OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado
Ordem Passeriformes
Família Troglodytidae
(uma espécie)
Troglodytes troglodytes (Carriça)
Estuário do Cávado
Ordem Passeriformes
Família Troglodytidae
(uma espécie)
Troglodytes troglodytes (Carriça)
1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Abundante;
4 – (Espécies parecidas) Nenhuma;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Frequenta qualquer tipo de biótopo onde disponha de vegetação densa que lhe sirva de abrigo, no entanto não se inibe de surgir à “superfície” da folhagem para nos espreitar, sempre num ritmo electrizante como uma bola de pingue-pongue entre os raminhos; por ser tão pequena e de hábitos tão rasteiros (praticamente não sai do solo ou limita-se a subir poucos centímetros), poderia passar-nos constantemente despercebida, mas é sempre denunciada pelas próprias vocalizações de alerta à nossa passagem, aquele tserrrrrrrrrrrrrrr ininterrupto enquanto não nos afastamos, ou ainda por belos e sonoros cânticos bem projectados a partir de um poleiro oculto; praticamente só não se encontram nas praias e nas dunas primárias (ainda assim, neste ano, uma arriba resultante da erosão marítima sob uma das vivendas “plantadas” nas dunas serviu de local de nidificação), mas os melhores locais para as observar será num qualquer caminho que atravesse a mata entre Fão e Apúlia, nomeadamente os que acompanham canais de drenagem (ribeiras), aquelas galerias de vegetação adequada das margens do Cávado, ou então, talvez o mais confortável, os nossos próprios parques e jardins;
6 – (Tolerância à nossa presença) Apesar de irrequietas, não são tímidas e aproximam-se ou consentem que o façamos quase sem receios, o que, com alguma concentração, capacidade de reacção e paciência, nos possibilita alguns registos fotográficos interessantes;
7 – (Outros dados de interesse) O nome científico da ave, que será facilmente traduzido para o português moderno como «Troglodita», denomina uma tribo que vivia em cavernas debaixo da terra (visitei-as numa região remota na Tunísia); tal paralelismo dever-se-á às semelhanças entre os hábitos de vida daquele povo e o modo como a espécie em apreço utiliza ou faz buracos no solo para nidificar.
Família Prunellidae
(uma espécie)
Prunella modularis (Ferreirinha)
1 – Pouco preocupante;
2 – Residente mas também deverá ocorrer por cá uma população Invernante, pois nota-se um claro aumento dos seus efectivos a partir de Outubro;
3 – Pouco comum;
4 – O dorso e as asas (partes mais visíveis) apresentam um malhado muito parecido com o do omnipresente Pardal-comum, mas a semelhanças entre ambos acabam nessa particularidade; para lá disso, é uma ave única, sobretudo porque mais nenhuma tem as faces e o peito com aquele cinzento prateado;
5 – Admite-se que seja mais vulgar do que possa parecer a um comum observador de aves, mas como vive muito escondida sob a cobertura de vegetação densa, quase sempre junto ao solo, nota-se pouco a sua presença; apesar deste aspecto, por vezes anuncia-se abertamente pousada num galho de silva mais saliente, numa sebe ou num muro mais exposto com um melodioso canto algo semelhante ao do Chamariz (mas não tão profuso ou agudo); embora possamos ter a sorte de a encontrar um pouco por todo o pinhal onde haja vegetação arbustiva ou rasteira, os melhores locais para o fazer será, em particular no Inverno, na orla dos jardins com sebes vivas no Núcleo Turístico de Ofir, nas beiras dos campos de cultivo de Gandra e das Pedreiras e em terrenos abandonados tomados por silvas altas;
6 – Apenas se exibe quando canta, o que faz numa pose destemida e demoradamente, logo de manhã muito cedo ou ao entardecer, passando o resto do tempo “invisível”, ainda que possa estar bem perto nos nossos próprios jardins;
7 – O hábito de agitar as asas quando está empoleirada (como na última foto), é muito característico nesta ave.
Família Muscicapidae
(duas espécies)
Muscicapa striata (Papa-moscas-cinzento)
1 – Quase ameaçado;
2 – Migrador de Passagem, facilmente observado sobretudo em Setembro e Outubro, raras vezes durante Agosto;
3 – Comum;
4 – Ver o que está referido em igual número do Papa-moscas-preto;
5 – São encontrados com facilidade na orla de todo o pinhal, nomeadamente no Núcleo Turístico de Ofir, tanto na face voltada para o estuário, como para o mar mais junto à restinga onde os pinheiros estão secos, ou ainda nos próprios jardins; têm o costume de usar os mesmos poleiros repetidamente, a partir dos quais se “atiram” em voos acrobáticos para capturar insectos com o bico que provoca um estalido quando apanha a presa, seguindo-se um “ricochete” imediato de regresso à mesma base; esta tanto pode ser um ramo de pinheiro saliente, como um fio eléctrico ou o próprio poste; por vezes torna-se difícil identificá-los pois caçam lado a lado com os Papa-moscas-pretos de hábitos e comportamentos semelhantes;
6 – Desinibidos quando estão em actividade de caça (ver número anterior), posando demoradamente enquanto não passa uma presa; com se expõem abertamente em poleiros habituais, com recurso a esconderijo (p. ex. entre a folhagem das acácias) e com alguma discrição, são relativamente fáceis de fotografar;
7 – Inexplicavelmente, tanto esta espécie como a seguinte, que em números consideráveis passam regularmente neste troço do litoral português em migração desde há, pelo menos, 15 anos, não constam na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte (adverti os responsáveis pelo ICNB para o lapso óbvio).
Ficedula hypoleuca (Papa-moscas-preto)
1 – Não consta no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal; contudo tem o estatuto de Pouco preocupante (IUCN);
2 – Migrador de Passagem, facilmente observado sobretudo em Setembro e Outubro, raras vezes durante Agosto (avistado um espécime no final do mês de Julho em 1998);
3 – Comum;
4 – O macho em plumagem estival apresenta-se como uma ave única, preta no dorso e branca na parte inferior, contudo, como estas aves já passam por cá com o “traje” de Outono, igual ao da fêmea, podem assemelhar-se ao congénere Papa-moscas-cinzento, distinguindo-se deste, sobretudo, pela barra branca nas asas e por terem o peito liso e não malhado junto ao queixo, como o P.-m.-cinzento;
5 – É, em quase tudo, semelhante ao P.-m.-cinzento, tanto na escolha do habitat como no comportamento, mas talvez não seja tão hábil no voo de captura de insectos; uma das suas características muito particulares é o costume de balançar a cauda erguendo-a enquanto está empoleirado;
6 – Atendendo ao ponto anterior e a igual número do P.-m.-cinzento, também deve ser considerada uma ave pouco tímida;
7 – Ver o que está mencionado em igual número da espécie anterior.
Família Certhiidae
(uma espécie)
Certhia brachydactyla (Trepadeira-comum)
1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Inconfundível;
5 – São frequentadoras habituais dos pinhais, matas mistas ou até de folhosas, onde se observam a trepar em “parafuso” pelos troncos das árvores acima (tanto do género Pinus sp., como Quercus sp.), seguido de um “mergulho” até à base de outra e logo sobe da mesma forma, continuando assim sucessivamente à cata de minúsculos insectos; nota-se que gosta de percorrer a casca de árvores velhas com musgos (p. ex. iguais às da Alameda do Bom Jesus em Fão) e também não despreza uma ou outra visita aos jardins (p. ex. no Núcleo Turístico de Ofir); a plumagem discreta e o pequeno tamanho desta ave torna-a difícil de detectar, especialmente se surgir isolada, porém, se estiverem em bando, anunciam-se sem qualquer pejo com repetidos “si si si si” bem agudos;
6 – Não são tímidas mas facilmente se dissimulam rente à casca das árvores; tentar fotografá-las pode tornar-se numa tarefa complicada em virtude de nunca pararem e, enquanto contornam os troncos, tanto aparecem na face voltada para o observador como logo se ocultam no lado oposto, sendo difícil adivinhar onde vão surgir de seguida (sendo certo que será mais acima); além disso, convém que a imagem seja captada no preciso momento em que o animal, na perspectiva do fotógrafo, como é óbvio, esteja posicionado precisamente na tangente do tronco para que se consiga um bom desenho da sua silhueta, caso contrário, resultará na imagem de umas penas castanhas sem contraste com um tronco da mesma cor e com a mesma focagem;
7 – Na caracterização biológica do Parque Natural Litoral Norte ainda consta na respectiva Lista de Aves a ocorrência da bela Trepadeira-azul (Sitta europaea) que, apesar do nome e de partilharem algumas afinidades, pertence a outra família: - a Sittidae; esta espécie, que não ocorre em pinhais, pode ser encontrada com relativa facilidade nas serras minhotas de Santa Luzia, de Arga e do Gerês, contudo nunca a detectei no litoral desta região.
Família Laniidae
(uma espécie)
Lanius senator (Picanço-barreteiro)
1 – Quase ameaçado;
2 – Apenas confirmo a ocorrência fortuita de uma ave adulta no final de Maio de 1999 e durante todo o mês de Abril do ano seguinte (ver também o ponto número 7);
3 – Migrador Acidental; é uma ave de climas mais mediterrânicos, logo está, por norma, ausente no litoral norte de Portugal;
4 – Única se verificada a coroa e a nuca “manchadas” de vermelho e o uropígio branco (consultar ainda o ponto 7 – os Picanços imaturos são todos muito parecidos);
5 – Nos dois episódios registados no Estuário do Cávado, a ave adulta permanecia calmamente pousada no topo dos tojos que se desenvolvem próximo da linha de água ao longo do actual passadiço (atrás do Hotel de Pinhal em Fão) até ao respectivo miradouro (ver ainda o ponto 7 sobre uma terceira ocorrência);
6 – Pareceu ser uma ave conspícua que se exibe com naturalidade em campo aberto e sem se manifestar ansiosa com a minha presença;
7 – Esta ave que, como já foi referido, é muito fácil de identificar, não consta na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte, na qual é substituída pelo congénere Picanço-real (Lanius meridionalis) – espécie apresentada na grande maioria dos guias de campo já editados na Europa sob o nome científico Lanius excubitor; em Setembro do último ano fotografei um Picanço nas margens da linha de água que se estende desde o Cais do Caldeirão até ao Caminho do Martinho em Fão e na orla de um campo de cultivo nas imediações e, tanto na observação directa através de binóculos, como nas fotos (que, embora muito mal conseguidas, fiz acompanharem este texto em virtude de nunca ter conseguido obter melhores resultados) nunca percebi o vermelho da coroa e da nuca, por onde se prolongaria o barrete vermelho caso fosse um P.-barreteiro adulto, e que seria, naquelas circunstâncias, a única forma de dissipar todas as dúvidas; assim, naquele momento tudo me levava a supor que se tratava de um P.-real, porém, analisadas as imagens com maior detalhe, acabei por comprovar tratar-se de um juvenil do P.-barreteiro, portanto, pessoalmente ainda não posso confirmar a ocorrência do P.-real na região.