domingo, 13 de abril de 2008

Longe vão esses tempos...



Apraz-me verificar que o cyberespaço está “entupido” com blogs e mais blogs e mais mails e mais sites relacionados com este movimento que efectivamente não pode parar: - a luta popular contra a introdução de portagens nas SCUT do norte do País. Assim, não vou aqui elencar toda argumentação dos vários movimentos e comissões de utentes entretanto constituídas, pois basta usar um qualquer motor de busca e pesquisar «A28» ou «A29» ou «A41» e «UTENTES CONTRA AS PORTAGENS» que se encontram inúmeros motivos muito válidos para justificar a adesão ao movimento.

Antes de concretizar o principal motivo que me fez escrever estas linhas, vou situar a minha posição. Ainda no tempo em que o anterior Governo manifestou a intenção de portajar a A28, comecei a participar nas actividades da Comissão de Utentes do Alto Minho Contra as Portagens na A28, sediada em Viana do Castelo. Por via disso e porque faço questão de não fugir aos meus princípios, no dia da reabertura ao tráfego na Ponte de Fão, fui ao local das cerimónias solenes, não para “comer o porco” e (confesso que me custou a perceber este espectáculo) bater umas palminhas, mas sim para aproveitar a visita do Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e das Comunicações e manifestar-lhe repúdio por esta decisão do Governo que vem lesar gravemente o desenvolvimento da minha região. Recentemente, o movimento cívico criado para o mesmo efeito na Póvoa de Varzim e Vila do Conde dirigiu o desafio aos congéneres das regiões de Aveiro e Viana do Castelo, dos concelhos do Grande Porto e do Tâmega para unirmos forças e convocaram uma reunião onde marcaram presença algumas pessoas do concelho de Esposende. Então, no sentido de se articularem as formas de protesto, foi criada uma plataforma comum a todas as comissões de utentes de onde resultou, entre outras decisões, a intenção de fazer correr um Abaixo-assinado pela população contra a implementação de portagens nas SCUT do Norte Litoral, Costa de Prata e Grande Porto, que será dirigido ao senhor Primeiro-ministro, no qual estou a participar activamente enquanto cidadão nascido e residente no Concelho de Esposende, atento e que se esforça por ser pessoa responsável, apenas. Entretanto surgiu em Esposende outro movimento de cidadãos ou grupo de pessoas ou seja o que for, não importa, com uma petição online e que legitimamente desenvolve a sua acção que, espero, possa também contribuir positivamente para esta causa.

Continuando. Não cultivo qualquer tipo de simpatia por qualquer organização política, aliás, admito mesmo ter um certo preconceito em relação aos políticos e aos militantes dos vários partidos – não consigo considerá-los pessoas sérias e desinteressadas (apenas preconceito, eu sei, mas também sei que nunca serei um deles). No entanto, como entendo que a Política é um assunto demasiado sério para estar entregue exclusivamente aos Políticos, procuro, ainda que com muitas limitações, intervir de forma cívica na sociedade onde vivo em defesa dos valores em que acredito. É nesse sentido que já contactei pessoalmente com muitas dezenas de conterrâneos a quem sensibilizei para esta questão das portagens, as quais conscientemente subscreveram o dito Abaixo-assinado, manifestando o seu desacordo em relação à intenção dos aplaudidos na cerimónia a que já me referi neste texto. Às dezenas de assinaturas de cidadãos que obtive de forma directa, vão juntar-se algumas centenas recolhidas de modo indirecto e que por sua vez vão fazer aumentar o rol de outras milhares que a mencionada plataforma já conseguiu reunir. É mesmo isso, seguramente muitos milhares de cidadãos de Aveiro a Viana do Castelo passando por Esposende, já exprimiram, através daquele meio, qual o entendimento que têm acerca desta matéria. E é natural que aquele tenha sido o único meio que estas pessoas dispuseram para fazer chegar a sua voz mais além e a quem é devido.

Agora surge o senhor Presidente da Assembleia Municipal de Esposende, na última reunião daquele órgão, a insurgir-se contra esta forma de luta popular, à qual já aderiu tanta gente há tanto tempo, apelidando-a de «movimentos partidários encapotados... com falta de sentido de responsabilidade», auto intitulando-se mais uma vez como «...representante legitimamente eleito...» para a defesa de todas as causas (qual D. Sebastião). Prepotência quanto baste. Passa um atestado de menoridade às pessoas que não confiam nele e insulta-lhes a inteligência.

Como quer esse senhor representar-me, quando naquela intervenção ele mesmo admite que o próprio Secretário de Estado do Ambiente não lhe responde aos pedidos de audiência que lhe dirige?

Quem se julga esse senhor para descaradamente alegar pela «...falta de sentido democrático...» daquele Secretário de Estado, quando ele próprio (um político) se refere a formas de movimentação partidária como um bando de mal-formados?

A “LEGITIMIDADE” de um político é-lhe conferida pela força da vontade do povo que o elege. Com isso, os eleitores não se demitem das suas obrigações cívicas e o seu poder ou as suas forças não se devem “esvaziar” no momento do voto. Portanto, com que autoridade democrática esse senhor se arroga a ser o único com capacidade e legitimidade para se dirigir aos governantes de Lisboa?

Qual será o político que tem legitimidade para tecer qualquer tipo de considerações sobre a validade do desempenho democrático do povo? Os cidadãos, esses sim, podem avaliar aquela qualidade ou a falta dela no político. Alguém tem de dizer àquele senhor que não lhe é permitido ofender a liberdade intelectual dos cidadãos, quando se coloca a avaliar a utilidade das formas de intervenção cívica que cada um por si escolheu para tomar.

Desses tiques... longe vão os tempos!


PS. Como cidadão sensível à “causa verde” não resisto em acrescentar mais um argumento para me justificar contra as portagens na A28 e que tem sido pouco ou nada referido: - com a implementação daquela medida, o óbvio desvio de veículos para os perímetros urbanos (mesmo debaixo da nossas janelas) iria tornar-se uma realidade, contribuindo esse facto para a degradação ambiental das nossas aldeias, vilas e cidades, fazendo aumentar as emissões de gases e fumos de escape (p/ex. os prejudiciais monóxidos de carbono) e subir o nível de ruído num claro prejuízo para os índices de qualidade de vida nesta região, já para não me desenvolver em questões de deterioração da saúde pública.


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