terça-feira, 14 de julho de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXI)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Ordem Passeriformes

Família Paridae

(quatro espécies)


Parus cristatus (Chapim-de-poupa)



















1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Residente;
3 – (Abundância) Pouco comum;
4 – (Espécies parecidas) Se detectarmos com um mero olhar por entre a fagulha dos pinheiros a passagem de um indivíduo, de pequenos grupos de aves desta espécie ou ainda de bandos mistos com Chapins-pretos, poderemos confundi-los com estes, mas numa observação com um mínimo de atenção, vislumbrando a crista evidente, logo os reconheceremos como únicos;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Ainda antes de serem avistados, costumam ser detectados através dos trinados característicos das suas vocalizações que emitem quando se aproximam na procura incessante de pequenos insectos na copa dos pinheiros; ocorrem em todos os habitats onde haja pelo menos um pinheiro ou, com menor frequência, onde se desenvolva vegetação arbustiva ripícola, desde o resto de pinhal nas imediações da restinga do Cávado, passando pela zona dunar que se estende da Senhora da Bonança até à Praia das Pedrinhas e, principalmente, na mancha florestal mais extensa entre Fão e Apúlia;
6 – (Tolerância à nossa presença) Como qualquer chapim, aparentam ignorarem as pessoas que se “atravessem” no caminho, ocupando até os ramos de um qualquer pinheiro onde estejamos encostados e deixam-se observar demoradamente com facilidade; no sentido inverso vai a dificuldade em captar uma imagem da sua bela silhueta, ou seja, como não param durante um instante e estão sempre embrenhados entre os ramos e as sombras destes ou nas zonas mistas com pequenos pontos de sol directo, fotografá-los com um mínimo de sucesso tem sido, pelo menos para mim, uma tarefa quase impossível de concretizar;
7 – (Outros dados de interesse) Embora por natureza ocupem os buracos em troncos velhos para fazerem a postura e criarem a prole, consta que, tanto esta com as restantes aves desta família, ocupam destemidamente ninhos artificiais; em acções de sensibilização ambiental têm sido vários os estabelecimentos de ensino e outras instituições que envolvem os mais novos na construção e instalação de caixas-ninho pela nossa floresta (p.ex. no Fagil); importa, assim, respeitar as boas intenções de quem procura deste modo proteger as aves, preservando aquelas pequenas estruturas nos locais próprios e, tanto antes como durante a nidificação, salvaguardar sempre as devidas distâncias contornando-as para lá dos limites de perturbação (assinalados pelas repetidas vocalizações de alarme de uma das aves adultas).


Parus ater (Chapim-preto)























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Abundante;
4 – Visualmente também é uma ave ímpar mas, como já deixei referido na apresentação da Estrelinha-real (na série anterior), naqueles coros de múltiplas vocalizações emitidas por várias aves em simultâneo no topo dos pinheiros, podem passar-nos despercebidos se o bando em presença for constituído maioritariamente por aves de uma espécie diferente, sobretudo outros Chapins, a dita Estrelinha ou ainda a Trepadeira-comum que será apresentada na série seguinte (todas inconfundíveis visualmente);
5 – Além de ocorrerem nos mesmos biótopos indicados no congénere anterior, tendem também a surgir com alguma frequência em jardins, pomares e vegetação densa nas margens do Cávado, incluindo as infestantes acácias; assim, para lá de toda a área de pinhal, ainda será de esperar que sejam observados nas orlas arborizadas dos campos de cultivo da zona das Pedreira e de Gandra, nos amieiros, salgueiros e freixos marginais ao Cávado, bem como no núcleo turístico de Ofir; por vezes surgem em bandos numerosos e bem ruidosos;
6 – Considerar precisamente o mesmo que está mencionado em igual número da última espécie;
7 – Também consta que, a par do Chapim-real, respondem com frequência a chamarizes electrónicos (p.ex. sons dos respectivos cantos gravados em telemóveis) que servem como truque para os fazer posar perante as nossas lentes; pessoalmente não considero essa prática como uma conduta imprópria, nem nunca encontrei qualquer advertência nesse sentido, contudo, devemos considerar que o recurso a essa técnica é sempre uma pequena alteração à ordem natural – usar sem abusar.


Parus caeruleus (Chapim-azul)

1 – Pouco preocupante;
2 – É considerada uma ave residente em Portugal Continental mas a realidade da nossa região é bem distinta (ver o número que se segue);
3 – Consultando a literatura existente sobre avifauna, nomeadamente os dados disponibilizados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves ou a mais recente informação publicada pelo ICNB no Novo Atlas das Aves que nidificam em Portugal, entre outros inúmeros estudos, ficamos a perceber que esta é uma das aves mais abundantes da Europa e o nosso País não foge a essa regra; efectivamente, se nos deslocarmos até à região de Aveiro e daí para sul ou então pelo interior minhoto até Trás-os-Montes, facilmente detectamos a presença desta espécie, em particular nos jardins públicos ou nas árvores das avenidas mesmo de cidades tão densamente habitadas como Lisboa; no entanto, contrariamente a este panorama de ampla distribuição, este belo passeriforme esta ausente de praticamente todo o litoral norte entre Viana do Castelo e o Porto, Esposende incluído, como é óbvio; apesar disso, ainda haverá a remota possibilidade de surgirem nesta região, conforme o atestei em 29 de Novembro de 2000 enquanto me dedicava a fotografar aves no estuário, precisamente atrás do Hotel do Pinhal em Fão; nesse dia, registei alguns movimentos de um chapim que tão depressa surgiu com logo desapareceu, efectuei uns “disparos” em foco automático e, em virtude de ainda usar máquina analógica, julguei ter “caçado” um Chapim-real, porém, após a revelação das imagens, verifiquei que se tratava de um Chapim-azul que desde então constitui a única ocorrência da espécie que registei na área em estudo;
4 – Se salvaguardarmos o que está referido na espécie anterior, apenas o Chapim-real com coroa preta poderá assemelhar-se (ver a seguir);
5 – Limito-me a acrescentar que no episódio aqui narrado a ave perseguia, juntamente com outras, pequenos mas abundantes insectos por entre os ramos secos e despidos de folhas de um acacial (Acacia longifolia) derrubado ao abrigo de uma acção de controlo de infestantes exóticas;
6 – Nada a acrescentar;
7 – Nada a acrescentar.


Parus major (Chapim-real)

































































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – O conjunto de todas a suas características torna-a numa ave relativamente fácil de identificar, destacando-se logo por ser substancialmente mais corpulenta que os restantes chapins e pela particular risca larga preta no centro do peito e do ventre amarelos, que só encontra parecenças no Chapim-azul, de coroa azul-clara (exclusiva), em que aquela linha tem um desenho muito mais ténue;
5 – Podem ser encontrados facilmente nas mesmas circunstâncias do Chapim-preto, destacando-se por serem muito mais vistosos e pelas vocalizações mais projectadas; também é costume visitarem arbustos e sebes vivas e raramente surgem em bandos exclusivos desta espécie;
6 – Tendem a parar por instantes mais prolongados em galhos expostos mais rente ao solo ou em árvores baixas; de qualquer modo, apesar de serem pouco tímidos, não se mostram com facilidade; em muitas das fotos que já obtive desta espécie (com resultados pouco melhor que medíocres) tive de recorrer ao modo de focagem manual devido às intrusões provocadas pelos ramos que lhes servem de abrigo;
7 – A alimentação dos chapins é constituída principalmente por pequenos insectos mas também não rejeitam um bom punhado de sementes; assim como já deixei referido em relação às caixas-ninho, algumas pessoas mais sensíveis à protecção da fauna silvestre ajudam estas aves a atravessar os rigores do Inverno, colocando comedouros com alguns grãos nos seus jardins (também será uma boa actividade para as comunidades escolares); consta que o Chapim-real é um dos visitantes mais assíduos dessas preciosas “estações de serviço”.



Família Aegithalidae
(uma espécie)


Aegithalos caudatus (Chapim-rabilongo)
























1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Pouco comum;
4 – Apesar de ter os mesmos hábitos dos outros chapins, é simplesmente uma ave com um aspecto único;
5 – São encontrados ocasionalmente por todo o pinhal, por vezes em bandos numerosos, sobretudo em zonas mistas com arbustos de porte arbóreo como os Pilriteiros (Crataegus monogyna) ou ainda onde pontuam folhosas como os Sobreiros e os Carvalhos (Quercus sp.) ao longo dos caminhos que atravessam a mata entre Fão e Apúlia; também são vistos com alguma regularidade em áreas como o Núcleo Turístico de Ofir onde o pinheiro predomina sobre mosaico ajardinado; ainda podem ocorrer nas manchas de Tamariz (Tamarix spp.) e outra vegetação ripícola ao longo de ambas as margens do Cávado, desde o Cais do Caldeirão em Fão até perto da restinga ou naquele conjunto denso de árvores junto aos desactivados estaleiros em Esposende; mais uma vez, à semelhança dos outros chapins, mesmo que um observador da natureza esteja distraído, logo perceberá a aproximação destas aves que enquanto se movimentam emitem sempre aqueles sons agudos “zi zi zi zi”;
6 – Considerar precisamente o mesmo que está mencionado em igual número da primeira espécie apresentada nesta série;
7 – Na Europa existem várias subespécies de Chapim-rabilongo, portanto, na consulta de um qualquer portal da especialidade ou de um guia de campo (grande parte deles editados originalmente no Reino Unido ou países nórdicos) convém estar atento às imagens apresentadas que poderão não corresponder à subespécie da Península Ibérica o Aegithalos caudatus irbii, que se caracteriza por ter o dorso cinzento (não perceptível na imagem) e uma risca preta larga sobre o olho.