Confirmação da
ocorrência de uma nova espécie de CICONIIFORMES
Família Ardeidae
Por
altura da inscrição da Garça-branca-grande (Casmerodius
albus) no meu inventário das aves do estuário do Cávado (Setembro de 2011),
desenvolvi aqui
uma apresentação sobre a ocorrência das aves da família Ardeidae nesta zona húmida. Assim, sem querer repetir-me enquanto
inscrevo mais uma espécie de garça na minha área em estudo, remeto-vos para uma
leitura prévia àquele texto através da hiperligação.
Na
manhã do dia 30 de julho de 2012,
enquanto percorria a margem direita do Cávado ao longo das galerias ripícolas
entre a ponte velha e a ponte da auto estrada, retive-me no vulto de uma ave
robusta que repousava num freixo próximo do garçário.
Através
da silhueta, logo percebi que era o juvenil (peito listrado) de uma das
espécies do grupo das “garças de pescoço curto” e, de entre estas, logo pude excluir
a hipótese de ser uma Garça-pequena (Ixobrychus
minutus) devido ao grande tamanho. Para mim, pouco habituado a observar
este “grupo” dos ardeídeos, ainda restavam três possibilidades: - o improvável
Abetouro (Botaurus stellaris), o
Goraz (Nycticorax nycticorax) e o já
observado neste estuário, embora meramente como ocasional, Papa-ratos (Ardeola ralloides). Assim, encetei uma
aproximação que indesejavelmente provocou a fuga da ave para outra zona daquela
galeria ripícola onde continuou a descansar. Nestas circunstâncias (em voo) a
garça exibiu um bem notado padrão sarapintado de branco no escuro da parte
superior das asas.
Por
si só, esta caraterística foi suficiente para a identificar como sendo um
imaturo de Goraz (Nycticorax
nicticorax),
espécie nunca antes indicada para o estuário do Cávado nas publicações que
conheço. Refira-se, porém, que ao longo do traçado deste rio, em data que
ignoro, M. Pimenta observou na barragem de Penide (Areias de Vilar – Barcelos) vários
exemplares de Garças-noturnas, vernáculo pelo qual o Goraz também é
conhecido, e em abril de 2011, H. Faria e C. Rio fotografaram um adulto desta
espécie na lagoa do Marachão (Rio Tinto – Esposende).
Estão por apurar as razões que trouxeram até aqui
um imaturo desta espécie, que encontra nos pauis do baixo Mondego o limite
setentrional da sua área de distribuição conhecida enquanto nidificante (Equipa
Atlas 2008). Mas, num mero exercício no campo das hipóteses, parece-me razoável
apresentar três soluções: - ave natural de outro país (Espanha ou França, por
exemplo) que cumpre o seu percurso migratório para a África Oriental, onde
passa o inverno; ave em movimento dispersivo proveniente de colónias no centro
do território nacional; ou ave nascida em ninho existente na nossa região mas
desconhecido da comunidade científica.
Catry P.,
Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO
TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa, referem que esta espécie é estival rara e
localizada no centro do país. No Livro
Vermelho dos Vertebrados de Portugal a população desta espécie
está classificada de «Em Perigo».
Relativamente aos congéneres que durante julho
último ocorreram no estuário do Cávado, assinalo que apenas no final do mês
observei uma Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) a dirigir-se para a
pernoita no garçário da margem direita. Este freixo também foi assiduamente
ocupado pela primeira Garça-boieira (Bubulcus
ibis) a passar o período estival entre nós e que elegeu a agra a norte da
Senhora da Saúde (Esposende) como local de alimentação. Por
sua vez, a visita diária de menos de meia dúzia de Garças-reais (Ardea cinerea) aos canais do juncal,
lembrou-me que, depois de tantos anos de ocorrências regulares, este foi o segundo
ano consecutivo que não observei sequer uma Garça-imperial (Ardea purpurea) no decorrer do mês de
julho.
Confirmação da
ocorrência de uma nova espécie de CUCULIFORMES
Família Cuculidae
Em setembro de 2009 assinalei
neste blogue a minha primeira observação de um Cuco (Cuculus canorus) nas margens do estuário do Cávado. Desde aí jamais
voltei a observar qualquer indivíduo desta espécie nesta zona húmida
propriamente dita, no entanto, conforme também referi naquela oportunidade, não
é invulgar registar a presença desta ave nos perímetros florestais ou
agro-florestais contíguos ou mesmo noutros habitats pelo concelho de Esposende.
Assim, foi com alguma surpresa que durante a primeira metade do último mês de
julho me chegaram notícias da presença de juvenis desta espécie em pleno juncal
e nas margens pelo limite nascente deste parque natural.
Curioso, também os fui procurar
pelos freixos do lado de Gandra entre as duas pontes e os resultados foram tão
“inacreditáveis” que, mais uma vez, tive necessidade de pedir a confirmação do
que vira no Fórum Aves:
«Não sendo propriamente uma ave rara nesta região, a presença do
Cuco-canoro (Cuculus canorus) nas margens do estuário do Cávado desperta-nos
sempre algum interesse. E como aqui se repetiam vários registos desta espécie
durante os últimos dias, nas primeiras horas da manhã de hoje, 19JUL2012, fui também tentar a minha
sorte nas galerias ripícolas da margem direita desta zona húmida a montante da
ponte velha.
Ali chegado, quase nem tive
tempo de ligar a máquina fotográfica. Lá estava um Cuco-canoro pousado num
amieiro.
Porém, em meia dúzia de
cliques, a ave, mais surpreendida do que eu, lá se afastou para uns freixos
mais adiante. Aguardei. E aguardei alguns minutos, até que uma ave
sensivelmente com as mesmas dimensões veio tomar o lugar da primeira. Com se já
não bastasse a contra-luz, esta ainda teimou em manter-se por detrás de uns
galhos. Tais circunstâncias, associadas à inabilidade do fotógrafo resultaram
nisto:
Naquele momento julguei que
delirava e via um Cuco-rabilongo (Clamator glandarius). Descarreguei as imagens
(ou lá o que isto é), comparei-as com as de alguns guias de campo e continuo
com bastante “inclinado” em aceitar a minha primeira decisão.
Algum dos caríssimos, mais
habituado a esta espécie de cuco e apesar de tudo, é capaz me confirmar a
espécie apresentada nestas duas últimas fotos?»
De imediato, multiplicaram-se as
respostas a reforçarem a minha convicção, verificando-se, assim, o primeiro
registo do Cuco-rabilongo (Clamator glandarius) no estuário do Cávado. Neste caso em
particular, estive na presença de um juvenil de “rabilongo”. Em relação ao
“canoro”, não havia qualquer dúvida de que a ave fotografada já era adulta.
Enquanto corriam estas notícias entre a comunidade
de observadores de aves da região, a imagem de outro “rabilongo” localizado por
F. Lopes a 14JUL no juncal, sensivelmente na zona do miradouro, também era
submetida à apreciação, concluindo-se que neste caso se tratava de uma ave
adulta.
No dia 26 regressei à mesma margem direita onde
voltei a ter vários vislumbres de “canoros”, mas só imaturos e um indivíduo
apresentando tons arruivados em toda a plumagem que suponho ser próprio de uma
fêmea na invulgar fase hepática.
No dia seguinte e ainda no mesmo local e com a
colaboração de S. Esteves, foi apurado um total de seis Cucos-canoros – o
referido indivíduo com a plumagem arruivada, um adulto e os restantes juvenis.
Entretanto percebi que o principal
motivo de tal concentração de cucos naquelas galerias ripícolas seria uma praga
de lagartas
da borboleta Abraxas pantaria, também
conhecida por “desfolhadora de freixos” e que tanto esta como outras aves muito
apreciam como alimento. Assim, no dia 30
e aproveitando o “isco”, montei abrigo sob um daqueles freixos onde se
sucederam várias espécies de aves, entre as quais novamente um juvenil de
Cuco-rabilongo, que preferiu manter-se sempre entre a folhagem
e também um adulto um pouco menos reservado.
No já citado AVES
DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL consta que esta espécie é estival rara e
pouco comum e que na região norte apenas se distribui pelo interior. No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal a
população desta espécie está classificada de «Vulnerável». Os vigilantes deste
parque natural, B. Viana e D. Paulino, já tinham comunicado a observação de um
Cuco-rabilongo em março do presente ano próximo das dunas de Belinho –
Esposende, poucos quilómetros a norte do estuário do Cávado. No nosso país a
família Cuculidae apenas é
representada pelas duas espécies acima mencionadas.
Confirmação da
ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORMES
Família Oriolidae
Das três dezenas de
espécies de aves da família dos Oriolídeos conhecidas da Ciência, apenas uma
ocorre na Europa, distribuindo-se as restantes entre as ilhas da Indonésia e
Papua-Nova Guiné, também pelo Este e Sudeste Asiático, Austrália e Filipinas e
ainda pela África, sobretudo equatorial, sendo uma endémica de São Tomé e
Príncipe (BirdLife International). Não surpreende, pois, que a imagem de uma destas
coloridas aves entre a avifauna europeia se pareça sempre com um qualquer exotismo.
Apesar disso, o Papa-figos (Oriolus oriolus) distribui-se de norte a
sul do território continental nacional, sendo apenas muito escasso na faixa
litoral oeste. Deste modo e julgo que também devido aos hábitos muito discretos
a que toda a literatura se refere, não conheço qualquer registo da observação
destas aves em toda a costa norte.
Acerca da sua distribuição, a Equipa Atlas 2008
refere que, para lá do território onde é frequente, «… o papa-figos aparece
geralmente em galerias ripícolas …». A par disto, no já aqui citado AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO
TERRITÓRIO CONTINENTAL está também referido que esta espécie estival pouco
comum se alimenta «… particularmente de grandes lagartas de borboletas, que
encontram no alto das copas das árvores…». Ou seja, naquela manhã de 30JUL, enquanto me abrigava à espera
dos “comensais” que haveriam de visitar o freixo na margem direita do estuário
do Cávado, de certa forma, não deveria ter ficado tão surpreendido quando,
apesar das dificuldades, registei estas imagens de uma ave sensivelmente do
tamanho de um melro-preto e cuja plumagem se confundia facilmente com a
folhagem.
Registei
assim, e também pela primeira vez, a presença do Papa-figos (Oriolus oriolus), neste caso um juvenil, no estuário do Cávado. No Livro Vermelho
dos Vertebrados de Portugal a população desta espécie está
classificada de «Pouco Preocupante».