quinta-feira, 30 de abril de 2009

ORNITOLOGIA (parte XIII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Vamos agora “afastarmo-nos” do meio aquático e ficar a conhecer um pouco melhor uma família de aves que nos é muito familiar em virtude de, já desde tempos remotos, o homem tirar proveito dos seus dotes enquanto excelentes voadoras (quem nunca ouviu falar de associações columbófilas, ou dos pombos-correios?), também por serem, com excepção a Rola-turca, espécies cinegéticas muito apreciadas (a partir de 15 de Agosto que se cuidem!), ou ainda pela sua aptidão para tirar partido dos nossos hábitos de vida que lhes proporciona uma constante disponibilidade de alimento e abrigos – falo, como já acabei por referir, dos pombos e das rolas que acolhemos como vizinhas, tanto nos nossos centros urbanos como nos meios mais rurais (ou será que foram elas que nos aceitaram com tal?).


Ordem Columbiformes

Família Columbidae
(quatro espécies)


Columba livia (Pombo-da-rocha ou Pombo-doméstico)



















1 – (Estatuto de conservação) Informação insuficiente; no entanto, é previsível que, pela inexistência na região dos habitats originais da espécie, a estirpe genuinamente selvagem seja rara ou até extinta, pelo que os dados que a seguir apresento correspondem às populações domesticadas ou ferais, fugidas do cativeiro e/ou cruzadas com selvagens (ver também o ponto 7);
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Comum em qualquer concelho com as características do nosso, aumentando de número conforme cresce a densidade de ocupação do território (numeroso nas maiores cidades);
4 – (Espécies parecidas) O Pombo-torcaz, além do seu porte substancialmente mais robusto, apresenta como característica muito particular as manchas brancas bem visíveis no pescoço e nas asas que os diferenciam de todas as outras aves desta família; há a considerar também uma infinidade de diferentes plumagens que os pombos ferais podem apresentar, que vai desde aves completamente brancas ou pretas, arruivadas, castanhas ou quase amarelas e malhadas de várias cores e padrões a que estamos tão habituados a ver nos nossos passeios, praças ou jardins públicos;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Frequenta profusamente todos os meios naturais (zonas florestais, dunas marítimas, margens dos rios e estuário), rurais (quintas e campos agrícolas) ou urbanos (telhados, beirais de edifícios altos, templos e casas devolutas);
6 – (Tolerância à nossa presença) Os espécimes selvagens ou assilvestrados serão tímidos, contudo, aqueles mais urbanizados até às mãos nos vêm buscar alimento (o exemplar que surge na fotografia, embora apresente plumagem em tudo semelhante à estirpe bravia, corresponde a uma ave perfeitamente acostumada à nossa aproximação);
7 – (Outros dados de interesse) O muito que há para contar acerca da história desta espécie não cabe num espaço como este, de qualquer forma, muito sinteticamente, pode aqui ficar referido que num primeiro momento, há muitos séculos atrás, o homem domesticou estas aves que foram mantidas em cativeiro separadas das populações selvagens e, posteriormente, quando aquelas se libertaram, ocorreu um cruzamento entre populações, subsistindo a estirpe original nos seus habitats primordiais (falésias e escarpas) e as mestiças ou domesticadas distribuíram-se pelas nossas povoações.


Columba palumbus (Pombo-torcaz)






































1 – Pouco preocupante;
2 – Começam a chegar no decorrer do mês de Março e partem já durante o de Outubro, mas não será de estranhar alguns avistamentos menos comuns de indivíduos que por cá permanecem durante o período de Inverno; aparentemente estes dados contrariam a informação presente em toda a bibliografia e também aquela que nos é disponibilizada pela SPEA, que atribui a esta espécie em concreto o estatuto de Invernante muito abundante e Residente comum;
3 – Cada vez mais comum;
4 – Ver igual número da espécie anterior;
5 – Distribui-se principalmente pelos pinhais onde os seus movimentos são facilmente detectados pelo forte e sonoro batimento de asas, enquanto se muda de um galho para outro mais afastado dos intrusos (nós);
6 – São poucos os espécimes que nos permitem uma aproximação razoável para a “captura” fotográfica e, mesmo quando esse privilégio nos é consentido, normalmente ainda temos que ultrapassar as dificuldades provocadas pelas sombras que se projectam por entre os ramos dos pinheiros em que pousam;
7 – Pela literatura consultada, será o pombo selvagem mais abundante no nosso continente, todavia, há pouco mais de dez anos era raro observá-los pelo Pinhal de Ofir, onde, neste momento, além da situação se ter invertido, já nidifica com relativa facilidade.


Streptopelia decaocto (Rola-turca)
























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Abundante;
4 – Fácil de identificar, entre outras características, a Rola-brava diferencia-se desta por apresentar as asas com um padrão malhado de castanho avermelhado e preto que, naqueles casos em que apenas são avistadas por instantes ou a distância maiores, tornam o aspecto geral da ave mais escuro;
5 – Espécie muito associada ao homem, pois frequenta quase exclusivamente os nossos parques, jardins e arruamentos arborizados; nota-se também que aprecia a proximidade de pinhais (principalmente no núcleo turístico de Ofir) ou de quintas com silos de cereais (zona das Pedreiras em Fão);
6 – Muito tolerantes e posam com muita fotogenia;
7 – Convém fazer aqui uma breve nota sobre a distribuição e a expansão da Rola-turca no nosso País; no início do século passado a espécie apenas abrangia os países situados na parte mais oriental da Europa (como o próprio nome vernáculo indica), mas a determinada altura começou a espalhar-se para ocidente até que por altura da revolução dos cravos (!) ter-se-á iniciado a sua colonização por cá, em particular no litoral minhoto, propagando-se rapidamente às restantes regiões de norte a sul do território revelando sempre um enorme sucesso reprodutivo.


Streptopelia turtur (Rola ou Rola-brava)

1 – Pouco preocupante;
2 – Estival e migradora de passagem; nalguns anos surgem mais cedo, mas o mais frequente é vê-las surgirem no mês de Maio e regressarem para sul em Setembro;
3 – Embora seja uma espécie cinegética muito procurada, através de dados obtidos pela minha observação directa, corroborados pelos caçadores do sul do Cávado, é cada vez menos comum nesta região;
4 – Ver igual número da espécie anterior;
5 – Podem ser vistos alguns indivíduos pontualmente pelas margens do Cávado, contudo, são observadas em maior número na veiga agrícola desde Fão até à Apúlia pela orla da zona florestal onde é mais fácil de detectar, nomeadamente junto ao “Caniçal”; aqui, além de pousarem cautelosamente para se alimentarem, passam principalmente em voo rápido parecendo que adivinham o risco de sobrevoar uma área pejada de caçadores;
6 – Muito tímida; por vezes um ou outro indivíduo é encontrado no solo, desprevenido, mas assim que nos detecta, logo “dispara” para bem longe; podemos, contudo, beneficiar do hábito que estas aves têm em permanecer pousadas pelos caminhos de terra batida no seio do pinhal ou na orla do estuário, o que as deixa relativamente expostas;
7 – Nada a acrescentar.


sábado, 25 de abril de 2009

PORQUÊ ABRIL?

“Não está na natureza dos seres humanos serem frangos em esplêndidos aviários. Cada pessoa merece poder deslocar-se facilmente de e para o mundo complexo e primordial em que nasceu. Precisamos de ter a liberdade de deambular por terras que não são de ninguém mas que são protegidas por todos, cujos horizontes inalterados sejam os mesmos que delimitavam o mundo dos nossos antepassados milenares. Só naquilo que resta do Éden, fervilhando com formas de vida independentes de nós, é possível experimentar o tipo de maravilhamento que moldou a psique humana na sua origem.”

Enquanto me deleitava com a leitura de «A Criação» de E. O. Wilson, não pude deixar de me questionar se no cantinho do planeta que me foi destinado (e que também escolhi) para viver ainda subsistiriam territórios, nem que fossem apenas fragmentos, onde pudéssemos vadiar em absoluta liberdade, tal como o autor aponta no excerto que serve de introdução a esta minha reflexão.

Quis desesperadamente convencer-me que sim e logo procurei identificá-los nos múltiplos cenários que começaram a desfilar perante os meus pensamentos. Foram surgindo alguns candidatos mas não foi difícil eleger aquele que, de certa forma, melhor representava natureza quase virgem e pura vastidão: - a extensa Praia de Ofir no colo quente das suas dunas e refrescada pelo Atlântico. Quem nunca experimentou a deliciosa liberdade de a percorrer só por percorrer, só para a contemplar, só para a sentir, sem fins, sem destino, sem barreiras? Um autêntico luxo ao nosso dispor, sem dono e de todos.

Ou será que não?

Já não são novidade para ninguém os fenómenos erosivos que estão a assolar progressivamente o nosso litoral. As causas naturais perfilam-se como as mais prováveis para justificar avanço do mar, todavia, não será de menosprezar a acção nefasta do homem enquanto agente amplificador deste processo. A comunidade científica não se cansa em avisar-nos de que já não restam dúvidas quanto à sua irreversibilidade, desdobra-se a aconselhar-nos sobre a necessidade urgente de recuarmos na ocupação do litoral e, sobretudo, é clara quando assume que ao afrontarmos o poder da Natureza, edificando nos frágeis e instáveis sistemas dunares, contribuímos para o aumento da vulnerabilidade daquelas formações geológicas que se assumem como o primeiro e mais eficaz travão contra os riscos de catástrofe associados à erosão. Portanto, seria de todo recomendável salvaguardarmos a integridade daquelas barreiras naturais, mantendo tanto quanto possível toda a sua dinâmica de mobilidade das areias, simplesmente retidas pela vegetação nativa, na medida em que essa é a característica fundamental para que nos sirvam de defesa contra os galgamentos oceânicos.

Mas não!

Os invasores do nosso litoral, além de impunes, são ainda privilegiados com o especial aval das autoridades para desvirtuarem toda a ecologia e morfologia costeira com grotescas intrusões visuais completamente ineficazes – estou a referir-me, como já terão notado, àqueles gigantescos sacos de areia que, arriscadamente empilhados na Praia da Sra. da Bonança em Fão, logo cederam às “carícias” das primeiras maresias, expondo-lhes o «aldeamento» ao próprio atrevimento.

No entanto, como por agora (!) a factura da frustração não tem sido paga pelo erário público, mas antes pelos abastados locatários do condomínio fechado, os nossos autarcas vão assobiando para o ar, inocentes. E indiferentes. Indiferentes, quando em concreto toda a população é parte lesada na história e há responsáveis, que não o ICNB, pelo licenciamento daquelas construções.

Senão, vejam.

- Com aquela infra-estrutura não terá sido usurpado o nosso direito à paisagem, entendida como parte integrante do nosso imaginário colectivo?

- Já alguém terá avaliado convenientemente os riscos de deslizamento daquelas areias que, nada consolidadas, estão na iminência de causarem trágicos acidentes pessoais?

- E se, simplesmente, me apetecer fazer uma caminhada pela praia desde Fão até à Apúlia? Não terei, apenas enquanto humilde fangueiro, a legitimidade de o fazer? E por onde, se a passagem me foi vedada?

- Porquê Abril? Para ter o direito de exigir “a liberdade de deambular por terras que não são de ninguém mas que são protegidas por todos”.




















25 DE ABRIL SEMPRE, INCÚRIA NUNCA MAIS!


terça-feira, 21 de abril de 2009

ORNITOLOGIA (parte XII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Encerro então, por agora, o capítulo dedicado à ordem dos Charadriiformes com as delicadamente elegantes Andorinhas-do-mar. Estas aves, que quando pousadas mostram uma aparência tão desajeitada devido às suas “inúteis” patas curtas, facilmente nos deslumbram com as suas hábeis manobras aéreas a prepararem os voos picados até à superfície das águas agitadas do mar ou mais tranquilas do Cávado de onde obtêm o seu alimento – pequenos peixes – num espectáculo gracioso, sempre anunciado pelas suas vocalizações estridentes perfeitamente audíveis a partir da praia ou das margens.


Ordem Charadriiformes

Família Sternidae

(três espécies)


Sterna sandvicensis (Garajau-comum)




























































































1 – (Estatuto de conservação) Quase ameaçado, consta no anexo A-I da Directiva Aves e está definida como de conservação prioritária para a área do Parque Natural Litoral Norte (PNLN);
2 – (Quando observar) É raro observar estas aves a frequentarem o estuário ou as nossas praias durante o Inverno, contudo, normalmente entre Março e Abril, passam pelo nosso litoral indivíduos migradores em quantidades consideráveis; desde então, até ao final da época estival o número volta a decair, até que entre Setembro e Outubro, já em migração de retorno para África, chegam a ocorrer na região bandos numerosos;
3 – (Abundância) Comum;
4 – (Espécies parecidas) A Andorinha-do-mar-comum tem o bico vermelho alaranjado com a ponta preta, característica que a distingue do Garajau-comum que o apresenta de cor preta com a extremidade amarela;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Ver nota introdutória;
6 – (Tolerância à nossa presença) Embora sejam observados quase sempre esvoaçando acima de planos de água, se porventura estivermos por perto, nem sequer esboçam um pequeno desvio para se afastarem enquanto passam, pelo que, com um mínimo de pontaria, poderemos obter fotos interessantes das aves em voo;
7 – (Outros dados de interesse) Nada a acrescentar.


Sterna hirundo (Andorinha-do-mar-comum)



















1 – Em perigo, consta no anexo A-I da Directiva Aves e está definida como de conservação prioritária para a área do Parque Natural Litoral Norte (PNLN);
2 – Apesar de nas minhas notas de campo ter registado algumas ocorrências em pleno mês de Agosto, a espécie é observada quase exclusivamente em passagem migratória durante os meses de Setembro e Outubro;
3 – Nestes dois meses pode ser frequente, mas em quantidade muito menor do que a espécie anterior;
4 – Considerar o que está mencionado em igual número do Garajau-comum;
5 – Ver nota introdutória;
6 – Comportamento parecido com o Garajau-comum, mas talvez um pouco mais tímidos;
7 – Nada a acrescentar.


Sterna albifrons (Andorinha-do-mar-anã)

1 – Vulnerável e consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Nalguns anos podem ser vistos em migração entre finais de Abril e meados de Maio e, posteriormente, começam a regressar para sul a partir de Julho, tornando-se mais vulgar já no decorrer do mês de Setembro;
3 – Rara, ocasionalmente comum em certos dias deste último mês;
4 – Nenhuma, pois, embora seja morfologicamente idêntica às espécies congéneres apresentadas anteriormente, é substancialmente mais pequena;
5 – Ver nota introdutória;
6 – Comportamento parecido com o Garajau-comum, ainda que seja mais habitual vê-los a peneirar num ponto quase fixo, poucos metros acima da linha de água, à procura de presas;
7 – Em jeito de conclusão no que a esta família de aves diz respeito, apraz-me lançar o desafio para que, naquelas circunstâncias em que se apercebam dos chilros destas aves a passar, procurem posicionar-se no extremo de um esporão, ou naqueles passadiços existentes ao longo da zona ribeirinha de Esposende, ou ainda num dos dois miradouros instalados sobre o estuário e contemplem simplesmente.



domingo, 12 de abril de 2009

ORNITOLOGIA (parte XI)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Com certeza que aqueles que me acompanham desde o início neste “ensaio sobre observação de aves” e que estão minimamente familiarizados com a literatura ou estudos da especialidade, esperarão que neste momento, conforme a sequência convencionada, me dedique às famílias das aves vulgarmente chamadas de Limícolas (Borrelhos, Pilritos, Maçaricos e afins) pertencentes à segunda maior ordem de espécies que ocorrem nesta região, os Charadriiformes, onde também se incluem os já aqui referidos (na parte III) Moleiros e Alcídeos.
Todavia, em virtude de (a título meramente pessoal) considerar as Aves Limícolas como o ex-líbris da avifauna local e, nesse sentido, querer reservá-las para a conclusão deste trabalho, optei por não respeitar a dita sequência normal, seguindo, desta feita, pelas suas “primas” ainda da mesma ordem e que também nos são muito familiares nestas paragens: - as assíduas e omnipresentes Gaivotas.
Compreendo que para os mais distraídos relativamente a estas coisas das aves, aqueles densas concentrações de gaivotas pelas “ilhas” que se vão estendendo pelo curso final do Cávado ou ao longo da linha de costa pelas praias, devem constituir algo de muito monótono, repetitivo e entediante. Mas se porventura tivéssemos a real noção da variedade de espécies que ali podem estar presentes ou o significado das diferentes plumagens que os vários exemplares vão apresentando, certamente que apreciaríamos aquele cenário com outra sensibilidade e interesse.
Assim, deixo a seguir uma modesta contribuição para que, da próxima vez que se depararem com uma colónia de gaivotas, consigam interpretar o que está diante dos vossos olhos e as contemplem com as devidas atenções.


Ordem Charadriiformes

Família Laridae

(cinco espécies)


Larus ridibundus (Guincho)

















































































































































1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Embora sejam mais numerosos no Inverno, podem ser observados indivíduos migradores ao longo de todo o ano com relativa abundância, notando-se um decréscimo a partir de Abril e um claro aumento de afluência a partir de Setembro;
3 – (Abundância) Comum;
4 – (Espécies parecidas) De entre aquelas espécies que aqui vão ser abordadas e que, como está referido logo no início, são simplesmente aquelas cuja presença já confirmei pessoalmente na área em estudo, não existe qualquer outra que se lhe assemelhe, no entanto, está indicada na «Lista de espécies de aves referenciadas para o PNLN» (fonte ICNB) a rara Gaivota-de-cabeça-preta, também conhecida por Gaivota-do-mediterrâneo (Larus melanocephalus), que no aspecto geral apresenta características praticamente idênticas (consultar guias);
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Distribui-se amplamente por todo o estuário, praias, mar, zonas urbanas adjacentes e também campos agrícolas, nomeadamente do lado de Gandra, onde é habitual acompanharem os tractores dos agricultores enquanto estes lavram as terras;
6 – (Tolerância à nossa presença) Em todas as circunstâncias atrás expostas parecem ignorarem ou não se incomodarem com a presença humana, sendo muito permissivas à nossa aproximação, especialmente se lhes oferecermos algum alimento que estão sempre prontos a aceitar; não será difícil obterem-se fotos com qualidade muito superior às que aqui exponho e em poses bem mais graciosas;
7 – (Outros dados de interesse) A plumagem desta ave evolui ao longo do ano; após o primeiro Inverno de vida, fase em que o padrão das penas se resume a uma pintalgado confuso em tons de cinzento acastanhado, e ainda que também se verifiquem outras alterações na coloração das suas penas, a mais evidente é a que ocorre desde o final do mês de Fevereiro, quando começa a apresentar um “capuz” castanho-escuro por toda a cabeça quase até à nuca, o qual vai desaparecendo com a chegada do Inverno até ficar reduzido a uma simples pinta na parte de trás de cada olho (ver na última foto essa transformação bem ilustrada).


Larus canus (Gaivota-parda)






































1 – Não consta no LVVP; pouco preocupante (IUCN);
2 – Invernante; podem ser vistos principalmente a partir de Novembro até Janeiro;
3 – Rara;
4 – Para efeitos de comparação ou identificação, será com dificuldade que encontraremos uma família de aves que justifique tanto o recurso a guias da especialidade como a das gaivotas, portanto, e como não é meu objectivo fazer aqui uma apresentação muito exaustiva das características específicas de cada uma delas, as advertências que adiantarei permanecerão sempre francamente insuficientes; neste caso em particular, há a assinalar parecenças com as substancialmente maiores Gaivotas-de-patas-amarelas e Gaivota-de-asa-escura, principalmente no caso dos imaturos quando as suas plumagens não vão muito além de um sarapintado cinzento acastanhado aparentemente sem padrão; além desta óbvia diferença de tamanhos, devo também deixar referido que, de entre as gaivotas de bico amarelo, esta é das poucas cujo adulto não apresenta a pinta vermelha na mandíbula inferior;
5 – Estuário e praia onde se misturam por entre os bandos de outras gaivotas;
6 – Sobretudo aqueles espécimes que frequentam a zona ribeirinha de Fão, parecem ignorarem ou não se incomodarem com a nossa aproximação, mantendo-se perfeitamente ao alcance para umas boas “macros”;
7 – Tal como os Guinchos, no primeiro Inverno ainda não está desenvolvida a plumagem de adulto e é só a partir do segundo que a cabeça começa a perder aquele “tingimento” acinzentado até ficar totalmente branca, enquanto a coloração das asas acompanha esta evolução até ficar com um cinzento “liso”.


Larus cachinnans (Gaivota-de-patas-amarelas)























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente, embora se perceba um aumento significativo no Inverno;
3 – Abundante;
4 – Considerar o que está mencionado em igual número da espécie anterior; os juvenis ou imaturos desta espécie (na tal fase “sarapintada”) podem ser confundidos com os da Gaivota-parda (de menores dimensões), da Gaivota-de-asa-escura (ligeiramente mais pequena), ou ainda da Gaivota-grande (notavelmente bem maior), no entanto, nestes dois últimos casos percebem-se perfeitamente os tons bem mais escuros da parte superior; na fase adulta, o cinzento-claro do dorso e das asas também as distingue bem do cinzento-escuro ou quase preto destas duas espécies;
5 – Frequenta principalmente as praias e o estuário mas também todas as outras zonas naturais, semi-naturais e mesmo as densamente humanizadas, pois, sendo omnívoras oportunistas, associam-se com facilidade ao homem, aproveitando-se dos respectivos detritos orgânicos ou lixos que lhes podem servir como alimento (ainda que, naturalmente, não seja essa a sua dieta original);
6 – Quase podemos afirmar que só falta entrarem-nos pela casa adentro, tal tem sido o sucesso da sua expansão e adaptação ao homem e aos seus edifícios (p.ex. infra-estruturas portuárias, pontes, telhados); e quem nunca viu uma concentração de gaivotas a perseguir os barcos de pesca ou a atirarem-se às buchas de pão lançamos ao rio?;
7 – Certamente já viram imagens desta ave à qual lhes são atribuídos outros nomes científicos como Larus argentatus, Larus michahellis ou ainda Larus cachinnans michahellis, entre outros; não querendo intrometer-me na polémica entre biólogos, considero importante deixar aqui esclarecido muito resumidamente que a Larus cachinnans é uma subespécie da Larus argentatus que possui as patas rosas; sendo mais rigoroso, em Portugal Continental podemos observar a subespécie Larus cachinnans lusitanicus; também já aqui me referi a particularidades da evolução da plumagem desta espécie, mas convém acrescentar que a passagem de juvenil para adulto é ainda mais gradual do que as duas anteriores, pois esta apenas atinge a maturidade por volta do quarto ano de vida, depois de sucessivas alterações de padrões intermédios cada vez mais claros.


Larus fuscus (Gaivota-de-asa-escura)






















































1 – Pouco preocupante;
2 – Principalmente invernante, mas também ocorre por cá durante o Verão depois de um acentuado decréscimo durante a Primavera, altura em que a sua presença se resume praticamente a imaturos e indivíduos em migração;
3 – Abundante mas em menor número que a Gaivota-de-patas-amarelas;
4 – Considerar o que está mencionado em igual número da espécie anterior;
5 – Podem ser observadas a sobrevoar todas as povoações litorais, ou ainda pousadas pelos areais das praias marítimas e fluviais e também não se coíbem em frequentarem meios mais humanizados;
6 – Parte significativa dos seus indivíduos permite com relativa facilidade que nos aproximemos, enquanto descansam permanecendo expectantes;
7 – Na Europa existem três subespécies – L.-f.-fuscus, L.-f.-intermedius e L.-f.-graellsii, sendo esta última a mais comum no nosso País; o adulto em plumagem de Inverno apresenta estrias de cor escura bem marcadas a partir da cabeça e prolongando-se pelo pescoço até ao peito; ao inverso dos juvenis da Gaivota-de-patas-amarelas, até atingirem a plumagem de adulto, o padrão malhado, embora semelhante, vai-se tornando cada vez mais escuro com as partes inferiores mais brancas.


Larus marinus (Gaivota-grande ou Gaivotão-real)
1 – Não consta no LVVP; pouco preocupante (IUCN);
2 – Invernante;
3 – Rara;
4 – Ter atenção às espécies atrás mencionadas anteriormente, especialmente a mais pequena Gaivota-de-asa-escura;
5 – Esporadicamente, naquelas formações de gaivotas que em linha se estendem pelas “línguas” de areia nas praias ou no estuário, com auxílio de binóculos, apercebemo-nos de um ou outro espécime com as asas muito escuras substancialmente maior que as restantes, nestes casos, poderemos estar perante um exemplar da espécie em apreço que, como foi dito, muito dificilmente se distingue das suas congéneres; com ajuda de um telescópio podem ser avistadas em maior número ao longo da linha do horizonte no mar, todavia, nestas circunstâncias, se não dispusermos de termo de comparação por perto (p.ex. uma Gaivota-de-asa-escura), a tarefa de identificação será ainda mais complicada;
6 – Nas escassas ocorrências que registei, nunca me foi possível aproximar de uma destas aves, o que, aliás, apenas me estaria acessível se naquele momento pudesse recorrer a uma embarcação;
7 – Nada a acrescentar.