quinta-feira, 24 de maio de 2012

OBSERVAÇÃO DE AVES (ABRIL 2012) (Anexo)


Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de CHARADRIIFORMES

Família Laridae

No último mês de fevereiro, por altura da inscrição da Gaivota-de-bico-riscado (Larus delawarensis) na “Lista das aves por mim observadas no estuário do Cávado”, desenvolvi aqui uma súmula sobre as espécies de gaivotas identificadas até então no litoral de Esposende. Assim, para enquadrar a apresentação que se segue, remeto-vos para aquele texto (basta usar a hiperligação).

Neste mês de abril, durante uma das minhas visitas de rotina pela margem direita do estuário do Cávado avistei uma ave a descansar no areal a descoberto na maré vaza situado a montante da ETAR que não consegui identificar de imediato. Por esse motivo, recorri mais uma vez à comunidade do Fórum Aves, onde expus:

«Ao final da manhã do dia 24 de abril, vinda dos lados da foz, pousou num areal próximo da ponte velha no estuário do Cávado a ave que apresento nas imagens.






















Num primeiro momento, e dado o tamanho da ave, julguei estar perante uma gaivina (talvez a C. niger, com que estou mais familiarizado).

O registo fotográfico saldou-se num autêntico desastre, mas possibilitou-me, já em casa, identificar alguns detalhes que não permitem encaixar esta ave no Género Chlidonias, designadamente a cauda não bifurcada e o “desenho” exibido na parte superior da asa.

Assim, comparei estas imagens com as de alguns guias e ainda com outras que pesquisei na internet e tudo me leva a crer estar perante uma Gaivota-pequena.

Alguém obsta a esta minha conclusão?»

Não tardou a resposta com a confirmação de que efetivamente se tratava de um 2º. ano de Gaivota-pequena (Hydrocoloeus minutus) e logo ali se gerou um curto mas interessante debate sobre a ocorrência da espécie no nosso país.

Esta gaivota não consta na Lista das espécies de aves referenciadas na caraterização biológica do Parque Natural do Litoral Norte, nem no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, porém a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em cujo portal está identificada com o sinónimo Larus minutus, atribuiu-lhe o estatuto de conservação global de «Pouco Preocupante». Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa, referem-se a esta espécie como invernante e migradora de passagem rara ou pouco comum.

Para além desta, em abril apenas registei neste estuário a presença da Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), do Guincho (Chroicocephalus ridibundus), cujos efetivos já diminuíam, e da Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus), entre as quais encontrei um anilhado.




















Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de ANSERIFORMES

Família Anatidae

Na Lista Sistemática das Aves de Portugal Continental (Anuário Ornitológico 5: 74-132. R. Matias et al. 2007) estão indicados dois gansos do género Branta como pertencentes à categoria A (registados num aparente estado selvagem). Apesar disso, a minha convicção apenas me permitiu inscrever com tal estatuto o par de Gansos-de-faces-negras (Branta bernicla) que aqui se abrigaram no outono/inverno de 1998/99 na Lista das aves por mim observadas no estuário do Cávado. Em relação à outra espécie, o Ganso-de-faces-brancas (Branta leucopsis), optei por ser mais cauteloso na sua classificação e no meu inventário coloquei-o entre as “Espécies que ocorrem apenas como resultado de uma introdução, fuga ao cativeiro ou possivelmente provenientes de populações selvagens mas com a situação não avaliada pelo Comité Português de Raridades”, por, justamente, me restarem dúvidas quanto à origem dos vários indivíduos aqui observados.

Mas, ainda no Anuário 5, está mencionado outro ganso deste género cuja proveniência suscita ainda mais dúvidas. Nativo do continente norte-americano, o Ganso-do-canadá (Branta canadensis) foi introduzido há vários séculos na Europa. Assim, surge naquele documento com a categoria D4, ou seja, incluído nas espécies naturalizadas mas, por também ser criado para fins ornamentais, com fortes possibilidades de ter escapado àquela condição e adquirido a liberdade.

Deste modo, torna-se praticamente impossível determinar a origem do indivíduo desta espécie que no dia 27 de abril chegou a este estuário e, manifestando-se pouco perturbado pela presença de humanos, se instalou na zona ribeirinha de Fão.

























As suas populações selvagens têm o estatuto de conservação «Pouco Preocupante» e em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL esta espécie é apresentada na secção das não autóctones e está classificada de “acidental / fuga de cativeiro”.

Embora não seja decisivo, o facto de a ave ter passado por este estuário tão tardiamente aponta mais para a hipótese de “fuga ao cativeiro”. Assim como este ganso, também deve ser encarada com algum ceticismo a proveniência de parte significativa da comunidade de Patos-reais (Anas platyrhynchos) que aqui permanece para além dos meses frios e ainda da fêmea de Pato-ferrugíneo (Tadorna ferruginea) que igualmente se está a demorar.

Por fim, e sem quaisquer hesitações, podemos classificar de “domésticos” (categoria E – introduzidos ou fuga de cativeiro), todos os restantes anatídeos exóticos recolhidos durante este mês a montante da ponte velha, ou seja:

o Ganso-chinês (Anser cygnoides)




















o regressado, no dia 20, Ganso-do-egipto (Alopochen aegyptiaca)



















o Pato-mudo (Cairina moschata) – a fêmea das fotos, os “seus” três híbridos e ainda outro, muito escuro, que aqui passou algumas horas no dia 5






















o híbrido de Piadeira-do-chile (Anas sibilatrix) (supostamente com Anas americana ou Anas flavirostris)

























e ainda o Pato-das-bahamas (Anas bahamensis).


















segunda-feira, 21 de maio de 2012

OBSERVAÇÃO DE AVES (ABRIL 2012)

Lista anotada e ilustrada das aves observadas no Estuário do Cávado e habitats envolventes

[a seguir à designação da espécie em português (em maiúsculas) segue-se o nome em inglês e o científico (itálico)]
[seguem-se ao nome as ilustrações e as anotações a azul]
[as ocorrências mais relevantes serão assinaladas a negrito]
[para ver a foto com um pouco mais de detalhe clique em cima da imagem]


ESPÉCIES COM POPULAÇÕES EM ESTADO SELVAGEM

Ordem Anseriformes

Família Anatidae

PATO-TROMBETEIRO
Northern Shoveler
Anas clypeata

no dia 20 foi observada 1 fêmea a jusante da ponte velha

Ordem Pelecaniformes

Família Sulidae

GANSO-PATOLA
Northern Gannet
Morus bassanus

Família Phalacrocoracidae

CORVO-MARINHO-DE-FACES-BRANCAS
Great Cormorant
Phalacrocorax carbo

no dia 20 foram contados 23 indivíduos na língua de areia no extremo norte do juncal e mais alguns pontuavam pelo restante estuário, mas no final do mês o número já não atingia a dezena

Ordem Ciconiiformes

Família Ardeidae

GARÇA-BOIEIRA
Cattle Egret
Bubulcus ibis

no dia 10 ainda se contavam 12 indivíduos a pernoitarem na margem direita; no dia 19 apenas sobrava 1 entre um também diminuído bando da garças-brancas-pequenas; confirma-se, assim, que por enquanto esta ainda é somente uma espécie invernante no litoral norte (neste inverno a população atingiu o número máximo de 49 indivíduos)

GARÇA-BRANCA-PEQUENA
Little Egret
Egretta garzetta



















notada redução até ao final do mês; já apresentavam os dois penachos na nuca e as plumas brancas na região da cauda

GARÇA-REAL
Grey Heron
Ardea cinerea

notada redução até ao final do mês

Família Ciconiidae

CEGONHA-BRANCA
White Stork
Ciconia ciconia

ao início da tarde do dia 20, um indivíduo sobrevoou toda a margem direita para nascente (dois casais construíram os habituais ninhos em Barqueiros e Cristelo e tem sido avistado um indivíduo isolado na “lagoa de Gemeses”)

Ordem Accipitriformes

Família Accipitridae

ÁGUIA-DE-ASA-REDONDA
Common Buzzard
Buteo buteo

Família Pandionidae

ÁGUIA-PESQUEIRA
Osprey
Pandion haliaetus


















confirmada no dia 24 o regresso (ou a permanência) do indivíduo de anilha amarela no tarso esquerdo com a inscrição «RK», enquanto o de anilha preta com a inscrição «3SP» continuou a ser visto com regularidade durante todo o mês

Ordem Falconiformes

Família Falconidae

PENEIREIRO-VULGAR
Common Kestrel
Falco tinnunculus

Ordem Gruiformes

Família Rallidae

GALEIRÃO
Eurasian Coot
Fulica atra

no dia 19 já não se observou qualquer indivíduo na marginal de Fão

Ordem Charadriiformes

Família Charadriidae

BORRELHO-GRANDE-DE-COLEIRA
Common Ringed Plover
Charadrius hiaticula

BORRELHO-DE-COLEIRA-INTERROMPIDA
Kentish Plover
Charadrius alexandrinus

TARAMBOLA-CINZENTA
Grey Plover
Pluvialis squatarola

Família Scolopacidae

SEIXOEIRA
Red Knot
Calidris canutus

no dia 10 foram observados 3 indivíduos no sapal junto à foz

PILRITO-D’AREIA
Sanderling
Calidris alba

PILRITO-COMUM
Dunlin
Calidris alpina

MAÇARICO-DE-BICO-DIREITO
Black-tailed Godwit
Limosa limosa

FUSELO
Bar-tailed Godwit
Limosa lapponica


















MAÇARICO-GALEGO
Whimbrel
Numenius phaeopus

a partir do dia 20 foram observados vários bandos, destacando-se um com vinte indivíduos a repousarem no sapal a montante da ETAR

MAÇARICO-DAS-ROCHAS
Common Sandpiper
Actitis hypoleucos

PERNA-VERDE
Common Greenshank
Tringa nebularia

ROLA-DO-MAR
Ruddy Turnstone
Arenaria interpres


















no final do mês já muitas exibiam a plumagem estival

Família Laridae

Será feita uma abordagem mais alongada em texto anexo que publicarei ainda este mês

Família Sternidae

GARAJAU-COMUM
Sandwich Tern
Sterna sandvicensis

Ordem Columbiformes

Família Columbidae

POMBO-TORCAZ
Common Wood Pigeon
Columba palumbus

notado aumento até ao final do mês

ROLA-TURCA
Eurasian Collared Dove
Streptopelia decaocto

Ordem Caprimulgiformes

Ordem Apodiformes

Família Apodidae

ANDORINHÃO-PRETO
Common Swift
Apus apus

Ordem Coraciiformes

Família Alcedinidae

GUARDA-RIOS
Common Kingfisher
Alcedo atthis

pelo número e localização dos indivíduos que se restavam no final do mês a jusante da ponte da auto-estrada, julgo que se vai confirmar em maio a nidificação de 4 casais

Família Upupidae

POUPA
Hoopoe
Upupa epops

mais facilmente encontradas nos sistemas dunares, mas também no perímetro urbano de Esposende onde se preparava para voltar a nidificar

Ordem Piciformes

Família Picidae

PICA-PAU-MALHADO-GRANDE
Great Spotted Woodpecker
Dendrocopus major

Ordem Passeriformes

Família Hirundinidae

ANDORINHA-DAS-CHAMINÉS
Barn Swallow
Hirundo rustica

ANDORINHA-DOS-BEIRAIS
Common House Martin
Delichon urbicum

Família Motacillidae

ALVÉOLA-AMARELA
Yellow Wagtail
Motacilla flava


















apenas registei a sua presença a partir do dia 20 (mas estou certo que esta data tão tardia se deve a um deficiente esforço de procura)

ALVÉOLA-BRANCA
White Wagtail
Motacilla alba

Família Troglodytidae

CARRIÇA
Winter Wren
Troglodytes troglodytes

Família Prunellidae

FERREIRINHA
Dunnock
Prunella modularis

Família Turdidae

PISCO-DE-PEITO-RUIVO
European Robin
Erithacus rubecula

RABIRRUIVO-PRETO
Black Redstart
Phoenicurus ochruros

CARTAXO-COMUM
European Stonechat
Saxicola rubicola

observados vários imaturos no final do mês

MELRO-PRETO
Common Blackbird
Turdus merula

TORDO-MÚSICO
Song Thrush
Turdus philomelos

TORDO-RUIVO
Redwing
Turdus iliacus

3 pontos bem distintos onde facilmente se ouviam as suas vocalizações

Família Sylviidae

ROUXINOL-BRAVO
Cetti's Warbler
Cettia cetti

FUINHA-DOS-JUNCOS
Zitting Cisticola
Cisticola juncidis

TOUTINEGRA-DE-CABEÇA-PRETA ou T.-DOS-VALADOS
Sardinian Warbler
Sylvia melanocephala

FELOSA-COMUM ou FELOSINHA
Common Chiffchaff
Phylloscopus collybita

apenas no início do mês

Família Aegithalidae

Família Paridae

CHAPIM-PRETO
Coal Tit
Parus ater

CHAPIM-REAL
Great Tit
Parus major

Família Corvidae

GAIO
Eurasian Jay
Garrulus glandarius

1 indivíduo observado várias vezes no pinhal junto às torres de Ofir

PEGA
Common Magpie
Pica pica

GRALHA-PRETA
Carrion Crow
Corvus corone

2 indivíduos

Família Sturnidae

ESTORNINHO-PRETO
Spotless Starling
Sturnus unicolor

Família Passeridae

PARDAL-COMUM ou P.-DOMÉSTICO
House Sparrow
Passer domesticus

PARDAL-MONTÊS
Eurasian Tree Sparrow
Passer montanus

Família Fringillidae

TENTILHÃO
Common Chaffinch
Fringilla coelebs

CHAMARIZ
European Serin
Serinus serinus

VERDILHÃO
European Greenfinch
Carduelis chloris

PINTARROXO
Common Linnet
Carduelis cannabina

notado aumento até ao final do mês; machos já vistosamente apresentados


ESPÉCIES NATURALIZADAS COM POPULAÇÕES ESTABELECIDAS RESULTANTES DE INTRODUÇÕES, MAS QUE TAMBÉM OCORREM EM ESTADO SELVAGEM:

Ordem Anseriformes

Família Anatidae

PATO-REAL
Mallard
Anas platyrhynchos




















ESPÉCIES DOMESTICADAS COM POPULAÇÕES ESTABELECIDAS EM ESTADO SELVAGEM:

Ordem Columbiformes

Família Columbidae

POMBO-DA-ROCHA e POMBO-DOMÉSTICO
Rock Dove
Columba livia


ESPÉCIES NATURALIZADAS:

Ordem Passeriformes

Família Estrildidae

BICO-DE-LACRE
Common Waxbill
Estrilda astrild


ESPÉCIES QUE OCORREM APENAS COMO RESULTADO DE UMA INTRODUÇÃO, FUGA AO CATIVEIRO OU POSSIVELMENTE PROVENIENTES DE POPULAÇÕES SELVAGENS MAS COM A SITUAÇÃO NÃO AVALIADA PELO COMITÉ PORTUGUÊS DE RARIDADES:

Ordem Anseriformes

Será feita uma abordagem mais alongada em texto anexo que publicarei ainda este mês