Estuário do Cávado
Aves Limícolas (continuação)
Ordem Charadriiformes
Família Charadriidae
(seis espécies)
Charadrius dubius (Borrelho-pequeno-de-coleira)
1 – (Estatuto de conservação) Pouco Preocupante;
2 – (Quando observar) Ocorre em passagem migratória durante os meses de Abril e Maio e volta a passar em Setembro no regresso para os locais de invernada mais a sul;
3 – (Abundância) É pouco comum nesta região; a SPEA atribuiu-lhe o estatuto de Migrador de Passagem e de Estival comum e ainda de Invernante raro;
4 – (Espécies parecidas) Parece-se com o visivelmente maior Borrelho-grande-de-coleira, do qual se distingue principalmente por ter um anel orbital (em torno dos olhos) bem evidente em amarelo vivo e pelo bico ser sempre completamente preto (ver breve descrição da espécie seguinte); ainda pode ser confundido com o mais claro Borrelho-de-coleira-interrompida, de tamanho semelhante, mas que nunca apresenta a coleira completa; em voo também se diferencia destes borrelhos por não apresentar barra alar (ao longo das asas) de cor branca;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) São encontrados quase exclusivamente nos lodaçais do estuário alimentarem-se em pequenos bandos (parecem que “picam” as lamas com o bico);
6 – (Tolerância à nossa presença) Geralmente, quando são surpreendidos, lançam-se de imediato num voo rasteiro para se afastarem até aos 30 ou 40 metros, mantendo essa distância de segurança com pequenos mas rápidos e diligentes passitos que vão dando à medida que nos tentamos aproximar (atitude típica em todos os borrelhos); o hábito de permanecerem quase sempre rente ao solo, não favorece quem pretenda fotografá-los;
7 – (Outros dados de interesse) Apesar de ser uma ave mais característica da metade sul do País, no AANP a sua nidificação está confirmada no litoral norte (Rio Lima).
Charadrius hiaticula (Borrelho-grande-de-coleira)
1 – Pouco Preocupante;
2 – Ocorrem dois tipos de populações, a Invernante e as Migradoras de Passagem; verifica-se uma clara diminuição do número de aves ou mesmo a ausência de qualquer espécime nos meses de Junho e Julho;
3 – Comuns durante o Inverno, podem, em alguns períodos, tornarem-se ainda mais numerosos, sobretudo nos meses de Março até Maio e de Setembro para Outubro, que correspondem ao momento da passagem de múltiplos bandos em migração; de igual modo, a SPEA considera-as Invernantes e Migradoras de Passagem abundantes;
4 – São mais “redondos” do que os parentes anteriores, dos quais ainda se distinguem por terem a base do bico alaranjado e os olhos escuros quase não se destacarem na barra preta que os atravessa; ver ainda a ave seguinte;
5 – Distribuem-se por todo o estuário e ocasionalmente pela praia (principalmente junto à restinga) onde formam bandos mistos com os Pilritos-comuns (a apresentar na próxima série); são facilmente encontrados nos lodaçais ou nas areias a descoberto na maré vaza e por vezes entre seixos (nas zonas intervencionadas por antigas dragagens do rio com mais cascalho); parecem que têm rodas em vez de patas, tal é a agilidade com que correm rente ao solo e se imobilizam de repente e voltam a correr;
6 – Não são muito tímidos mas obrigam-nos a ter alguma paciência em virtude de ser mais aconselhável deixá-los aproximarem-se de nós do que o contrário;
7 – Por vezes, a subida da maré agrega vários indivíduos desta espécie ou de outras congéneres em pequenas ilhotas de areia onde o espaço vai diminuindo progressivamente; então, quando o grupo se adensa demasiado, levantam em debandada simultânea à procura de outro poiso seco, altura em que sobrevoam as águas com sucessivas manobras de mudança de direcção perfeitamente sincronizadas, fazendo com que o bando alterne de cores entre o escuro do dorso com o claro do peito, o que constitui um dos mais admiráveis espectáculos naturais proporcionados pela nossa avifauna.
Charadrius alexandrinus (Borrelho-de-coleira-interrompida)
1 – Pouco Preocupante; está definida como espécie de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN), onde lhe está atribuída uma alta valoração ecológica;
2 – Há sempre a possibilidade de restarem por cá alguns (poucos) indivíduos durante os meses frios do Outono ou do Inverno, no entanto, a população mais significativa, ou seja, a Estival Reprodutora, apenas chega a estas latitudes em Março (por vezes em Fevereiro) e, posteriormente, parte para sul em Setembro;
3 – Muito comuns durante a época de reprodução; esta ave, essencialmente costeira, está considerada pela SPEA como Migradora de Passagem e Residente abundante;
4 – Além do que já foi mencionado, os juvenis das outras duas espécies de borrelhos (ambas mais escuras) também podem apresentar a coleira (ou faixa peitoral) interrompida, mas os C. alexandrinus são distinguidos com alguma facilidade por terem as patas pretas em todas as fases do seu desenvolvimento (os outros têm-nas amarelas ou alaranjadas);
5 – Frequentam as dunas, as praias e as partes arenosas do estuário mais junto à foz, em particular a restinga; o melhor local que, ao mesmo tempo, é o mais cómodo e, sobretudo, o mais aconselhável para se fazerem as suas observações são as areias da praia propriamente ditas ou então as dunas mas unicamente ao longo dos passadiços em madeira, em virtude destes habitats serem muito frágeis (o pisoteio deve ser evitado) e ser ali que procuram resguardo para nidificarem; no pequeno sapal situado junto ao Forte de S. João Baptista em Esposende podem ser avistados com facilidade a partir da marginal (ou passeio), provocando apenas um mínimo de perturbação;
6 – Nas praias em particular são muito tolerantes; no sentido inverso, quando são perturbados nas dunas, costumam afastar-se em voos rasantes ou a correrem pela areia arrastando as asas enquanto simulam alguma vulnerabilidade para que os sigamos (contudo apenas nos afastam dos discretos ninhos);
7 – É, muito justamente, a espécie símbolo do Parque Natural Litoral Norte, em virtude dos ex-libris desta área protegida, ou seja, os seus sistemas dunares, constituírem os habitats de eleição desta ave; o facto de aqui encontrar condições muito favoráveis para nidificar, exige de todos nós um apurado sentido de responsabilidade e muita prudência quando as procuramos.
Pluvialis apricaria (Tarambola-dourada)
1 – Pouco Preocupante, mas, apesar de ser uma espécie cinegética (no período compreendido entre 1 de Novembro e 17 de Janeiro), consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Invernantes; começam a chegar em Outubro (por vezes em Setembro) e permanecem por cá até Fevereiro;
3 – Segundo a SPEA, são Invernantes abundantes em território nacional; na realidade local essa situação já não se confirma, pois o número de indivíduos que aqui se refugiam do frio mais setentrional é simplesmente residual; mesmo assim, nas passagens para sul durante o Outono ou no sentido contrário com a aproximação do final do Inverno, podem pontualmente ser avistados bandos compostos por uma ou duas dezenas de indivíduos que se detêm pelo estuário ou pelos campos circundantes durante alguns dias;
4 – A Tarambola-cinzenta é muito parecida mas, entre outros, distingue-se desta essencialmente em três aspectos, sendo o mais evidente apenas constatado em voo quando a T.-cinzenta exibe as axilas (parte inferior das asas junto ao corpo) com uma grande mancha de cor preta (as da T.-dourada são sempre brancas), o outro modo de as diferenciar é através da verificação dos tons da plumagem de acordo com os próprios nomes vulgares, contudo, como pode ser atestado na terceira foto que acompanha o texto de apresentação da T.-cinzenta, que foi obtida ao entardecer, o modo como a luz do sol incide nas penas pode causar-nos confusões, e, por fim, a outra forma de as identificar, embora menos óbvia, poderá ser através do próprio habitat e das circunstâncias em que são encontradas (ver o ponto 5 em ambas);
5 – Apesar de não ser raro avistarem-se algumas destas aves nas margens do Cávado, no próprio estuário, em particular nos seus prados salgados, e ainda na restinga, os seus bandos são observados principalmente a sobrevoarem os terrenos agrícolas ou ali pousados, nomeadamente naqueles que se estendem ao longo da Estrada Nacional 13 e no acesso à A28 em Gandra, ou ainda na veiga agrícola que se estende desde Fão pela orla da mata até ao caniçal da Apúlia; são tendencialmente gregárias;
6 – Embora aparentem alguma tranquilidade quando descansam no solo, são muito vigilantes e mantêm quase sempre uma prudente distância em relação ao seu principal predador (o Homem);
7 – É normal vê-las associadas aos bandos de Abibes que frequentam o mesmo tipo de habitats.
Pluvialis squatarola (Tarambola-cinzenta)
1 – Pouco Preocupante;
2 – Invernantes que chegam a partir do mês Setembro, altura em que também é registada a ocorrência de Migradores de Passagem para sul; partem com o final do frio para norte, “aproveitando a boleia” de outros bandos migradores que se vão observando pela região até Maio;
3 – São comuns enquanto Invernantes mas tornam-se muito mais numerosas na altura da passagem dos bandos em migração; a SPEA atribui-lhes o estatuto de Invernantes e Migradores de Passagem muito abundantes;
4 – Considerar o que ficou exposto em igual número da espécie anterior;
5 – Espécie típica do estuário que nunca se afasta dos planos de água (por vezes frequenta as areias húmidas nas praias); os visitantes invernais encontram-se quase sempre a jusante da ponte velha, isolados, aos pares ou juntamente com outras pequenas limícolas; as margens com zonas lodosas desde aquela travessia até aos antigos estaleiros de Esposende ou o estreito passeio da marginal no núcleo turístico de Ofir, são óptimos locais de observação, mas é nos canais que atravessam o sapal que preferem refugiar-se e onde encontram com fartura os invertebrados que lhes servem de alimento;
6 – Não são poucos os espécimes que vão permitindo a nossa aproximação até a uns muito favoráveis 10 ou 15 metros de distância;
7 – De salientar que tanto nesta como na sua congénere dourada se verificam das maiores transformações entre plumagens, que consiste na mudança da cor esbranquiçada em toda a parte inferior apresentada por estas aves no Inverno, para o completamente preto no período nupcial.
Vanellus vanellus (Abibe)
1 – Pouco Preocupante;
2 – Tipicamente Invernante; podem começar a aparecer em Setembro (em Agosto de 1998 foram vistos 3 indivíduos) mas as suas chegadas, ou passagens para sul, são mais frequentes a partir de Outubro e, posteriormente, regressam para os locais habituais de nidificação, no norte e leste da Europa, até Abril (em Maio de 2003 ainda foi visto um pequeno bando em passagem);
3 – A população Invernante que por cá se detém resume-se a poucos bandos que podem, no entanto, e principalmente nos meses de Dezembro e Janeiro, ser constituídos por várias dezenas de indivíduos; são considerados pela SPEA como Invernantes abundantes e Residentes raros;
4 – A sua plumagem “quase exótica” tornam-na numa espécie inconfundível;
5 – O Estuário do Cávado, envolvido pelos campos de cultivo de Gandra, onde habitualmente estas aves “mergulham” e se demoram a alimentarem-se de minhocas, parece reunir condições favoráveis enquanto área de invernada; de facto é frequente avistarem-se alguns dos seus bandos a sobrevoarem vagarosamente a margem direita, os quais desaparecem do nosso alcance visual quando pousam por entre o relevo das terras lavradas; em descanso, no solo, podem ser encontrados na vegetação rasteira nos prados salgados do estuário e é aqui, principalmente quando percorrem as lamas a descoberto na maré vaza, que são observados em melhores condições; nestas últimas circunstâncias, num dia com sol e se for possível alguma aproximação, podemos perceber que estas aves não são simplesmente pretas e brancas (aspecto geral da ave quando está afastada), pois passam a exibir claramente as tonalidades esverdeadas (reflexos) das penas do dorso e das asas, além de um característico penacho no topo da cabeça; no caso de estarmos distraídos a contemplar outras espécies, poderá ser-nos muito útil conhecer as suas vocalizações distintivas, pois costumam anunciar-se desse modo enquanto passam em voo;
6 – Como se encontram habitualmente em bando, há sempre pelo menos um dos seus elementos a alertar os restantes para a nossa presença, o que resulta quase invariavelmente na debandada geral; de qualquer modo, aparentemente, não se manifestam perturbados se nos mantivermos a distâncias não inferiores a uns 40 ou 50 metros;
7 – Por cá também são conhecidas por Aves Frias, numa clara referência ao clima do período em que nos visitam; no novo AANP já há referências à sua reprodução no centro e sul do território nacional.