domingo, 30 de março de 2008

POIS É ... VOU TER QUE COMEÇAR MAL!


Quando decidi aderir à blogosfera queria, numa primeira fase, para não ferir susceptibilidades, entrar na moda: - umas “fotozinhas” engraçadas sobre alguns dos atributos naturais do concelho de Esposende, ganhar a simpatia dos cybernautas e pronto ... “lá ia levando a água ao meu moinho” com alguma calma. Mas logo na semana da inauguração deste espaço acontece-me uma daquelas que me custa a calar.

Aqui vai.

À semelhança de anos anteriores, por altura das festividades da Vila de Fão, na instituição em que desenvolvo a minha actividade associativa dirigimos o desafio à população juvenil para instalar connosco aquelas esculturas na margem esquerda do Cávado – a LANDART. Este ano participaram no evento as crianças de um centro de estudos de Fão que se envolveram nas actividades com um entusiasmo contagiante.

Durante os trabalhos há sempre muitos transeuntes que se manifestam estranhos às formas que ali vão surgindo, interrogam-se e logo de seguida interrogam-nos: - O QUE É ISSO? QUAL É O OBJECTIVO DISSO? O QUE SIGNIFICA? PARA QUE SERVE?

Pela parte que nos diz respeito, perante tantas perguntas, sentimos que cumprimos com o nosso dever – é exactamente essa a nossa intenção, pôr as pessoas a questionar-se. Ainda assim os nossos intentos não se concluem aí, há outros aspectos mais concretos que nos movem. Previamente aos trabalhos de expressão plástica, enquadramos de forma lúdica os jovens em conceitos como a Landart propriamente dita e a sua relação com a ecologia e justificamos o uso de materiais provenientes das nossas acções no controlo de plantas invasoras exóticas (acácias) e a importância desse acto na defesa da biodiversidade, entre outros assuntos. É também isso que sucintamente transmitimos cordialmente a quem vai passando no local e simpaticamente se nos dirige.

Das várias dezenas de pessoas que por ali passaram, muitas foram aquelas que testemunharam o serviço público que estávamos a prestar gratuitamente e sem grandes propagandas, reconhecendo o esforço de uma associação que não recebe um cêntimo da edilidade e junto da população procura desenvolver um projecto de sensibilização com validade. Apercebi-me de poucas excepções a este cenário, mesmo assim houve uns senhores muito ilustres que por ali passaram, apenas manifestaram alheamento e seguiram outros destinos. É pena, pois estou certo que se esses senhores tivessem dedicado um minuto do seu precioso tempo àquelas crianças, como lhes era devido, seriam recebidos calorosamente.

PS: Por coincidência o último dia dos trabalhos correspondeu ao da visita do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Esposende à Vila de Fão para, segundo o respectivo Gabinete de Relações Públicas, «fazer o levantamento de algumas situações e para definir futuras intervenções, assim como para tomar o pulso às associações locais».

quinta-feira, 27 de março de 2008

O PRIMEIRO VOO



Quando há cerca de 12 anos comprava o meu primeiro guia da natureza (era sobre identificação de aves silvestres), mal sabia naquele momento que a minha perspectiva do mundo em que vivemos começaria a adquirir novos contornos.

Desde tenra idade sou um apaixonado pelo aspecto mais romântico da saga dos naturalistas do século XIX. Já então os heróis das minhas histórias eram figuras como Charles Darwin ou Alfred Russel Wallace que nas suas expedições por zonas remotas do planeta descobriam um maravilhoso mundo novo.

Pois é ... desde aquele primeiro passo, seguiram-se os binóculos, lupas, telescópio, microscópio, máquinas fotográficas, livros e mais livros, assinaturas em revistas dedicadas à ecologia e ... enfim ... o vago interesse pela ornitologia derivou em abordagens mais ou menos aprofundadas a ciências tão diversas como a micologia, a malacologia, a entomologia, a botânica ... e fui descobrindo o fascínio que pode constituir uma mera visita de campo pelos inúmeros habitats naturais deste concelho do litoral minhoto - Esposende.

Mas também fui percebendo que todo aquele valioso património natural não estava imune à nefasta e destrutiva acção humana. Foi a proliferação do betão e de condomínios fechados a delapidar a considerável mancha florestal do concelho e mesmo os sistemas dunares, os inúmeros focos de poluição de efluentes domésticos e industriais ou de explorações pecuárias no Rio Cávado ou a constante deposição de grandes quantidades de resíduos sólidos fora dos circuitos próprios, a pesca desregrada, o usufruto dos espaços verdes por veraneantes nada sensíveis aos valores ecológicos (perturbação pelo campismo selvagem e arriscadas fogueiras em pinhais) e uma panóplia infindável de atentados ambientais que me fizeram encarar a defesa do ambiente e do património natural da minha terra de uma forma cada vez menos inocente e mais activa.

Surgiu então o associativismo. Desde praticamente a sua génese, sensivelmente há 8 anos, sou membro da ASSOBIO – Associação de Defesa e Valorização do Ambiente, do Património Natural e Construído (com sede em Fão – Esposende) cuja actividade pode ser consultada no site http://www.assobio.net/ e onde me foi dada a oportunidade de expor muitos dos meus pontos de vista, assumir posições mais ou menos públicas e desenvolver muitos projectos com o único fim de sensibilizar os meus conterrâneos para a importância axial da defesa dos valores em que acredito. Ainda assim, através daquele meio, estou naturalmente privado (porque de uma associação de vários indivíduos se trata) de me dirigir aos outros com um cunho mais pessoal.

Lanço-me” assim neste meu primeiro voo no mundo (quase desconhecido para mim) da “blogosfera” onde vou contar muitas histórias sobre as minhas “expedições” e descobertas ou dos meus anseios e preocupações relacionadas com o meio ambiente e o património natural que os meus avós me emprestaram sob a condição de os transmitir bem preservados para os meus filhos.

NOTA: As imagens que acompanharão as minhas intervenções neste espaço serão da minha autoria ou, nos raros casos que isso não acontecer, indicarei o(a) amigo(a) que teve a delicadeza de as disponibilizar. No caso do presente texto, considerei oportuno apresentar um casal de Colhereiros - Platalea leucorodia (Linnaeus 1758), obtida no Estuário do Cávado (Fão).