sexta-feira, 29 de maio de 2009

ORNITOLOGIA (parte XVI)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Ainda antes de avançarmos definitivamente para os Passeriformes, ficamo-nos por alguns dos “inquilinos” mais frequentes dos buracos das árvores, em especial das menos viçosas e que, fazendo uso de bicos poderosos, animam as nossas caminhadas pela floresta com os seus toques na madeira oca em ritmos ágeis só ao alcance dos percussionistas mais experimentados, além de emitirem aquelas vocalizações ”cómicas” que já foram motivo para divertidos desenhos animados – os Pica-paus.


Ordem Piciformes

Família Picidae

(três espécies)


Jynx torquilla (Torcicolo)

1 – (Estatuto de conservação) Informação insuficiente;
2 – (Quando observar) Entre os anos de 1998 e 2003, durante o mês de Setembro, foi verificada a ocorrência de um indivíduo que permanecia por cá poucos dias (suponho que em migração de passagem); a única excepção ocorreu em 1999 quando foi visto também apenas um espécime mas no final de Março;
3 – (Abundância) Ocasional ou acidental;
4 – (Espécies parecidas) Apresenta um padrão malhado como o Pardal, mas a sua silhueta mais corpulenta assemelha-se mais com uma “Toutinegra”; de qualquer modo, se observada com atenção na sua postura habitual (ver a seguir), as listas negras que se prolongam pela parte superior e na cabeça, que lhe dão uma aparência muito própria, facilitam a sua identificação;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Embora a ave seja da família dos pica-paus, frequentadores habituais dos ramos e troncos das árvores, é encontrada com menor dificuldade rente ao solo por entre a vegetação rasteira, sobretudo junto a formigueiros a alimentar-se muito discretamente; de salientar que os espécimes ou espécime isolado que observei foi sempre localizado numa zona muito restrita situada ao lado do passadiço que contorna as traseiras do Hotel do Pinhal, não muito longe do actual miradouro, onde abundam colónias de formiga preta;
6 – (Tolerância à nossa presença) Parecem tímidos; logo que se apercebem da nossa aproximação, torcem o pescoço (daí o nome) e fogem rapidamente para uma árvore onde “desaparecem” camuflados;
7 – (Outros dados de interesse) Devido à capacidade que têm de passarem despercebidos perante os nossos olhos, ser-nos-ia muito útil conhecermos a vocalização característica da espécie para melhor detectarmos a sua presença por entre a folhagem das árvores em que se escondem.


Picus viridis (Peto-verde)























1
– Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Nenhuma;
5 – É relativamente frequente avistá-los, sobretudo isolados, ao longo de toda a margem esquerda do Cávado nas mesmas circunstâncias referidas para a espécie anterior, desde o juncal em torno do mesmo miradouro até ao clube náutico e também desde o relvado adjacente à pousada da juventude até à zona do Caldeirão; além disso, ainda se distribui amplamente por todo o pinhal, em particular próximo de clareiras, campos agrícolas ou mesmo áreas ajardinadas;
6 – Tímidos, contudo, não raras vezes, se formos discretos, aproximam-se e por breves instantes permanecem imóveis a fitar-nos, como que a avaliarem o grau de ameaça que lhes representamos, após isso, fogem de imediato para bem longe até se ocultarem por entre o arvoredo mais próximo ou na vegetação rasteira num ponto bem afastado;
7 – A cor verde predominante das suas penas favorece-o ao mantê-lo bem disfarçado quando se encontra junto ao solo a alimentar-se demoradamente, mas em contra-partida, enquanto se movimentam nos ramos dos pinheiros ou a treparem os seus troncos numa trajectória tipo parafuso, são facilmente detectados, tanto mais que quando o fazem costumam emitir vocalizações bem audíveis e prolongadas que lembram risadas bem-dispostas.


Dendrocopus major (Pica-pau-malhado-grande)























1
– Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Nenhuma;
5 – Na floresta (em particular onde abundam árvores menos sãs, como no pinhal da restinga, por exemplo) ou nos jardins mais tranquilos, frequenta quase exclusivamente os troncos das árvores que “pica” à cata de suculentas larvas de insectos; nos meses mais frios, que coincidem com a redução deste recurso, é mais comum vê-los incansáveis a bicar pinhas para lhes extrair as nutritivas sementes; ainda se fazem anunciar pelo som das suas vocalizações e tamboriladas características que se propagam pelo pinhal por muitas centenas de metros; também trepa os troncos do mesmo modo que o Peto-verde (em parafuso), num aparece/desaparece que nos deixa confusos enquanto tentamos adivinhar onde vão surgir a seguir; quando a ave nota a nossa presença torna-se curioso perceber que, mantendo sempre o corpo oculto, vão espreitando de um lado e do outro num autêntico jogo das escondidas;
6 – Muito tímidos e desconfiados, pelo que para favorecer as possibilidades de se aproximarem de nós (nunca nós deles), deveremos ter conhecimento prévio dos locais que frequentam com maior regularidade, assim, devidamente camuflados, podemos esperar que a sorte os “traga” até junto de nós; dificilmente param, reduzindo ainda mais as oportunidades de registo fotográfico;
7 – No seio do pinhal de Ofir estão instalados muitos postes telefónicos antigos em madeira e é raro encontrar algum que não esteja escavado por estas aves.


sexta-feira, 22 de maio de 2009

GESTOS

Neste ano em particular não podia deixar de aqui assinalar o 22 de Maio – Dia Internacional da Biodiversidade – não por ser especial simpatizante de dias comemorativos, mas em virtude de em 2009 a data ser dedicada a um tema que considero muito oportuno – “As Espécies Exóticas Invasoras” – cuja acção nefasta, sobretudo das acácias e dos chorões-das-praias, tanto tem depauperado a muito valiosa Diversidade Biológica da nossa região (lembro que onde surgem estas espécies não indígenas nunca se desenvolvem quaisquer outras comunidades vegetais).

Assim, convoco-vos para uma singela reflexão sobre dois exemplos paralelos que demonstram com nitidez a importância dos pequenos gestos.

No início deste mês prendeu-me a atenção uma pertinente intervenção no meu jornal diário, o Novofangueiro, claro, na qual se exortava à acção colectiva da população para embelezar a área residencial da minha terra com janelas e varandas floridas. Para estimular esse exercício de cidadania activa dos meus conterrâneos, o autor do texto socorreu-se com perspicácia daquela história sobre a salutar vaidade de uma senhora que, num qualquer bairro como tantos outros, colocou à janela um vaso com flores, contagiando por essa via a ambição das vizinhas em fazer sucessivamente melhor, o que resultou na transformação de “uma rua cinzenta e triste” num local aprazivelmente colorido.

Imediatamente, não pude deixar de notar a curiosa analogia entre esta imagem e algo que já estava a ocorrer, não num lugar distante ou fictício, mas precisamente no nosso torrãozinho. Conforme o que também foi noticiado no mesmo jornal, os associados da Assobio têm desenvolvido acções de controlo das infestantes acácias, por cá ainda conhecidas por austrálias (Acacia logifolia), que perigosamente, dado serem uma das maiores ameaças à biodiversidade, proliferam pela margem esquerda do Cávado. Com os seus modestos recursos, a intenção daquela associação, além do combate efectivo ao problema, centra-se sobretudo em dar resposta às orientações da União Internacional para a Conservação da Natureza que alertam para a necessidade de mais e melhor informação, sensibilização e educação da população sobre este tema ainda desconhecido de muitos.

Então, à medida que aquela acção foi ganhando alguma visibilidade, pelo consequente impacto na paisagem, logo foi despertada a curiosidade na vizinhança que se questionou sobre os objectivos daquela conduta que já tinha, mais do que o aval, o próprio apoio prévio do Parque Natural. Em resposta, foi sendo transmitido que para lá dos benefícios directos no equilíbrio ambiental, ainda havia a considerar o interesse nada negligenciável e barato em aproveitar a lenha resultante daquele abate para as nossas lareiras ou churrasqueiras domésticas. Atiçada a desejável cobiça, prontamente surgiram os primeiros interessados, seguidos por outros e, esperamos, por outros ainda que, sucessivamente contagiados pelo gesto inicial, contribuam na luta contra esta ameaça à biodiversidade, transformando uma “floresta” monótona e enfadonha num mosaico fecundo de comunidades de vida variada.






NOTA: Da última vez que neste espaço abordei directamente o tema «biodiversidade», ilustrei o texto com uma colorida forma larvar da borboleta Papilio machaon, obtida na Mata de Folhosas e Pinheiro localizada na ameaçadíssima área florestal entre Fão e Apúlia. Aqui podemos ver a larva da Borboleta-das-eufórbias (Hyles euphorbiae) da família das Esfinges (Sphingidae), ainda comum nos nossos sistemas dunares e intimamente dependente da existência de plantas do género das Eufórbias de que se alimentam. Ora, como o habitat onde estas espécies vegetais se desenvolvem está a ser substituído a um ritmo vertiginoso por Chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), será de esperar o rápido abandono desta borboleta que, enquanto parte considerável da dieta dos Noitibós (ver o post anterior), também fará com que estas aves desapareçam dos nossos céus crepusculares…



terça-feira, 19 de maio de 2009

ORNITOLOGIA (parte XV)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Em contraste com a extensa ordem das aves que estamos prestes a abordar e que familiarmente conhecemos por pássaros, ainda nos vamos ficar entretanto com uma série de outras que, representadas apenas por uma ou duas espécies, desenvolveram hábitos e apresentam aspectos gerais tão peculiares que quase nos fazem acreditar estarmos perante autênticos exotismos. No entanto, embora quase todas elas nos visitem somente na Primavera e no Verão, oriundas da quente África, fazem efectivamente parte da multiplicidade da nossa avifauna.


Ordem Cuculiformes

Família Cuculidae
(uma espécie)


Cuculus canorus (Cuco)

1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Começam a fazer-se ouvir em meados de Abril e regressam para as zonas de invernada mais a sul nos finais de Agosto e Setembro; por cá, particularmente junto à costa, tudo leva a crer que são apenas vistos indivíduos em migração de passagem, contudo, parecem estabelecer-se como aves estivais reprodutoras nas vertentes a nascente dos montes do nosso concelho (ver ponto 5);
3 – (Abundância) Pouco comum, mas na mancha florestal dos Montes de Faro e S. Lourenço será menos raro;
4 – (Espécies parecidas) Apesar da distintiva cauda comprida, bem notória enquanto as aves estão pousadas, é costume surgirem-me dificuldades na sua identificação, sobretudo se forem observadas em pleno voo; não serão de estranhar possíveis confusões com espécies tão diversas como o Pombo-da-rocha, o Peneireiro-vulgar e o Gavião ou até o Noitibó (ver a seguir), valendo-nos o facto destas aves serem habitualmente detectadas enquanto emitem os seus cantos tão característicos – aquela onomatopeia que todos conhecemos;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Sendo tímidos e escassos por estas paragens, torna-se mais provável encontrá-los através do seu canto, tantas vezes repetido de modo prolongado, do que propriamente através do avistamento directo; assim, apenas foram detectados alguns indivíduos na zona do pinhal e mata de folhosas que contornam os campos agrícolas entre Fão e a “lagoa” da Apúlia, sobretudo, nas imediações de terrenos não cultivados e alagados e charcos onde se desenvolve densa vegetação ripícola; de salientar que quando pousam num ramo ou fio, aparentam terem dificuldade em equilibrarem-se, o que os faz balançar a longa cauda, baterem as asas e, consequentemente, exporem-se um pouco mais;
6 – (Tolerância à nossa presença) Parecem desenvolver uma tendência natural para evitarem zonas mais urbanizadas e, embora se deixem observar demoradamente, não é hábito permitirem aproximações inferiores a 60 ou 70 metros;
7 – (Outros dados de interesse) Para efeitos reprodutivos estas aves são consideradas parasitas, ou seja, põem os ovos nos ninhos de outras, em regra muito mais pequenas, como as alvéolas, as felosas ou os rouxinóis, portanto, estando tão intimamente associadas a estas espécies, será de esperar que frequentem o mesmo tipo de habitats onde as hospedeiras nidificam (p. ex. caniçais ou outras zonas húmidas e áreas agrícolas vedadas com sebes).


Ordem Caprimulgiformes

Família Caprimulgidae

(uma espécie)


Caprimulgus europaeus (Noitibó)

1 – Vulnerável e consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Estival;
3 – No sistema agro-florestal entre Fão e Apúlia desenvolver-se-ão boas condições para a sua ocorrência, todavia, através da minha observação directa não disponho de dados que me permitam avaliar a sua abundância na região;
4 – Enquanto voa poderá ser confundido com o Peneireiro-vulgar ou o Cuco que já deverão estar a pernoitar à hora em que o Noitibó se dedica à caça de borboletas nocturnas;
5 – Assim como deixei referido para a Coruja-do-mato e para o Cuco, também estas aves são mais facilmente ouvidas do que vistas; a sua vocalização é aquele IRRRRRRR incessante que ouvimos nas noites quentes de Verão um pouco por todas as áreas verdes, nomeadamente, a orla do estuário, as dunas e as clareiras da floresta, mas atenção para não confundirmos esse som com o que é emitido pelas Relas (anfíbios) nas zonas alagadas ou húmidas; no meio natural, quando estão pousados, é praticamente impossível de perceber a sua presença, tendo em conta que a sua plumagem se confunde com as folhas ou a casca dos ramos das árvores em que se abrigam e descansam; no entanto, naquelas raras ocasiões em que detectamos uns vultos a esvoaçar logo após o pôr-do-sol enquanto o céu ainda está claro, não é difícil de os identificarmos, uma vez que ao crepúsculo, além dos morcegos, não haverão outras espécies aladas a perseguirem insectos em voos tão velozes quanto acrobáticos, quase que às cambalhotas; aquela zona de pinhal rarefeito logo atrás das dunas primárias entre a capela da Sra. da Bonança e as Pedrinhas, ou então o limite sul da mata junto à “lagoa” na Apúlia são, naquelas circunstâncias e com as temperaturas mais elevadas a trazerem maior abundância de insectos, os locais mais propícios para a observação destas aves;
6 – Conforme o que expus no ponto anterior, não será tarefa fácil fotografá-los;
7 – Esta espécie é muito sensível ao uso excessivo de pesticidas na agricultura e, além disso, pelo que se verifica na estrada que liga Ofir a Cedovém, os atropelamentos também poderão estar a contribuir para o declínio das suas populações.


Ordem Apodiformes

Família Apodidae
(uma espécie)


Apus apus (Andorinhão-preto)




























































1 – Pouco preocupante;
2 – Estival, a sua chegada começa a ser mais notada já em Abril, em Outubro ainda restam por cá em número considerável e os últimos partem só em Novembro;
3 – Abundante;
4 – Podemos encontrar algumas semelhanças com as andorinhas em geral, mas são menos corpulentas e têm as asas mais curtas; o congénere Andorinhão-pálido (Apus pallidus) não deverá ocorrer na nossa região, contudo, esse facto não deve excluir em absoluto a possibilidade de acidentalmente nos visitar;
5 – Distribuem-se amplamente por todas as povoações do litoral norte do País, especialmente as mais densamente urbanizadas, sendo facilmente observados a sobrevoar os nossos telhados e torres em grupos mais ou menos concentrados, em particular ao final da tarde quando emitem aqueles ruidosos chamamentos agudos;
6 – Só pousam praticamente já no interior dos ninhos, em cavidades, onde ficam fora do nosso alcance visual, portanto, embora não seja raro passarem-nos quase por cima da cabeça em voos rasantes, teremos de ter alguma pontaria para os conseguirmos “atingir com um tiro” das nossas lentes; por vezes, nas perseguições que movem aos insectos, de que se alimentam, chocam com os fios de alta tensão que atravessam as nossas povoações e, em particular aqueles que se prolongam por toda a zona ribeirinha de Fão, têm sido causa para muitos acidentes envolvendo várias espécies distintas – nas fotos que acompanham este texto podem ver uma das vítimas daquela ameaça, a qual, após algumas horas de repouso e tratamento, recuperou e seguiu destino;
7 – Há autores que os identificam, juntamente com o Falcão-peregrino (Falco peregrinus), como as aves mais velozes do mundo, alias, o seu corpo parece ter sido criado unicamente para voar – o seu nome científico significa literalmente “sem pés”, contudo, embora estejam muito juntos ao abdómen, dispõe obviamente desses membros.


Ordem Coraciiformes

Família Alcedinidae
(uma espécie)


Alcedo atthis (Guarda-rios)











































1 – Pouco preocupante, consta no anexo A-I da Directiva Aves e está definida como espécie de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte;
2 – Neste estuário, onde comprovadamente se reproduzem, deverão ocorrer vários tipos de populações distintas – uma residente, uma invernante e outra migradora de passagem; os meus registos de avistamentos oscilam consideravelmente de estação para estação e mesmo de um ano para o outro; é costume ocorrer uma diminuição que se nota a partir de Março até Julho;
3 – Embora sejam observados com frequência pelas ínsuas e nas margens do Cávado, a sua população será pouco numerosa;
4 – Ímpar, nenhuma espécie se assemelha a esta;
5 – Encontram-se habitualmente empoleirados nos ramos ou estacas ao longo das margens do Cávado, logo acima do plano de água (por vezes nos juncos); quando está em actividade a capturar peixe, de que se alimenta, muitas vezes atira-se para cima a partir da base onde está pousado, peneira sem se deslocar de um ponto quase fixo no ar e de seguida mergulha de cabeça como uma seta, apanhando a presa com o bico; quando dois indivíduos se encontram, geralmente segue-se uma série de vocalizações como “apitos” agudos e sibilantes; apesar das suas cores vistosas, quando permanecem imóveis passam-nos muitas vezes despercebidos; nos Invernos mais rigorosos podem ser observados junto aos charcos que se formam com as chuvas na mata de pinheiro e folhosas entre Fão e Apúlia; também frequentam as praias marítimas rochosas do litoral norte;
6 – Muito tímidos; a multiplicação de excelentes fotografias que se vêm pela web, devem-se à muita persistência e paciência dos seus autores que se valem do facto dos Guarda-rios procurarem pousos previsíveis onde permanecem a descansar por longos períodos de tempo;
7 – Esta é sem dúvida uma das espécies mais cintilantes da nossa avifauna, cujas cores azul-vivo, azul-esverdeada e laranja emprestam um ar exótico às margens do Cávado; a única espécie que se lhe compara no colorido será o Abelharuco (Merops apiaster), cuja presença nunca foi por mim detectada na região, apesar da sua ocorrência constar na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte.


Família Upupidae
(uma espécie)


Upupa epops (Poupa)
























1 – Pouco preocupante;
2 – Migrador de passagem; apesar de poder ser registada a ocorrência de um ou outro indivíduo durante toda a época estival, normalmente observam-se em Março, Abril e Maio e, posteriormente, já no final de Agosto e Setembro;
3 – Pouco comum;
4 – Aspecto geral incomparável com qualquer outra espécie;
5 – Enquanto voa torna-se impossível não reparar no relativamente lento abrir e fechar das asas listadas de preto e branco; quando está pousada no solo entre vegetação rasteira num vaivém laborioso à cata de insectos e das suas larvas, que aliás é o seu comportamento mais habitual, torna-se mais discreto; a partir desta última situação, normalmente detecta a nossa presença ainda antes de nós mesmos as avistarmos e logo levanta voo para o ramo de uma árvore próxima; não é raro serem vistas pela beira Cávado, tanto no prado juncal ao longo de toda a margem esquerda, como também nos campos agrícolas do lado oposto; ainda frequenta as dunas, a orla de todo o sistema agro-florestal entre Fão e Apúlia e não exclui algumas visitas aos jardins das casas do núcleo turístico de Ofir;
6 – Esquiva, mas permite aproximações na ordem dos 50 metros; talvez com um pouco de cuidado seja possível fotografá-las com algum sucesso;
7 – Devido, entre outros aspectos curiosos, à sua crista e ao apelativo contraste resultante do fundo amarelo alaranjado sobre o preto e branco das asas e da cauda, é sem dúvida uma das aves de eleição para os fotógrafos da natureza, mas por cá já ninguém as livra da má fama dos seus ninhos serem mal-cheirosos; felizmente, esta característica tem mantido afastados grande parte dos, ainda incompreensivelmente existentes, pilhadores de crias.



segunda-feira, 11 de maio de 2009

ORNITOLOGIA (parte XIV)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Já aqui abordamos várias famílias de aves de rapina, particularmente aquelas que pontuam pelos nossos céus durante a luz do dia. Mas será que com o ocaso, no reino das aves vão todos dormir? É óbvio que não. Tanto ao entardecer como pela noite dentro, nem tudo fica tranquilo nos nossos bosques, campos e mesmo povoações. Nesse período, sob a cortina protectora da escuridão, muitos roedores, outros pequenos mamíferos e ainda uma infinidade de insectos entram em actividade, criando assim uma oportunidade de alimento que algumas aves de presa não desperdiçam. Refiro-me às Aves de Rapina Nocturnas, conhecidas genericamente por mochos e corujas e que nos habituamos a ver como representação de uma das principais virtudes do Homem – a sabedoria.

Estas aves, enquanto predadores de ratos e afins, cuja proliferação é tão nociva para as culturas agrícolas, são reconhecidas como importantes aliadas do Homem, ao evitarem que aquelas populações de roedores atinjam a dimensão de pragas.

Embora não seja de todo impossível, os hábitos crepusculares destas aves tornam o seu registo fotográfico numa tarefa bastante complicada. Assim, como neste caso as únicas imagens que obtive são de uns meros reflexos luminosos dos seus grandes olhos a brilharem na escuridão ou a passagem de uns vultos disformes por entre o arvoredo, e não querendo deixar-vos sem qualquer imagem, fiz o texto ser acompanhado por uma ilustração de um representante desta ordem, da autoria da Sofia, a partir de uma fotografia de Neil Khandke (do portal com o mesmo nome).


Ordem Strigiformes

Família Tytonidae
(uma espécie)


Tyto alba (Coruja-das-torres)
























1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Ao referirmo-nos às aves de rapina nocturnas, torna-se sempre muito difícil estimar a dimensão das suas populações, no entanto, neste caso em particular, poderemos afirmar, sem grande margem de erro, que esta espécie é comum em todo o território nacional; considerar também o que está mencionado no ponto 5;
4 – (Espécies parecidas) Nenhuma ave de hábitos nocturnos se assemelha a esta, pois o seu peito de um branco brilhante bem visível distingue-a das restantes que apresentam a parte inferior mais escura; ainda assim, não nos podemos esquecer que as luzes das nossas povoações mantêm activas durante parte significativa da noite outro género de aves que não seria suposto estarem acordadas durante este período (p.ex. gaivotas ou pombos com o peito da mesma cor) e que nos podem induzir em erro;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Não é raro ver-se um ou mais indivíduos a sobrevoar a baixa altitude o estuário em frente à zona ribeirinha de Fão que se prolonga até ao Caldeirão e nos campos contíguos, onde já as presenciei a capturarem pequenas aves, e o momento dessas passagens é sempre precedido pela típica vocalização de alarme que, a mim em particular, faz lembrar aquele som de uma correia da ventoinha dos automóveis a patinar devido à humidade ou à falta de tensão (a conhecida chiadeira dos carros mais desafinados); é também habitual, enquanto conduzimos ao longo da EN 13, verem-se a procurarem alimento por toda a veiga agrícola entre Fão e Apúlia e também em Gandra através da ligação à A28, principalmente quando atravessam a estrada e ficam expostas à luz artificial da iluminação pública ou dos faróis dos automóveis; também deve ser salientada a ocorrência, desde há vários anos, de um casal que tem nidificado no Pinhal de Ofir em pela zona turística, cujo local exacto não será revelado, como é óbvio, mas que, além de estar à vista de todos, é facilmente detectado pelas vocalizações das crias a pedirem alimento, cujo som se assemelha, se usarmos um pouco de imaginação e como já ouvi senhoras nas suas passeatas nocturnas a proferirem, “devem ser os esquilos a ressonar”; também não será de surpreender se estas aves forem vistas a “atirarem-se” decididas para o interior da copa das árvores nos jardins em plena zona urbana;
6 – (Tolerância à nossa presença) Enquanto voam parecem simplesmente ignorarem-nos e mesmo quando pousam numa árvore, muro, ruína ou telhado, não se mostram muito tímidas se nos mantivermos com algum afastamento a poucas dezenas de metros; confesso ter a sensação que, se porventura me fizesse acompanhar pela máquina fotográfica com mais assiduidade durante a noite, quer desta espécie, quer do Mocho-galego, já teria obtido alguns registos interessantes;
7 – (Outros dados de interesse) Sabe-se que desenvolveram o hábito de utilizarem estruturas artificiais relacionadas com o meio rural (p. ex. celeiros pouco frequentados), ao qual estão intimamente associadas e aonde devem ser bem-vindas em virtude de, como anteriormente referi, advirem daí benefícios para o Homem.


Família Strigidae
(duas espécies)


Athene noctua (Mocho-galego)

1 – Pouco preocupante;
2 – Como deixei referido logo na introdução a este ensaio, apesar dos guias de campo nos serem muito úteis, podem nem sempre traduzir em absoluto a realidade da região em que nos propomos a estudar a avifauna; de qualquer forma, conforme as estações se alternam e os anos avançam, os praticantes da observação de aves vão calculando com cada vez maior rigor o momento em que podem esperar pelo avistamento de uma determinada espécie que não está entre nós durante todo o ano, ou então, no caso das aves residentes, cedo começam a perceber onde e em que circunstâncias as podem procurar com maior probabilidade de sucesso; mas mesmo assim, a observação de algumas espécies permanece sempre como uma tarefa muito difícil, como é o caso das que estão a ser apresentadas que, além dos seus hábitos discretos e nocturnos, ocupam um leque vasto de habitats muito distintos, que vão desde os bosques densos até jardins urbanos; deste modo, o meu número de registos de avistamento desta espécie em concreto resume-se escassamente a uma ave que, em 2000, numa noite de Verão que já ia longa, encontrei pousada num peitoral de janela de uma casa arruinada com vista para um pequeno pomar ajardinado no casco urbano de Fão e, ainda antes, em 1999, igualmente numa noite estival, dois indivíduos que vi lado a lado também na janela de uma quinta desactivada e devoluta no extremo norte da cidade do Porto (zona que naquele ano ainda era caracterizada pela existência de muitos campos agrícolas, apesar de densamente urbanizada em redor);
3 – Nada a referir;
4 – Não se assemelha a qualquer das outras duas espécies aqui apresentadas; todavia, há a considerar que na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte ainda constam outras duas desta família, uma das quais – o Mocho-d’orelhas (Otus scops) – muito parecido, especialmente se a ave for observada em pleno voo;
5 – Nada a acrescentar além do que já está exposto no ponto 2;
6 – Tendo em consideração o que está mencionado no ponto 2 (apenas duas observações registadas), sinto não estar em condições de adiantar uma ideia muito válida sobre a tolerância destas aves à nossa presença, mesmo assim, nos dois episódios em causa as três aves envolvidas pareceram-me muito tranquilas, apesar de me ter deparado com os animais a uma distância muito próxima (talvez inferior à dezena de metros) e permanecido largos minutos no local; em ambos os casos a iluminação pública era suficientemente intensa para não ser necessário o uso de flash para a obtenção de uma fotografia bem conseguida; só faltou a máquina;
7 – Continuando a não ter por objectivo a descrição em pormenor das diversas espécies, devo apenas salientar que, a par do Mocho-d’orelhas, esta é uma das rapinas nocturnas mais pequenas a ocorrerem no território nacional, com uma dimensão muito aproximada à de um Melro-preto e, naqueles casos em que se encontram em postura de descanso, a sua silhueta faz lembrar o corpo de uma ave sem cabeça.


Strix aluco (Coruja-do-mato)

1 – Pouco preocupante;
2 – Neste ponto e para esta espécie em particular a expressão «quando observar» deveria ser substituída por «quando ouvir», e digo isto em virtude de nunca ter estabelecido, confirmadamente, contacto visual com uma ave destas; todavia recordo-me que, já desde a infância, nas noites de Verão, principalmente a partir da zona do Ramalhão em Fão, se ouvia com frequência e proveniente do pinhal, o ecoar penetrante da bem conhecida vocalização do macho desta espécie (o melancólico uuu - - uHuUuuuu); nos últimos anos, em regra a partir do mês de Abril até Setembro, ainda se ouvem alguns indivíduos a anunciar a sua presença à fêmea, sendo perceptível que um dos sons mais habituais provém da mancha florestal a sul das Pedreiras e um ou outro chamamento terá origem na envolvente à mata conhecida por Merouços entre Fão e Apúlia; de qualquer das formas, nota-se claramente a diminuição destes sinais de presença;
3 – Nada a referir;
4 – Não se assemelha a qualquer das outras duas espécies aqui apresentadas; há, contudo, a considerar que na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte estão ainda indicadas outras duas desta família, uma das quais – o Bufo-pequeno (Asio otus) – parecido por também apresentar o abdómen escuro; aliás, devo referir já vi uma ave nocturna completamente escura e de cabeça achatada, certamente mocho/coruja, a atravessar em voo a EN13 na saída sul de Fão, tudo levando a crer que seria uma de entre estas duas espécies; no entanto, ficou por confirmar;
5 – Como o próprio nome indica, distribui-se principalmente pela mata;
6 – Nada a acrescentar;
7 – Nada a acrescentar.