OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado
Nos diplomas que procederam à transposição da Directiva Aves para as normas jurídicas nacionais, importantes ferramentas legais que visam contribuir para a protecção da avifauna e dos habitats que lhes servem de suporte vital, está estabelecido quais são as espécies europeias ecologicamente mais relevantes e que serão alvo de medidas de conservação especiais por parte de todos os Estados-membros. Tendo em conta diversos factores, como o respectivo grau de ameaça entre outros que, por enquanto, não importa aqui desenvolver, ficou ali definido que as «espécies de interesse comunitário» a salvaguardar, seriam inscritas no já célebre Anexo A-I (várias vezes destacadas neste estudo), ao mesmo tempo que ficou determinado também que às espécies migratórias não referidas naquela lista seria dada igual atenção, tendo em conta, entre outros aspectos, a necessidade de protecção das zonas de repouso, refúgio e alimentação nos seus percursos de migração. Com esse fim, as várias nações envolvidas deveriam atribuir uma importância especial à protecção das zonas húmidas – e o Estuário do Cávado é uma zona húmida.
Apesar de não estar classificado como Zona de Protecção Especial para as Aves (ZPE), este estuário é parte integrante de um Sítio de Importância Comunitária (SIC) e está claramente alinhado no importante “corredor” formado, por exemplo, pelas ZPE do Estuário do Minho, da Ria de Aveiro, dos Pauis do Mondego e dos Estuários do Tejo e Sado.
Face a isso, por cá é comum observarem-se inúmeras espécies migradoras, de ocorrência regular ou meramente acidentais ou divagantes, de entre as quais se destacam as Aves Limícolas, de um valioso interesse ecológico, em grande parte com estatuto de ameaçadas e que encontram nesta zona húmida costeira condições muito favoráveis para descansarem e recuperarem forças nas suas longas jornadas migratórias, muitas vezes, de dimensões intercontinentais.
Ainda que nesta pequena zona húmida se possam encontrar representantes de várias destas espécies praticamente ao longo de todo o ano, a grande maioria destas aves apenas aqui ocorre como passante, ou seja, num sentido muito lato, migram para norte no final do Inverno e início da Primavera e regressam para sul como o desfecho do Verão e durante as primeiras semanas de Outono. Assim sendo, o mês de Abril e os primeiros dias de Maio e posteriormente o mês de Setembro e o início de Outubro, surgem como os períodos do ano mais apetecíveis para os observadores da natureza em geral e os interessados na ornitologia em particular, que cada vez mais elegem como local de visita obrigatória a Foz do Cávado e estou certo que para isso muito contribui a presença enriquecedora e assídua destas aves com tantas particularidades curiosas e a que também nos habituamos a chamar de “Pernaltas” ou, simplesmente, de “Maçaricos”.
E foi tendo em conta que estas aves, tão típicas da nossa terra, contribuem decisivamente para a valorização da já rica biodiversidade nacional, que reservei a sua apresentação para o final deste ensaio.
Como nota final refiro que, devido à constante mobilidade e cosmopolitismo destas aves, além dos aspectos já habituais, nos pontos nº. 3 da apresentação de cada espécie, ainda farei constar o correspondente estatuto fenológico de acordo com o que está definido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
Aves Limícolas
Ordem Charadriiformes
Família Haematopodidae
(uma espécie)
Haematopus ostralegus (Ostraceiro)
Estuário do Cávado
Nos diplomas que procederam à transposição da Directiva Aves para as normas jurídicas nacionais, importantes ferramentas legais que visam contribuir para a protecção da avifauna e dos habitats que lhes servem de suporte vital, está estabelecido quais são as espécies europeias ecologicamente mais relevantes e que serão alvo de medidas de conservação especiais por parte de todos os Estados-membros. Tendo em conta diversos factores, como o respectivo grau de ameaça entre outros que, por enquanto, não importa aqui desenvolver, ficou ali definido que as «espécies de interesse comunitário» a salvaguardar, seriam inscritas no já célebre Anexo A-I (várias vezes destacadas neste estudo), ao mesmo tempo que ficou determinado também que às espécies migratórias não referidas naquela lista seria dada igual atenção, tendo em conta, entre outros aspectos, a necessidade de protecção das zonas de repouso, refúgio e alimentação nos seus percursos de migração. Com esse fim, as várias nações envolvidas deveriam atribuir uma importância especial à protecção das zonas húmidas – e o Estuário do Cávado é uma zona húmida.
Apesar de não estar classificado como Zona de Protecção Especial para as Aves (ZPE), este estuário é parte integrante de um Sítio de Importância Comunitária (SIC) e está claramente alinhado no importante “corredor” formado, por exemplo, pelas ZPE do Estuário do Minho, da Ria de Aveiro, dos Pauis do Mondego e dos Estuários do Tejo e Sado.
Face a isso, por cá é comum observarem-se inúmeras espécies migradoras, de ocorrência regular ou meramente acidentais ou divagantes, de entre as quais se destacam as Aves Limícolas, de um valioso interesse ecológico, em grande parte com estatuto de ameaçadas e que encontram nesta zona húmida costeira condições muito favoráveis para descansarem e recuperarem forças nas suas longas jornadas migratórias, muitas vezes, de dimensões intercontinentais.
Ainda que nesta pequena zona húmida se possam encontrar representantes de várias destas espécies praticamente ao longo de todo o ano, a grande maioria destas aves apenas aqui ocorre como passante, ou seja, num sentido muito lato, migram para norte no final do Inverno e início da Primavera e regressam para sul como o desfecho do Verão e durante as primeiras semanas de Outono. Assim sendo, o mês de Abril e os primeiros dias de Maio e posteriormente o mês de Setembro e o início de Outubro, surgem como os períodos do ano mais apetecíveis para os observadores da natureza em geral e os interessados na ornitologia em particular, que cada vez mais elegem como local de visita obrigatória a Foz do Cávado e estou certo que para isso muito contribui a presença enriquecedora e assídua destas aves com tantas particularidades curiosas e a que também nos habituamos a chamar de “Pernaltas” ou, simplesmente, de “Maçaricos”.
E foi tendo em conta que estas aves, tão típicas da nossa terra, contribuem decisivamente para a valorização da já rica biodiversidade nacional, que reservei a sua apresentação para o final deste ensaio.
Como nota final refiro que, devido à constante mobilidade e cosmopolitismo destas aves, além dos aspectos já habituais, nos pontos nº. 3 da apresentação de cada espécie, ainda farei constar o correspondente estatuto fenológico de acordo com o que está definido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
Aves Limícolas
Ordem Charadriiformes
Família Haematopodidae
(uma espécie)
Haematopus ostralegus (Ostraceiro)
1 – (Estatuto de conservação) As populações residentes estão Regionalmente Extintas no território nacional, mas ainda nos resta a possibilidade de observarmos algumas aves visitantes com o estatuto de Quase Ameaçadas;
2 – (Quando observar) Apenas são avistados neste estuário em visitas de passagem muito esporádicas; registei esse facto unicamente em três datas (um indivíduo em Julho de 1998; outro em Setembro de 2005 e, os dois das fotos, em Abril de 2009);
3 – (Abundância) Quanto à realidade regional nada há a acrescentar; a SPEA atribuiu-lhes o estatuto de Invernantes comuns e Migradores de Passagem pouco comuns;
4 – (Espécies parecidas) Nenhuma outra se assemelha;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Nas escassas ocasiões em que foram observadas no estuário, estas típicas aves das faixas costeiras europeias foram sempre encontradas entre canais, pousadas nas zonas arenosas a descoberto na maré vaza, ou a esquadrinhar aqueles sedimentos com o bico forte e comprido; as cores preta e branca da sua plumagem e o grande bico colorido de vermelho alaranjado, torna-as aves facilmente detectadas, mesmo que avistadas em voo que normalmente é constituído por um batimento de asas rápido como o dos patos; é vulgar denunciarem a sua passagem através de vocalizações características, agudas mas bem sonantes;
6 – (Tolerância à nossa presença) Parecem muito tímidos;
7 – (Outros dados de interesse) Em contraste com o que aqui se verifica, estas aves podem ser relativamente numerosas em regiões vizinhas como as Rias de Aveiro a sul e as Galegas a norte; nesses locais é vulgar encontrá-las em habitats tão distintos como as areias das praias ou as zonas rochosas (onde obtêm o seu alimento favorito – amêijoas e mexilhão).
Família Recurvirostridae
(duas espécies)
Himantopus himantopus (Perna-longa ou Pernilongo)
1 – Pouco Preocupante, mas consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Apesar das suas passagens nesta zona húmida também serem fortuitas, são mais frequentes e regulares do que a espécie anterior; além disso, raramente surgem isolados; nem todos os anos é registada a sua passagem que, em regra, ocorre entre finais de Abril até ao início de Junho e depois durante Agosto (raramente), Setembro e Outubro; desde Abril de 1999 o pequeno bando que por cá passava era constituído por seis indivíduos, porém, a partir 2006, jamais foram observados mais do que quatro (conforme os das fotos obtidas em Maio do presente ano);
3 – Embora sejam muito raros por estas latitudes, nas zonas mais meridionais do País são considerados pela SPEA como Estivais e Migradores de Passagem abundantes e Invernantes pouco comuns;
4 – Só por si, as patas desproporcionalmente compridas tornam-na uma ave absolutamente única;
5 – Para se alimentarem, sobretudo de insectos, dependem muito da disponibilidade de águas com profundidades constantes e muito reduzidas onde se formam autênticos “espelhos” aquáticos, pelo que, duas vezes por dia, aquela “baía” sob o miradouro da restinga é um bom local de observação, principalmente durante a acalmia das primeiras horas do dia (fotos); de qualquer modo já foram observados por várias ocasiões a descansarem em ambas as margens próximo do Cais do Caldeirão em Fão e da Ponte da A28 em Gandra e ainda nas ínsuas e areias a descoberto na maré vaza junto à Ponte Velha;
6 – Além de serem relativamente tolerantes à nossa presença, nos curtos períodos de tempo em que permanecem por cá, as suas características morfológicas distintas e os seus hábitos muito particulares (parecem que caminham embriagados acima da superfície da água), fazem com que sejam facilmente detectados e reconhecidos;
7 – Só posso acrescentar que para se observar a delicada elegância quase exótica destas aves se justifica em pleno "dar um saltinho" ali à Ria de Aveiro onde são bastante mais comuns.
Recurvirostra avosetta (Alfaiate)
1 – As populações visitantes têm estatuto de Pouco Preocupante, porém, o pequeno número de nidificantes está classificado como Quase Ameaçado; consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Registado (pelo autor) um espécime em 27 de Março de 1998 e outro (possivelmente o mesmo) a 5 e 6 de Fevereiro de 2003;
3 – Acidental no litoral norte; ao nível nacional a SPEA atribuiu-lhe o estatuto de Residente pouco comum e Invernante abundante;
4 – Inconfundível; nenhuma outra ave autóctone apresenta o bico recurvado para cima;
5 – Na primeira data o espécime apenas foi observado a descansar em areia seca mas pela margem na restinga muito perto da foz; nas seguintes, ou seja, quase cinco anos depois, já foi encontrado a caminhar incessantemente em águas rasas, como aquela pequena zona de sapal junto ao Forte de S. João Baptista em Esposende e também na margem direita entre a ponte de Fão e os estaleiros de Esposende, sempre a alimentar-se com os característicos movimentos oscilantes da cabeça enquanto o bico parecia que ceifava a água;
6 – Nas observações daquela(s) ave(s) mantive-me sempre suficientemente afastado para não a(s) perturbar, pelo que não experimentei até que ponto suportam a nossa aproximação;
7 – Para a conclusão da apresentação desta série de três aves típicas das regiões do sul, todas de ocorrência irregular na Foz do Cávado, devo mencionar que na «Lista de espécies de aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte» ainda constam outras duas limícolas invulgares e também mais meridionais, ambas com o estatuto de conservação de Vulneráveis e que ainda estão inscritas no Anexo A-I da Directiva Aves; uma delas é o Alcaravão (Burhinus oedicnemus), ave da Família Burhinidae, classificada pela SPEA como Invernante e Residente pouco comum, muito discreta e de hábitos nocturnos (talvez venha daí o motivo pelo qual nunca as tenha avistado) e que nesta região apenas encontrará as dunas com habitat favorável; a outra espécie é a Perdiz-do-mar (Glareola pratincola), da Família Glareolidae, considerada pela SPEA como Residente pouco comum, a qual, embora seja um “parente” afastado, assemelha-se, tanto na silhueta como nas vocalizações, com as Andorinhas-do-mar (em particular com a anã, pelo tamanho); refira-se contudo que, apesar de nesta região os habitats aquáticos, dos quais nunca se afastam, serem relativamente abundantes, esta espécie não encontrará habitats ou condições propícias para que, por cá, se possa alongar nas suas permanências.