sábado, 26 de abril de 2008

NÃO RECOMENDADO A DISTRAÍDOS (continuação do assunto anterior)

Callophrys rubi




Vou então começar por fazer uma breve referência a algumas das espécies de animais que nestes últimos anos tenho observado na zona em apreço mas, por não me querer alargar demasiado, vou enunciar apenas as mais representativas do relevante interesse ecológico daquele habitat.


Garça-boieira











De facto, como dizia no primeiro “post” acerca deste assunto, a “nossa ave” pertence à Família Ardeidae (Garças) que, por sua vez, está incluída na Ordem dos Ciconiiformes cujas espécies, como tenho constatado, surgem com alguma frequência no Estuário do Cávado, onde se inclui toda a zona ribeirinha de Fão.





Garça-branca-pequena

Assim, espécies como as das imagens que acompanham este texto – Garça-boieira (Bubulcus íbis); Garça-branca-pequena (Egretta garzetta); Garça-real (Ardea cinerea) ou Colhereiro (Platalea leucorodia) – podem ser observadas com relativa facilidade a partir da zona urbana (marginal) e a estas ainda podemos acrescentar outras que aqui surgem em ocorrências mais raras ou de menor frequência, como são os casos das Garças-pequenas (Ixobrychus minutus); Garças-imperiais (Ardea purpúrea) ou Íbis-pretos (Plegadis falcinellus) *.


Garça-real





De todas estas espécies, apenas as Garças-boieiras e as Garças-reais não se incluem no Anexo A – I, do Decreto-Lei nº. 49/2005 de 24 de Fevereiro (ver anotações do primeiro texto).








Colhereiro





Sendo, estas, espécies que se colocam no topo de cadeias tróficas (busca de alimento), a ocorrência regular de indivíduos desta ordem por si só, revela a elevada importância deste refúgio natural para as aves.







Pisco-de-peito-azul


Por diversos factores (entre os quais a forte pressão humana), não se verifica neste troço final do Rio Cávado a nidificação de indivíduos daquelas espécies, contudo, é nesta parte mais recuada do estuário que ocorre a nidificação de espécimes da avifauna com interesse do ponto de vista conservacionista, como é o caso do Guarda-rios (Alcedo atthis) ** ou, potencialmente, o Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) ou ainda as mais vulgares e também vistosas Alvéola-amarela (Motacilla flava iberiae) e Pintarroxo (Carduelis cannabina) e a ruidosa Toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala).












Alvéola-amarela













Pintarroxo













Toutinegra-de-cabeça-preta




Quanto às aves, ainda me poderia referir a inúmeros aspectos interessantes ou curiosidades verificadas na zona em foco mas, como a minha intenção não é apresentar um estudo muito aprofundado sobre esse tema, vou ficar por aqui.











Rã-verde (Rana perezi)

Mas, nem só as aves elegeram aquele ecossistema e as comunidades vegetais que o constituem, para dele fazerem a sua “casa”. Vejamos o exemplo de outros vertebrados ou mesmo de alguns artrópodes.




Inachis-io


Quem já passou por aquela zona, não pôde ter ficado indiferente aos atributos visuais harmoniosos daquela paisagem, interrompidos bruscamente pelos factores que já referi no último texto e ao desenvolvimento de vegetação arbustiva de aspecto desordenado ou desarrumado onde abundam as Silvas (Rubus ulmifolius), as Madressilvas (Lonicera spp) ou as Heras (Hedera spp), entre outras espécies. De facto, estas comunidades vegetais não se apresentam, num primeiro olhar, como um motivo próprio de um postal turístico ou de um blog com “lindas imagens da natureza” (como está na moda).




Euphydryas aurinia


PURA DISTRACÇÃO. É precisamente aquele tipo de vegetação que acolhe uma impressionante diversidade faunística, sem a qual todo o ecossistema se desequilibraria. Só para adiantar uma pequena ideia acerca da riqueza da biodiversidade da zona, tomemos o exemplo da pequena borboleta da espécie Euphydryas aurinia cujas populações estão em declínio e para quem é vital a manutenção daquele tipo de vegetação. (Esta espécie consta no Anexo B – II do Decreto-Lei nº. 49/2005 de 24 de Fevereiro – sujeita, portanto, a medidas de carácter conservacionista). Já tinha reparado nela?


E o que haveria para dizer, acerca das espécies abaixo ilustradas (apenas uma ínfima parte do que ali ocorre), que rapidamente desapareceriam da nossa terra se lhes destruíssemos o “lar” ou o “berço” ? É pelas boas condições proporcionadas sob aquela densa vegetação que mamíferos como o Insectívoro Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus), os Carnívoros da família dos Mustelídeos como a Doninha (Mustela nivalis), a Lontra (Lutra lutra), o Visão-americano (Mustela vison) ou o Roedor Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), usufruem do refúgio necessário para se reproduzirem. No entanto, este é apenas um dos vários motivos que justificam a salvaguarda das funções ecológicas deste habitat.







O nocturno Ouriço-cacheiro




















A sempre furtiva Doninha

















E os mustelídeos aquáticos










Pois bem. No segundo texto deste tema escrevi que naquele pequeno pedaço de área protegida «… ocorrem quase todos os factores de degradação ambiental conhecidos …» mas, infelizmente, a palavra “quase” está quase a desaparecer daquela frase. É o que vou abordar no próximo “post” que também será o último deste assunto.















Até lá!





NOTAS:
* Saliento aqui que no final dos Invernos ou princípios das Primaveras dos últimos anos ou ainda nos finais do Verão, não tem sido raro observar pequenos bandos de Cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) a sobrevoar este estuário e as zonas agrícolas adjacentes. Aliás numa povoação situada muito próxima desta zona já se verificam (pelo menos) indícios muito favoráveis para a nidificação desta espécie.

** Como a web já está saturada de fotografias de Guarda-rios, optei neste meu modesto espaço por introduzir uma gravura elaborada pela minha esposa (Sofia Cardoso).

domingo, 20 de abril de 2008

O PROMETIDO É DEVIDO (continuação do assunto anterior)

Como dizia no final do último “post”, no dia em que consegui fotografar o Papa-ratos (Ardeola ralloides), tinha previsto fazer um pequeno percurso apeado pela margem esquerda do Rio Cávado em Fão, por uma zona popularmente conhecida por “Paul” mas cujos elementos físicos e biológicos mais abundantes são os característicos de um “Juncal”. Refiro-me a toda aquela área que se estende desde o Cortinhal até ao cais do Caldeirão junto do qual se desenvolve uma “Galeria ripícola” dominada por amieiros (Alnus glutinosa), salgueiros (Salix spp.), freixos (Fraxinus sp.), alguns pilriteiros (Crataegus monogyna) e é atravessada por uma linha de água desviada do leito principal do Cávado onde, efectivamente, restam vestígios de alguma vegetação típica de pauis, como a tábua (Typha sp.), o caniço (Phragmites australis) ou o lírio-amarelo (Iris pseudacorus). E foi precisamente ali onde me apercebi da presença daquela ave que certamente terá aproveitado o refúgio que lhe era proporcionado para descansar um pouco e alimentar-se. Entretanto, desde ali, percorreu toda a linha de água até junto do Cortinhal onde permaneceu a deliciar-se com um “banquete” de (pelo que observei) pequenos peixes e crustáceos. Espero que tenha usufruído da “estadia” e recuperado as forças necessárias para a longa viagem – deve estar em migração.

Mas enquanto escrevo estas linhas, começo a sentir que, querendo ser responsável, não posso propor-me a fazer uma descrição daquele habitat sem me referir aos diversos factores de ameaça ambiental a que tem estado sujeita toda a aquela área. De facto, ali tem ocorrido um rol imenso de actos criminosos (sim crime, poluir e atentar contra a Natureza constitui um crime punível por Lei) nada dignos de uma civilização que se quer evoluída, a saber:



- a envolvente daquela linha de água, por mais inacreditável que se afigure a situação, ainda é local de eleição para a deposição de aterros provenientes de demolições ou obras, resíduos sólidos urbanos (RSU), entre os quais os chamados “monstros” como frigoríficos, fogões, máquinas de lavar e uma panóplia infindável de electrodomésticos em fim de vida – a CME ou a EAmb, instituições que deveriam diligenciar no sentido de remover aqueles lixos, limitam-se a, com auxilio de retro escavadoras, abrir grandes buracos e enterram-nos ali mesmo, num esforço claramente infrutífero, pois perante a falta de interesse manifestado por aquelas autoridades, os prevaricadores voltam ao acto;

- a “meia dúzia” de metros daquele ponto está instalado um centro de recolha para compostagem de resíduos provenientes da limpeza e manutenção dos jardins ou hortas mas, ainda assim, ignora-se tal proximidade e ali se continua a despejar “resíduos verdes” e até carcaças de animais – livremente;

- durante muitos anos foi para ali que industria(s) instalada(s) nesta terra fazia(m) afluir as suas descargas poluentes líquidas ou diluídas mas, com o seu encerramento, apenas se ficou a perceber que as explorações agro-pecuárias também o faziam e continuam – impunemente;

- verificou-se ainda que alguém se lembrou de promover a circulação indevida de veículos motorizados naquela área (interdita ao trânsito), tendo para o efeito, pura e simplesmente, aterrado parte da dita linha de água, interrompendo o seu curso normal – com todas as implicações negativas que isso representa para a estabilidade do ecossistema;

- esta última situação ainda contribuiu para facilitar o acesso ao seio do “juncal” onde alguns corajosos se têm arriscado a extrair os inertes (o chamado areão), um autêntico roubo de um recurso que nos pertence a todos – para os autores destes actos, estão previstas multas que ascendem a alguns milhares de Euros – cuidado;

- durante a época da migração outonal das aves da família Fringillidae, como os Pintassilgos (Carduelis carduelis) ou os Lugres (Carduelis spinus), é por ali que muitos Homo sapiens pouco sapiens (sapiens = a sabedoria) se ocultam sob a vegetação para se dedicar à captura (ilegal) daquelas espécies – actividade muito lucrativa mas que, não tarda, ficará cara aos seus praticantes;

- nos últimos anos, como se aquela lista de factores nefastos para o meio ambiente não fosse suficiente, começaram a proliferar espécies exóticas infestantes, as acácias como as Austrálias (Acacia longifolia) ou as Mimosas (Acacia dealbata) que estão a substituir a um ritmo assustador as espécies nativas e a delapidar a nossa valiosíssima biodiversidade – os membros da Associação Assobio já iniciaram um esforço de combate a esta situação.

Enfim, em pouco mais de um hectare de área protegida (a zona a que me refiro está inserida dentro dos limites do Parque Natural Litoral Norte) ocorrem quase todos os factores de degradação ambiental conhecidos e tudo isso verifica-se perante os olhos de autoridades inoperantes.

Até me apetece dizer que esta vergonha deve estar a interessar a alguém…

Com isto, já me alonguei demasiado e ainda não consegui enunciar a longa lista de espécies da avifauna ou de mamíferos com muito interesse do ponto de vista conservacionista que por ali vai ocorrendo com maior ou menor frequência.
(CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO)



PS. Anexo um excerto do (recentemente publicado e sobre o qual me vou debruçar num próximo “post”) RELATÓRIO DE PONDERAÇÃO DA DISCUSSÃO PÚBLICA DO PLANO DE ORDENAMENTO DO PARQUE NATURAL DO LITORAL NORTE para ajudar a tentar perceber que “interesses” se desenvolvem em torno daquela potencial "pérola" natural:
«Proposta de alteração ao plano (tentem adivinhar de quem): Alteração da classificação da margem esquerda do rio Cávado entre a ponte nova e a Pousada da Juventude junto ao limite das propriedades, para onde o PDM prevê a continuação do arranjo da marginal até ao Caldeirão e arranjo da marina, inviabilizado pela classificação em PPI.
Resposta (do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade): Parte da área mencionada, no troço mais próximo do rio Cávado, encontra-se classificada como PPI pelo facto de ser uma área que apresenta valores de relevância elevada, designadamente no que concerne à fauna e flora razão pela qual se considera que não deve passar a PPII. No entanto a parcela de área agrícola que se encontra mais a Sul poderá ser reclassificada para PPII, no que se refere aos arranjos na marginal do rio os mesmo poderão ser equacionados na medida em que nas áreas de PPI poderão ser aceites acções que contribuam para a manutenção e valorização dos valores naturais e paisagísticos».


terça-feira, 15 de abril de 2008

Ardeola ralloides (Scopoli, 1769)

Como muitos dos «frequentadores dos blogs made in Estuário do Cávado» já se aperceberam, no último fim-de-semana fomos visitados por um Papa-ratos ou, para ser mais preciso cientificamente, por um indivíduo da espécie de ave Ardeola ralloides (Scopoli, 1769). Acerca da ecologia da ave, se não tiverem ao alcance um qualquer guia, aconselho-vos a uma passagem pelos blogs do Carlos (Palma) Rios ou do Fernando (Eurico) Gonçalves onde se descreve a espécie com base em bibliografia da especialidade e aproveitem para contemplar algumas fotografias muito bem conseguidas do espécime referido.

Se não fosse uma ocorrência com um carácter tão insólito, limitar-me-ia a anotá-la no meu caderno de campo, observar à distância o comportamento da ave e seguir o seu destino. Mas não, este facto não é comum por estas paragens, devo até referir que ao longo dos últimos 11 anos em que me dedico à observação de aves neste estuário, nunca tinha registado por aqui esta espécie em particular. Aliás, no Anexo I à Caracterização Biológica do Parque Natural Litoral Norte (documento que serve de base à proposta do plano de ordenamento da área protegida) esta espécie não consta na extensa lista de aves referenciadas, nem como ocasional. Saliento ainda que na ficha de caracterização do Papa-ratos disponível no Plano Sectorial da Rede Natura 2000 (PSRN 2000), a área de distribuição potencial da espécie situa-se a sul do Tejo (numa nota pessoal adianto que, com relativa facilidade, se detecta a presença de um ou outro indivíduo desta espécie no Baixo Vouga Lagunar – Ria de Aveiro).

Por ser uma espécie vulnerável a alguns factores de ameaça, a Ardeola ralloides é protegida legalmente pelo Decreto-Lei nº. 140/99 de 24 de Abril (transposição da Directiva Aves *), constante, portanto, no Anexo I do Decreto-Lei nº. 49/2005 de 24 de Fevereiro; e, ainda consta no Anexo II do Decreto-Lei nº. 316/89 de 22 de Setembro (transposição da Convenção de Berna **), estando estimada para Portugal Continental a ocorrência (invernantes e nidificantes) de uma população de adultos inferior a 50 (cinquenta) indivíduos. No nosso País esta espécie dispõe de estatuto de conservação de Criticamente em Perigo – população nidificante e Em Perigo – população invernante (PSRN 2000). Por sua vez, o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal atribui a esta espécie o estatuto indeterminado em virtude de, embora descrita como pouco abundante, a sua tendência populacional ser desconhecida.

Convém agora fazer aqui um “parágrafo” e introduzir outra ideia.

Quase que podemos dizer que Portugal Continental, em termos biogeográficos ***, é um território dividido em dois. De modo muito simplificado, isto quererá dizer que está definida pela comunidade científica uma fronteira (situada sensivelmente na zona de Aveiro atravessando todo o País de oeste para leste) a partir da qual, para sul (Região Mediterrânica) se desenvolvem ou ocorrem comunidades de organismos (fauna e flora) diferentes das do norte (Região Eurosiberiana) onde se situa o Minho. De facto, não é difícil perceber essa diferença. Mesmo os mais distraídos, por exemplo, numa viagem de comboio Porto – Lisboa, a partir de determinada altura ainda antes de chegarem a Coimbra, reparam que a paisagem natural (e até a edificada, claro) muda substancialmente. Aquelas Regiões Biogeográficas acima indicadas são parcelas gigantescas do planeta Terra, o que significa que nós (no norte e centro de Portugal) estamos praticamente no limite entre duas realidades biológicas distintas. Perante isto, torna-se mais provável a ocorrência de fenómenos similares aos que narrei nos primeiros parágrafos. Estamos habituados a observar a flora e a fauna típica da nossa região mas, com alguma frequência, surgem-nos espécies que nos são quase “exóticas”.

É por isso que quem se dedica a observar a natureza na minha terra, dificilmente se entedia ou se atreve a dizer que aqui nada se passa de novo (num claro contraste com o que ocorre ao nível social e cultural). Além dos inúmeros tipos diferentes de habitats que aqui se desenvolvem, ainda nos arriscamos a registar a pouco provável passagem de uma ave típica de zonas mais meridionais. Acrescente-se ainda que o litoral minhoto se situa em plena rota migratória das aves limícolas, entre outras, apresentando-se o Estuário do Cávado como um óptimo ponto estratégico onde habitualmente (em Março e Abril ou em Setembro e Outubro) a avifauna migrante usufrui destas paragens para repor forças, alimentando-se e descansando da longa viagem de muitos milhares de quilómetros entre as zonas mais setentrionais europeias e o sul deste continente ou mesmo do africano. Enfim, biodiversidade e animação quanto baste.

Feitas as apresentações e as justificações, sigo em diante.

As circunstâncias em que observei o espécime em causa não me são muito estranhas. O Papa-ratos é mais uma das muitas espécies de garças (Família Ardeidae / Ordem Ciconiiformes) que ocorre em Portugal. No dia em que obtive a foto com que ilustro o início desta página (2008-04-12), iniciei um percurso apeado por uma zona de Fão sobre a qual vou escrever alargadamente no próximo post (este texto já vai longo e não quero tornar-me aborrecido…)



* Directiva Aves – é a Directiva Comunitária 79/409/CEE e pretende que cada um dos Estados Membros tome as medidas necessárias para garantir a protecção das populações selvagens das várias espécies de aves no seu território da União Europeia. Esta Directiva impõe a necessidade de proteger áreas suficientemente vastas de cada um dos diferentes habitats utilizados pelas diversas espécies; restringe e regulamenta o comércio de aves selvagens; limita a actividade da caça a um conjunto de espécies; e proíbe certos métodos de captura e abate. Inclui uma lista com espécies de aves que requerem medidas rigorosas de conservação do seu habitat. Cada Estado Membro da União Europeia deverá classificar como Zonas de Protecção Especial (ZPE) as extensões e os habitats do seu território que se revelem de maior importância para essas espécies. As ZPE declaradas por cada Estado Membro integrarão directamente a Rede Natura 2000. (Fonte ICNB)




** Convenção de Berna – tem um âmbito pan-europeu, estendendo-se a sua influência também ao Norte de África para o cumprimento dos objectivos da conservação das espécies migradoras, listadas nos seus anexos, que nesse território passam uma parte do ano. De acordo com o seu Artigo 1º, os objectivos da Convenção são conservar a flora e a fauna selvagens e os seus habitats naturais, em particular as espécies e os habitats cuja conservação exija a cooperação de diversos estados, e promover essa cooperação; é atribuído uma ênfase particular às espécies em perigo ou vulneráveis, incluindo as espécies migratórias. (Fonte ICNB)



*** Biogeografia – ramo das ciências biológicas que estuda a distribuição dos seres vivos (animais e plantas) na superfície terrestre (continentes e oceanos) e, também, as causas dessa distribuição no espaço e no tempo (ciência que relaciona o meio físico com o biológico).


NOTA: A minha máquina fotográfica é muito fraquinha como já perceberam, mas é com ela que consigo documentar algumas das “descobertas” que vou fazendo. Os postais… ficam para os artistas (já aqui me referi a dois deles).


domingo, 13 de abril de 2008

Longe vão esses tempos...



Apraz-me verificar que o cyberespaço está “entupido” com blogs e mais blogs e mais mails e mais sites relacionados com este movimento que efectivamente não pode parar: - a luta popular contra a introdução de portagens nas SCUT do norte do País. Assim, não vou aqui elencar toda argumentação dos vários movimentos e comissões de utentes entretanto constituídas, pois basta usar um qualquer motor de busca e pesquisar «A28» ou «A29» ou «A41» e «UTENTES CONTRA AS PORTAGENS» que se encontram inúmeros motivos muito válidos para justificar a adesão ao movimento.

Antes de concretizar o principal motivo que me fez escrever estas linhas, vou situar a minha posição. Ainda no tempo em que o anterior Governo manifestou a intenção de portajar a A28, comecei a participar nas actividades da Comissão de Utentes do Alto Minho Contra as Portagens na A28, sediada em Viana do Castelo. Por via disso e porque faço questão de não fugir aos meus princípios, no dia da reabertura ao tráfego na Ponte de Fão, fui ao local das cerimónias solenes, não para “comer o porco” e (confesso que me custou a perceber este espectáculo) bater umas palminhas, mas sim para aproveitar a visita do Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e das Comunicações e manifestar-lhe repúdio por esta decisão do Governo que vem lesar gravemente o desenvolvimento da minha região. Recentemente, o movimento cívico criado para o mesmo efeito na Póvoa de Varzim e Vila do Conde dirigiu o desafio aos congéneres das regiões de Aveiro e Viana do Castelo, dos concelhos do Grande Porto e do Tâmega para unirmos forças e convocaram uma reunião onde marcaram presença algumas pessoas do concelho de Esposende. Então, no sentido de se articularem as formas de protesto, foi criada uma plataforma comum a todas as comissões de utentes de onde resultou, entre outras decisões, a intenção de fazer correr um Abaixo-assinado pela população contra a implementação de portagens nas SCUT do Norte Litoral, Costa de Prata e Grande Porto, que será dirigido ao senhor Primeiro-ministro, no qual estou a participar activamente enquanto cidadão nascido e residente no Concelho de Esposende, atento e que se esforça por ser pessoa responsável, apenas. Entretanto surgiu em Esposende outro movimento de cidadãos ou grupo de pessoas ou seja o que for, não importa, com uma petição online e que legitimamente desenvolve a sua acção que, espero, possa também contribuir positivamente para esta causa.

Continuando. Não cultivo qualquer tipo de simpatia por qualquer organização política, aliás, admito mesmo ter um certo preconceito em relação aos políticos e aos militantes dos vários partidos – não consigo considerá-los pessoas sérias e desinteressadas (apenas preconceito, eu sei, mas também sei que nunca serei um deles). No entanto, como entendo que a Política é um assunto demasiado sério para estar entregue exclusivamente aos Políticos, procuro, ainda que com muitas limitações, intervir de forma cívica na sociedade onde vivo em defesa dos valores em que acredito. É nesse sentido que já contactei pessoalmente com muitas dezenas de conterrâneos a quem sensibilizei para esta questão das portagens, as quais conscientemente subscreveram o dito Abaixo-assinado, manifestando o seu desacordo em relação à intenção dos aplaudidos na cerimónia a que já me referi neste texto. Às dezenas de assinaturas de cidadãos que obtive de forma directa, vão juntar-se algumas centenas recolhidas de modo indirecto e que por sua vez vão fazer aumentar o rol de outras milhares que a mencionada plataforma já conseguiu reunir. É mesmo isso, seguramente muitos milhares de cidadãos de Aveiro a Viana do Castelo passando por Esposende, já exprimiram, através daquele meio, qual o entendimento que têm acerca desta matéria. E é natural que aquele tenha sido o único meio que estas pessoas dispuseram para fazer chegar a sua voz mais além e a quem é devido.

Agora surge o senhor Presidente da Assembleia Municipal de Esposende, na última reunião daquele órgão, a insurgir-se contra esta forma de luta popular, à qual já aderiu tanta gente há tanto tempo, apelidando-a de «movimentos partidários encapotados... com falta de sentido de responsabilidade», auto intitulando-se mais uma vez como «...representante legitimamente eleito...» para a defesa de todas as causas (qual D. Sebastião). Prepotência quanto baste. Passa um atestado de menoridade às pessoas que não confiam nele e insulta-lhes a inteligência.

Como quer esse senhor representar-me, quando naquela intervenção ele mesmo admite que o próprio Secretário de Estado do Ambiente não lhe responde aos pedidos de audiência que lhe dirige?

Quem se julga esse senhor para descaradamente alegar pela «...falta de sentido democrático...» daquele Secretário de Estado, quando ele próprio (um político) se refere a formas de movimentação partidária como um bando de mal-formados?

A “LEGITIMIDADE” de um político é-lhe conferida pela força da vontade do povo que o elege. Com isso, os eleitores não se demitem das suas obrigações cívicas e o seu poder ou as suas forças não se devem “esvaziar” no momento do voto. Portanto, com que autoridade democrática esse senhor se arroga a ser o único com capacidade e legitimidade para se dirigir aos governantes de Lisboa?

Qual será o político que tem legitimidade para tecer qualquer tipo de considerações sobre a validade do desempenho democrático do povo? Os cidadãos, esses sim, podem avaliar aquela qualidade ou a falta dela no político. Alguém tem de dizer àquele senhor que não lhe é permitido ofender a liberdade intelectual dos cidadãos, quando se coloca a avaliar a utilidade das formas de intervenção cívica que cada um por si escolheu para tomar.

Desses tiques... longe vão os tempos!


PS. Como cidadão sensível à “causa verde” não resisto em acrescentar mais um argumento para me justificar contra as portagens na A28 e que tem sido pouco ou nada referido: - com a implementação daquela medida, o óbvio desvio de veículos para os perímetros urbanos (mesmo debaixo da nossas janelas) iria tornar-se uma realidade, contribuindo esse facto para a degradação ambiental das nossas aldeias, vilas e cidades, fazendo aumentar as emissões de gases e fumos de escape (p/ex. os prejudiciais monóxidos de carbono) e subir o nível de ruído num claro prejuízo para os índices de qualidade de vida nesta região, já para não me desenvolver em questões de deterioração da saúde pública.


quarta-feira, 9 de abril de 2008

MAIS DO MESMO

(Nem de propósito.)

Ontem a Escola Profissional de Esposende (EPE) concedeu-me o privilégio de me dirigir aos futuros Técnicos de Turismo Ambiental e Rural e de Hotelaria / Restauração, na qualidade de orador numa palestra subordinada ao tema do potencial turístico dos recursos fúngicos em Esposende.

Devo dizer, antes de expor o que aqui me trouxe, que fiquei impressionadíssimo com o excelente trabalho desenvolvido naquele meio escolar. Quem me dera, nos meus tempos de estudante, ter tido a oportunidade de frequentar um estabelecimento com aquele nível de excelência. Um bem-haja à EPE, nomeadamente ao seu corpo docente.

Na exposição que fiz, centrada nos potenciais benefícios que uma eventual exploração turística sustentável dos cogumelos silvestres poderia representar para a economia (e a ecologia) na nossa região, argumentei que uma actividade com as características do Micoturismo* se desenvolveria com maior incidência durante os meses de Outono e mesmo no princípio do Inverno, por ser essa a época do ano em que aqueles «seres» surgem em maior abundância nas nossas florestas. Face a isso, salientei que deveríamos encarar seriamente esse “trunfo” e fazer-mos dele o devido aproveitamento no sentido de diminuir o impacto negativo do factor SAZONALIDADE, que infelizmente nos é tão familiar em termos turísticos.

Ainda ontem, nas minhas visitas habituais aos sítios da web relacionados com a minha terra, passei pela página de propaganda, erro, queria dizer de Notícias do Gabinete de Relações Públicas do Município de Esposende, onde se anuncia a realização da «Galaicofolia» no Castro de S. Lourenço – Vila Chã entre 31 de Julho e 3 de Agosto. Ali constava que “ … o Autarca aponta a necessidade de criar alternativas ao turismo balnear, como forma de tornar o concelho competitivo em termos turísticos …”.

Devo então, perante tão boa-nova, cumprimentar o senhor presidente da autarquia pela excelente notícia para o nosso concelho e manifestar-lhe a admiração que nutro pelo bom trabalho desenvolvido pela sua equipa no âmbito de iniciativas de índole cultural, entre outras. Aqui fica também o meu desejo de muito sucesso para o evento.

Cumpre-me agora deixar aqui um reparo. Os meses de Julho e Agosto trazem certamente a este concelho muitos milhares de veraneantes. Ainda temos uns bocados de praia aqui e ali. Ainda há quem tenha coragem de se banhar nas águas do Cávado. Temos o sucesso da «Festa do Marisco» em Fão e também muitas tentativas de a imitar. Temos não-sei-quantas romarias por todas as capelas de todos os lugares de todas as freguesias, mais o campeonato disto, mais o torneio daquilo, mais o festival de não-sei-quê, mais e mais e mais … por aí em diante … tudo no Verão! Então, lanço a seguinte pergunta para quem quiser efectivamente dedicar-se a praticar o óptimo desporto que é pôr as células cerebrais a fazer exercício: - Se o município canalizasse os recursos destinados à promoção de eventos de cariz turístico dando prioridade ao período da denominada “época baixa”, fazendo uso efectivo mas sustentável das suas mais-valias naturais, que benefícios resultariam daí para a nossa região?

* «Mico» - relacionado com fungos (micologia significa estudo dos fungos).


terça-feira, 1 de abril de 2008

Estarei louco? Porque será que todos os anos, no início da época das romarias minhotas, a minha cabeça é invadida por imagens do Terceiro Mundo?

UFF!!! Já passou.
Não … não me estou a referir globalmente às Festas de Fão mas antes a uns pequenos estrondosos pormenores.

Antes de mais, como fangueiro, quero manifestar o meu profundo agradecimento a quem se esforça anualmente por concretizar as festas da minha terra, nomeadamente à respectiva comissão organizadora e em particular ao actual presidente por quem nutro grande admiração e respeito. Este grupo de pessoas veio sem dúvida emprestar um ar mais fresco às festividades do Senhor Bom Jesus de Fão, desde logo na intenção de promover acções de cariz mais cultural ao evento e na própria mudança em questões de imagem, para não falar em muitos outros aspectos.

Deve ser quase utópico concretizar a sugestão com que vou rematar este texto mas, como estou aqui a fazer um pouco de catarse, não resisti à tentação. Há tradições e há tradições. Na Antiguidade Romana havia a tradição de arremessar uns escravos aos leões e o povo vibrava em êxtase com aquele espectáculo sanguinário e entretanto aquilo acabou … acabou mas ficaram os escravos até que (oficialmente) cessamos com a escravatura. Isto é apenas um exemplo da ordem normal das coisas ou do tempo, há um ritual “instituído”, as mentalidades evoluem e o que está mal é corrigido e substituído por algo que está mais de acordo com o progresso – a isto chamamos MODERNIDADE.

Nas romarias populares há um aspecto em particular que me confunde todas as tentativas que faço para encontrar lógica nas coisas: - os foguetes … os fogos de artifício … as alvoradas … e mais foguetes e pum e pum e pum … e os fogos florestais … e pum pum pum … e mais não sei quantos orçamentos a estourar … e pum e pum e pum e, no caso fangueiro, toda a avifauna a partir em debandada … e pum pum pum … quando apenas pousaram um pouco no nosso estuário para descansar na longa migração … e pum e pum pum pum … e alimentar-se e ganhar forças para a longa jornada … e pum pum pum … e em meia dúzia de extasiantes minutos foram-se embora verbas avultadas em dinheiro … e pum pum pum … e mais não sei quanto ninhos abandonados com crias indefesas … e pum e pum e pum … e foi-se toda a tranquilidade desde refúgio para as aves … e para muita gentinha que gosta de aproveitar o fim-de-semana para dormir mais uma horita … TROUM TROUM TROUM. Desculpem-me o português, mas nestes últimos dias fiquei um pouco aturdido.

Estou plenamente consciente da dificuldade que os angariadores de fundos para a execução orçamental das festas populares encontrarão para explicar aos respectivos contribuintes que «ESTE ANO NÃO HÁ FOGUETES NEM FOGO DE ARTIFÍCIO PARA NINGUÉM» – seria a depressão total.

Pois bem. Como está implícito no que disse no início, esta comissão de festas é constituída por muita juventude e não acredito que com as elevadas quantias gastas para fazer o barulho do costume (todos os anos a mesma coisa que é repetida na terra ao lado e na outra também e por aí em diante sempre igual), não fosse possível usar esses meios juntamente com alguma imaginação e realmente fazer algo com grande dimensão – a isto chamo INOVAÇÃO.

(Esta última palavra tem sido muito usada nos meios de comunicação social, com um pouco de sabedoria até poderia ser que aparecessem por aí umas “siques” ou umas “têvê is” e os nossos vizinhos iam ficar cheios de inveja.)


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