quinta-feira, 30 de julho de 2009

ORNITOLOGIA (1ª. Emenda)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Quando decidi aqui apresentar um ensaio sobre a avifauna do Estuário do Cávado com as características do que estou a desenvolver, sabia a priori que a respectiva informação permaneceria, e assim continuará certamente, ferida de diversas omissões, em virtude de parte considerável da informação apresentada ser o mero resultado da experiência de apenas um observador que se dedica a esse estudo de modo amador. Não estou a referir-me, como já deixei expresso logo na nota introdutória, ao facto de não estender a atenção para a biologia particular de cada uma das aves enumeradas (não me arrogo a acrescentar qualquer elemento novo e relevante em relação ao que já podemos encontrar nos incontáveis “guias de aves” ao dispor de todos), mas antes à própria catalogação e ilustração das várias espécies registadas e ainda alguns esclarecimentos sobre a abundância e os períodos ou épocas de ocorrência nesta região em particular.

Naturalmente, à medida que os anos avançam, e apesar de já terem decorrido mais do que uma dúzia de anos desde o início da minha própria inventariação das aves desta região, vou sempre registando novas ocorrências e evidências que, normalmente, não passam de simples confirmações do que já consta noutros documentos e estudos dedicados ao mesmo tema concretizado por especialistas ou académicos.

Assim, julgo que neste momento já será oportuno adicionar alguns conhecimentos e também ilustrações que entretanto fui obtendo conforme me ia adiantando nesta exposição. Além do anúncio de três novas espécies identificadas, acrescentarei novos elementos sobre uma outra a que dediquei muita atenção neste Verão, serão também aqui publicadas fotos de aves cujo texto de apresentação não foi ilustrado com qualquer imagem, ou ainda outras que se justificam na medida em que a qualidade das já expostas é medíocre e, por fim, vou assinalar com modestos registos fotográficos alguns espécimes que este ano se reproduziram em habitats envolventes ao estuário e que entendo ser um facto relevante.


NOVAS ESPÉCIES IDENTIFICADAS


Ordem Falconiformes

Família Falconidae
(uma espécie)


Falco subbuteo (Ógea)

Esta congénere do já enunciado Peneireiro-vulgar, com o qual partilha muitas parecenças, consta na «Lista de aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN)», contudo o biótopo existente nesta área protegida onde ocorre a espécie não está ali indicado. Segundo testemunhas locais, esta rapina já terá sido observada em várias ocasiões na região, nomeadamente a sobrevoar o próprio Estuário do Cávado.

Quando aqui apresentei o referido Peneireiro, não indiquei, naquele momento, qualquer espécie que se lhe pudesse assemelhar, em virtude de ainda não ter confirmado na área em estudo a ocorrência da Ógea, ave estival e migradora de passagem a que está atribuído o estatuto de conservação de “Vulnerável”. Sem querer estar a fugir demasiado ao rigor, reconheço que em vários episódios ao longo de mais de dez anos avistei falconídeos no estuário, principalmente junto à restinga, nos quais me resultava, por vezes, a dúvida na identificação por considerar a possibilidade de se tratar de uma destas duas espécies. As diferenças mais notáveis entre ambas serão o facto da Ógea ser bastante mais escura no peito, no dorso e nas asas (tanto por cima com na parte inferior), mas sobretudo por ter as penas infracaudais (zona envolvente às patas) avermelhadas.

No dia 24 de Junho do presente ano, sensivelmente às 21.30 horas, com o sol-posto mas o céu ainda bastante claro, a temperatura elevada e insectos a abundarem pelo ar, quando me encontrava no acesso à praia da Sra. da Bonança em Fão, surgiu-me subitamente a menos de dois metros mesmo por cima da cabeça uma Ógea que investiu sobre um escaravelho em voo, falhou, mas voltou a sobrevoar-me exibindo perfeitamente as infracaudais cor de ferrugem, capturou aquela presa (além de insectos, ainda se podem alimentar de pequenas aves) e seguiu rapidamente na direcção da capela onde deixei de a avistar.

E ficou assim registada a minha primeira observação confirmada desta espécie, conhecida pelo hábito de caçar insectos durante o período crepuscular.


Ordem Charadriiformes

Família Laridae

(uma espécie)


Larus melanocephalus (Gaivota-do-mediterrâneo ou G.-de-cabeça-preta)





































É uma espécie que também já está mencionada na «Lista de aves referenciadas para o PNLN», estando, aliás, definida como de conservação prioritária para esta a área protegida. Aqui estão indicados como biótopos de ocorrência as “águas estuarinas”, o “sapal” e os “lodaçais e areias a descoberto na maré baixa”.

No território nacional (continente), esta ave, com estatuto de conservação “Pouco Preocupante”, é considerada invernante e, segundo dados facultados pela SPEA, é uma migradora de passagem abundante, motivo pelo qual já dediquei algumas horas a tentar registar o seu trânsito ao largo da costa, mas que nunca confirmei, nem mesmo acompanhado por outros observadores nos dias RAM durante o ano de 2008 (Rede de Observação de Aves e Mamíferos Marinhos), talvez porque em voo é praticamente igual ao congénere Guincho. Quando pousada, a Gaivota-do-mediterrâneo distingue-se daquele “parente” por ter a cabeça completamente preta, inclusive a nuca que no Guincho é sempre branca, e também por ter o bico bem mais grosso notando-se bem a cor vermelha.

No último dia 26 de Junho, cerca das 12.00 horas, quando regressava de uma jornada matinal de observação de aves pela beira Cávado, no seio de um bando composto por várias gaivotas que habitualmente se encontram pousadas a descansar num banco de areia em frente ao denominado “Cais do Minguinhos” mas na margem oposta em Gandra, avistei uma Gaivota-do-mediterrâneo que, por estar entre alguns Guinchos, logo percebi as diferenças e prontamente identifiquei com recurso aos binóculos. Entretanto registei o momento com as fotografias que acompanham este texto. Pelo resultado dessas imagens não ser satisfatório, devido à distância que ainda era considerável e à falta de estabilidade do barco onde me encontrava, aproximei-me, mas logo que pus pé em terra (areia) firme o espécime logo debandou para outro areal em frente ao Clube Náutico de Fão onde permaneceu ainda mais afastado.

E foi nestas circunstâncias que, também pela primeira vez na região, atestei a ocorrência desta espécie que, além do que já está referido, ainda consta no anexo A-I da Directiva Aves.



Ordem Strigiformes

Família Strigidae
(uma espécie)


Asio otus (Bufo-pequeno)



















Apetece-me dizer: - “ainda bem que só agora consegui este singelo registo”, pois, assim, ainda fui a tempo de conseguir convencer a Sofia a concluir a admirável ilustração que lhe pedi aquando da abordagem às Aves de Rapina Nocturnas, altura em que não dispunha de qualquer fotografia que documentasse visualmente esta ordem das aves.

E são sem dúvida muito belas! Mas há um senão. Para as encontrar assim, pousadas (a posar), ou somos bafejados pela sorte, ou então temos de ser muito persistentes e aceitar a adversidade de percorrer longos quilómetros durante largas horas nas condições adversas causadas pela escuridão total que se faz sentir pela extensa mata na orla dos campos agrícolas entre Fão e Apúlia.

Não sendo um grupo de aves a que prestei a devida atenção ao longo destes últimos anos, convenci-me a dedicar neste Verão algumas horas na busca de informação de campo que me permitisse completar algumas lacunas nos dados de que disponho. E como, julgo, nesta coisa da observação de aves o ideal é fazê-lo isolado e discretamente silencioso, tenho-me sujeitado a alguns arrepios de medo, confesso, para testemunhar a imensa actividade crepuscular e nocturna dos biótopos de ocorrência potencial destas aves, que é como quem diz, a “Mata Dunar de Pinheiro e Folhosas” e os “Terrenos de uso Agrícola”. E foi precisamente numa zona de transição entre estes dois tipos de habitats, já na Apúlia, que pelas 22.00 horas do dia 16 do presente mês encontrei o exemplar da fotografia em anexo, calmamente pousado na cerca de um campo de cultivo, a girar constantemente a cabeça de um lado para o outro, qual radar perscrutando o solo na busca de pequenos mamíferos de que se alimenta.

O primeiro vislumbre da ave, que já consta na «Lista de aves referenciadas para o PNLN», foram dois pontos brilhantes (o reflexo dos olhos) perante o foco de luz da minha lanterna a cerca de 50 metros de distância e, embora não a tenha identificado de imediato, confirmei pela primeira vez a ocorrência desta espécie na zona, logo após ter notado no visor da máquina fotográfica os tufos auriculares (que fazem lembrar as orelhas nos mamíferos) de que, além deste, apenas o gigantesco Bufo-real (Bubo bubo) e o Mocho-d’orelhas (Otus scops) dispõem. Nas fotos em que não se percebem estes tufos, a ave torna-se muito parecida com a também castanha Coruja-do-mato. A título de curiosidade, adianto que esta fotografia foi obtida porque o animal ainda me permitiu a aproximação até à distância de uns 30 metros, assim permanecendo cerca de um minuto aparentemente sereno, sendo apenas projectada a luz insuficiente do flash incorporado na dita máquina, auxiliada pelo feixe luminoso da referida lanterna. Desde então, num raio de poucas centenas de metros e em circunstâncias similares, ou seja, num poleiro elevado com uma boa perspectiva sobre os campos agrícolas em redor, tenho observado ave(s) desta espécie (provavelmente a mesma), mas jamais me foram permitidas aproximações com os tempos de “pose” como no primeiro episódio (registo apenas que na noite do dia 22 uma pousou mesmo em cima do capot do meu carro imobilizado, mas, em poucos instantes, afastou-se pela escuridão perseguindo outra que passou em voo rasante).

Acrescente-se que, apesar de em termos de estatuto de conservação os parcos conhecimentos sobres estas aves resultarem em Informação Insuficiente, a SPEA considera-a uma espécie invernante e residente pouco comum.



NOVOS DADOS


Caprimulgus europaeus (Noitibó)



















Por altura da apresentação desta ave (parte XV), no ponto 3, referindo-me à abundância em que a espécie ocorreria na região, logo admiti que não dispunha de informação de campo suficiente para avaliar correctamente esse parâmetro.

Conforme o referido na espécie anterior, em resultado da atenção que orientei para as aves de hábitos crepusculares e nocturnos desde meados do mês de Junho último, acabei por concluir que o Noitibó é efectivamente uma ave muito comum por toda a mata dunar de pinheiro e folhosas entre as povoações de Fão e da Apúlia, principalmente onde hajam pequenas clareiras ou na orla dos campos de cultivo. Embora esta ave tenha a particularidade de não se deixar avistar com facilidade, se nos encontrarmos no seio do pinhal, torna-se praticamente impossível, logo após o ocaso, não sermos brindados com um “solo” do seu canto inconfundível, perfeitamente evidente entre o coro contínuo das rãs, relas, cigarras e outros insectos estivais.

Durante as incontáveis horas que os “persegui” nestas derradeiras semanas, foram muitos os momentos em que me apercebi com clareza das suas silhuetas a sobrevoar-me e a poisar num pinheiro próximo, a partir do qual começavam logo a vocalizar o irrrrrrrrr urrrrrrrrr irrrrrrrr urrrrrrrr… incessante que, apesar da minha aproximação com a luz da lanterna em riste na direcção daquele som, ainda se prolongava quase imperturbável. Todavia, o vulto ou um mero vislumbre dos seus corpos teimou sempre em não surgir, e quando muito lá via um ponto muito brilhante, que mais não era do que o reflexo de um dos seus olhos a fitar-me, enquanto o resto do corpo permanecia ocultado pelo ramo em que estava pousado. Assim, ainda que já me tivessem chegado vários testemunhos de quem os tenha observado a poucos palmos de distância, fotografá-los tornou-se numa tarefa que ainda não consegui concretizar. De entre os episódios mais “constrangedores” em que o tentei fazer, destaco o dia em que fotografei o Pica-pau (abaixo), pouco depois das 10 horas da manhã, sol alto, luz óptima, eu praticamente imóvel e convenientemente escondido e, de súbito, um Noitibó começou a vocalizar a partir do chão, afastado a não mais do que três ou quatro metros e, por entre o monte de folhas e de ramos caídos, desesperado, não encontrei a ave, tal é a sua capacidade de se camuflar.

Para quem tenha ficado curioso e pretenda observar estas aves comodamente, sem se sujeitar às “pouco apelativas” sombras nocturnas da mata, logo que o sol se ponha, deve deslocar-se mesmo em automóvel até junto do estádio de futebol em Fão e, fixando o olhar no céu ainda claro, principalmente nos dias quentes, procurar os seus movimentos irregulares com mudanças de direcção bruscas, ou então aguardar pelos sons, tanto das suas vocalizações características como das suas advertências batendo a asas (que lembram o som da pancada entre duas mãos com os dedos fechados). Se porventura virem algum a pousar, apontem um foco de luz para a respectiva árvore e será possível que dali notem um dos seus olhos a brilhar.

Ao ler este texto, solidária, a Sofia, percebeu a frustração e acedeu à minha vontade para que estas palavras fossem ilustradas com um dos seus desenhos (partindo da fotografia de um Noitibó disponível no portal “oiseaux.net” da autoria de Jean-Marc Rabby).



ESPÉCIES JÁ ENUNCIADAS CUJA APRESENTAÇÃO NÃO FOI ILUSTRADA


Streptopelia turtur (Rola ou Rola-brava)






































Em Junho último aproveitei a (ainda) presença habitual destas aves estivais e os breves períodos de acalmia que lhes são concedidos antes da abertura do calendário venatório (já a 15 de Agosto), para as visitar na orla do pinhal pelos campos agrícolas, uns com o milho ainda jovem e outros que permanecerão em descanso por cultivar, e assim registar com algumas fotos a sua ocorrência na região.
(Apresentação da espécie sem foto na Parte XIII.)


Regulus ignicapillus (Estrelinha-real)



















Apesar de nesta imagem ainda ser possível “adivinhar” um pouco da sua coroa ou crista dourada contornada a preto, não se torna evidente o conjunto tenuemente colorido da sua plumagem, mas no decorrer deste mês não pude desperdiçar a “prenda” que este pitoresco exemplar me concedeu de o fotografar a poucos metros de distância e, coisa rara, sem se mover por uns preciosos instantes.
(Apresentação da espécie sem foto na Parte XX.)



ESPÉCIES JÁ ENUNCIADAS CUJA APRESENTAÇÃO FOI ILUSTRADA DEFICIENTEMENTE


Ardea purpurea (Garça-imperial ou G-vermelha)









































































Conforme já vem ocorrendo há mais de dez anos, sempre a partir de Julho, mais uma vez estamos a ter a privilegiante visita deste “símbolo da elegância” da avifauna. Como sempre, estive atento à sua chegada desde o início do mês, o que registei no dia 6, e lá dediquei algum tempo a tentar melhorar o meu modesto acervo fotográfico que, neste caso específico, não era difícil de conseguir, tal era a má qualidade dos registos anteriores. Em virtude daqueles planos do animal a levantar voo em fuga, como na última foto, traduzirem um certo desconforto da ave, ainda que seja resultado do mero descuido do fotógrafo (ou observador), fiz questão de também lhe fazer uma “espera”, que obviamente se tornou demorada, para assim obter uma imagem da ave calmamente pousada em actividade de caça (ou pesca, como quiserem).
(Apresentação da espécie na Parte IV.)


Circus aeruginosus (Tartaranhão-dos-pauis ou Águia-sapeira)



















Julgo que uma das sequências apresentadas neste “ensaio” com pior ilustração terá sido, porventura, a das Aves de Rapina, no mês de Março. Por tal motivo, e desde então, passei a estar mais atento a este grupo em particular e tentei, na medida do possível e tendo em conta que o material usado não me permite grandes resultados, melhorar a qualidade das imagens. Assim, e considerando que já restariam poucas semanas para termos por cá este espécime, esperei-o nos locais de ocorrência habitual (juncal) e na manhã do dia 27 de Abril, com os lodaçais do estuário pejados de pequenas aves limícolas (em pausa na migração de passagem), ainda consegui esta foto que, apesar de tudo, já ilustra menos mal a envergadura altiva da ave.
(Apresentação da espécie na Parte VIII.)


Milvus migrans (Milhafre-preto)



















Esta coisa de nos demorarmos algumas horas interessados no que passa nos nossos céus, multiplica-nos as possibilidades de captarmos as escassas passagens acidentais de espécies como esta, ainda invulgares por estas paragens. E foi precisamente o que aconteceu neste caso. Não procurei activamente esta ave em particular. Apenas olhei para o céu no sítio certo à hora certa (e com a máquina fotográfica por perto, claro!). Assim, datado de finais de Junho passado, aqui fica o registo ainda sofrível desta rapina, mas relativamente melhor que o primeiro (reparem na cauda bifurcada que, entre as aves de presa, apenas é evidenciada nos Milhafres).
(Apresentação da espécie na Parte VIII.)


Hieraaetus pennatus (Águia-calçada)



















Imagem obtida no mesmo dia da ave anterior (também em passagem). Os dias quentes propiciam estes felizes acasos com uma melhoria considerável nos nossos registos.
(Apresentação da espécie na Parte VIII.)


Falco tinnunculus (Peneireiro-vulgar)



















Este espécime em particular tem frequentado desde há, pelo menos, um ano a zona da restinga do Cávado junto ao extremo norte do pinhal, onde é facilmente encontrado a caçar ou a vigiar pousado nos postes eléctricos. No último mês a ave tem aproveitado a recente intervenção para controlo das infestantes acácias, o que lhe proporcionou melhores condições de visibilidade pela ausência de vegetação rasteira, e, desse modo, ali passa muito tempo a peneirar (como na foto) à espreita das suas presas que tem capturado com relativo sucesso. Assim, com alguma paciência, mesmo a partir do interior do automóvel, é possível fotografar estas aves a distâncias muito curtas.
(Apresentação da espécie na Parte VIII.)


Upupa epops (Poupa)























































Com os dias a aquecerem e a repetirem-se os encontros com estas aves encantadoras, torna-se difícil resistirmos à tentação e, não tarda, começaremos a experimentar fotografá-las tão perto quanto possível. Mas, também cedo, e apesar de serem aves “curiosas” e aparentemente “distraídas”, logo perceberemos a dificuldade de tal tarefa. Se porventura se aperceberem da nossa aproximação, costumam afastar-se não para muito longe, mas posicionam-se quase sempre meio escondidas a espreitar-nos de soslaio numa postura pouco favorável. Se formos discretos, talvez a sorte nos beneficie. Durante a manhã de um dos primeiros dias de Junho último, aguardava pacientemente imóvel que, nas dunas, uma Laverca passasse ao alcance da minha lente intrometida, quando, descuidadas, três Poupas pousaram a poucos metros, fitaram-me e, enquanto que duas debandaram de imediato, uma permaneceu a posar descarada e demoradamente.
(Apresentação da espécie na Parte XV.)


Carduelis cannabina (Pintarroxo)



















Há aves cuja facilidade em fotografá-las é tão evidente, que até nos esquecemos de lhes dedicar alguns minutos para obter um “retrato” com um mínimo de dignidade. E foi precisamente o que sucedeu com esta espécie, de cuja falha apenas me dei conta aquando da sua apresentação no texto prévio a este “ensaio”. Aqui fica algo um pouco mais “decente”.
(Apresentação em texto na Parte I e em foto no post “Os Passarinheiros” em NOV2008)



ALGUMAS ESPÉCIES CUJA NIDIFICAÇÃO FOI COMPROVADA NESTA ÉPOCA NA REGIÃO E QUE SE TORNA RELEVANTE ASSINALAR


Ciconia ciconia (Cegonha-branca)





































O ninho instalado num poste eléctrico a pouquíssimos quilómetros do estuário do Cávado continua ocupado por este indivíduo e pelo(a) companheiro(a) com quem confirmadamente se reproduziu este ano.
(Parâmetro 18 – Ninho com juvenis vistos ou ouvidos).
(Apresentação da espécie na Parte IV.)


Alcedo atthis (Guarda-rios)



















Um talude abrigado pelas sombras protectoras das árvores de folhagem densa situado na margem direita do estuário do Cávado continua a servir local de nascimento para as crias desta jóia da nossa avifauna.
(Parâmetro 18 – Ninho com juvenis vistos ou ouvidos).
(Apresentação da espécie na Parte XV.)


Dendrocopus major (Pica-pau-malhado-grande)

























Após ter encontrado o buraco do ninho, a mais de 20 metros do solo e eficazmente dissimulado entre alguma folhagem, fiquei a perceber que em período de nidificação estas aves ainda se tornam bastante mais discretas, principalmente quando se aproximam da árvore ocupada. Foram necessárias muitas horas seguidas (só neste dia foram três) para que, a partir de um esconderijo cuidadosa e estrategicamente montado, fosse possível este mísero registo. Apesar disso, durante as quase 10 horas que ali me mantive resguardado ao longo de três dias, pude assistir a um sem número de peripécias da vida animal, algumas delas registadas em fotografia, outras simplesmente na fita das minhas memórias, destacando-se, obviamente, o momento em que vi (pelo menos) dois jovens pica-paus a saírem do ninho e a perseguirem esta “mamã” preocupada.
(Parâmetro 18 – Ninho com juvenis vistos ou ouvidos).
(Apresentação da espécie na Parte XVI.)


Turdus philomelos (Tordo-músico)
























Este soberbo cantor manteve-se estranhamente indiscreto e destemido, mas também muito silencioso, durante a minha “estadia” no acima referido esconderijo. Só no terceiro e último dia é que percebi que a sua aparente insensatez se devia ao facto do ninho não distar mais de vinte metros dali. E mesmo que involuntário, este é apenas um dos muitos erros que estamos sujeitos a cometer na observação de aves, cuja prática exige de nós uma boa dose de responsabilidade e atenção.
(Parâmetro 18 – Ninho com juvenis vistos ou ouvidos).
(Apresentação da espécie na Parte XIX.)




quarta-feira, 22 de julho de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Ordem Passeriformes

Família Troglodytidae
(uma espécie)


Troglodytes troglodytes (Carriça)





































1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Abundante;
4 – (Espécies parecidas) Nenhuma;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Frequenta qualquer tipo de biótopo onde disponha de vegetação densa que lhe sirva de abrigo, no entanto não se inibe de surgir à “superfície” da folhagem para nos espreitar, sempre num ritmo electrizante como uma bola de pingue-pongue entre os raminhos; por ser tão pequena e de hábitos tão rasteiros (praticamente não sai do solo ou limita-se a subir poucos centímetros), poderia passar-nos constantemente despercebida, mas é sempre denunciada pelas próprias vocalizações de alerta à nossa passagem, aquele tserrrrrrrrrrrrrrr ininterrupto enquanto não nos afastamos, ou ainda por belos e sonoros cânticos bem projectados a partir de um poleiro oculto; praticamente só não se encontram nas praias e nas dunas primárias (ainda assim, neste ano, uma arriba resultante da erosão marítima sob uma das vivendas “plantadas” nas dunas serviu de local de nidificação), mas os melhores locais para as observar será num qualquer caminho que atravesse a mata entre Fão e Apúlia, nomeadamente os que acompanham canais de drenagem (ribeiras), aquelas galerias de vegetação adequada das margens do Cávado, ou então, talvez o mais confortável, os nossos próprios parques e jardins;
6 – (Tolerância à nossa presença) Apesar de irrequietas, não são tímidas e aproximam-se ou consentem que o façamos quase sem receios, o que, com alguma concentração, capacidade de reacção e paciência, nos possibilita alguns registos fotográficos interessantes;
7 – (Outros dados de interesse) O nome científico da ave, que será facilmente traduzido para o português moderno como «Troglodita», denomina uma tribo que vivia em cavernas debaixo da terra (visitei-as numa região remota na Tunísia); tal paralelismo dever-se-á às semelhanças entre os hábitos de vida daquele povo e o modo como a espécie em apreço utiliza ou faz buracos no solo para nidificar.



Família Prunellidae
(uma espécie)


Prunella modularis (Ferreirinha)





































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente mas também deverá ocorrer por cá uma população Invernante, pois nota-se um claro aumento dos seus efectivos a partir de Outubro;
3 – Pouco comum;
4 – O dorso e as asas (partes mais visíveis) apresentam um malhado muito parecido com o do omnipresente Pardal-comum, mas a semelhanças entre ambos acabam nessa particularidade; para lá disso, é uma ave única, sobretudo porque mais nenhuma tem as faces e o peito com aquele cinzento prateado;
5 – Admite-se que seja mais vulgar do que possa parecer a um comum observador de aves, mas como vive muito escondida sob a cobertura de vegetação densa, quase sempre junto ao solo, nota-se pouco a sua presença; apesar deste aspecto, por vezes anuncia-se abertamente pousada num galho de silva mais saliente, numa sebe ou num muro mais exposto com um melodioso canto algo semelhante ao do Chamariz (mas não tão profuso ou agudo); embora possamos ter a sorte de a encontrar um pouco por todo o pinhal onde haja vegetação arbustiva ou rasteira, os melhores locais para o fazer será, em particular no Inverno, na orla dos jardins com sebes vivas no Núcleo Turístico de Ofir, nas beiras dos campos de cultivo de Gandra e das Pedreiras e em terrenos abandonados tomados por silvas altas;
6 – Apenas se exibe quando canta, o que faz numa pose destemida e demoradamente, logo de manhã muito cedo ou ao entardecer, passando o resto do tempo “invisível”, ainda que possa estar bem perto nos nossos próprios jardins;
7 – O hábito de agitar as asas quando está empoleirada (como na última foto), é muito característico nesta ave.



Família Muscicapidae
(duas espécies)


Muscicapa striata (Papa-moscas-cinzento)
















































1 – Quase ameaçado;
2 – Migrador de Passagem, facilmente observado sobretudo em Setembro e Outubro, raras vezes durante Agosto;
3 – Comum;
4 – Ver o que está referido em igual número do Papa-moscas-preto;
5 – São encontrados com facilidade na orla de todo o pinhal, nomeadamente no Núcleo Turístico de Ofir, tanto na face voltada para o estuário, como para o mar mais junto à restinga onde os pinheiros estão secos, ou ainda nos próprios jardins; têm o costume de usar os mesmos poleiros repetidamente, a partir dos quais se “atiram” em voos acrobáticos para capturar insectos com o bico que provoca um estalido quando apanha a presa, seguindo-se um “ricochete” imediato de regresso à mesma base; esta tanto pode ser um ramo de pinheiro saliente, como um fio eléctrico ou o próprio poste; por vezes torna-se difícil identificá-los pois caçam lado a lado com os Papa-moscas-pretos de hábitos e comportamentos semelhantes;
6 – Desinibidos quando estão em actividade de caça (ver número anterior), posando demoradamente enquanto não passa uma presa; com se expõem abertamente em poleiros habituais, com recurso a esconderijo (p. ex. entre a folhagem das acácias) e com alguma discrição, são relativamente fáceis de fotografar;
7 – Inexplicavelmente, tanto esta espécie como a seguinte, que em números consideráveis passam regularmente neste troço do litoral português em migração desde há, pelo menos, 15 anos, não constam na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte (adverti os responsáveis pelo ICNB para o lapso óbvio).


Ficedula hypoleuca (Papa-moscas-preto)





































1 – Não consta no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal; contudo tem o estatuto de Pouco preocupante (IUCN);
2 – Migrador de Passagem, facilmente observado sobretudo em Setembro e Outubro, raras vezes durante Agosto (avistado um espécime no final do mês de Julho em 1998);
3 – Comum;
4 – O macho em plumagem estival apresenta-se como uma ave única, preta no dorso e branca na parte inferior, contudo, como estas aves já passam por cá com o “traje” de Outono, igual ao da fêmea, podem assemelhar-se ao congénere Papa-moscas-cinzento, distinguindo-se deste, sobretudo, pela barra branca nas asas e por terem o peito liso e não malhado junto ao queixo, como o P.-m.-cinzento;
5 – É, em quase tudo, semelhante ao P.-m.-cinzento, tanto na escolha do habitat como no comportamento, mas talvez não seja tão hábil no voo de captura de insectos; uma das suas características muito particulares é o costume de balançar a cauda erguendo-a enquanto está empoleirado;
6 – Atendendo ao ponto anterior e a igual número do P.-m.-cinzento, também deve ser considerada uma ave pouco tímida;
7 – Ver o que está mencionado em igual número da espécie anterior.



Família Certhiidae
(uma espécie)


Certhia brachydactyla (Trepadeira-comum)



































































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Inconfundível;
5 – São frequentadoras habituais dos pinhais, matas mistas ou até de folhosas, onde se observam a trepar em “parafuso” pelos troncos das árvores acima (tanto do género Pinus sp., como Quercus sp.), seguido de um “mergulho” até à base de outra e logo sobe da mesma forma, continuando assim sucessivamente à cata de minúsculos insectos; nota-se que gosta de percorrer a casca de árvores velhas com musgos (p. ex. iguais às da Alameda do Bom Jesus em Fão) e também não despreza uma ou outra visita aos jardins (p. ex. no Núcleo Turístico de Ofir); a plumagem discreta e o pequeno tamanho desta ave torna-a difícil de detectar, especialmente se surgir isolada, porém, se estiverem em bando, anunciam-se sem qualquer pejo com repetidos “si si si si” bem agudos;
6 – Não são tímidas mas facilmente se dissimulam rente à casca das árvores; tentar fotografá-las pode tornar-se numa tarefa complicada em virtude de nunca pararem e, enquanto contornam os troncos, tanto aparecem na face voltada para o observador como logo se ocultam no lado oposto, sendo difícil adivinhar onde vão surgir de seguida (sendo certo que será mais acima); além disso, convém que a imagem seja captada no preciso momento em que o animal, na perspectiva do fotógrafo, como é óbvio, esteja posicionado precisamente na tangente do tronco para que se consiga um bom desenho da sua silhueta, caso contrário, resultará na imagem de umas penas castanhas sem contraste com um tronco da mesma cor e com a mesma focagem;
7 – Na caracterização biológica do Parque Natural Litoral Norte ainda consta na respectiva Lista de Aves a ocorrência da bela Trepadeira-azul (Sitta europaea) que, apesar do nome e de partilharem algumas afinidades, pertence a outra família: - a Sittidae; esta espécie, que não ocorre em pinhais, pode ser encontrada com relativa facilidade nas serras minhotas de Santa Luzia, de Arga e do Gerês, contudo nunca a detectei no litoral desta região.



Família Laniidae
(uma espécie)


Lanius senator (Picanço-barreteiro)





































1 – Quase ameaçado;
2 – Apenas confirmo a ocorrência fortuita de uma ave adulta no final de Maio de 1999 e durante todo o mês de Abril do ano seguinte (ver também o ponto número 7);
3 – Migrador Acidental; é uma ave de climas mais mediterrânicos, logo está, por norma, ausente no litoral norte de Portugal;
4 – Única se verificada a coroa e a nuca “manchadas” de vermelho e o uropígio branco (consultar ainda o ponto 7 – os Picanços imaturos são todos muito parecidos);
5 – Nos dois episódios registados no Estuário do Cávado, a ave adulta permanecia calmamente pousada no topo dos tojos que se desenvolvem próximo da linha de água ao longo do actual passadiço (atrás do Hotel de Pinhal em Fão) até ao respectivo miradouro (ver ainda o ponto 7 sobre uma terceira ocorrência);
6 – Pareceu ser uma ave conspícua que se exibe com naturalidade em campo aberto e sem se manifestar ansiosa com a minha presença;
7 – Esta ave que, como já foi referido, é muito fácil de identificar, não consta na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte, na qual é substituída pelo congénere Picanço-real (Lanius meridionalis) – espécie apresentada na grande maioria dos guias de campo já editados na Europa sob o nome científico Lanius excubitor; em Setembro do último ano fotografei um Picanço nas margens da linha de água que se estende desde o Cais do Caldeirão até ao Caminho do Martinho em Fão e na orla de um campo de cultivo nas imediações e, tanto na observação directa através de binóculos, como nas fotos (que, embora muito mal conseguidas, fiz acompanharem este texto em virtude de nunca ter conseguido obter melhores resultados) nunca percebi o vermelho da coroa e da nuca, por onde se prolongaria o barrete vermelho caso fosse um P.-barreteiro adulto, e que seria, naquelas circunstâncias, a única forma de dissipar todas as dúvidas; assim, naquele momento tudo me levava a supor que se tratava de um P.-real, porém, analisadas as imagens com maior detalhe, acabei por comprovar tratar-se de um juvenil do P.-barreteiro, portanto, pessoalmente ainda não posso confirmar a ocorrência do P.-real na região.



terça-feira, 14 de julho de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXI)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Ordem Passeriformes

Família Paridae

(quatro espécies)


Parus cristatus (Chapim-de-poupa)



















1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Pouco comum;
4 – (Espécies parecidas) Se detectarmos com um mero olhar por entre a fagulha dos pinheiros a passagem de um indivíduo, de pequenos grupos de aves desta espécie ou ainda de bandos mistos com Chapins-pretos, poderemos confundi-los com estes, mas numa observação com um mínimo de atenção, vislumbrando a crista evidente, logo os reconheceremos como únicos;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Ainda antes de serem avistados, costumam ser detectados através dos trinados característicos das suas vocalizações que emitem quando se aproximam na procura incessante de pequenos insectos na copa dos pinheiros; ocorrem em todos os habitats onde haja pelo menos um pinheiro ou, com menor frequência, onde se desenvolva vegetação arbustiva ripícola, desde o resto de pinhal nas imediações da restinga do Cávado, passando pela zona dunar que se estende da Senhora da Bonança até à Praia das Pedrinhas e, principalmente, na mancha florestal mais extensa entre Fão e Apúlia;
6 – (Tolerância à nossa presença) Como qualquer chapim, aparentam ignorarem as pessoas que se “atravessem” no caminho, ocupando até os ramos de um qualquer pinheiro onde estejamos encostados e deixam-se observar demoradamente com facilidade; no sentido inverso vai a dificuldade em captar uma imagem da sua bela silhueta, ou seja, como não param durante um instante e estão sempre embrenhados entre os ramos e as sombras destes ou nas zonas mistas com pequenos pontos de sol directo, fotografá-los com um mínimo de sucesso tem sido, pelo menos para mim, uma tarefa quase impossível de concretizar;
7 – (Outros dados de interesse) Embora por natureza ocupem os buracos em troncos velhos para fazerem a postura e criarem a prole, consta que, tanto esta com as restantes aves desta família, ocupam destemidamente ninhos artificiais; em acções de sensibilização ambiental têm sido vários os estabelecimentos de ensino e outras instituições que envolvem os mais novos na construção e instalação de caixas-ninho pela nossa floresta (p.ex. no Fagil); importa, assim, respeitar as boas intenções de quem procura deste modo proteger as aves, preservando aquelas pequenas estruturas nos locais próprios e, tanto antes como durante a nidificação, salvaguardar sempre as devidas distâncias contornando-as para lá dos limites de perturbação (assinalados pelas repetidas vocalizações de alarme de uma das aves adultas).


Parus ater (Chapim-preto)























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Abundante;
4 – Visualmente também é uma ave ímpar mas, como já deixei referido na apresentação da Estrelinha-real (na série anterior), naqueles coros de múltiplas vocalizações emitidas por várias aves em simultâneo no topo dos pinheiros, podem passar-nos despercebidos se o bando em presença for constituído maioritariamente por aves de uma espécie diferente, sobretudo outros Chapins, a dita Estrelinha ou ainda a Trepadeira-comum que será apresentada na série seguinte (todas inconfundíveis visualmente);
5 – Além de ocorrerem nos mesmos biótopos indicados no congénere anterior, tendem também a surgir com alguma frequência em jardins, pomares e vegetação densa nas margens do Cávado, incluindo as infestantes acácias; assim, para lá de toda a área de pinhal, ainda será de esperar que sejam observados nas orlas arborizadas dos campos de cultivo da zona das Pedreira e de Gandra, nos amieiros, salgueiros e freixos marginais ao Cávado, bem como no núcleo turístico de Ofir; por vezes surgem em bandos numerosos e bem ruidosos;
6 – Considerar precisamente o mesmo que está mencionado em igual número da última espécie;
7 – Também consta que, a par do Chapim-real, respondem com frequência a chamarizes electrónicos (p.ex. sons dos respectivos cantos gravados em telemóveis) que servem como truque para os fazer posar perante as nossas lentes; pessoalmente não considero essa prática como uma conduta imprópria, nem nunca encontrei qualquer advertência nesse sentido, contudo, devemos considerar que o recurso a essa técnica é sempre uma pequena alteração à ordem natural – usar sem abusar.


Parus caeruleus (Chapim-azul)

1 – Pouco preocupante;
2 – É considerada uma ave residente em Portugal Continental mas a realidade da nossa região é bem distinta (ver o número que se segue);
3 – Consultando a literatura existente sobre avifauna, nomeadamente os dados disponibilizados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves ou a mais recente informação publicada pelo ICNB no Novo Atlas das Aves que nidificam em Portugal, entre outros inúmeros estudos, ficamos a perceber que esta é uma das aves mais abundantes da Europa e o nosso País não foge a essa regra; efectivamente, se nos deslocarmos até à região de Aveiro e daí para sul ou então pelo interior minhoto até Trás-os-Montes, facilmente detectamos a presença desta espécie, em particular nos jardins públicos ou nas árvores das avenidas mesmo de cidades tão densamente habitadas como Lisboa; no entanto, contrariamente a este panorama de ampla distribuição, este belo passeriforme esta ausente de praticamente todo o litoral norte entre Viana do Castelo e o Porto, Esposende incluído, como é óbvio; apesar disso, ainda haverá a remota possibilidade de surgirem nesta região, conforme o atestei em 29 de Novembro de 2000 enquanto me dedicava a fotografar aves no estuário, precisamente atrás do Hotel do Pinhal em Fão; nesse dia, registei alguns movimentos de um chapim que tão depressa surgiu com logo desapareceu, efectuei uns “disparos” em foco automático e, em virtude de ainda usar máquina analógica, julguei ter “caçado” um Chapim-real, porém, após a revelação das imagens, verifiquei que se tratava de um Chapim-azul que desde então constitui a única ocorrência da espécie que registei na área em estudo;
4 – Se salvaguardarmos o que está referido na espécie anterior, apenas o Chapim-real com coroa preta poderá assemelhar-se (ver a seguir);
5 – Limito-me a acrescentar que no episódio aqui narrado a ave perseguia, juntamente com outras, pequenos mas abundantes insectos por entre os ramos secos e despidos de folhas de um acacial (Acacia longifolia) derrubado ao abrigo de uma acção de controlo de infestantes exóticas;
6 – Nada a acrescentar;
7 – Nada a acrescentar.


Parus major (Chapim-real)

































































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – O conjunto de todas a suas características torna-a numa ave relativamente fácil de identificar, destacando-se logo por ser substancialmente mais corpulenta que os restantes chapins e pela particular risca larga preta no centro do peito e do ventre amarelos, que só encontra parecenças no Chapim-azul, de coroa azul-clara (exclusiva), em que aquela linha tem um desenho muito mais ténue;
5 – Podem ser encontrados facilmente nas mesmas circunstâncias do Chapim-preto, destacando-se por serem muito mais vistosos e pelas vocalizações mais projectadas; também é costume visitarem arbustos e sebes vivas e raramente surgem em bandos exclusivos desta espécie;
6 – Tendem a parar por instantes mais prolongados em galhos expostos mais rente ao solo ou em árvores baixas; de qualquer modo, apesar de serem pouco tímidos, não se mostram com facilidade; em muitas das fotos que já obtive desta espécie (com resultados pouco melhor que medíocres) tive de recorrer ao modo de focagem manual devido às intrusões provocadas pelos ramos que lhes servem de abrigo;
7 – A alimentação dos chapins é constituída principalmente por pequenos insectos mas também não rejeitam um bom punhado de sementes; assim como já deixei referido em relação às caixas-ninho, algumas pessoas mais sensíveis à protecção da fauna silvestre ajudam estas aves a atravessar os rigores do Inverno, colocando comedouros com alguns grãos nos seus jardins (também será uma boa actividade para as comunidades escolares); consta que o Chapim-real é um dos visitantes mais assíduos dessas preciosas “estações de serviço”.



Família Aegithalidae
(uma espécie)


Aegithalos caudatus (Chapim-rabilongo)
























1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Pouco comum;
4 – Apesar de ter os mesmos hábitos dos outros chapins, é simplesmente uma ave com um aspecto único;
5 – São encontrados ocasionalmente por todo o pinhal, por vezes em bandos numerosos, sobretudo em zonas mistas com arbustos de porte arbóreo como os Pilriteiros (Crataegus monogyna) ou ainda onde pontuam folhosas como os Sobreiros e os Carvalhos (Quercus sp.) ao longo dos caminhos que atravessam a mata entre Fão e Apúlia; também são vistos com alguma regularidade em áreas como o Núcleo Turístico de Ofir onde o pinheiro predomina sobre mosaico ajardinado; ainda podem ocorrer nas manchas de Tamariz (Tamarix spp.) e outra vegetação ripícola ao longo de ambas as margens do Cávado, desde o Cais do Caldeirão em Fão até perto da restinga ou naquele conjunto denso de árvores junto aos desactivados estaleiros em Esposende; mais uma vez, à semelhança dos outros chapins, mesmo que um observador da natureza esteja distraído, logo perceberá a aproximação destas aves que enquanto se movimentam emitem sempre aqueles sons agudos “zi zi zi zi”;
6 – Considerar precisamente o mesmo que está mencionado em igual número da primeira espécie apresentada nesta série;
7 – Na Europa existem várias subespécies de Chapim-rabilongo, portanto, na consulta de um qualquer portal da especialidade ou de um guia de campo (grande parte deles editados originalmente no Reino Unido ou países nórdicos) convém estar atento às imagens apresentadas que poderão não corresponder à subespécie da Península Ibérica o Aegithalos caudatus irbii, que se caracteriza por ter o dorso cinzento (não perceptível na imagem) e uma risca preta larga sobre o olho.



segunda-feira, 6 de julho de 2009

ORNITOLOGIA (parte XX)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Ordem Passeriformes

Família Sylviidae
(nove espécies)


Cisticola juncidis (Fuinha-dos-juncos)










































1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Muito comum;
4 – (Espécies parecidas) Nenhuma;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Pessoalmente considero-a um dos “emblemas” do Estuário do Cávado por onde se distribui amplamente e onde é bem detectada quando se expõe no topo de um junco ou tojo, ou ainda nos seus característicos voos saltitantes denunciados pelos “zits” que repete incessantemente a cada “pincho”; também se observam em zonas abertas nos campos agrícolas adjacentes ao estuário, terrenos incultos de vegetação herbácea ou rasteira por entre os pinhais, na envolvente à “Lagoa da Apúlia” e em dunas e depressões húmidas intradunares (p.ex. no Fagil);
6 – (Tolerância à nossa presença) Alguns espécimes são bastante arrojados e permitem aproximações até meia dúzia de metros numa postura que nos pode proporcionar boas fotos, mas em regra, assim que nos detectam, logo “saltam” para voos de alarme que só cessam quando nos afastamos;
7 – (Outros dados de interesse) Não posso deixar de repetir que sobretudo esta ave, a seguinte e as duas toutinegras apresentadas nesta série, enquanto espécies de reprodução confirmada na região, se podem manifestar perturbadas quando teimamos em permanecer, mesmo que inocentemente, perto dos respectivos ninhos instalados por norma entre vegetação arbustiva densa; nessas circunstâncias a ave tem por hábito aproximar-se do “intruso” aparentemente sem temor a emitir um chamamento de alarme, o qual devemos saber interpretar e ter a sensibilidade para sermos cautelosos e afastarmo-nos tão cedo quanto possível; a tentação de nos demorarmos e aproveitarmos a rara oportunidade de estarmos perto de uma ave selvagem para a fotografar com algum sucesso é perfeitamente compreensível, mas devemos pautar sempre o nosso comportamento de acordo com as mais elementares regras de conduta de um observador de aves (se quisermos ser tratados por tal).


Hippolais polyglotta (Felosa-poliglota)

































































1 – Pouco preocupante;
2 – São observadas na região durante os meses de reprodução de Maio, Junho e mesmo em Julho, mas é principalmente Migradora de Passagem facilmente detectada desde finais de Agosto até Outubro;
3 – Enquanto Estival é uma espécie pouco vulgar mas, sobretudo em Setembro, torna-se comum;
4 – Nenhuma das espécies de presença regular na área é particularmente parecida com esta, mas devemos considerar que por cá ainda ocorrem outras pequenas felosas (ver abaixo o que está mencionado na Felosa-comum);
5 – Frequenta zonas onde se desenvolve vegetação arbustiva densa, pequenas matas ripícolas ou sebes vivas; assim, não será de estranhar se forem vistas em jardins, nos campos agrícolas com algumas árvores ou nas margens do Cávado, nomeadamente no Núcleo Turístico de Ofir e nas zonas rurais de Gandra (e de todas as outras freguesias do concelho), mas em especial nos silvados que prosperam por terrenos incultos e na orla do estuário que se prolonga desde a Pousada da Juventude até ao Caldeirão em Fão; é comum anunciarem a sua presença através de sonoros chamamentos característicos;
6 – Apesar de permitirem a nossa aproximação e de se fazerem notar com facilidade, normalmente embrenham-se demoradamente por entre a vegetação (última imagem), frustrando os tempos de “esperas” que lhes dedicamos para as fotografar; mesmo assim, é típico que durante os primeiros instantes se mostrem “ousadas” e posem em modos bem fotogénicos;
7 – É reconhecida por ser uma espécie que, além de migrar, também nidifica tardiamente.


Sylvia undata (Felosa-do-mato ou Toutinegra-do-mato)





































1 – Pouco preocupante, mas consta no anexo A-I da Directiva Aves e é uma espécie definida como de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN);
2 – Não sendo uma ave fácil de detectar, as minhas anotações de campo poderão estar incompletas, mas, coincidência ou não, apesar de as registar pontualmente ao longo de quase todo o ano, desde 1998 nunca observei no estuário qualquer ave destas durante os meses de Maio e Junho; nota-se um aparente aumento de ocorrências em Outubro;
3 – Rara;
4 – Embora as diferenças sejam substanciais, poderão notar-se algumas semelhanças com a fêmea da Toutinegra-de-cabeça-preta e, numa hipótese ainda mais improvável, com o Papa-amoras, mas ambas as espécies se distinguem da Felosa-do-mato logo pela garganta branca bem visível (além de muitas outras características);
5 – Na zona envolvente ao estuário, que aliás é o único meio em que tenho registado a ocorrência da espécie, procura sobretudo locais com tojos (vegetação arbustiva das fotos) mas também silvados, em cuja cobertura se esconde ou entre os quais esvoaça de modo “desajeitado”; nos breves momentos em que é vista empoleirada, mantém quase sempre a cauda comprida bem erecta a balançar, parecendo que procura sintonizar algo com uma antena; quando empreende um voo, sempre rasteiro, entre arbustos, fá-lo aos “saltinhos” evidenciando a longa cauda oscilante; e é nestes modos que podemos ter a sorte de as encontrar ao longo do passadiço em madeira que contorna o Hotel do Pinhal até ao miradouro próximo ou ainda na zona mais a nascente na orla do juncal que se estende da Pousada da Juventude até ao Caldeirão em Fão;
6 – Muito furtiva, sendo raros os momentos em que é vista durante mais do que dois ou três segundos num ramo mais exposto;
7 – Nada a acrescentar.


Sylvia melanocephala (Toutinegra-de-cabeça-preta)





































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Além de devermos considerar o que está referido na ave anterior, importa salientar algumas parecenças da fêmea desta espécie com o Papa-amoras cujas asas de cor castanha marcadamente avermelhadas nos podem ajudar a distingui-las;
5 – Grande parte das aves desta família ocupa habitats similares pelo que, naturalmente, em muitos dos casos aqui apresentados quase que me vou repetir; assim como as suas congéneres, esta ave é mais facilmente detectada através dos seus chamamentos emitidos a partir do interior dos arbustos ou silvados espessos onde se oculta, em particular os sons de alarme, os ásperos, rápidos e intermináveis (enquanto não nos afastarmos) “txec txec txec txec…” ou “urrr txrei txrei txrei…”; não dispensa visitas pontuais aos quintais com vegetação arbustiva mais frondosa onde, além daqueles chilreados, ainda se anuncia com cantos musicais agradáveis; assim, qualquer área urbanizada com espaços ajardinados (p.ex. os núcleos turísticos), as zonas agrícolas contornadas por sebes vivas (p.ex. a margem direita em Gandra entre a ponte e os estaleiros ou a veiga entre o pinhal e a EN13 desde Fão até à “Lagoa da Apúlia”), a orla do estuário (pelo passadiço atrás do Hotel do Pinhal ou ao longo dos muros dos quintais das Pedreiras em Fão), as dunas consolidadas (sobretudo com depressões húmidas mas também onde surjam acácias) e os incultos com vegetação adequadamente densa, são bons locais para encontrar estas aves;
6 – Aves irrequietas e de hábitos esquivos que, apesar de não terem o costume de se afastarem, não favorecem a intenção de quem as pretenda fotografar; se as virmos a “mergulhar” num arbusto, por vezes, volvidos alguns minutos, voltam à “superfície” para nos espreitar o que, com alguma paciência e concentração, poderá permitir-nos uma boa “captura”;
7 – Uma das características mais singulares desta ave, em especial do macho, é o anel orbital vermelho que torna os seus olhos proeminentes sobre o fundo preto da parte superior da cabeça, emprestando-lhe um ar com um certo exotismo; é também conhecida pelo vernáculo Toutinegra-dos-valados (aludindo a outro tipo de meio onde também ocorre).


Sylvia communis (Papa-amoras)





































1 – Pouco preocupante;
2 – Migrador de passagem que apenas é observado na região em Setembro e Outubro, embora em Agosto de 2001 tenha registado a ocorrência de indivíduo;
3 – Raro;
4 – Conforme o que ficou exposto nas duas aves anteriores, ainda podem surgir algumas dificuldades na identificação desta espécie; acresce que consta na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte, embora pessoalmente nunca as tenha registado em concreto no Estuário do Cávado, a ocorrência na região de espécies como o Rouxinol-bravo (Cettia cetti), o Rouxinol-pequeno-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus) e o Rouxinol-grande-dos-caniços (Acrocephalus arundinaceus) que, estou em condições de garantir, são comuns em locais tão próximo de nós como no Baixo Vouga Lagunar e ainda se encontram com relativa facilidade na Barrinha de Esmoriz e até, com alguma sorte, no Parque da Cidade do Porto; a última espécie mencionada, logo pelo tamanho (muito maior), distingue-se facilmente, porém, as outras duas, de dimensões mais parecidas e com presença da cor castanho-avermelhado na parte superior e gargantas brancas, prestam-se a causarem algumas confusões, pois todas estas são aves que têm o hábito de se embrenharem na vegetação densa e, quando se mostram, não evidenciam claramente as suas características (como se comprova nas fotos);
5 – Disponho de poucos registos de observação desta ave que aparentemente frequenta os mesmos biótopos da espécie anterior; apenas confirmei a sua ocorrência na pequena mata ripícola próxima da rotunda da “Solidal” e nos vestígios de sebes que contornam os terrenos voltados para o rio naquelas imediações (em Gandra), bem como nos silvados que crescem desde as proximidades da Pousada até ao Caldeirão (em Fão);
6 – É sempre vista em movimento entre arbustos e quando interrompe o frenesim, permanece imóvel por entre a ramagem obrigando aqueles que a querem fotografar a recorrer ao modo de focagem manual;
7 – Há literatura que aponta para o declínio das suas populações, contudo, o recentemente publicado Atlas das Aves Nidificantes em Portugal apenas se refere a esse aspecto concretamente à região de Coimbra.


Sylvia atricapilla (Toutinegra-de-barrete-preto)





































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente mas há uma população Invernante proveniente do norte que faz aumentar o número de indivíduos avistados nos meses mais frios;
3 – Comum;
4 – Aspecto geral único;
5 – Os habitats que frequentam não diferem muito dos da Toutinegra-de-cabeça-preta, mas tendem a procurarem comunidades vegetais de porte mais arbóreo, substituindo os tojos e outros arbustos mais rasteiros por freixos, salgueiros, pilriteiros ou amieiros, mas também silvas onde as zonas de sombra estão mais disponíveis; ainda se escondem mais do que as congéneres aqui citadas, mas é precisamente nessas circunstâncias que, a partir de um poleiro “invisível”, emitem os seus prolongados cânticos de notas variadas – um dos mais belos da nossa avifauna; como todas as suas “primas” aqui apresentadas, são aves insectívoras mas também as vemos com frequência a comerem bagas; neste quadro, as pequenas matas húmidas nas margens do Cávado, valas ou ribeiras, as depressões das dunas consolidadas e as sebes mais desenvolvidas em terrenos de cultivo, são os melhores locais para observar estas aves;
6 – Apesar de confiantes e não evitarem visitas assíduas aos nossos jardins, raramente se expõem abertamente, permanecendo quase sempre por entre a folhagem (ver o apontamento de igual número da espécie anterior);
7 – Apenas os machos fazem jus ao nome pois as fêmeas, em quase tudo semelhantes, têm o barrete de cor bem distinta – vermelho-ferrugem.


Phylloscopus collybita (Felosa-comum ou Felosinha)










































































1 – Pouco preocupante;
2 – Típica Invernante que chega dos locais de reprodução em Outubro (raras vezes ainda em Setembro) e regressa ao norte a partir de Março, embora os últimos indivíduos ainda possam ser vistos por cá em Abril;
3 – Abundante;
4 – Mesmo para os observadores de aves mais experimentados, distinguir esta espécie relativamente à Felosa-musical, que a seguir se apresenta, afigura-se como uma tarefa muito complicada; assim sendo, quando nos depararmos com uma destas aves no meio natural, devemos concentrar a nossa atenção em algumas particularidades para que seja possível concretizar a respectiva identificação, destacando-se, talvez como a única característica que nos pode oferecer garantias totais, o próprio canto, ou seja, enquanto esta espécie emite vocalizações mais monocórdicas, repetitivas e com pouca harmonia, a F.-musical, fazendo jus ao próprio nome, irradia um chilreio mais variado e melodiosamente agradável (o modo mais rápido e eficaz de obtermos sensibilidade para perceber essas diferenças, será através da procura de um dos muitos portais dedicados ao canto das aves e treinar o nosso ouvido, escutando com alguma insistência aqueles sons); também nos pode ser útil para desfazer as confusões a verificação da lista superciliar (sobre o olho) em geral mais comprida e bem notada na F.-musical, contudo, além desta marca nem sempre ser constatada na natureza, algumas F.-comuns podem apresentá-la ligeiramente mais extensa e larga; ainda outra evidência, que também não pode ser considerada regra, é o facto das patas da F.-comum serem normalmente pretas ou escuras e as da F.-musical serem castanhas mais claras (sujeito a variações); como se não bastassem estas dificuldades para as diferenciar, estudos recentes da comunidade científica acabaram por classificar como uma nova espécie a Felosinha-ibérica (Phylloscopus ibericus), até aqui apenas considerada como subespécie da F.-comum (P. c. ibericus) e, mais uma vez e segundo a literatura consultada, praticamente só através do canto ou dos chamamentos se consegue distingui-las; os iniciados também devem prestar alguma atenção à ocorrência das Felosas-poliglotas (ver acima) que já apresentam diferenças bem mais visíveis; há, porém, o aspecto da fenologia destas aves que vêm ajudar-nos consideravelmente nas identificações destas espécies em virtude de, conforme está referido nos correspondentes pontos números 2, enquanto a F.-comum ocorre na região principalmente durante o Inverno, a F.-musical é uma migradora que surge quase exclusivamente em Setembro e Outubro e, por fim, a F.-ibérica é uma típica ave estival;
5 – Mais uma vez, pode dizer-se que também frequentam zonas com vegetação arbustiva densa, sobretudo silvados ou ainda sebes vivas, mesmo em jardins, mas nota-se que preferem alimentar-se na copa das árvores, essencialmente em pinhais; são detectadas sem dificuldade nos seus intermináveis repastos enquanto saltam de ramo em ramo, mas o que mais as distingue são os característicos voos para o exterior da folhagem “protectora” à cata de pequenos insectos alados, em investidas tão curtas e breves que parecem fazer ricochete de regresso ao raminho de onde partem para a “acrobacia”; embora sejam vistas por todos os pinhais e outros pequenos bosques ou comunidades arbustivas, regista-se um acréscimo de observações à medida que nos aproximamos do rio; a marginal ao Cávado no Núcleo Turístico de Ofir é, entre muitos outros, um dos locais de excelência para as encontrar;
6 – Devido à actividade constante e ao hábito de se movimentarem por entre a folhagem no alto da copa das árvores, poderiam, à partida, parecer aves difíceis de avistar e fotografar, porém, quando procuram as silvas mais ao alcance dos nossos olhos, um número considerável de espécimes permite quase sem receios aproximações muito favoráveis ao observador até uns curtos três ou quatro metros;
7 – Por fim, em forma de apontamento muito pessoal que não encontro reproduzido em qualquer livro, estudo científico ou documento publicado, verifico que estas aves procuram com frequência a copa dos Eucaliptos profusamente floridas durante o período de ocorrência da espécie no nosso território (o Inverno, época em que a floração é quase exclusiva das espécies exóticas), o que constituirá uma adaptação natural recente pois aquelas árvores são originárias da longínqua Austrália; nestas circunstâncias, é comum vê-las a mergulhar a cabeça nas flores tal e qual o fazem nos antípodas os coloridos periquitos “comedores-de-mel” a alimentarem-se de pólen que, contudo, não integra a dieta das felosas, aliás, o mais provável é que ali apenas procurem minúsculos insectos; estaremos perante uma nova relação mutualista entre a ave que encontrou nas flores daquela árvore um fonte farta de insectos, em troca de um inesperado serviço personalizado de polinização?


Phylloscopus trochilus (Felosa-musical)
























1 – Não consta no LVVP; pouco preocupante (IUCN);
2 – Migrador de Passagem, variando de ano para ano, é por regra observável a partir de Setembro;
3 – Raro, no entanto há a possibilidade do número de registos estarem subestimados devido à ave ser facilmente confundida com outras congéneres (ver ponto 4 da Felosa-comum);
4 – Ter em atenção o referido na espécie antecedente;
5 – Devo adiantar que, conforme toda a literatura consultada, esta espécie frequenta os mesmos biótopos da congénere anterior, mas sendo rigoroso com as minhas notas de campo limitar-me-ei a referir que, nos escassos registos de observação confirmada desta ave, apenas a detectei em juncos que se desenvolvem à face de poças ou acumulações de água em ambas as margens do estuário (ao longo da linha de água desviada desde o cais do Caldeirão até à Pousada em Fão ou ainda na margem oposta desde a Ponte até aos estaleiros em Esposende);
6 – Não tenho experiência que me permita avançar qualquer informação útil;
7 – Nada a acrescentar.


Regulus ignicapillus (Estrelinha-real)

1 – Pouco preocupante;
2 – Registadas presenças irregulares; aparentemente é mais abundante a partir de Outubro e começa a rarear em Fevereiro (população Invernante), mas pontualmente pode ser detectada a presença de indivíduos durante o período estival (supostamente Residentes), tendo sido já verificada a ocorrência de nidificantes em Maio e Junho de 1999 (aves adultas a alimentarem juvenis já fora do ninho) no pinhal do Núcleo Turístico de Ofir;
3 – Pouco comum;
4 – As suas dimensões ínfimas, a lista preta que lhe atravessa o olho em contraste com a “sobrancelha” grossa de cor branca seguida pela coroa dourada contornada a preto e o “ombro” amarelado, torna-a uma ave inconfundível e cheia de graça (existe ainda outra espécie do género Rugulus, menos vistosa, mas não confirmo a sua presença na região); embora pelo aspecto físico não haja possibilidade de confusão com outras espécies de ocorrência regular, o facto de frequentarem o mesmo habitat (ver a seguir), resulta que por vezes quase ignoro a sua presença, confundindo aquela sua vocalização aguda “szi szi szi” com um dos sons emitidos pelos mais “habitués” Chapins-pretos, ambos frequentadores das copas dos pinheiros;
5 – Percorrem freneticamente as partes mais altas dos pinheiros à cata de pequenas aranhas, o que, mesmo com perícia e bons binóculos, torna a tarefa de as acompanhar num autêntico “jogo-das-escondidas”; neste meio são observadas pontualmente ao longo de todo o pinhal desde a restinga até à Apúlia, tanto pela linha costeira como mais para interior pela orla dos campos agrícolas; a situação mais favorável para as observar ocorre quando “descem” à vegetação arbustiva, nomeadamente para as manchas de Tamarizes (Tamarix spp.) que pontuam pela borda do estuário desde o “Hotel do Pinhal”, pelas traseiras da “Estalagem do Parque do Rio” até à pequena praia fluvial junto ao denominado “Clube de Pesca de Ofir”; aqui é típico vê-las a peneirar com agilidade entre os galhos enquanto os bicam (quase como os famosos colibris dos documentários televisivos);
6 – Não param de esvoaçar e de trepar durante um instante sequer e, além disso, “fazem questão” de manter sempre um raminho à frente a atrapalhar; facultam-nos inúmeras oportunidades de as fotografar a menos de dois ou três metros de distância porém, no meu caso pessoal, o resultado é sempre uma imagem varrida irreconhecível ou apenas um pedaço da cauda, ou da asa, ou simplesmente da vegetação de fundo;
7 – É vulgar encontrar literatura referindo-se a esta mesma ave, considerada a mais pequena da avifauna europeia, mas com o nome científico de Regulus ignicapilla.