sábado, 26 de abril de 2008

NÃO RECOMENDADO A DISTRAÍDOS (continuação do assunto anterior)

Callophrys rubi




Vou então começar por fazer uma breve referência a algumas das espécies de animais que nestes últimos anos tenho observado na zona em apreço mas, por não me querer alargar demasiado, vou enunciar apenas as mais representativas do relevante interesse ecológico daquele habitat.


Garça-boieira











De facto, como dizia no primeiro “post” acerca deste assunto, a “nossa ave” pertence à Família Ardeidae (Garças) que, por sua vez, está incluída na Ordem dos Ciconiiformes cujas espécies, como tenho constatado, surgem com alguma frequência no Estuário do Cávado, onde se inclui toda a zona ribeirinha de Fão.





Garça-branca-pequena

Assim, espécies como as das imagens que acompanham este texto – Garça-boieira (Bubulcus íbis); Garça-branca-pequena (Egretta garzetta); Garça-real (Ardea cinerea) ou Colhereiro (Platalea leucorodia) – podem ser observadas com relativa facilidade a partir da zona urbana (marginal) e a estas ainda podemos acrescentar outras que aqui surgem em ocorrências mais raras ou de menor frequência, como são os casos das Garças-pequenas (Ixobrychus minutus); Garças-imperiais (Ardea purpúrea) ou Íbis-pretos (Plegadis falcinellus) *.


Garça-real





De todas estas espécies, apenas as Garças-boieiras e as Garças-reais não se incluem no Anexo A – I, do Decreto-Lei nº. 49/2005 de 24 de Fevereiro (ver anotações do primeiro texto).








Colhereiro





Sendo, estas, espécies que se colocam no topo de cadeias tróficas (busca de alimento), a ocorrência regular de indivíduos desta ordem por si só, revela a elevada importância deste refúgio natural para as aves.







Pisco-de-peito-azul


Por diversos factores (entre os quais a forte pressão humana), não se verifica neste troço final do Rio Cávado a nidificação de indivíduos daquelas espécies, contudo, é nesta parte mais recuada do estuário que ocorre a nidificação de espécimes da avifauna com interesse do ponto de vista conservacionista, como é o caso do Guarda-rios (Alcedo atthis) ** ou, potencialmente, o Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) ou ainda as mais vulgares e também vistosas Alvéola-amarela (Motacilla flava iberiae) e Pintarroxo (Carduelis cannabina) e a ruidosa Toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala).












Alvéola-amarela













Pintarroxo













Toutinegra-de-cabeça-preta




Quanto às aves, ainda me poderia referir a inúmeros aspectos interessantes ou curiosidades verificadas na zona em foco mas, como a minha intenção não é apresentar um estudo muito aprofundado sobre esse tema, vou ficar por aqui.











Rã-verde (Rana perezi)

Mas, nem só as aves elegeram aquele ecossistema e as comunidades vegetais que o constituem, para dele fazerem a sua “casa”. Vejamos o exemplo de outros vertebrados ou mesmo de alguns artrópodes.




Inachis-io


Quem já passou por aquela zona, não pôde ter ficado indiferente aos atributos visuais harmoniosos daquela paisagem, interrompidos bruscamente pelos factores que já referi no último texto e ao desenvolvimento de vegetação arbustiva de aspecto desordenado ou desarrumado onde abundam as Silvas (Rubus ulmifolius), as Madressilvas (Lonicera spp) ou as Heras (Hedera spp), entre outras espécies. De facto, estas comunidades vegetais não se apresentam, num primeiro olhar, como um motivo próprio de um postal turístico ou de um blog com “lindas imagens da natureza” (como está na moda).




Euphydryas aurinia


PURA DISTRACÇÃO. É precisamente aquele tipo de vegetação que acolhe uma impressionante diversidade faunística, sem a qual todo o ecossistema se desequilibraria. Só para adiantar uma pequena ideia acerca da riqueza da biodiversidade da zona, tomemos o exemplo da pequena borboleta da espécie Euphydryas aurinia cujas populações estão em declínio e para quem é vital a manutenção daquele tipo de vegetação. (Esta espécie consta no Anexo B – II do Decreto-Lei nº. 49/2005 de 24 de Fevereiro – sujeita, portanto, a medidas de carácter conservacionista). Já tinha reparado nela?


E o que haveria para dizer, acerca das espécies abaixo ilustradas (apenas uma ínfima parte do que ali ocorre), que rapidamente desapareceriam da nossa terra se lhes destruíssemos o “lar” ou o “berço” ? É pelas boas condições proporcionadas sob aquela densa vegetação que mamíferos como o Insectívoro Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus), os Carnívoros da família dos Mustelídeos como a Doninha (Mustela nivalis), a Lontra (Lutra lutra), o Visão-americano (Mustela vison) ou o Roedor Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), usufruem do refúgio necessário para se reproduzirem. No entanto, este é apenas um dos vários motivos que justificam a salvaguarda das funções ecológicas deste habitat.







O nocturno Ouriço-cacheiro




















A sempre furtiva Doninha

















E os mustelídeos aquáticos










Pois bem. No segundo texto deste tema escrevi que naquele pequeno pedaço de área protegida «… ocorrem quase todos os factores de degradação ambiental conhecidos …» mas, infelizmente, a palavra “quase” está quase a desaparecer daquela frase. É o que vou abordar no próximo “post” que também será o último deste assunto.















Até lá!





NOTAS:
* Saliento aqui que no final dos Invernos ou princípios das Primaveras dos últimos anos ou ainda nos finais do Verão, não tem sido raro observar pequenos bandos de Cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) a sobrevoar este estuário e as zonas agrícolas adjacentes. Aliás numa povoação situada muito próxima desta zona já se verificam (pelo menos) indícios muito favoráveis para a nidificação desta espécie.

** Como a web já está saturada de fotografias de Guarda-rios, optei neste meu modesto espaço por introduzir uma gravura elaborada pela minha esposa (Sofia Cardoso).

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