quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXVIII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Aves Limícolas (continuação)

Ordem Charadriiformes

Família Scolopacidae

(quinze espécies)
NOTA: Devido à extensão da lista de aves desta Família a ocorrerem na área em estudo, optei por dividir a sua apresentação em três fases. Segue-se o primeiro agrupamento com quatro espécies (mais uma), todas pertencentes ao Género Calidris.



Calidris canutus (Seixoeira)









































































1 – (Estatuto de conservação) Vulnerável; está definida como espécie de conservação prioritária para o PNLN;
2 – (Quando observar) Migradores de Passagem; apenas está registada a breve permanência de um bando bem composto entre os dias 13 e 19 de Maio de 1998 (ver ainda o ponto 7) e, no mesmo ano, a ocorrência de dois indivíduos no mês de Setembro; no mês em que este texto é publicado encontram-se, pelo menos, três indivíduos desta espécie no estuário (nas fotos);
3 – (Abundância) Em relação às notas do autor nada há a acrescentar; a SPEA considera-os Invernantes pouco comuns e Migradores de Passagem comuns;
4 – (Espécies parecidas) Há a possibilidade de confusão com as restantes Calidris a seguir apresentadas que, no entanto, são todas visivelmente mais pequenas; os menos experimentados ainda deverão estar atentos às características de outras limícolas de maior tamanho, especialmente em plumagem de Inverno, tais como as duas espécies de Tarambolas e os Combatentes (a apresentar na próxima série);
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Em toda a literatura consultada são apresentadas como aves costeiras frequentadoras das zonas arenosas de estuários; tanto o bando com os dois espécimes avistados em 1998 foram encontrados precisamente naquelas condições, a descansarem na restinga junto à margem; os três espécimes das fotos (Setembro de 2009) praticamente não abandonam o lodaçal existente a jusante da ponte de Fão na margem direita, onde estão constantemente a alimentar-se;
6 – (Tolerância à nossa presença) À semelhança do que foi mencionado na apresentação do Borrelho-grande-de-coleira, também todas as aves do género Calidris se manifestam pouco perturbadas com a nossa presença se formos discretos; a par disso, a montagem de um esconderijo na beira de um qualquer lodaçal, ainda que rudimentar, costuma funcionar muito bem, permitindo que estas aves se aproximem com alguma frequência até a uns “curtos” três ou quatro metros de distância;
7 – (Outros dados de interesse) Assinalo que a Primavera de 1998 foi extremamente adversa para as aves migradoras, em virtude de terem sido frequentes os ventos muito fortes do quadrante norte que obviamente constituíram um grande obstáculo à longa evolução destas aves para as tundras árcticas onde se reproduzem; julgo que também terá sido esse o motivo pelo qual, naquele ano, muitos bandos de várias espécies de limícolas se atrasaram ou permaneceram “estacionados” pelo estuário e principalmente na praia junto à foz do Cávado até ao final daquele mês de Maio; em resultados disso foi possível testemunhar a rara visão, nesta região, de muitas daquelas aves a apresentarem as suas vistosas plumagens nupciais quase completas (como foi o caso do referido bando de Seixoeiras em que todos já exibiam a parte inferior com uma bela cor acobreada).


Calidris alba (Pilrito-d’areia)





































1 – Pouco Preocupante;
2 – Mantêm-se por cá em maior número durante os meses de Outono e Inverno, mas são pontualmente avistados ao longo de todo o ano;
3 – Comum; a SPEA também os considera Invernantes e Migradores de Passagem comuns;
4 – É caracterizada como a Calidris mais associada às praias marítimas, o que por si só a distingue do parecido Pilrito-comum; apesar disso também pode frequentar o estuário misturando-se com outras limícolas das quais se evidencia pela plumagem mais clara; na dobra das asas junto ao peito nota-se uma pequena mancha preta, o que também se revela muito útil para a sua identificação;
5 – Frequentam principalmente as areias húmidas nas praias onde parecem que brincam “rolando” constantemente para cima e para baixo e de um lado para o outro à cata do que as ondas lhes trazem; formam regularmente pequenos bandos;
6 – Também são relativamente destemidas passeando-se habitualmente por entre os banhistas enquanto desafiam o último espraiar das ondas; em virtude de se distribuírem por meios mais vastos, não se aplica com a mesma oportunidade as técnicas dos esconderijos que tão bons resultados proporcionam quando nos referimos às suas congéneres;
7 – Nada a acrescentar.


Calidris ferruginea (Pilrito-de-bico-comprido)







































1 – Vulnerável;
2 – Foram registadas as ocorrências de dois indivíduos em Setembro de 1999, um no mesmo mês do ano seguinte e novamente outro na migração pós-nupcial, ou seja, mais uma vez em Setembro, no presente ano (nas fotos);
3 – Escasso; a SPEA considera-os Invernantes pouco comuns e Migradores de Passagem comuns;
4 – É apenas ligeiramente maior que o Pilrito-comum mas percebe-se com alguma clareza essa diferença em virtude das patas mais longas e do pescoço e do bico mais compridos o tornarem mais elegante; é também a única Calidris a exibir o uropígio branco em voo;
5 – Foram sempre observados nos lodaçais do estuário numa constante busca de alimento, fazendo o alongado bico penetrar bem fundo nas “férteis” lamas;
6 – Considerar o que está mencionado em igual número da Seixoeira;
7 – Nada a acrescentar.


Calidris alpina (Pilrito-comum)

















































































































































1 – Pouco Preocupante;
2 – Vulgarmente observados ao longo de todos os períodos do ano, notando-se apenas uma diminuição nos meses de Junho, Julho e primeira metade de Agosto;
3 – Abundantes; no mesmo sentido a SPEA atribui-lhes o estatuto de Invernantes e Migradores de Passagem muito abundantes;
4 – Por ser a limícola mais familiar aos observadores de aves, é tida como uma espécie padrão nas comparações com outras similares; ver o que está referido em igual número de todas as outras espécies aqui apresentadas; de salientar que a plumagem das que por cá permanecem durante os meses Inverno é bem distinta dos indivíduos que aqui surgem em migração para norte em Abril e sobretudo em Maio, ou seja, enquanto os invernantes apresentam palidamente a parte superior cinzenta e a inferior completamente branca, os que viajam para as núpcias já “vestem” a parte superior de um acastanhado vivo e o abdómen a escurecer ou, no caso dos mais atrasados, completamente preto (em Setembro e Março é costume apresentarem plumagens de transição);
5 – Isoladas e dispersas ou em bandos grandes e compactos, estas aves litorais ocupam todos os redutos deste estuário; bem distribuídos desde a foz até aos lodaçais ou areias a descoberto na maré baixa mais interiores; sobretudo nos períodos migratórios podem ser ocasionalmente encontradas a descansarem nas praias; vindos em catadupa de um qualquer refúgio seco, são quase sempre os primeiros a surgir nas zonas de alimentação assim que o nível das águas começa a descer, entrando logo num corrupio esquadrinhando todos os milímetros da superfície dos lodos que ficarão rapidamente preenchidos pelas suas pequenas pegadas e bicadas;
6 – Considerar o que está mencionado em igual número da Seixoeira;
7 – Na «Lista de espécies de aves referenciadas para o PNLN» ainda está indicado o Pilrito-pequeno (Calidris minuta), que nunca observei neste estuário, igualmente muito parecido com os restantes congéneres, nomeadamente o Pilrito-comum, do qual se distingue pelo menor tamanho do corpo e pelo bico visivelmente mais curto.



quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Avifauna do Pinhal de Ofir


























1 – (Estatuto de conservação) Em vias de extinção.
2 – (Quando observar) Nos intervalos entre a passagem de uma motosserra, uma descarga de tijolos e de sacos de cimento e a montagem de uma grua… depois…
3 – (Abundância) Já foi.
4 – (Espécies parecidas) As expostas na secção de aves das prateleiras dos supermercados “Modelo e Continente” e afins.
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Qual habitat?
6 – (Tolerância à nossa presença) Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
7 – (Outros dados de interesse) Intriga-me o motivo pelo qual as agulhas para injecções letais dos condenados à morte são esterilizadas.



sábado, 19 de setembro de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXVII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Aves Limícolas (continuação)


Ordem Charadriiformes

Família Charadriidae
(seis espécies)


Charadrius dubius (Borrelho-pequeno-de-coleira)
























































1 – (Estatuto de conservação) Pouco Preocupante;
2 – (Quando observar) Ocorre em passagem migratória durante os meses de Abril e Maio e volta a passar em Setembro no regresso para os locais de invernada mais a sul;
3 – (Abundância) É pouco comum nesta região; a SPEA atribuiu-lhe o estatuto de Migrador de Passagem e de Estival comum e ainda de Invernante raro;
4 – (Espécies parecidas) Parece-se com o visivelmente maior Borrelho-grande-de-coleira, do qual se distingue principalmente por ter um anel orbital (em torno dos olhos) bem evidente em amarelo vivo e pelo bico ser sempre completamente preto (ver breve descrição da espécie seguinte); ainda pode ser confundido com o mais claro Borrelho-de-coleira-interrompida, de tamanho semelhante, mas que nunca apresenta a coleira completa; em voo também se diferencia destes borrelhos por não apresentar barra alar (ao longo das asas) de cor branca;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) São encontrados quase exclusivamente nos lodaçais do estuário alimentarem-se em pequenos bandos (parecem que “picam” as lamas com o bico);
6 – (Tolerância à nossa presença) Geralmente, quando são surpreendidos, lançam-se de imediato num voo rasteiro para se afastarem até aos 30 ou 40 metros, mantendo essa distância de segurança com pequenos mas rápidos e diligentes passitos que vão dando à medida que nos tentamos aproximar (atitude típica em todos os borrelhos); o hábito de permanecerem quase sempre rente ao solo, não favorece quem pretenda fotografá-los;
7 – (Outros dados de interesse) Apesar de ser uma ave mais característica da metade sul do País, no AANP a sua nidificação está confirmada no litoral norte (Rio Lima).


Charadrius hiaticula (Borrelho-grande-de-coleira)























































1 – Pouco Preocupante;
2 – Ocorrem dois tipos de populações, a Invernante e as Migradoras de Passagem; verifica-se uma clara diminuição do número de aves ou mesmo a ausência de qualquer espécime nos meses de Junho e Julho;
3 – Comuns durante o Inverno, podem, em alguns períodos, tornarem-se ainda mais numerosos, sobretudo nos meses de Março até Maio e de Setembro para Outubro, que correspondem ao momento da passagem de múltiplos bandos em migração; de igual modo, a SPEA considera-as Invernantes e Migradoras de Passagem abundantes;
4 – São mais “redondos” do que os parentes anteriores, dos quais ainda se distinguem por terem a base do bico alaranjado e os olhos escuros quase não se destacarem na barra preta que os atravessa; ver ainda a ave seguinte;
5 – Distribuem-se por todo o estuário e ocasionalmente pela praia (principalmente junto à restinga) onde formam bandos mistos com os Pilritos-comuns (a apresentar na próxima série); são facilmente encontrados nos lodaçais ou nas areias a descoberto na maré vaza e por vezes entre seixos (nas zonas intervencionadas por antigas dragagens do rio com mais cascalho); parecem que têm rodas em vez de patas, tal é a agilidade com que correm rente ao solo e se imobilizam de repente e voltam a correr;
6 – Não são muito tímidos mas obrigam-nos a ter alguma paciência em virtude de ser mais aconselhável deixá-los aproximarem-se de nós do que o contrário;
7 – Por vezes, a subida da maré agrega vários indivíduos desta espécie ou de outras congéneres em pequenas ilhotas de areia onde o espaço vai diminuindo progressivamente; então, quando o grupo se adensa demasiado, levantam em debandada simultânea à procura de outro poiso seco, altura em que sobrevoam as águas com sucessivas manobras de mudança de direcção perfeitamente sincronizadas, fazendo com que o bando alterne de cores entre o escuro do dorso com o claro do peito, o que constitui um dos mais admiráveis espectáculos naturais proporcionados pela nossa avifauna.


Charadrius alexandrinus (Borrelho-de-coleira-interrompida)





































1 – Pouco Preocupante; está definida como espécie de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN), onde lhe está atribuída uma alta valoração ecológica;
2 – Há sempre a possibilidade de restarem por cá alguns (poucos) indivíduos durante os meses frios do Outono ou do Inverno, no entanto, a população mais significativa, ou seja, a Estival Reprodutora, apenas chega a estas latitudes em Março (por vezes em Fevereiro) e, posteriormente, parte para sul em Setembro;
3 – Muito comuns durante a época de reprodução; esta ave, essencialmente costeira, está considerada pela SPEA como Migradora de Passagem e Residente abundante;
4 – Além do que já foi mencionado, os juvenis das outras duas espécies de borrelhos (ambas mais escuras) também podem apresentar a coleira (ou faixa peitoral) interrompida, mas os C. alexandrinus são distinguidos com alguma facilidade por terem as patas pretas em todas as fases do seu desenvolvimento (os outros têm-nas amarelas ou alaranjadas);
5 – Frequentam as dunas, as praias e as partes arenosas do estuário mais junto à foz, em particular a restinga; o melhor local que, ao mesmo tempo, é o mais cómodo e, sobretudo, o mais aconselhável para se fazerem as suas observações são as areias da praia propriamente ditas ou então as dunas mas unicamente ao longo dos passadiços em madeira, em virtude destes habitats serem muito frágeis (o pisoteio deve ser evitado) e ser ali que procuram resguardo para nidificarem; no pequeno sapal situado junto ao Forte de S. João Baptista em Esposende podem ser avistados com facilidade a partir da marginal (ou passeio), provocando apenas um mínimo de perturbação;
6 – Nas praias em particular são muito tolerantes; no sentido inverso, quando são perturbados nas dunas, costumam afastar-se em voos rasantes ou a correrem pela areia arrastando as asas enquanto simulam alguma vulnerabilidade para que os sigamos (contudo apenas nos afastam dos discretos ninhos);
7 – É, muito justamente, a espécie símbolo do Parque Natural Litoral Norte, em virtude dos ex-libris desta área protegida, ou seja, os seus sistemas dunares, constituírem os habitats de eleição desta ave; o facto de aqui encontrar condições muito favoráveis para nidificar, exige de todos nós um apurado sentido de responsabilidade e muita prudência quando as procuramos.


Pluvialis apricaria (Tarambola-dourada)




















































1
– Pouco Preocupante, mas, apesar de ser uma espécie cinegética (no período compreendido entre 1 de Novembro e 17 de Janeiro), consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Invernantes; começam a chegar em Outubro (por vezes em Setembro) e permanecem por cá até Fevereiro;
3 – Segundo a SPEA, são Invernantes abundantes em território nacional; na realidade local essa situação já não se confirma, pois o número de indivíduos que aqui se refugiam do frio mais setentrional é simplesmente residual; mesmo assim, nas passagens para sul durante o Outono ou no sentido contrário com a aproximação do final do Inverno, podem pontualmente ser avistados bandos compostos por uma ou duas dezenas de indivíduos que se detêm pelo estuário ou pelos campos circundantes durante alguns dias;
4 – A Tarambola-cinzenta é muito parecida mas, entre outros, distingue-se desta essencialmente em três aspectos, sendo o mais evidente apenas constatado em voo quando a T.-cinzenta exibe as axilas (parte inferior das asas junto ao corpo) com uma grande mancha de cor preta (as da T.-dourada são sempre brancas), o outro modo de as diferenciar é através da verificação dos tons da plumagem de acordo com os próprios nomes vulgares, contudo, como pode ser atestado na terceira foto que acompanha o texto de apresentação da T.-cinzenta, que foi obtida ao entardecer, o modo como a luz do sol incide nas penas pode causar-nos confusões, e, por fim, a outra forma de as identificar, embora menos óbvia, poderá ser através do próprio habitat e das circunstâncias em que são encontradas (ver o ponto 5 em ambas);
5 – Apesar de não ser raro avistarem-se algumas destas aves nas margens do Cávado, no próprio estuário, em particular nos seus prados salgados, e ainda na restinga, os seus bandos são observados principalmente a sobrevoarem os terrenos agrícolas ou ali pousados, nomeadamente naqueles que se estendem ao longo da Estrada Nacional 13 e no acesso à A28 em Gandra, ou ainda na veiga agrícola que se estende desde Fão pela orla da mata até ao caniçal da Apúlia; são tendencialmente gregárias;
6 – Embora aparentem alguma tranquilidade quando descansam no solo, são muito vigilantes e mantêm quase sempre uma prudente distância em relação ao seu principal predador (o Homem);
7 – É normal vê-las associadas aos bandos de Abibes que frequentam o mesmo tipo de habitats.


Pluvialis squatarola
(Tarambola-cinzenta)























































1 – Pouco Preocupante;
2 – Invernantes que chegam a partir do mês Setembro, altura em que também é registada a ocorrência de Migradores de Passagem para sul; partem com o final do frio para norte, “aproveitando a boleia” de outros bandos migradores que se vão observando pela região até Maio;
3 – São comuns enquanto Invernantes mas tornam-se muito mais numerosas na altura da passagem dos bandos em migração; a SPEA atribui-lhes o estatuto de Invernantes e Migradores de Passagem muito abundantes;
4 – Considerar o que ficou exposto em igual número da espécie anterior;
5 – Espécie típica do estuário que nunca se afasta dos planos de água (por vezes frequenta as areias húmidas nas praias); os visitantes invernais encontram-se quase sempre a jusante da ponte velha, isolados, aos pares ou juntamente com outras pequenas limícolas; as margens com zonas lodosas desde aquela travessia até aos antigos estaleiros de Esposende ou o estreito passeio da marginal no núcleo turístico de Ofir, são óptimos locais de observação, mas é nos canais que atravessam o sapal que preferem refugiar-se e onde encontram com fartura os invertebrados que lhes servem de alimento;
6 – Não são poucos os espécimes que vão permitindo a nossa aproximação até a uns muito favoráveis 10 ou 15 metros de distância;
7 – De salientar que tanto nesta como na sua congénere dourada se verificam das maiores transformações entre plumagens, que consiste na mudança da cor esbranquiçada em toda a parte inferior apresentada por estas aves no Inverno, para o completamente preto no período nupcial.


Vanellus vanellus (Abibe)



















1 – Pouco Preocupante;
2 – Tipicamente Invernante; podem começar a aparecer em Setembro (em Agosto de 1998 foram vistos 3 indivíduos) mas as suas chegadas, ou passagens para sul, são mais frequentes a partir de Outubro e, posteriormente, regressam para os locais habituais de nidificação, no norte e leste da Europa, até Abril (em Maio de 2003 ainda foi visto um pequeno bando em passagem);
3 – A população Invernante que por cá se detém resume-se a poucos bandos que podem, no entanto, e principalmente nos meses de Dezembro e Janeiro, ser constituídos por várias dezenas de indivíduos; são considerados pela SPEA como Invernantes abundantes e Residentes raros;
4 – A sua plumagem “quase exótica” tornam-na numa espécie inconfundível;
5 – O Estuário do Cávado, envolvido pelos campos de cultivo de Gandra, onde habitualmente estas aves “mergulham” e se demoram a alimentarem-se de minhocas, parece reunir condições favoráveis enquanto área de invernada; de facto é frequente avistarem-se alguns dos seus bandos a sobrevoarem vagarosamente a margem direita, os quais desaparecem do nosso alcance visual quando pousam por entre o relevo das terras lavradas; em descanso, no solo, podem ser encontrados na vegetação rasteira nos prados salgados do estuário e é aqui, principalmente quando percorrem as lamas a descoberto na maré vaza, que são observados em melhores condições; nestas últimas circunstâncias, num dia com sol e se for possível alguma aproximação, podemos perceber que estas aves não são simplesmente pretas e brancas (aspecto geral da ave quando está afastada), pois passam a exibir claramente as tonalidades esverdeadas (reflexos) das penas do dorso e das asas, além de um característico penacho no topo da cabeça; no caso de estarmos distraídos a contemplar outras espécies, poderá ser-nos muito útil conhecer as suas vocalizações distintivas, pois costumam anunciar-se desse modo enquanto passam em voo;
6 – Como se encontram habitualmente em bando, há sempre pelo menos um dos seus elementos a alertar os restantes para a nossa presença, o que resulta quase invariavelmente na debandada geral; de qualquer modo, aparentemente, não se manifestam perturbados se nos mantivermos a distâncias não inferiores a uns 40 ou 50 metros;
7 – Por cá também são conhecidas por Aves Frias, numa clara referência ao clima do período em que nos visitam; no novo AANP já há referências à sua reprodução no centro e sul do território nacional.



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXVI)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Nos diplomas que procederam à transposição da Directiva Aves para as normas jurídicas nacionais, importantes ferramentas legais que visam contribuir para a protecção da avifauna e dos habitats que lhes servem de suporte vital, está estabelecido quais são as espécies europeias ecologicamente mais relevantes e que serão alvo de medidas de conservação especiais por parte de todos os Estados-membros. Tendo em conta diversos factores, como o respectivo grau de ameaça entre outros que, por enquanto, não importa aqui desenvolver, ficou ali definido que as «espécies de interesse comunitário» a salvaguardar, seriam inscritas no já célebre Anexo A-I (várias vezes destacadas neste estudo), ao mesmo tempo que ficou determinado também que às espécies migratórias não referidas naquela lista seria dada igual atenção, tendo em conta, entre outros aspectos, a necessidade de protecção das zonas de repouso, refúgio e alimentação nos seus percursos de migração. Com esse fim, as várias nações envolvidas deveriam atribuir uma importância especial à protecção das zonas húmidas – e o Estuário do Cávado é uma zona húmida.
Apesar de não estar classificado como Zona de Protecção Especial para as Aves (ZPE), este estuário é parte integrante de um Sítio de Importância Comunitária (SIC) e está claramente alinhado no importante “corredor” formado, por exemplo, pelas ZPE do Estuário do Minho, da Ria de Aveiro, dos Pauis do Mondego e dos Estuários do Tejo e Sado.
Face a isso, por cá é comum observarem-se inúmeras espécies migradoras, de ocorrência regular ou meramente acidentais ou divagantes, de entre as quais se destacam as Aves Limícolas, de um valioso interesse ecológico, em grande parte com estatuto de ameaçadas e que encontram nesta zona húmida costeira condições muito favoráveis para descansarem e recuperarem forças nas suas longas jornadas migratórias, muitas vezes, de dimensões intercontinentais.
Ainda que nesta pequena zona húmida se possam encontrar representantes de várias destas espécies praticamente ao longo de todo o ano, a grande maioria destas aves apenas aqui ocorre como passante, ou seja, num sentido muito lato, migram para norte no final do Inverno e início da Primavera e regressam para sul como o desfecho do Verão e durante as primeiras semanas de Outono. Assim sendo, o mês de Abril e os primeiros dias de Maio e posteriormente o mês de Setembro e o início de Outubro, surgem como os períodos do ano mais apetecíveis para os observadores da natureza em geral e os interessados na ornitologia em particular, que cada vez mais elegem como local de visita obrigatória a Foz do Cávado e estou certo que para isso muito contribui a presença enriquecedora e assídua destas aves com tantas particularidades curiosas e a que também nos habituamos a chamar de “Pernaltas” ou, simplesmente, de “Maçaricos”.
E foi tendo em conta que estas aves, tão típicas da nossa terra, contribuem decisivamente para a valorização da já rica biodiversidade nacional, que reservei a sua apresentação para o final deste ensaio.
Como nota final refiro que, devido à constante mobilidade e cosmopolitismo destas aves, além dos aspectos já habituais, nos pontos nº. 3 da apresentação de cada espécie, ainda farei constar o correspondente estatuto fenológico de acordo com o que está definido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).


Aves Limícolas


Ordem Charadriiformes

Família Haematopodidae

(uma espécie)


Haematopus ostralegus (Ostraceiro)





































1 – (Estatuto de conservação) As populações residentes estão Regionalmente Extintas no território nacional, mas ainda nos resta a possibilidade de observarmos algumas aves visitantes com o estatuto de Quase Ameaçadas;
2 – (Quando observar) Apenas são avistados neste estuário em visitas de passagem muito esporádicas; registei esse facto unicamente em três datas (um indivíduo em Julho de 1998; outro em Setembro de 2005 e, os dois das fotos, em Abril de 2009);
3 – (Abundância) Quanto à realidade regional nada há a acrescentar; a SPEA atribuiu-lhes o estatuto de Invernantes comuns e Migradores de Passagem pouco comuns;
4 – (Espécies parecidas) Nenhuma outra se assemelha;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Nas escassas ocasiões em que foram observadas no estuário, estas típicas aves das faixas costeiras europeias foram sempre encontradas entre canais, pousadas nas zonas arenosas a descoberto na maré vaza, ou a esquadrinhar aqueles sedimentos com o bico forte e comprido; as cores preta e branca da sua plumagem e o grande bico colorido de vermelho alaranjado, torna-as aves facilmente detectadas, mesmo que avistadas em voo que normalmente é constituído por um batimento de asas rápido como o dos patos; é vulgar denunciarem a sua passagem através de vocalizações características, agudas mas bem sonantes;
6 – (Tolerância à nossa presença) Parecem muito tímidos;
7 – (Outros dados de interesse) Em contraste com o que aqui se verifica, estas aves podem ser relativamente numerosas em regiões vizinhas como as Rias de Aveiro a sul e as Galegas a norte; nesses locais é vulgar encontrá-las em habitats tão distintos como as areias das praias ou as zonas rochosas (onde obtêm o seu alimento favorito – amêijoas e mexilhão).


Família Recurvirostridae
(duas espécies)


Himantopus himantopus (Perna-longa ou Pernilongo)














































































































1 – Pouco Preocupante, mas consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Apesar das suas passagens nesta zona húmida também serem fortuitas, são mais frequentes e regulares do que a espécie anterior; além disso, raramente surgem isolados; nem todos os anos é registada a sua passagem que, em regra, ocorre entre finais de Abril até ao início de Junho e depois durante Agosto (raramente), Setembro e Outubro; desde Abril de 1999 o pequeno bando que por cá passava era constituído por seis indivíduos, porém, a partir 2006, jamais foram observados mais do que quatro (conforme os das fotos obtidas em Maio do presente ano);
3 – Embora sejam muito raros por estas latitudes, nas zonas mais meridionais do País são considerados pela SPEA como Estivais e Migradores de Passagem abundantes e Invernantes pouco comuns;
4 – Só por si, as patas desproporcionalmente compridas tornam-na uma ave absolutamente única;
5 – Para se alimentarem, sobretudo de insectos, dependem muito da disponibilidade de águas com profundidades constantes e muito reduzidas onde se formam autênticos “espelhos” aquáticos, pelo que, duas vezes por dia, aquela “baía” sob o miradouro da restinga é um bom local de observação, principalmente durante a acalmia das primeiras horas do dia (fotos); de qualquer modo já foram observados por várias ocasiões a descansarem em ambas as margens próximo do Cais do Caldeirão em Fão e da Ponte da A28 em Gandra e ainda nas ínsuas e areias a descoberto na maré vaza junto à Ponte Velha;
6 – Além de serem relativamente tolerantes à nossa presença, nos curtos períodos de tempo em que permanecem por cá, as suas características morfológicas distintas e os seus hábitos muito particulares (parecem que caminham embriagados acima da superfície da água), fazem com que sejam facilmente detectados e reconhecidos;
7 – Só posso acrescentar que para se observar a delicada elegância quase exótica destas aves se justifica em pleno "dar um saltinho" ali à Ria de Aveiro onde são bastante mais comuns.


Recurvirostra avosetta (Alfaiate)

1 – As populações visitantes têm estatuto de Pouco Preocupante, porém, o pequeno número de nidificantes está classificado como Quase Ameaçado; consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Registado (pelo autor) um espécime em 27 de Março de 1998 e outro (possivelmente o mesmo) a 5 e 6 de Fevereiro de 2003;
3 – Acidental no litoral norte; ao nível nacional a SPEA atribuiu-lhe o estatuto de Residente pouco comum e Invernante abundante;
4 – Inconfundível; nenhuma outra ave autóctone apresenta o bico recurvado para cima;
5 – Na primeira data o espécime apenas foi observado a descansar em areia seca mas pela margem na restinga muito perto da foz; nas seguintes, ou seja, quase cinco anos depois, já foi encontrado a caminhar incessantemente em águas rasas, como aquela pequena zona de sapal junto ao Forte de S. João Baptista em Esposende e também na margem direita entre a ponte de Fão e os estaleiros de Esposende, sempre a alimentar-se com os característicos movimentos oscilantes da cabeça enquanto o bico parecia que ceifava a água;
6 – Nas observações daquela(s) ave(s) mantive-me sempre suficientemente afastado para não a(s) perturbar, pelo que não experimentei até que ponto suportam a nossa aproximação;
7 – Para a conclusão da apresentação desta série de três aves típicas das regiões do sul, todas de ocorrência irregular na Foz do Cávado, devo mencionar que na «Lista de espécies de aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte» ainda constam outras duas limícolas invulgares e também mais meridionais, ambas com o estatuto de conservação de Vulneráveis e que ainda estão inscritas no Anexo A-I da Directiva Aves; uma delas é o Alcaravão (Burhinus oedicnemus), ave da Família Burhinidae, classificada pela SPEA como Invernante e Residente pouco comum, muito discreta e de hábitos nocturnos (talvez venha daí o motivo pelo qual nunca as tenha avistado) e que nesta região apenas encontrará as dunas com habitat favorável; a outra espécie é a Perdiz-do-mar (Glareola pratincola), da Família Glareolidae, considerada pela SPEA como Residente pouco comum, a qual, embora seja um “parente” afastado, assemelha-se, tanto na silhueta como nas vocalizações, com as Andorinhas-do-mar (em particular com a anã, pelo tamanho); refira-se contudo que, apesar de nesta região os habitats aquáticos, dos quais nunca se afastam, serem relativamente abundantes, esta espécie não encontrará habitats ou condições propícias para que, por cá, se possa alongar nas suas permanências.