sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MICOLOGIA (parte VII)

Advertências

«Para que no futuro não nos reste o conto da Galinha dos Ovos de Ouro».

Depois deste breve interregno que se justificou pelos muitos afazeres relacionados com a organização de alguns eventos relacionados com a micologia em que tive a honra e o imenso prazer de participar, volto a este tema, desta vez para entrar na fase das conclusões.

Assim.

Os Fungos, para além da sua reconhecida função ecológica, constituem um recurso com potencial gastronómico relevante. O sabor de algumas espécies atrai um crescente interesse na recolha de cogumelos silvestres comestíveis e muitas redes de comercialização, principalmente de origem estrangeira, já operam em Portugal escoando centenas de toneladas anuais de cogumelos para países como a nossa vizinha Espanha, França e Itália.

Face a esta nova realidade, que se faz notar de forma mais acentuada nas zonas raianas do País, adivinha-se que para breve o fenómeno se estenderá até ao litoral e, considerando o vazio legislativo neste domínio, torna-se imprescindível proceder a curto prazo à regulamentação da recolha e comercialização dos cogumelos silvestres, sob pena de não conseguirmos evitar a perda destas mais-valias. Se assim for, essa acção também promoverá a conservação e a sustentabilidade deste recurso.

Previamente ao desenvolvimento de qualquer projecto nesta área, além das exigências de cariz legal, é fundamental implementar também um conjunto de outras medidas com o objectivo da salvaguarda do nosso património e travar a procura desenfreada e a colheita intensiva.


SUGESTÕES:

- Realizar estudos de inventariação dos macrofungos, contribuindo para o crescimento do conhecimento relativo ao nosso património fúngico;

- Sistematizar a informação já existente sobre a ocorrência das espécies de cogumelos, de forma a simplificar a sua consulta;

- Planear a ocupação do território tendo em consideração a conservação dos habitats com manifesto interesse micológico;

- Investir na formação de técnicos especializados na área dos macrofungos;

- Realizar campanhas de sensibilização da população para a importância dos macrofungos no equilíbrio ecológico;

- Implementar medidas que permitam a criação de uma Lista Vermelha de Fungos para Portugal;

- Ponderar a criação de mecanismo de certificação dos cogumelos que crescem nos nossos Parques Naturais;

- Obrigar todos os colectores a frequentarem uma acção de formação, na qual seja demonstrada a importância dos cogumelos enquanto seres vivos de um ecossistema complexo, a identificação dos principais tipos de cogumelos e o modo de efectuar correctamente a sua apanha;

- Obrigar os colectores a obterem uma licença, tal como na caça, de âmbito concelhio, regional ou nacional, que os habilitaria para a actividade, instituindo-se o Cartão de Colector;

- Também à semelhança da prática venatória, ponderar a criação de coutadas e mesmo a determinação de dias destinados para a recolha de cogumelos;

- Respeitar a propriedade alheia;

- Definir um código de conduta (ver, como ponto de partida, por exemplo, o já adoptado pela Associação Assobio);








NOTA: A imagem que ilustra este texto corresponde ao cogumelo da espécie Boletus edulis – verdadeira delícia – ainda relativamente frequente nos pinhais do nosso concelho e que atinge preços verdadeiramente exorbitantes nos mercados daqueles países que acima me referi.