sexta-feira, 30 de abril de 2010

O VÓRTICE DO LIXO

Recordam-se daquele caso sobre uma Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) que deixei aqui contado em Maio de 2008 por altura do seu arrojamento na Praia de Ofir? Pois bem. Logo nos primeiros dias deste mês, fixei a atenção na história do Vórtice do Lixo, também designada por “Sopa de Plástico do Pacífico”, a qual já teve direito a documentários televisivos e está muito bem exposta num artigo do célebre jornal britânico The Independent (aqui). Refere-se a uma (ou duas) gigantesca mancha concentrada e flutuante de resíduos, acumulados ao longo de vários anos naquele oceano, equivalente a duas vezes o território dos Estados Unidos da América e que no decorrer da próxima década poderá duplicar. De acordo com a comunidade científica, os plásticos modernos, que constituem a maior parte do lixo que anda à deriva pelos mares, são de tal modo duradouros que estão a ser encontrados restos com mais de 50 anos e, pasmem-se, segundo dados do Programa para o Meio Ambiente da ONU, o número de aves, mamíferos e répteis marinhos a morrerem diariamente com a sua ingestão já ultrapassa o milhão. Nos estômagos das vítimas, além dos habituais e obstrutivos sacos plásticos, têm sido encontrados objectos tão estranhos como seringas, escovas de dentes e até os filtros de cigarros, que lançamos para o chão sem qualquer pudor, que vão desaguar invariavelmente ao sítio do costume (calçada da rua – sarjeta, sarjeta – rio, rio – mar) e que, afinal, não se desfazem assim tão facilmente, nem na água, doce ou salgada, nem os aparelhos digestivos daqueles organismos.

Lembro, mais uma vez, que não é difícil os animais marinhos confundirem os plásticos e outros lixos flutuantes com comida e, para confirmar essa dificuldade, vejam bem o que, por coincidência, apareceu arrojado em grandes quantidades nas praias do litoral norte também no início de Abril:




























































































Lixo? Plásticos? Preservativos? Cacos de vidro? NÃO, apesar de serem popularmente conhecidos pelo vernáculo «caravelas-portuguesas», são seres vivos pertencentes aos cnidários, ou seja, ao mesmo filo (ou parente) das alforrecas e medusas, com quem partilham várias semelhanças e que são tão procuradas como alimento pelas tartarugas marinhas, lembram-se?

Por agora fico apenas com esta breve nota reflexiva.

Quanto à identificação dos cnidários apresentados nas fotos, posso desde já adiantar que as três primeiras imagens mostram a espécie Physalia physalis e as duas últimas referem-se à espécie Velella velella. E tendo em conta que o Verão se aproxima a passos largos, no próximo mês publicarei aqui mais algumas imagens destes interessantes organismos, falando também um pouco da sua ecologia e dos riscos que representam para todos nós enquanto utentes das praias.



terça-feira, 27 de abril de 2010

A FEW WORDS (III)















































































































sexta-feira, 16 de abril de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (MARÇO 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

Já há vários anos, durante o Inverno, tenho avistado ocasionalmente ali para os lados da foz uma potente rapina a investir em acto de caça sobre pombos, no entanto, devido à rapidez com que surgia e logo desaparecia, nunca pude atestar em absoluto a espécie em presença, restando-me apenas a sugestão de que naqueles episódios estava perante uma ave da ordem dos Falcões ou afins. Mas, neste ano, o mês que nos haveria de trazer a Primavera, pelo menos oficialmente, iniciou-se com a revelação que há muito tempo eu ansiava por confirmar. Logo no primeiro dia, ainda o sol acabava de nascer, testemunhei o enérgico ataque de uma rapina sobre um bando de limícolas que “pastavam” tranquilamente no sapal junto ao Forte de São João Baptista, tendo a presa sido atingida e colhida com extrema eficácia e, num ápice, enquanto as quatro asas se debatiam num alvoroço, a assaltante retirou-se, servida, na direcção do pinhal de Ofir. Embora com a mudança de vítima, este “abraço” foi em tudo semelhante às cenas verificadas noutros Invernos e, novamente, não consegui in loco identificar a responsável por todo aquele caos alado. Mas desta vez estava munido de máquina fotográfica, pude registar parte da acção em imagem e já não restam quaisquer dúvidas: - inscreva-se, finalmente, na lista da avifauna local o Falcão-peregrino (Falco peregrinus).





















































No que diz respeito ao estatuto de conservação, esta espécie da Ordem dos Falconiformes, Família Falconidae, é apontada no LVVP como «Vulnerável» e consta no anexo A-I da Directiva Aves. A SPEA classifica-a como Residente e Invernante «Pouco Comum» e não está indicada na «Lista de aves referenciadas para o Parque Natural do Litoral Norte».

Desde aquela data já dediquei muitas horas à observação de aves no local de tão ilustre aparição. Como é óbvio, algumas espécies interessantes foram entretanto registadas, como vamos ver na amostra patente mais abaixo neste texto, mas jamais tal espectáculo se repetiu na minha presença. Por duas vezes, ainda neste mês, vi um “falcão” (ou talvez um Accipiter sp.) a sobrevoar o pinhal vindo de sul e a dirigir-se para o estuário, no entanto, ainda não desenvolvi perícia suficiente para distinguir com facilidade a ave em apreço das suas congéneres confirmadas ou de ocorrência provável na região, nomeadamente os mais pequenos F.-tinnunculus (Peneireiro-vulgar), F.-subbuteo (Ógea) ou F.-columbarius (Esmerilhão).

Durante os primeiros dias, para lá do Fórmula 1 das rapinas, ainda se assinalou entre estas a presença do mesmo par de Tartaranhões-dos-pauis (Circus aeruginosus) mas no final do mês já só a fêmea era observada, principalmente entre pontes, ficando vaga a zona mais extensa do juncal a jusante e que até então era dominada pelo macho. (Parece que afinal não marcaram a data do “casamento” para este ano).

Voltando à refeição do “peregrino”, que é como quem diz, às limícolas, destaca-se entre as mais habituais e que têm sido mencionadas durante os últimos meses, um claro aumento no número de Pilritos-comuns (Calidris alpina), apesar de contarem com uma baixa, como se vê acima, e de Pilritos-d’areia (Calidris alba) que nos fascinam com os seus voos sincronizados.
























































As Rolas-do-mar (Arenaria interpres) também se prestaram a grandes ajuntamentos mas, durante os momentos de descanso, trocavam as areias a descoberto na maré vaza pela robustez dos rochedos.





































Por sua vez, enquanto os Borrelhos-grandes-de-coleira (Charadrius hiaticula) sem distribuíram por entre os bandos de pilritos, os recém-chegados Borrelhos-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) arredaram-se do bulício dos primos para namorarem em zonas mais sossegadas do sapal.





































Continuou a ser bem visível uma grande abundância de Corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) e até as Garças-reais (Ardea cinerea) e as Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta) parecem não ter vontade de nos deixarem.





































Ao invés, as Garças-boieiras (Bubulcus ibis), mais apressadas, aproveitaram o final do mês para regressarem aos seus locais de reprodução.

À boleia destas, debandaram também todas as espécies de patos invernantes, restando-se entre nós, além dos inevitáveis Patos-reais (Anas platyrhynchos), o mesmo Pato-ferrugíneo (Tadorna ferruginea) que nos tinha chegado na mudança do mês.
























































Merecem também especial referência as distintas Gaivotas-do-mediterrâneo (Larus melanocephalus) que, juntamente com vários Garajaus-comuns (Sterna sandvicensis), aqui se mantiveram vários dias a recuperarem forças depois dos fortes temporais que as fizeram abrigar-se no Cávado.



























































































Entre os passeriformes que deveriam estar a chegar de África para criarem descendência, limitei-me a registar que mais nenhuma espécie se juntou às Andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica). De qualquer modo, já se notou um certo “nervosismo” próprio da época por entre as nidificantes residentes, em particular as cada vez mais agitadas e barulhentas Pegas (Pica pica), talvez em marcação territorial, ou então os Chapins-reais (Parus major) nas suas incansáveis tentativas de vocalizarem algumas notas melodiosas…





















… apenas ao alcance dos mais afinados como os Fringilídeos. Entre estes, e à medida que o número de Tentilhões (Fringilla coelebs) diminuía, sucediam-lhes os coloridos Chamarizes (Serinus serinus) e Pintarroxos (Carduelis cannabina) sempre na busca do melhor dos poleiros.




















A Primavera chegava…