segunda-feira, 30 de março de 2009

ORNITOLOGIA (parte X)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


E voltamos novamente a duas famílias de aves de hábitos relacionados com o meio aquático, mas que predominam em águas mais paradas como charcos ou lagos, portanto, menos frequentes nos habitats que se desenvolvem no nosso estuário.


Ordem Gruiformes

Família Rallidae
(três espécies)


Rallus aquaticus (Frango-d’água)

1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Apesar da espécie ser considerada residente em território nacional, os poucos registos de observação neste estuário ocorreram sempre entre Outubro e Fevereiro;
3 – (Abundância) Raro, embora haja a possibilidade da escassez de observações se dever aos seus hábitos discretos e crepusculares;
4 – (Espécies parecidas) O facto de apenas se deixarem observar por instantes não ajuda à sua identificação, mas se lhes conseguirmos vislumbrar o bico vermelho comprido, logo se dissiparão todas as dúvidas pois é a única espécie do género ou de silhueta semelhante que possui aquela característica;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Em todos os episódios por mim registados, as aves foram sempre observadas a “saltarem” para um curto voo por entre pequenas manchas de Triângulo (Bolboschoenus maritimus), vegetação densa típica dos lodaçais ou zonas inundáveis e que pontuam um pouco por todo o estuário;
6 – (Tolerância à nossa presença) Altamente reservada e prudente;
7 – (Outros dados de interesse) Toda a literatura consultada se refere à singularidade de alguns dos chamamentos destas aves serem comparáveis aos do ronco dos porcos, o que poderá ser muito útil para detectarmos a sua presença quando teimam em manter-se escondidas do nosso olhar.


Gallinula chloropus (Galinha-d’água)























































1 – Pouco preocupante; também é uma espécie cinegética e o último período venatório prolongou-se desde 15 de Agosto até 25 de Janeiro;
2 – Residente;
3 – Pouco comum (ver, contudo, o ponto 5);
4 – A Galinha-d’água tem o bico colorido de vermelho e amarelo, distinguindo-se assim do Galeirão que o apresenta completamente branco e com escudo que se prolonga pela fronte; este também não apresenta aquela linha branca tão particular nas laterais e as duas manchas da mesma cor nas subcaudais, sempre bem visíveis quando se afasta;
5 – No estuário do Cávado é observada ocasionalmente sempre na proximidade da vegetação mais densa e alta dos lodaçais e nunca em águas mais abertas como o fazia num charco temporário (agora residual) que resultou do abaixamento de um terreno até ao nível freático no seio do pinhal entre Fão e Apúlia, onde nidificava (até 2001); pode ser encontrada com maior frequência noutros cursos de água de menores dimensões, nomeadamente nas ribeiras costeiras das Marinhas e da Apúlia ou no Rio Neiva numa zona perto da foz onde se desenvolve vegetação paludosa; também já vi alguns indivíduos a atravessarem a estrada em passo acelerado e a percorrerem os caminhos na veiga agrícola de Fão que se prolonga ao longo a EN 13 até à Apúlia; também frequenta um pequeno caniçal envolvido por vegetação arbórea ripícola localizado muito próximo da zona urbana de Fão e, sendo assim, presumo que também o faça no grande caniçal denominado de «Lagoa da Apúlia»;
6 – Tímidas (apesar do que está mencionado no ponto seguinte); quando percebem a nossa presença, têm o hábito de se ocultarem rapidamente na vegetação densa que está quase sempre muito próxima; uma vez embrenhadas nesse meio, devem encetar a fuga caminhando, pois nunca são encontradas no último local em que as vejo a desaparecerem;
7 – Visita ou coloniza com naturalidade e frequentemente os lagos em parques urbanos.


Fulica atra (Galeirão)
























































1 – Pouco preocupante; também é uma espécie cinegética e o último período venatório prolongou-se desde 15 de Agosto até 25 de Janeiro;
2 – Surge neste estuário principalmente durante os meses de Outono, coincidindo o aumento de ocorrências com as “invasões” de Jacintos-de-água (Eichhornia crassipes); nos últimos anos, durante os meses estivais, também tem sido visto pelo menos um indivíduo a frequentar uma área muito restrita da margem direita do Cávado;
3 – Raro ou acidental ao longo de quase todo o ano, pode ser numeroso na estação outonal (em Novembro de 2007, a partir da marginal em Fão, foram contados mais de 30 indivíduos a alimentarem-se por entre os “tapetes” de Jacintos-de-água, praga que aparentemente favorece esta espécie de aves);
4 – Conforme o já exposto, há a remota possibilidade de ser confundido com a Galinha-d’água;
5 – Estas aves são sempre vistas a alimentarem-se por entre a vegetação aquática abundante, caracterizam-se ainda por mergulharem demoradamente e, se nos aproximamos de barco, por exemplo, fogem “correndo” à superfície evitando levantar voo;
6 – Tolerantes, mas a(s) ave(s) que ocorre(m) no Verão são manifestamente mais tímidas;
7 – Nada a acrescentar.



Família Gruidae
(uma espécie)


Antropoides virgo = Grus virgo (Grou-pequeno)























































No meio natural estas aves distribuem-se amplamente pela Ásia e Norte de África e a genuinidade das suas ocorrências em território nacional encontram-se sujeitas a homologação do Comité Português de Raridades (CPR). Sabe-se também que é criada em cativeiro para fins ornamentais um pouco por toda a Europa.
Em 21 de Outubro de 2004 surgiu um indivíduo desta espécie na ínsua sob a ponte metálica de Fão, o qual, julga-se, terá simplesmente escapado de um qualquer parque onde tenha sido introduzido em semi-liberdade.
A espécie está assinalada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (LVVP) como Regionalmente extinta.


terça-feira, 24 de março de 2009

ORNITOLOGIA (parte IX)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Chegou a vez de abordar uma ordem das aves representada na nossa região por apenas duas espécies, muito apreciadas pelos caçadores, e cuja história de declínio acentuado nos seus habitats naturais, nos convoca para uma reflexão atenta sobre a (in)sustentabilidade da exploração dos recursos cinegéticos que por cá se pratica.


Ordem Galliformes

Família Phasianidae

(duas espécies)


Alectoris rufa (Perdiz-comum)



















1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante; no último ano o seu período venatório decorreu entre 5 de Outubro e 28 de Dezembro;
2 – (Quando observar) Residente (?); considerando muitos testemunhos, outrora a espécie foi comum na nossa região, mas nas últimas décadas entrou em forte declínio até ao ponto de, durante anos, não ter sido observada por estas paragens; entretanto, em 2004 ou 2005, a partir de indivíduos provenientes de cativeiro, realizou-se um repovoamento para fins cinegéticos na zona de caça associativa localizada na área envolvente à denominada «Lagoa da Apúlia»;
3 – (Abundância) Nos anos em que aqueles efectivos foram reintroduzidos (cujo número total ignoro), tornou-se habitual vê-las a correrem pelos caminhos que atravessam a mancha florestal entre Fão e Apúlia, todavia, com o decorrer dos anos, o número terá decrescido substancialmente ou então, as sobreviventes, ter-se-ão tornado mais esquivas;
4 – (Espécies parecidas) São facilmente identificadas pois nenhuma outra se assemelha;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Além da área referida, a espécie já se dispersou também pelos sistemas dunares, nomeadamente naquela estreita faixa compreendida entre a Sra. da Bonança e as Pedrinhas; se não se deixarem surpreender a caminhar em zonas mais abertas enquanto se alimentam, escondem-se sob a vegetação rasteira, aninhando-se, até que quando quase as calcamos à nossa passagem “disparam” numa rápida fuga num voo pesado e denunciado por uma vocalização característica;
6 – (Tolerância à nossa presença) Como já expus, à medida que os anos avançam, os efectivos que escaparam aos caçadores manifestam-se cada vez mais tímidos, mas ainda se vão deixando observar à distância enquanto percorrem os caminhos florestais;
7 – (Outros dados de interesse) Embora no nosso País já tivessem sido realizados inúmeros estudos sobre os potenciais impactes ecológicos das largadas desta e de outras espécies congéneres na natureza, ainda não estão plenamente avaliados os riscos que esse tipo de acções possam representar para a fauna e a flora silvestre.


Coturnix coturnix (Codorniz)

1 – Pouco preocupante; no último ano o seu período venatório iniciou-se em 7 de Setembro e prolongou-se até 30 de Novembro;
2 – Estival, observada esporadicamente na região entre Junho e Setembro, mas devo referir que em Fevereiro de 2005 observei um indivíduo no estuário;
3 – Rara;
4 – Embora as suas aparições sejam normalmente muito curtas, quase não permitindo uma observação atenta, é relativamente fácil de identificar; expondo uma opinião muito pessoal, naqueles episódios em que apenas presencio um breve voo, considero sempre a possibilidade de confusão com os “primos” Frangos-d’água (consultar bibliografia);
5 – Ainda que não seja o seu habitat favorito, também se esconde na erva alta que se desenvolve pelas margens do Cávado e só se lança como uma mola num voo rasteiro quando está na iminência de ser calcada, pousando de imediato a poucos metros de distância;
6 – Conforme o exposto, permite que nos aproximemos mas muito dificilmente se detecta a sua presença, pois nessas circunstâncias mantém-se camuflada rente ao solo;
7 – Considerar o que está mencionado em igual número da espécie anterior; acrescente-se também que no nosso País já se realizaram largadas para fins venatórios, ou inadvertidamente, de uma espécie exótica muito próxima – a Codorniz-japonesa (Coturnix japonica) – havendo por tal a possibilidade de daqui resultarem indivíduos híbridos com consequentes efeitos nefastos sobre o nosso património genético.


domingo, 15 de março de 2009

ORNITOLOGIA (parte VIII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Assim como apelidamos popularmente o leão como o rei da selva, também me apetece atribuir às aves que se seguem nesta apresentação o título de majestades do reino alado. E são muitas as características que justificam este adjectivo, desde logo, mesmo nas primeiras observações, é impossível ficar indiferente aos seus imponentes voos, às suas habituais poses altivas no cimo de uma árvore, poste ou edifício enquanto descansam, ou ainda ao poder das suas fortes garras e bicos aguçados quando dirigem os ataques às presas que lhes servem de alimento – refiro-me, como já terão percebido, às aves de rapina.
Mas nem só nas particularidades estéticas deve residir o nosso fascínio ou interesse por estas aves. A posição ecológica que ocupam, no topo da cadeia alimentar, torna-as espécies bioindicadoras, ou seja, a ocorrência ou abundância das suas populações transmitem-nos dados importantes sobre a vitalidade e equilíbrio ou contaminação e deterioração de um determinado ecossistema. Por tal, é sempre como um sinal de esperança na preservação da natureza que encaro cada registo de observação destas aves na nossa terra.


Aves de Rapina Diurnas


Ordem Accipitriformes

Família Accipitridae
(seis espécies)


Milvus migrans (Milhafre-preto)



















1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante, mas consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – (Quando observar) Abundam e mantêm presença assídua durante o período estival no nosso País, com excepção do Minho e Douro Litoral, pelo que o único indivíduo que observei a sobrevoar o estuário do Cávado (na foto) passou por cá certamente de modo acidental e em rota migratória (em Novembro de 2005);
3 – (Abundância) Nada a acrescentar;
4 – (Espécies parecidas) Para muitos ornitólogos amadores, mesmo aqueles mais experientes, a identificação das aves de rapina pode representar uma tarefa delicada; no meu caso particular recorro frequentemente ao registo fotográfico das aves observadas para posteriormente examinar as imagens com a necessária minúcia e as reconhecer; de qualquer modo, esta espécie em particular é relativamente fácil de distinguir de outras parecidas, por exemplo o Tartaranhão-dos-pauis, pois é uma de apenas duas aves de presa que apresentam as caudas bifurcadas (a outra é o congénere Milhafre-real ou Milhano, cuja ocorrência é ainda menos provável nesta região);
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) O indivíduo em questão foi observado a sobrevoar parte do Cávado em frente à zona urbana de Fão e a alguma altitude;
6 – (Tolerância à nossa presença) Por regra, tanto esta como as restantes aves de rapina aqui mencionadas são muito cautelosas e não permitem que nos aproximemos o suficiente para as alcançar com as lentes das nossas máquinas fotográficas, no entanto, nas regiões onde habitualmente ocorrem, alguns indivíduos desta espécie não se coíbem em frequentar zonas mais urbanizadas onde nos sobrevoam a distâncias relativamente curtas, possibilitando-nos imagens com um proveito razoável; (ver também o exposto no mesmo número da espécie seguinte);
7 – (Outros dados de interesse) Considerando que «…os dados preliminares do Novo Atlas das Aves que nidificam em Portugal indiciam que a população tem vindo a aumentar e a expandir a sua área de distribuição» (fonte ICNB) e que esta espécie está grandemente associada à proximidade de massas de água, não será de estranhar o aumento do número de observações na nossa região.


Circus aeruginosus (Tartaranhão-dos-pauis ou Águia-sapeira)























































1 – Vulnerável, consta no anexo A-I da Directiva Aves e é uma espécie definida como de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN);
2 – Desde 1997, uma fêmea (talvez mais) tem invernado no Estuário do Cávado (entre Setembro e Março) todos os anos e sem interrupções;
3 – Raro;
4 – Como já foi referido, a espécie anterior pode assemelhar-se, todavia é mais provável a confusão com o ligeiramente mais pequeno Tartaranhão-azulado, ainda que nesta ave a cor branca marcadamente larga do uropígio (base do dorso no início da cauda) é característica suficiente para distinguir estas aves;
5 – É observado habitualmente a sobrevoar o juncal, o sapal e, por vezes, os campos agrícolas de Gandra, quase sempre a baixa altitude com movimentos lentos de asas, claramente à procura de presas que captura com frequência;
6 – Conforme se pode constatar pelas péssimas fotos que ilustram cada uma das espécies apresentadas na presente série, estas aves tão fotogénicas não são propriamente muito amigas dos paparazzi da avifauna;
7 – No PNLN estão identificadas condições favoráveis à sua nidificação.


Circus cyaneus (Tartaranhão-azulado)

1 – Vulnerável (população visitante) e consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – Ver o ponto 4;
3 – Ocasional (supostamente migrador de passagem);
4 – De acordo com o que referi para o Milhafre-preto, a única forma de determinar com segurança algumas espécies de aves de rapinas que observo, é através da obtenção de fotos que documentam as suas passagens; consta nos meus cadernos de campo o trânsito pelo estuário de indivíduos que me parecem desta espécie e sempre no Outono desde 1998 (naquelas anotações é mencionada a não confirmação da espécie por possibilidade de confusão com outras do género Circus); assim, apenas comprovei com todas as garantias a ocorrência de uma destas aves no início de Dezembro do último ano (na parte sul do estuário pela linha de água que passa junto à Pousada da Juventude em Fão até ao cais do Caldeirão), e tal só foi possível por via de um registo fotográfico que obtive, mas cuja qualidade é tão má, que nem me atrevo a colocá-lo neste espaço;
5 – Nada a acrescentar;
6 – Considerar o que está mencionado em igual número da espécie anterior;
7 – Nada a referir.


Accipiter nisus (Gavião)



















1 – Pouco preocupante;
2 – Mais uma vez, e por muito que queira evitar a repetição, não posso deixar de me referir à dificuldade de identificar estas espécies; desde que me dedico à observação aves, principalmente durante os meses de Outono, tem sido frequente observar determinadas rapinas a perseguir bandos de fringilídeos (Pintassilgos, Pintarroxos e afins) tanto pelas dunas como no estuário, contudo, a predadora é sempre tão veloz e as suas aparições são tão breves, que nos meus apontamentos apenas menciono a possibilidade (não confirmada) de se tratar de aves desta espécie ou do congénere Accipiter gentilis (Açor); à semelhança do que referi no Tartaranhão-azulado, em Novembro de 2008, já depois de ter visto inúmeras vezes e em vários dias consecutivos um suposto Gavião a tentar capturar pequenas aves na zona do estuário popularmente chamada de “Paul”, consegui “atingi-lo” com um disparo da minha modesta máquina fotográfica (imagem acima);
3 – Não disponho de dados suficientes para me referir à sua abundância na região, mas haverá a hipótese de não ser tão raro quanto possa parecer (ver bibliografia);
4 – Há a considerar algumas semelhanças com o Açor, também do género Accipiter, cuja ocorrência na área em estudo não está por mim confirmada, mas consta na lista de aves referenciadas para o PNLN (ver também o que referi no número 2); embora haja uma substancial diferença nos tamanhos, a fêmea do Gavião quase atinge as dimensões do macho do Açor, no entanto esta característica nem sempre é determinante para identificar a ave durante o voo; se tivermos a felicidade de avistar estas aves a caçar, a dimensão da presa pode ajudar-nos a identificá-las, ou seja, enquanto o Gavião persegue quase exclusivamente pássaros pequenos, o Açor dirige os ataques a outros de dimensões mais próximas dos tordos ou dos pombos que não são propriamente o alimento de eleição da primeira espécie;
5 – Nada a acrescentar;
6 – Considerar o que está mencionado em igual número para o Tartaranhão-dos-pauis, devendo também ser salientado que as velocidades atingidas pelo Gavião em voo são de tal ordem, que quando passa por perto, quase sempre só nos apercebemos do zumbido provocado pela deslocação de ar, seguido do vislumbrar de um vulto que rapidamente desaparece;
7 – Nada a acrescentar;


Buteo buteo (Águia-de-asa-redonda)














































































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente, mas o indivíduo que podem ver na foto pousado num pinheiro, frequenta aquela zona, desde há três anos, apenas durante o Outono e o Inverno – a bibliografia consultada refere-se à possibilidade de haver populações mais setentrionais que invernam no nosso País;
3 – Comum;
4 – Os espécimes habitualmente vistos na nossa região, conforme o ilustrado nas fotos, apresentam o peito e a parte inferior das asas de cor castanho claro percebendo-se algumas listas de cor mais escura, porém, tanto nesta espécie como na Águia-calçada, as plumagens variam de uma fase escura para outra mais clara, podendo, por via dessa alterações, apresentarem padrões parecidos;
5 – Distribui-se por quase todos os tipos de habitats naturais e semi-naturais, desde zonas agrícolas próximas das nossas povoações, até à beira das estradas e vias rápidas, passando pelos pinhais; frequentemente empoleira-se de modo desinibido nos postes ou outros poisos vigiando as suas presas; nestas circunstâncias, se nos deslocamos de automóvel, podemos aproveitar para o imobilizar e discretamente, sempre a partir do seu interior, serão possíveis fotos de qualidade aceitável;
6 – Nada a acrescentar;
7 – São observados vários pares destas aves nas clareiras ou perímetros de áreas florestais do concelho, como as que se localizam entre Fão e Apúlia, em todas as freguesias que se estendem pela Arriba Fóssil, ou ainda nas zonas de predominância agrícola em Fonte Boa e Rio Tinto, onde se desenvolvem condições favoráveis à sua nidificação.


Hieraaetus pennatus (Águia-calçada)





































1 – Quase ameaçada e consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – O indivíduo que aparece nas fotografias foi o único que observei a sobrevoar o nosso estuário (em 24 de Novembro de 2003);
3 – Ocasional; pelo que consta na bibliografia consultada esta espécie também pode ser classificada como migradora de passagem durante o Outono e, nessa condição, é das mais comuns no nosso País;
4 – Ver o que foi mencionado em igual número para a Águia-de-asa-redonda; além disso, repare-se que no caso desta, e conforme as fotos, a plumagem mais habitual é a da fase clara, ao contrário da espécie anterior;
5 – Na única observação efectuada, em pleno estuário, a águia pairou mesmo por cima de mim durante muitos minutos quase sem se deslocar, até que de repente lançou um rápido mergulho na direcção do solo onde capturou uma ave limícola que transportou nas garras para o pinhal deixando de ser avistada;
6 – Se na data do episódio acima narrado dispusesse de uma máquina fotográfica de qualidade razoável, estou certo de que teria obtido fotos bem conseguidas daquele exemplar que não se manifestou minimamente incomodado com a minha presença;
7 – Nada a acrescentar.



Família Pandionidae
(uma espécie)


Pandion haliaetus (Águia-pesqueira)






































1 – Em perigo (população invernante), consta no anexo A-I da Directiva Aves e é uma espécie definida como de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN);
2 – Desde 1998 até 2007 ocorreu um indivíduo invernante no estuário do Cávado, ou seja, todos os anos e sem interrupção, chegava no mês de Setembro e permanecia por cá até ao Inverno (nalguns anos até Março); em 24 de Outubro de 2001, instantes depois da “nossa ave” se ter dirigido pelo Cávado acima para montante com um peixe nas garras que lhe tinha demorado longos minutos a capturar no sapal, surgiu um par de indivíduos da mesma espécie, vindos do lado da praia e também tentaram a sorte que contudo lhes saiu frustrada, voltando ambos entretanto para a sua rota pelo mar; em 19 de Abril de 2002, já largamente fora das datas habituais, avistei um indivíduo a sobrevoar o estuário; em 6 de Fevereiro de 2003 voltei a detectar a presença de dois exemplares;
3 – Raro; neste último Inverno já não foi observado no Cávado;
4 – De entre as aves de rapina que nos visitam, mesmo de modo ocasional, não existe outra qualquer espécie que se lhe compare; para os mais distraídos, esta espécie pode muito bem passar despercebida como uma grande gaivota;
5 – Alimentando-se exclusivamente de peixe, a espécie vive na proximidade de massas de água, como é o caso do nosso estuário, contudo apenas ocorria aqui para capturar as suas presas, seguindo sempre pelo Cávado para interior com o peixe nas garras (em Outubro de 2004, ao observar a águia a caçar junto à foz, dirigi-me tão rápido quanto pude até à “Lagoa do Marachão” para tentar perceber onde se situava o local de poiso e pernoita, confirmando então que dali ainda seguia mais para montante); na grande maioria das ocasiões em que sobrevoava esta área, logo se descobria a sua presença pela agitação que provocava em toda a avifauna que à sua passagem levantava voo e que só voltava a tranquilizar-se depois de assistir aos seus mergulhos a velocidades vertiginosas na direcção da água com as patas estendidas para a frente resgatando peixes de tamanho apreciável;
6 – No estuário apenas a via pousada quando, depois de uma série de “mergulhos” frustrados, não concretizava qualquer captura e descansava por curtos períodos de tempo e nestas circunstâncias era muito prudente, nunca permitindo qualquer tentativa de aproximação; em voo, muitas vezes não se coibia de passar mesmo por cima das nossas cabeças se estivéssemos próximos do seu alvo;
7 – Atrevo-me a considerar esta espécie como o ex-líbris da nossa avifauna e, a confirmar-se o seu desaparecimento dos nossos céus, isso representará um empobrecimento significativo no nosso património natural.


Ordem Falconiformes

Família Falconidae
(uma espécie)


Falco tinnunculus (Peneireiro-vulgar)























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Nenhuma;
5 – De todas as aves de presa aqui referidas é a mais tolerante à nossa presença, aliás, elege as nossas aldeias, vilas e até cidades como um dos seus habitats onde inclusive faz das saliências em construções humanas, local de nidificação, ou dos postes da iluminação pública nas beiras das estradas, poleiros de onde se lança em actividade de caça; não é raro vê-los a peneirar praticamente imóveis, a poucos metros do chão, parecendo que unicamente nos desafiam ao “disparo” fotográfico;
6 – Além das nossas povoações, como referi, ainda frequenta uma grande variedade de habitats naturais como o estuário, as dunas, o pinhal e, principalmente, áreas de predominância agrícola onde é costume vê-los a capturar pequenos ratos;
7 – A par de outras rapinas contribui fortemente para a prevenção de pragas de pequenos roedores que tanto ameaçam as nossas culturas agrícolas.


sábado, 7 de março de 2009

ORNITOLOGIA (parte VII)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Para finalizar a abordagem à família dos anatídeos, reservei um grupo de aves que são frequentemente observadas em liberdade no Estuário do Cávado, mais precisamente ao longo da zona ribeirinha de Fão, mas cuja proveniência suscita muitas dúvidas. As origens naturais de algumas delas são tão longínquas (continente americano, sudeste asiático, ou Austrália, por exemplo) que prontamente percebemos estar perante espécies alóctones ou exóticas, criadas para fins ornamentais ou cinegéticos. Porem, outras são oriundas de zonas do globo relativamente próximas da Europa ocidental (em geral do norte de África ou do Árctico), as quais, apesar da possibilidade de introdução no nosso território através de fugas ao cativeiro, poderão ser aves selvagens, contudo, nestes casos, a genuinidade das ocorrências encontra-se sujeita a homologação do Comité Português de Raridades (CPR).
Torna-se, pois, relevante estudar a evolução das várias populações que se estão a estabelecer no nosso País, a existência de indícios de reprodução, ou o seu estatuto enquanto potenciais invasores, de forma a determinar o grau de ameaça para as espécies nativas (por exemplo, competição por espaços para alimentação ou nidificação ou ainda a hibridação com espécies próximas).
Assim, pela singularidade deste tipo de observações, serão estes os aspectos que acompanharão as imagens de cada uma das aves ilustradas (que não correspondem à totalidade das que estão identificadas como ocorrentes na nossa região).


Ordem Anseriformes

Família Anatidae
(número indeterminado de espécies)


Cygnus olor (Cisne-mudo)













































































































Espécie considerada indígena no noroeste do continente europeu, incluindo as Ilhas Britânicas e o sul da Península Escandinava, mas excluindo a Península Ibérica (onde é apenas considerada uma raridade), estendendo-se pela Ásia até ao seu extremo oriental. Porém, já em várias partes do globo, desde praticamente todo o hemisfério norte até à distante Nova Zelândia, a espécie conta com o estabelecimento de muitas populações ferais, ou seja, oriundas do cativeiro que regressaram à natureza.
Mesmo em estado selvagem, a espécie adapta-se bem à presença humana, pelo que é conhecida como a ave ornamental por excelência. Face a essa característica, é frequentemente introduzida nos lagos dos nossos parques urbanos onde, inclusivamente, se reproduz com facilidade.
Então, considerando este facto e o de que as populações setentrionais têm o hábito de migrar para climas mais amenos a sul, após a época de nidificação, permanece a dúvida quanto à classificação (de selvagens ou de ferais) do pequeno bando de seis Cisnes-mudos que ocorreu no Estuário do Cávado entre Outubro de 2003 e o restante período de Inverno, os dois espécimes que voltaram em Setembro de 2004 e os meses seguintes e, finalmente, supostamente os mesmos dois, que regressaram em Setembro de 2005 – observações sujeitas a homologação pelo CPR.
De salientar que as aves em apreço, ao contrário daquilo que estamos habituados quando as visitamos nos jardins públicos, reservavam sempre uma distância nunca inferior a 20 metros quando tentava aproximar-me.
A espécie está assinalada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (LVVP) como nidificante em semi-liberdade.


Cygnus atratus (Cisne-negro)
























Em estado selvagem esta espécie, sem hábitos migratórios, ocorre quase exclusivamente no outro lado do mundo pela Austrália e Nova Zelândia, contudo, é usada frequentemente para fins ornamentais em jardins particulares ou em parques urbanos um pouco por todo o planeta. Portanto a presença de três espécimes destes pela marginal de Fão entre Setembro e Outubro de 1999 e em entretanto em 2007, deve ser sempre encarada como um exotismo em fuga ao cativeiro.


Branta leucopsis (Ganso-de-faces-brancas)























































Em Outubro de 2005 surgiu junto à marginal de Fão um tímido indivíduo desta espécie que paulatinamente, ao longo de alguns meses, foi permitindo a aproximação dos transeuntes. Com o passar dos anos, foi a própria ave que começou a procurar as pessoas que se abeiravam da margem para alimentarem os “primos” patos. Portanto, esta seria uma ave domesticada evadida de algum lago de jardim.
Devo referir no entanto que as origens geográficas desta espécie, congénere do já apresentado como acidental Ganso-de-faces-negras, não são muito longínquas, coincidindo as suas áreas de distribuição durante o Inverno pelas Ilhas Britânicas e pontualmente pelo noroeste do continente europeu. Além disso, a SPEA atribui-lhe a classificação de raridade em Portugal, não sendo, portanto, de excluir a hipótese de ocorrerem irregularmente na região indivíduos desta espécie na condição de acidental, no entanto, essas observações estarão sempre sujeitas a homologação pelo CPR.


Tadorna ferruginea (Pato-ferrugíneo)









































































Esta espécie, constante no Anexo A-I da Directiva Aves, está classificada no LVVP como regionalmente extinta mas, em simultâneo, também como reprodutora no continente. Por sua vez, a SPEA atribuiu-lhe o estatuto de raridade, ainda que o IUCN considere o grau de ameaça global sobre as suas populações com pouco preocupante. Por fim, ainda consta na lista de aves referenciadas para o PNLN.
Assim, não foram de estranhar todas as dúvidas que se me levantaram quando em Novembro de 2000 vi surgir uma fêmea desta espécie que se manteve no nosso estuário durante todo aquele Inverno até Março de 2001. Devo referir porém que este exemplar, que frequentava sobretudo a área norte do sapal, nunca se aproximava das zonas marginais do Cávado, evitando permanentemente a presença de humanos por perto, comportando-se portanto como uma ave em estado selvagem. Desde então, jamais a vi por estas paragens, até que em Maio de 2006 ocorreu outro indivíduo desta espécie, mas numa zona totalmente distinta da primeira, ou seja, na já muitas vezes indicada marginal de Fão, onde se agregou até ao Verão seguinte à mescla de anatídeos que por ali “estacionam”. Desta vez, a ave (que corresponde à que aparece nas fotos) tolerava-nos com naturalidade, deixando transparecer as suas óbvias origens domésticas.
Quanto à distribuição desta espécie pelas áreas mais próximas do globo, há a referir que é considerada nativa na Turquia e na Grécia e que algumas populações invernam no Parque Nacional de Donhana no extremo sul de Espanha.
Para concluir os apontamentos sobre estas aves, e seja qual for a proveniência da primeira que aqui mencionei, deve ser salientado que todas as observações desta espécie encontram-se sujeitas a homologação pelo mencionado CPR.


Cairina moschata (Pato-mudo)



































Assim como no lado de cá do Atlântico, desde tempos imemoriais, nos dedicamos à criação do Pato-real como ave de capoeira, os povos primitivos da América do Sul domesticaram o Pato-mudo. Com a chegada dos europeus àquele continente, logo a espécie se distribuiu em larga escala por todo o planeta para fins alimentares e também ornamentais.
A sua área de distribuição natural cinge-se ao Novo Mundo, portanto, aqueles que vemos pela marginal de Fão não são mais do que indivíduos ali largados com propósitos meramente decorativos.
A espécie está assinalada no LVVP como nidificante em semi-liberdade.


Alopochen aegyptiacus (Ganso-do-egipto)















































































Em Dezembro de 2002 ocorreu um indivíduo desta espécie na zona norte do sapal, o qual não deverá ter permanecido nestas paragens por muito tempo, pois logo deixou de ser avistado. Entretanto, desde o Verão de 2005, são frequentemente avistados vários exemplares na marginal de Fão ao longo de todo o ano e até ao número máximo de seis.
Embora seja nativa da vizinha África e já tenha sido introduzida no Reino Unido há mais de quatro séculos, segundo dados da SPEA, as observações desta espécie no nosso País não devem ser sequer consideradas raridades.
Assim, os indivíduos das fotos, obtidas nos vários cais de Fão, devem ser vistos como exotismos em fuga ao cativeiro. É conveniente esclarecer contudo que quando me refiro a “cativeiro”, particularmente se falamos de anatídeos, não significará que as aves estiveram enclausuradas, aliás, neste caso específico é habitual a sua introdução nos lagos dos jardins públicos ou particulares gozando de relativa liberdade.


Aix sponsa (Pato-carolino)






































Indígena na América do Norte, parte da Central e Caraíbas, este pato de coloridos padrões exuberantes foi amplamente adoptado pelos europeus para embelezar os seus jardins. Portanto, o casal desta espécie que fez da zona ribeirinha fangueira a sua casa até ao Verão de 2006 é seguramente um exotismo em fuga ao cativeiro.
De qualquer forma, não queria deixar de referir que, conforme podem ver numa das imagens, no ano em que os adultos deixaram de ser observados no nosso rio, ainda permaneceu por cá um juvenil até Agosto (na linha de água entre o Cortinhal e o Caldeirão), todavia, desconheço se este caso foi resultado de um episódio de nidificação na nossa região.
Existe literatura que se refere ao estabelecimento de populações selvagens no Reino Unido, a partir de aves oriundas do cativeiro, do congénere Pato-mandarim (Aix galericulata).


Anas sibilatrix (Piadeira-do-chile)





































Ave exótica na Europa de ocorrência exclusiva às regiões mais austrais da América do Sul.
As fotos que acompanham o texto foram obtidas nos cais de Fão em Agosto de 2008.


Anas bahamensis
(Pato-das-bahamas)






































Espécie natural da América do Sul, Estados Unidos da América, Gronelândia e Caraíbas. A ocorrência no continente europeu, onde é exótica, deve-se certamente a fugas ao cativeiro.
As fotos que acompanham o texto foram obtidas nos cais de Fão em Outubro de 2004 e em Junho de 2006.


Lophodytes cucullatus (Merganso-capuchinho)
























































Lamento desiludir alguns dos menos esclarecidos apreciadores da fauna ribeirinha de Fão, mas efectivamente a ocorrência, desde Agosto último, de uma fêmea desta espécie no Cávado não deverá passar de mais um exotismo da mesma ordem das que ultimamente apresentei. A área de distribuição natural destas aves limitar-se-á à metade norte do continente americano, incluindo o istmo central, as Caraíbas e ainda a Gronelândia. Os muitos espécimes que se assilvestraram por esta Europa fora, terão escapado dos inúmeros locais de criação para fins ornamentais.