a terna imagem de uma jovem mãe acompanhada pela filha que experimentava as primeiras emoções dos preparativos para o culto da Árvore de Natal. Num olhar mais atento reparei que a progenitora, munida de serrote afiado, avaliava inocentemente e sem o devido critério a forma e a dimensão daqueles pinheirinhos que nos habituamos a ver crescer ladeando o principal acesso à nossa praia.


Então, ao perceber que a senhora se aprontava para desferir o golpe fatal na conífera que tinha elegido para lhe adornar o lar, não consegui conter um impulso quase herético e numa interjeição que me saiu da alma travei os movimentos ritmados da dita serra cuja lâmina já feria quase irremediavelmente a nossa personagem principal. Naquele instante ensaiei o meu primeiro e atrapalhado discurso ambientalista que inesperadamente resultou (!!!), ou seja, a minha interlocutora prestou-se ao aborrecimento de ouvir os meus fundamentos e seguiu a sugestão para que concluísse o corte da árvore, acima de dois ramos que, já bem robustos junto à base do tronco, foram poupados.



Em consequência deste “pequeno pormenor”, passo a redundância da expressão, aquela menina teve de igual modo um Natal devidamente decorado e manteve-se todo o potencial para a árvore, embora amputada, se desenvolver e contribuir para a harmonia daquele conjunto arbóreo – um dos mais belos postais deste “torrãozinho sem igual”. E, confesso, a partir daquele momento cultivei uma relação quase afectuosa com aquele pinheirinho que, no meu íntimo, comecei a chamar de “A Minha Árvore de Natal” e para a qual nunca mais deixei de olhar atentamente sempre que por ali passava, contemplando cada centímetro do seu crescimento. E sei que felizmente esta sensibilidade não me é exclusiva. Basta reparar nos briosos cuidados que a nossa autarquia e o Parque Natural dedicam àquele espaço que têm mantido arborizado “contra ventos e marés” (que é como quem diz, contra as cheias do Cávado e as habituais nortadas).


Contra ventos e marés … mas não contra … o egoísmo. Desculpem-me o palavrão, mas não encontro outro termo para adjectivar o cavalheiro que tem tido o descaramento de ano após ano, árvore após árvore, as decepar obviamente com o único propósito de desobstruir a panorâmica que julga ter “comprado” para seu exclusivo usufruto no momento em que adquiriu o luxuoso apartamento de amplas janelas voltadas para o Cávado espraiado.








Nem só de fortificações, castros, templos religiosos e outras edificações históricas se faz a memória colectiva de um povo. Tal como quando um qualquer pseudo-graffiter borra a superfície de um monumento o apelidamos de vândalo, importa indignarmo-nos com estes atentados contra o bem-comum que é o património natural que aprendemos a estimar e ao qual atribuímos múltiplos simbolismos e nos afeiçoámos desde as primeiras “aventuras” de infância.






VOTOS DE UM NATAL EM PAZ E UM ANO NOVO PLENO DE SAÚDE




sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

MICOLOGIA (parte IX)

(Conclusão)


O exemplo da nossa experiência comprova o que foi dito até aqui ou, no mínimo, deixa transparecer alguns dados animadores, a saber: - com uma capacidade limitada pelos parcos recursos da associação, nas «Jornadas Micológicas da Assobio em 2005», sem grande esforço mediático e sem qualquer apoio institucional, organizamos um evento que englobou aqueles três tipos de actividades (Percursos pedestres temáticos; Colheita de cogumelos silvestres e Encontros Gastronómicos) em que contamos com um número muito próximo da centena de visitantes (salientando-se que mais de metade eram provenientes da Galiza); nesse ano, praticamente se lotou a capacidade de alojamento de uma pousada localizada em Fão e, no ano seguinte, repetiu-se o cenário noutra unidade de acolhimento na Apúlia. Nos anos seguintes a “trupe” dedicou-se a descobrir outras áreas naturais minhotas, sempre com um sucesso promissor, esperando-se, no próximo ano, o regresso à nossa terra.

Assim remato com a questão:

- num cenário em que forças vivas do concelho de Esposende (proprietários florestais, associações, órgãos autárquicos, ou o próprio ICNB) efectivamente se envolvessem numa organização com outra dimensão e numa aposta clara na capacidade dos nossos jovens técnicos na área do Turismo da Natureza (mais uma vez não me posso esquecer da Escola Profissional de Esposende) e aceitasse este desafio para uma exploração turística sustentável dos nossos recursos fúngicos, quais seriam os resultados concretos que essa estrutura obteria?

Encetar uma experiência do género não seria propriamente novidade na Península Ibérica. No país vizinho há regiões em que estão a explorar os cogumelos deste ponto de vista. Ali um concelho chega a ser visitado por muitas centenas de turistas durante um fim-de-semana. Criaram-se roteiros micológicos, formaram-se guias para acompanhar os turistas, envolveram os restaurantes que introduziram os cogumelos na gastronomia local, trabalharam com a comunidade escolar… é todo um trabalho à volta da floresta. Tem uma dupla ou tripla vantagem. Toda a região ganha dinheiro com isto, porque os turistas gastam dinheiro e pagam para colher cogumelos e a presença do homem na floresta está a evitar os incêndios. Atrair pessoas aos espaços verdes não parece difícil, mas como é que se pode estimular os proprietários de terrenos florestais a cuidar do "mato"?

Simples, demonstrando-lhes que isso pode representar uma mais-valia.


A exploração racional deste recurso, até agora nem sequer considerado como uma fonte de rendimento marginal em Esposende, poderia constituir essa mais-valia, em particular nos sistemas florestais menos intervencionáveis segundo a proposta para o, recentemente publicado, Plano de Ordenamento do Parque Natural do Litoral Norte (POPNLN).



































Bibliografia (além de inúmeras consultas em diversos portais da Web):


Guia dos Cogumelos”, da Naumann & Gobel Verlagsgesellschaft, tradução de Hannelore Eberhardt, Margarida Seiça, Rita Miranda – Dinalivro


Património Natural Transmontano – Cogumelos”, de Francisco Xavier Martins – João Azevedo Editor


Cogumelos”, de Edmund Garnweidner, traduzido por Maria Isabel Flecha Vasconcelos – Everest Editora (edição 1999)


Cogumelos”, redacção de Michael Eppinger e Helga Hofmann, traduzido do espanhol por Raul Arenas Pizarro – Everest Editora (edição 2008)


Cogumelos Silvestres”, de Natalina Azevedo – Clássica Editora


Cogumelos na natureza e na mesa”, de Berta Fernandes – Publicações Europa-América


Pequenos Guias da Natureza – Cogumelos”, de Eleanor Laurence e Sue Harniess, traduzido por Fátima Estrela – Plátano Editora


Mushrooms and Toadstools of Britain & Europe”, de Edmund Garnweidner – Collins Nature Guides


Mushrooms – The new compact study guide and identifier”, de David Pegler e Brian Spooner – Identifying


The Complete Encyclopedia of Mushrooms”, de Gerrit J. Keizer – Rebo Publishers


Setas, como reconocerlas e identificarlas”, de Gunter Steinbach, traduzido para castelhano por Joan Barris Sabatés – Guias de Campo Blume







NOTA:
Com excepção da imagem dos Boletos que acompanham a abertura do texto, onde aparece parcialmente o fotógrafo Alberto Calheiros, todos os registos são da autoria deste “amigo dos cogumelos” que captou alguns momentos de actividades desenvolvidas pelas Associações Marifusa (2ª. Foto) e Assobio (restantes).



sábado, 13 de dezembro de 2008

MICOLOGIA (parte VIII)

Recolha de Cogumelos

«Código de Conduta»
(Associação Assobio)


Uma jornada de apanha de cogumelos comestíveis pode ser um modo muito agradável de desfrutarmos do são contacto com a natureza. Mas o exercício desta actividade requer que se observem alguns cuidados essenciais, quer sejam para prevenir alguns episódios pouco desejáveis como as intoxicações, ou para evitar que essa prática se torne lesiva para o meio ambiente por poder contribuir para a sua degradação ou perda da biodiversidade.


Com o objectivo de sensibilizar os "amantes" desta actividade para a recolha responsável e sustentável daquelas "iguarias", a ASSOBIO tem organizado muitas "expedições" pela floresta alertando para a importância do cumprimento de alguns comportamentos, conceitos e regras básicas, tais como:

- uma correcta colheita de cogumelos não danifica o fungo propriamente dito;

- ainda assim, um colector é sempre um elemento desestabilizador do normal curso da natureza, pelo que é conveniente exercer a actividade onde os cogumelos sejam mais abundantes;

- nunca colher cogumelos em áreas florestais protegidas;

- percorrer os espaços florestais com calma, para efectuar uma correcta identificação dos cogumelos e para não perturbar a fauna existente;

- ao colhê-los, cortar os cogumelos pelo "pé" sem os puxar e com auxílio de uma navalha que nunca deve passar abaixo do chão;

- depositar e transportar os cogumelos colhidos em cesto de vime;

- evitar colher cogumelos demasiado jovens ou muito velhos;

- se possível, limpar os cogumelos no local da colheita;

- recolher unicamente a quantidade necessária para se consumir no próprio dia, nos casos em que se pretende cozinhá-los frescos;

- evitar o pisoteio exagerado dos musgos ou da manta morta usando caminhos já estabelecidos, pois podemos estar a calcar cogumelos que estão prestes a "brotar" ou a provocar efeitos nefastos para a flora local.







NOTA
As fotos que acompanham o texto referem-se a duas espécies de cogumelos da família dos Agáricos (a mesma daqueles “branquinhos” que habitualmente vemos nas prateleiras dos supermercados) – respectivamente – Agaricus silvaticus e Agaricus augustus. Ambos são óptimos comestíveis mas difíceis de diagnosticar, sendo relativamente frequente vê-los surgir na nossa terra, em particular na “Mata Dunar de Pinheiro e Folhosas” também popularmente conhecida por zona dos Merouços.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MICOLOGIA (parte VII)

Advertências

«Para que no futuro não nos reste o conto da Galinha dos Ovos de Ouro».

Depois deste breve interregno que se justificou pelos muitos afazeres relacionados com a organização de alguns eventos relacionados com a micologia em que tive a honra e o imenso prazer de participar, volto a este tema, desta vez para entrar na fase das conclusões.

Assim.

Os Fungos, para além da sua reconhecida função ecológica, constituem um recurso com potencial gastronómico relevante. O sabor de algumas espécies atrai um crescente interesse na recolha de cogumelos silvestres comestíveis e muitas redes de comercialização, principalmente de origem estrangeira, já operam em Portugal escoando centenas de toneladas anuais de cogumelos para países como a nossa vizinha Espanha, França e Itália.

Face a esta nova realidade, que se faz notar de forma mais acentuada nas zonas raianas do País, adivinha-se que para breve o fenómeno se estenderá até ao litoral e, considerando o vazio legislativo neste domínio, torna-se imprescindível proceder a curto prazo à regulamentação da recolha e comercialização dos cogumelos silvestres, sob pena de não conseguirmos evitar a perda destas mais-valias. Se assim for, essa acção também promoverá a conservação e a sustentabilidade deste recurso.

Previamente ao desenvolvimento de qualquer projecto nesta área, além das exigências de cariz legal, é fundamental implementar também um conjunto de outras medidas com o objectivo da salvaguarda do nosso património e travar a procura desenfreada e a colheita intensiva.


SUGESTÕES:

- Realizar estudos de inventariação dos macrofungos, contribuindo para o crescimento do conhecimento relativo ao nosso património fúngico;

- Sistematizar a informação já existente sobre a ocorrência das espécies de cogumelos, de forma a simplificar a sua consulta;

- Planear a ocupação do território tendo em consideração a conservação dos habitats com manifesto interesse micológico;

- Investir na formação de técnicos especializados na área dos macrofungos;

- Realizar campanhas de sensibilização da população para a importância dos macrofungos no equilíbrio ecológico;

- Implementar medidas que permitam a criação de uma Lista Vermelha de Fungos para Portugal;

- Ponderar a criação de mecanismo de certificação dos cogumelos que crescem nos nossos Parques Naturais;

- Obrigar todos os colectores a frequentarem uma acção de formação, na qual seja demonstrada a importância dos cogumelos enquanto seres vivos de um ecossistema complexo, a identificação dos principais tipos de cogumelos e o modo de efectuar correctamente a sua apanha;

- Obrigar os colectores a obterem uma licença, tal como na caça, de âmbito concelhio, regional ou nacional, que os habilitaria para a actividade, instituindo-se o Cartão de Colector;

- Também à semelhança da prática venatória, ponderar a criação de coutadas e mesmo a determinação de dias destinados para a recolha de cogumelos;

- Respeitar a propriedade alheia;

- Definir um código de conduta (ver, como ponto de partida, por exemplo, o já adoptado pela Associação Assobio);








NOTA: A imagem que ilustra este texto corresponde ao cogumelo da espécie Boletus edulis – verdadeira delícia – ainda relativamente frequente nos pinhais do nosso concelho e que atinge preços verdadeiramente exorbitantes nos mercados daqueles países que acima me referi.



quarta-feira, 26 de novembro de 2008

OS PASSARINHEIROS

(breve pausa no tema: Micologia)


Estou certo que não vão discordar de mim se disser que há episódios ocorridos na nossa infância cuja memória teima em persistir e as emoções então vividas, por mais que o tempo passe, permanecem como se aquelas experiências fossem sempre muito recentes. E digo isto, não porque acabei de comemorar mais um aniversário e, agora sim, isso já começa a não ter muita piada, mas antes porque todos os anos precisamente nesta época (Outubro e Novembro), um pouco por todo o lado, nós os amantes de uns bons passeios ao ar livre “tropeçamos” frequentemente nuns furtivos senhores que, já fazendo uso das novas tecnologias, instalam um pouco por tudo o que são espaços naturais as suas estridentes colunas de som ligadas a uns MP3 (ou lá o que aquilo é) a emitirem num volume completamente desproporcional o canto melodioso próprio dos pássaros da família dos Fringilídeos (Tentilhões, Chamarizes, Verdilhões, Pintassilgos, Pintarroxos, Lugres, Bicos-grossudos, etc…) com a única intenção de atraírem aquelas aves para uns artifícios que servem de armadilha onde esperam que o seu alvo fique aprisionado: - estou a falar, obviamente, dos “passarinheiros”.

(Sei que este não será o meio tipicamente mais eficaz de me dirigir a quem se dedica a esta “actividade”, mas se esta minha reflexão chegar a apenas um só dos seus praticantes já darei por bem empregues estas palavras.)

Como me preparava para dizer, jamais esquecerei o extasiante sentimento de recompensa que pude atestar quando um “amiguinho” de escola me desafiou a ir-mos para a zona envolvente à chamada «Lagoa da Apúlia» capturar Bicos-de-lacre (espécie exótica que se presta bem como ave de gaiola) e um destes espécimes ficou aprisionado na rede que astuciosamente tínhamos armado. Sensação semelhante só se repetia quando, uma dúzia de anos mais tarde, nos tempos que passei por Leiria, aceitava o convite de outro amigo que, de modo amador, se dedicava ao estudo das aves da sua região e íamos anilhar uns espécimes silvestres lá para os lados dos «Campos do Liz».

Julgo que não é difícil entender que, em ambos os casos, o preciso momento da captura dos animais tinha o mesmo significado que a obtenção de um valioso prémio. Porem, no meu caso em particular, o insuportável sentimento de culpa que se seguia àqueles breves instantes de entusiasmo era verdadeiramente desanimador. Na primeira situação, não conseguia justificar ao meu perturbado ego a não libertação da ave e a sua manutenção em cativeiro e, na segunda, perdurava a dúvida sobre a razoabilidade dos fins ou dos próprios métodos usados que poderiam estar a submeter o animal a um episódio de stress excessivo.

Meia dúzia de anos depois, quando finalmente desvendei esta minha “endógena costela verde”, comecei a aplicar-me com (desaconselhada) paixão à ornitologia no Estuário do Cávado. Então, enquanto inventariava um extensa lista de espécies de aves, fui fazendo uso da minha primeira lente zoom e a “capturar” as primitivas imagens da avifauna indígena com o objectivo de documentar as minhas “descobertas”. Fiquei de imediato fascinado com a analogia de sentimentos despertados por esta actividade (1) e os que experimentei naqueles iniciais actos mais predatórios, mas com a vantagem de, agora, não sujeitar as aves a qualquer tipo de sofrimento ou causar qualquer efeito nefasto nas suas populações.

Assim, independentemente de ser ou não favorável à legislação que proíbe a captura de espécimes da nossa fauna silvestre para fins ornamentais e sem me alongar em delicados conceitos éticos, cumpre-me deixar aqui uma sugestão dirigida aos “meus amigos passarinheiros”, partindo do princípio de que apreciam a beleza das aves, são pessoas perseverantes, disponíveis a manterem-se escondidos sob a vegetação durante largos períodos de tempo e, como já referi, estão dispostos a investir em novas tecnologias: - por pouco mais de 300 Euros conseguem adquirir uma máquina fotográfica equivalente à que utilizei para obter as imagens que ilustram este texto; com esse aparelho conseguem “apanhar” muito mais do que Pintassilgos – o território nacional em geral e a orla do estuário do Cávado em particular alberga uma impressionante diversidade avifaunística; não ficam limitados a exercer a actividade durante apenas dois meses no ano; também levam aves para casa (em forma de fotografia), mantendo os “originais” na Natureza onde os seus cantos permanecem mais melodiosos e sempre disponíveis para outras pessoas igualmente os ouvirem e contemplarem; dessa forma contribuem para o aumento do potencial reprodutor nos anos seguintes e consequente preservação das espécies; o gozo proporcionado é muito semelhante – EXPERIMENTEM.



Em jeito de desafio deixo-vos, por fim, com uns singelos exemplos de imagens de 5 (cinco) das 7 (sete) espécies de Frigilídeos (família Fringillidae) que poderemos obter neste nosso “quintal” no decurso das quatro estações do ano e sem grandes meios (e, no meu caso particular, sem grande habilidade). E isto, também como forma de introdução ao tema que vou desenvolver de modo mais aprofundado a partir do início do próximo ano: a observação de aves do nosso litoral.



Chamariz (Serinus serinus)









































Pintarroxo (Carduelis cannabina)









































Pintassilgo (Carduelis carduelis)
























Tentilhão (Fringilla coelebs)











































Verdilhão (Carduelis chloris)


























(1)
Também chamada de “Caça Fotográfica” ou “Fotografia da Natureza” e sobre a qual já desenvolvi algumas considerações sobre o respectivo código de conduta no post «Nidificação (parte V)» que publiquei em 25 de Julho.

NOTA: Todas as fotos foram obtidas em simples passeios ou visitas de campo pelos espaços naturais da nossa terra. Devo salientar apenas que o Pintassilgo foi fotografado a partir do interior do meu automóvel num momento em que a ave, não se apercebendo da minha presença (situação habitual naquelas circunstâncias), posou muito próximo da minha lente (portanto, entre a máquina fotográfica e o motivo ainda estava o vidro pára-brisas que prejudicou um pouco o resultado).



quarta-feira, 19 de novembro de 2008

MICOLOGIA (parte VI)

Gastronomia e Nutrição

No prato, como “actores principais” ou como “ilustres acompanhantes”, os cogumelos, com todos os seus sabores peculiares, texturas curiosas e aromas variados, facilmente conquistarão os amantes da boa cozinha, desde que para isso se ultrapassem algumas das fobias entretanto “instituídas”.

Os cogumelos, sem bem cozinhados, além de se tornarem autênticas delícias, constituem um alimento muito saudável pelo seu alto valor nutritivo, com quantidade de proteínas quase equivalente à da carne e acima de alguns vegetais e frutas, são ricos em vitaminas, principalmente complexo B, fibras, minerais (cálcio, iodo, fósforo), apresentam-se com baixo teor de gordura, contribuem para o reforço do sistema imunológico e são importantes aliados no tratamento complementar de doenças que afligem a população mundial, como alguns tumores, lupus, hepatite, HPV (Vírus do Papiloma Humano), auxiliam a renovação celular, combatem a hipertensão, é indicado para o controle do colesterol e são sofisticados componentes das dietas de emagrecimento.

O facto destas iguarias tornarem as refeições mais saborosas e suculentas e ainda assim contribuírem para hábitos alimentares saudáveis, tem sido cada vez mais anunciado por todos os meios de comunicação social. Por sua vez, estas virtudes têm granjeado um número crescente de adeptos da gastronomia micológica que, tal como aos simpatizantes da Lampreia dos rios minhotos ou das Clarinhas de Fão, os fazem percorrer longas distâncias para se dedicarem aos prazeres da “gula sem pecado” (quase uma utopia).


(1)




















(2)

























(3)



















(4)



















(5)



















(6)


















(7)

















(8)



















(9)




















(10)



















(11)





















Mais uma aposta com um futuro promissor.




Legenda (fotos):

(1) Sortido de cogumelos (Coprinus comatus; Lactarius deliciosus; Lactarius sanguifluus; Tricholoma terreum; Lepista nuda; Cantharellus cibarius) já lavados;

(2) “Míscaros amarelos” (Tricholoma equestre) limpos;

(3) “Míscaros amarelos” a “estalarem” em azeite e alho (confecção);

(4) “Míscaros amarelos” com tomate seco, salsa e manjericão (confecção);

(5) Esparguete com “Míscaros amarelos”, Tomates Secos e Dois Queijos (Mozzarella e Requeijão) (prato concluído);

(6) “Boletos” (Boletus edulis) já preparados para uma deliciosa conserva em azeite;

(7) Conserva de “Boletus” em azeite aromatizados com ervas (Orégãos);

(8) “Cantarelos” ou “Rapazinhos” (Cantharellus cibarius) limpos;

(09) e (10) “Cantarelos” temperados;

(11) Tarte de Cantarelos (sobremesa).


quarta-feira, 12 de novembro de 2008

MICOLOGIA (parte V)

Colheita de Cogumelos Silvestres
Aqui vou afastar-me um pouco dos conteúdos teóricos que obtive através da consulta à vasta colecção bibliográfica sobre micologia que enchem as prateleiras lá de casa e que oportunamente aqui indicarei para ser justo face às minhas fontes de informação. Vou, então, seguir o exemplo de Natalina Azevedo, autora de um daqueles livros, que nos narra na respectiva introdução uma das suas jornadas na floresta. Limitar-me-ei, portanto, a contar uma experiência num daqueles dias de Outono em que me dedico à «apanha das iguarias da terra».

Só por curiosidade refiro que, à semelhança de alguns portugueses e um elevadíssimo número de espanhóis, franceses, italianos, etc… todos os anos gozo parte significativa das minhas férias nesta época. Era nesta altura do ano que habitualmente se alojavam num hotel da nossa terra (onde trabalhei há cerca de 20 anos) uns clientes estrangeiros que calcorreavam o dia todo o Pinhal de Ofir e, após o regresso, estendiam nas varandas umas “coisas amarelas e alaranjadas” para secar – hoje sei que eram Cantarelos, cogumelos aromáticos que se prestam bem àquela forma de conservação e que, só pela pronunciação do nome, já as minhas papilas gustativas se estimulam.


«É aliciante. Desperto bem cedo com anormal facilidade e a visão de um termómetro que treme encolhido não é capaz de me desanimar. Hoje espera-me uma festa dos sentidos. Visto uma roupa mais quentinha que me proteja também da humidade, calço umas botas de borracha, navalha, cesto de vime, a omnipresente máquina fotográfica e uns guias da natureza na mochila (sempre me pode surgir no caminho flora ou fauna selvagem desconhecida) e – dou início à “expedição”.

Sei que dificilmente encontrarei flores nas matas que vou visitar, mas isso não será sinónimo de uma experiência pouco colorida. Mal ponho os pés nos musgos húmidos e reluzentes, logo se anunciam os primeiros cogumelos silvestres com cores que parecem querer saltar do verde predominante. A partir daí, aproveitando a tranquilidade por estar a sós com a Mãe Natureza ou então na privilegiante companhia de um bom amigo destas lides, dedico-me a sentir o imenso prazer da descoberta. Se não for Quinta-feira ou Domingo (dia de outras práticas venatórias) é certo que um pisco, um chapim ou um melro me venham fazer companhia e emprestar um pouco de música de fundo à caminhada. Surge então um cogumelo que me aguça o interesse, tenho quase a certeza de que é comestível, logo, para mim é o mais tóxico dos fungos, mas retive-me a contemplar os vermelhos intensos e brilhantes como geleia do seu chapéu e a alvura das lâminas e do pé. Não resisti e “fiz-lhe uma macro”, vai comigo para casa, mas na forma de fotografia, era uma Rússula. E sigo destino, o ano passado descobri noutro pinhal mais adiante alguns Boletos, vou lá espreitar cheio de esperança mas, surpresa, nunca tinha visto por ali tantos Tricolomas com as suas lâminas amarelas já bem expostas, concerteza já lançaram os seus esporos (o equivalente às sementes nas plantas). Decido levar alguns e deixar ficar os mais novos que mal furaram o solo arenoso. Aponto-lhes a lâmina da navalha e, sem os puxar, corto-os pelo pé – quero que para o ano cá estejam outra vez. Já começo a imaginar o luxuoso jantar... “estufadinhos”! Logo se verá, ainda não sei o que me espera e isso enche-me de entusiasmo. Como os quero bem conservados, coloco-os num cesto em vime bem arejado, assim ainda acabo por “semear” alguns cogumelos. Surge-me então um Amanita phalloides, o mais mortal dos fungos e que tem algumas semelhanças com os amarelos que já trago no cesto. Paro… e contorno com um olhar mais atento o majestoso cenário à minha volta. É natural que sob os meus pés se desenvolva o micélio daquele “fruto”, mas o que realmente me prende a atenção é o aspecto robusto e saudável daqueles pinheiros. Está confirmado, já estabeleceram micorrizas. Agora arrependo-me de não ter posto os binóculos na mochila, depois do ruidoso alerta dos curiosos Gaios, avisto umas aves de rapina a pairarem sobre a copa das árvores e daqui não as
consigo identificar mas, pela imponência, devem ser os Búteos do costume que me espreitam vigilantes. Bem... e que tal se “estalasse estes no alho” como entrada ao manjar e fizesse uns “peitos de frango recheados com Lactários”... ali à frente costumavam aparecer alguns. Avanço e… confirmou-se... recolho os suficientes para o número de comensais… mas... como pode ser possível? Já passaram três horas! Tenho de voltar para casa onde ainda me espera algum trabalho. Tenho que limpar isto tudo e… detenho-me a contemplar o resultado da “apanha”… tem graça, o cesto até parece a paleta de um pintor... tantas cores!


E ponho-me ao caminho. Regresso inebriado com uma ligeira sensação de que fui a um supermercado com parque de diversões incluído
».



terça-feira, 4 de novembro de 2008

MICOLOGIA (parte IV)

Percursos Pedestres Temáticos

O Concelho de Esposende ainda não dispõe de uma oferta bem desenvolvida nesta matéria. Fomos dotados de riquezas naturais, culturais e paisagísticas que, de forma sustentável, podem muito bem ser exploradas para fins turísticos. De qualquer forma, os respectivos percursos e circuitos com conteúdo temático, ainda não estão convenientemente identificados ou sinalizados e dificilmente se compreendem os valores patrimoniais (naturais e edificados) em presença. Além disso, aquela lacuna não é compensada pela oferta de um número suficiente de técnicos que possam acompanhar os nossos visitantes. Entendo que, a título de exemplo, não estamos a saber aproveitar as mais-valias que resultam da existência neste concelho de um estabelecimento de ensino com as características da Escola Profissional de Esposende (EPE), com uma formação orientada para um turismo qualificado. É importante equacionar, ao nível concelhio, a criação de um corpo de guias da natureza (ou culturais), aproveitando a energia e os conhecimentos dos jovens formados que poderiam incutir à área do turismo em Esposende um novo espírito – temos em mãos um diamante por lapidar.

As matas ainda existentes nesta terra encerram habitats onde os cogumelos abundam. Como nós (Associação Assobio) já confirmamos, está perfeitamente ao nosso alcance cativar os nossos visitantes e, acompanhando-os, é fácil fazê-los percorrer as áreas florestais com interesse ambiental sob o pretexto de «uma viagem ao mundo dos cogumelos» que ainda é para muitos adultos um tema associado a uma certa magia com muitas histórias para contar e, para as crianças, uma grande diversão que se transforma numa verdadeira aula sobre ecologia.

Em virtude de poderem englobar inúmeras disciplinas, os assuntos que poderão ser abordados numa actividade desta natureza são quase infinitos.

Fiquem por enquanto com uma muito diminuta amostra da enorme diversidade de cores e formas de cogumelos que poderemos encontrar nos prados marginais ao Cávado e na Mata Dunar de Pinheiro e Folhosas do nosso concelho.



Agaricus sp




















Amanita muscaria



































































Amanita phalloides

























Armillaria mellea


























Boletus edulis





















Boletus sp


















Calocera viscosa











































Cantharellus tubaeformis

























Chroogomphus sp












































































Clathrus ruber


























Coprinus comatus













































Geastrum sp























Gomphidius roseus





















Gymnopilus spectabilis












































Hydnum repandum



















Hygrophoropsis aurantiaca











































Hypholoma sp




























































Laccaria amethystina
























Lactarius deliciosus




































Lepista nuda
























Lycoperdon perlatum

























































Mycena seynesii
















































Paxillus panuoides


















Peziza sp



















Phaeolus sp






































Pholiota mutabilis (Kuehneromyces mutabilis)



















Pisolithus tinctorius




















Pseudohydnum gelatinosum
























Russula sp




















































































Scleroderma sp































































Sparassis crispa



















Suillus bellini



















Suillus bovinus




































Suillus granulatus


















Tricholoma equestre






































Tricholomopsis rutilans



































Volvariella sp




































Xerocomus badius
























… de um imenso recurso natural a considerar!