terça-feira, 1 de abril de 2008

Estarei louco? Porque será que todos os anos, no início da época das romarias minhotas, a minha cabeça é invadida por imagens do Terceiro Mundo?

UFF!!! Já passou.
Não … não me estou a referir globalmente às Festas de Fão mas antes a uns pequenos estrondosos pormenores.

Antes de mais, como fangueiro, quero manifestar o meu profundo agradecimento a quem se esforça anualmente por concretizar as festas da minha terra, nomeadamente à respectiva comissão organizadora e em particular ao actual presidente por quem nutro grande admiração e respeito. Este grupo de pessoas veio sem dúvida emprestar um ar mais fresco às festividades do Senhor Bom Jesus de Fão, desde logo na intenção de promover acções de cariz mais cultural ao evento e na própria mudança em questões de imagem, para não falar em muitos outros aspectos.

Deve ser quase utópico concretizar a sugestão com que vou rematar este texto mas, como estou aqui a fazer um pouco de catarse, não resisti à tentação. Há tradições e há tradições. Na Antiguidade Romana havia a tradição de arremessar uns escravos aos leões e o povo vibrava em êxtase com aquele espectáculo sanguinário e entretanto aquilo acabou … acabou mas ficaram os escravos até que (oficialmente) cessamos com a escravatura. Isto é apenas um exemplo da ordem normal das coisas ou do tempo, há um ritual “instituído”, as mentalidades evoluem e o que está mal é corrigido e substituído por algo que está mais de acordo com o progresso – a isto chamamos MODERNIDADE.

Nas romarias populares há um aspecto em particular que me confunde todas as tentativas que faço para encontrar lógica nas coisas: - os foguetes … os fogos de artifício … as alvoradas … e mais foguetes e pum e pum e pum … e os fogos florestais … e pum pum pum … e mais não sei quantos orçamentos a estourar … e pum e pum e pum e, no caso fangueiro, toda a avifauna a partir em debandada … e pum pum pum … quando apenas pousaram um pouco no nosso estuário para descansar na longa migração … e pum e pum pum pum … e alimentar-se e ganhar forças para a longa jornada … e pum pum pum … e em meia dúzia de extasiantes minutos foram-se embora verbas avultadas em dinheiro … e pum pum pum … e mais não sei quanto ninhos abandonados com crias indefesas … e pum e pum e pum … e foi-se toda a tranquilidade desde refúgio para as aves … e para muita gentinha que gosta de aproveitar o fim-de-semana para dormir mais uma horita … TROUM TROUM TROUM. Desculpem-me o português, mas nestes últimos dias fiquei um pouco aturdido.

Estou plenamente consciente da dificuldade que os angariadores de fundos para a execução orçamental das festas populares encontrarão para explicar aos respectivos contribuintes que «ESTE ANO NÃO HÁ FOGUETES NEM FOGO DE ARTIFÍCIO PARA NINGUÉM» – seria a depressão total.

Pois bem. Como está implícito no que disse no início, esta comissão de festas é constituída por muita juventude e não acredito que com as elevadas quantias gastas para fazer o barulho do costume (todos os anos a mesma coisa que é repetida na terra ao lado e na outra também e por aí em diante sempre igual), não fosse possível usar esses meios juntamente com alguma imaginação e realmente fazer algo com grande dimensão – a isto chamo INOVAÇÃO.

(Esta última palavra tem sido muito usada nos meios de comunicação social, com um pouco de sabedoria até poderia ser que aparecessem por aí umas “siques” ou umas “têvê is” e os nossos vizinhos iam ficar cheios de inveja.)


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