quinta-feira, 30 de abril de 2009

ORNITOLOGIA (parte XIII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Vamos agora “afastarmo-nos” do meio aquático e ficar a conhecer um pouco melhor uma família de aves que nos é muito familiar em virtude de, já desde tempos remotos, o homem tirar proveito dos seus dotes enquanto excelentes voadoras (quem nunca ouviu falar de associações columbófilas, ou dos pombos-correios?), também por serem, com excepção a Rola-turca, espécies cinegéticas muito apreciadas (a partir de 15 de Agosto que se cuidem!), ou ainda pela sua aptidão para tirar partido dos nossos hábitos de vida que lhes proporciona uma constante disponibilidade de alimento e abrigos – falo, como já acabei por referir, dos pombos e das rolas que acolhemos como vizinhas, tanto nos nossos centros urbanos como nos meios mais rurais (ou será que foram elas que nos aceitaram com tal?).


Ordem Columbiformes

Família Columbidae
(quatro espécies)


Columba livia (Pombo-da-rocha ou Pombo-doméstico)



















1 – (Estatuto de conservação) Informação insuficiente; no entanto, é previsível que, pela inexistência na região dos habitats originais da espécie, a estirpe genuinamente selvagem seja rara ou até extinta, pelo que os dados que a seguir apresento correspondem às populações domesticadas ou ferais, fugidas do cativeiro e/ou cruzadas com selvagens (ver também o ponto 7);
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Comum em qualquer concelho com as características do nosso, aumentando de número conforme cresce a densidade de ocupação do território (numeroso nas maiores cidades);
4 – (Espécies parecidas) O Pombo-torcaz, além do seu porte substancialmente mais robusto, apresenta como característica muito particular as manchas brancas bem visíveis no pescoço e nas asas que os diferenciam de todas as outras aves desta família; há a considerar também uma infinidade de diferentes plumagens que os pombos ferais podem apresentar, que vai desde aves completamente brancas ou pretas, arruivadas, castanhas ou quase amarelas e malhadas de várias cores e padrões a que estamos tão habituados a ver nos nossos passeios, praças ou jardins públicos;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Frequenta profusamente todos os meios naturais (zonas florestais, dunas marítimas, margens dos rios e estuário), rurais (quintas e campos agrícolas) ou urbanos (telhados, beirais de edifícios altos, templos e casas devolutas);
6 – (Tolerância à nossa presença) Os espécimes selvagens ou assilvestrados serão tímidos, contudo, aqueles mais urbanizados até às mãos nos vêm buscar alimento (o exemplar que surge na fotografia, embora apresente plumagem em tudo semelhante à estirpe bravia, corresponde a uma ave perfeitamente acostumada à nossa aproximação);
7 – (Outros dados de interesse) O muito que há para contar acerca da história desta espécie não cabe num espaço como este, de qualquer forma, muito sinteticamente, pode aqui ficar referido que num primeiro momento, há muitos séculos atrás, o homem domesticou estas aves que foram mantidas em cativeiro separadas das populações selvagens e, posteriormente, quando aquelas se libertaram, ocorreu um cruzamento entre populações, subsistindo a estirpe original nos seus habitats primordiais (falésias e escarpas) e as mestiças ou domesticadas distribuíram-se pelas nossas povoações.


Columba palumbus (Pombo-torcaz)






































1 – Pouco preocupante;
2 – Começam a chegar no decorrer do mês de Março e partem já durante o de Outubro, mas não será de estranhar alguns avistamentos menos comuns de indivíduos que por cá permanecem durante o período de Inverno; aparentemente estes dados contrariam a informação presente em toda a bibliografia e também aquela que nos é disponibilizada pela SPEA, que atribui a esta espécie em concreto o estatuto de Invernante muito abundante e Residente comum;
3 – Cada vez mais comum;
4 – Ver igual número da espécie anterior;
5 – Distribui-se principalmente pelos pinhais onde os seus movimentos são facilmente detectados pelo forte e sonoro batimento de asas, enquanto se muda de um galho para outro mais afastado dos intrusos (nós);
6 – São poucos os espécimes que nos permitem uma aproximação razoável para a “captura” fotográfica e, mesmo quando esse privilégio nos é consentido, normalmente ainda temos que ultrapassar as dificuldades provocadas pelas sombras que se projectam por entre os ramos dos pinheiros em que pousam;
7 – Pela literatura consultada, será o pombo selvagem mais abundante no nosso continente, todavia, há pouco mais de dez anos era raro observá-los pelo Pinhal de Ofir, onde, neste momento, além da situação se ter invertido, já nidifica com relativa facilidade.


Streptopelia decaocto (Rola-turca)
























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Abundante;
4 – Fácil de identificar, entre outras características, a Rola-brava diferencia-se desta por apresentar as asas com um padrão malhado de castanho avermelhado e preto que, naqueles casos em que apenas são avistadas por instantes ou a distância maiores, tornam o aspecto geral da ave mais escuro;
5 – Espécie muito associada ao homem, pois frequenta quase exclusivamente os nossos parques, jardins e arruamentos arborizados; nota-se também que aprecia a proximidade de pinhais (principalmente no núcleo turístico de Ofir) ou de quintas com silos de cereais (zona das Pedreiras em Fão);
6 – Muito tolerantes e posam com muita fotogenia;
7 – Convém fazer aqui uma breve nota sobre a distribuição e a expansão da Rola-turca no nosso País; no início do século passado a espécie apenas abrangia os países situados na parte mais oriental da Europa (como o próprio nome vernáculo indica), mas a determinada altura começou a espalhar-se para ocidente até que por altura da revolução dos cravos (!) ter-se-á iniciado a sua colonização por cá, em particular no litoral minhoto, propagando-se rapidamente às restantes regiões de norte a sul do território revelando sempre um enorme sucesso reprodutivo.


Streptopelia turtur (Rola ou Rola-brava)

1 – Pouco preocupante;
2 – Estival e migradora de passagem; nalguns anos surgem mais cedo, mas o mais frequente é vê-las surgirem no mês de Maio e regressarem para sul em Setembro;
3 – Embora seja uma espécie cinegética muito procurada, através de dados obtidos pela minha observação directa, corroborados pelos caçadores do sul do Cávado, é cada vez menos comum nesta região;
4 – Ver igual número da espécie anterior;
5 – Podem ser vistos alguns indivíduos pontualmente pelas margens do Cávado, contudo, são observadas em maior número na veiga agrícola desde Fão até à Apúlia pela orla da zona florestal onde é mais fácil de detectar, nomeadamente junto ao “Caniçal”; aqui, além de pousarem cautelosamente para se alimentarem, passam principalmente em voo rápido parecendo que adivinham o risco de sobrevoar uma área pejada de caçadores;
6 – Muito tímida; por vezes um ou outro indivíduo é encontrado no solo, desprevenido, mas assim que nos detecta, logo “dispara” para bem longe; podemos, contudo, beneficiar do hábito que estas aves têm em permanecer pousadas pelos caminhos de terra batida no seio do pinhal ou na orla do estuário, o que as deixa relativamente expostas;
7 – Nada a acrescentar.