De todas estas espécies, apenas as Garças-boieiras e as Garças-reais não se incluem no Anexo A – I, do Decreto-Lei nº. 49/2005 de 24 de Fevereiro (ver anotações do primeiro texto).
Sendo, estas, espécies que se colocam no topo de cadeias tróficas (busca de alimento), a ocorrência regular de indivíduos desta ordem por si só, revela a elevada importância deste refúgio natural para as aves.
Pintarroxo
Toutinegra-de-cabeça-preta
Quanto às aves, ainda me poderia referir a inúmeros aspectos interessantes ou curiosidades verificadas na zona em foco mas, como a minha intenção não é apresentar um estudo muito aprofundado sobre esse tema, vou ficar por aqui.
Mas, nem só as aves elegeram aquele ecossistema e as comunidades vegetais que o constituem, para dele fazerem a sua “casa”. Vejamos o exemplo de outros vertebrados ou mesmo de alguns artrópodes.
Inachis-io
Quem já passou por aquela zona, não pôde ter ficado indiferente aos atributos visuais harmoniosos daquela paisagem, interrompidos bruscamente pelos factores que já referi no último texto e ao desenvolvimento de vegetação arbustiva de aspecto desordenado ou desarrumado onde abundam as Silvas (Rubus ulmifolius), as Madressilvas (Lonicera spp) ou as Heras (Hedera spp), entre outras espécies. De facto, estas comunidades vegetais não se apresentam, num primeiro olhar, como um motivo próprio de um postal turístico ou de um blog com “lindas imagens da natureza” (como está na moda).
PURA DISTRACÇÃO. É precisamente aquele tipo de vegetação que acolhe uma impressionante diversidade faunística, sem a qual todo o ecossistema se desequilibraria. Só para adiantar uma pequena ideia acerca da riqueza da biodiversidade da zona, tomemos o exemplo da pequena borboleta da espécie Euphydryas aurinia cujas populações estão em declínio e para quem é vital a manutenção daquele tipo de vegetação. (Esta espécie consta no Anexo B – II do Decreto-Lei nº. 49/2005 de 24 de Fevereiro – sujeita, portanto, a medidas de carácter conservacionista). Já tinha reparado nela?
E o que haveria para dizer, acerca das espécies abaixo ilustradas (apenas uma ínfima parte do que ali ocorre), que rapidamente desapareceriam da nossa terra se lhes destruíssemos o “lar” ou o “berço” ? É pelas boas condições proporcionadas sob aquela densa vegetação que mamíferos como o Insectívoro Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus), os Carnívoros da família dos Mustelídeos como a Doninha (Mustela nivalis), a Lontra (Lutra lutra), o Visão-americano (Mustela vison) ou o Roedor Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), usufruem do refúgio necessário para se reproduzirem. No entanto, este é apenas um dos vários motivos que justificam a salvaguarda das funções ecológicas deste habitat.
Pois bem. No segundo texto deste tema escrevi que naquele pequeno pedaço de área protegida «… ocorrem quase todos os factores de degradação ambiental conhecidos …» mas, infelizmente, a palavra “quase” está quase a desaparecer daquela frase. É o que vou abordar no próximo “post” que também será o último deste assunto.
* Saliento aqui que no final dos Invernos ou princípios das Primaveras dos últimos anos ou ainda nos finais do Verão, não tem sido raro observar pequenos bandos de Cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) a sobrevoar este estuário e as zonas agrícolas adjacentes. Aliás numa povoação situada muito próxima desta zona já se verificam (pelo menos) indícios muito favoráveis para a nidificação desta espécie.
** Como a web já está saturada de fotografias de Guarda-rios, optei neste meu modesto espaço por introduzir uma gravura elaborada pela minha esposa (Sofia Cardoso).