sexta-feira, 29 de maio de 2009

ORNITOLOGIA (parte XVI)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Ainda antes de avançarmos definitivamente para os Passeriformes, ficamo-nos por alguns dos “inquilinos” mais frequentes dos buracos das árvores, em especial das menos viçosas e que, fazendo uso de bicos poderosos, animam as nossas caminhadas pela floresta com os seus toques na madeira oca em ritmos ágeis só ao alcance dos percussionistas mais experimentados, além de emitirem aquelas vocalizações ”cómicas” que já foram motivo para divertidos desenhos animados – os Pica-paus.


Ordem Piciformes

Família Picidae

(três espécies)


Jynx torquilla (Torcicolo)

1 – (Estatuto de conservação) Informação insuficiente;
2 – (Quando observar) Entre os anos de 1998 e 2003, durante o mês de Setembro, foi verificada a ocorrência de um indivíduo que permanecia por cá poucos dias (suponho que em migração de passagem); a única excepção ocorreu em 1999 quando foi visto também apenas um espécime mas no final de Março;
3 – (Abundância) Ocasional ou acidental;
4 – (Espécies parecidas) Apresenta um padrão malhado como o Pardal, mas a sua silhueta mais corpulenta assemelha-se mais com uma “Toutinegra”; de qualquer modo, se observada com atenção na sua postura habitual (ver a seguir), as listas negras que se prolongam pela parte superior e na cabeça, que lhe dão uma aparência muito própria, facilitam a sua identificação;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Embora a ave seja da família dos pica-paus, frequentadores habituais dos ramos e troncos das árvores, é encontrada com menor dificuldade rente ao solo por entre a vegetação rasteira, sobretudo junto a formigueiros a alimentar-se muito discretamente; de salientar que os espécimes ou espécime isolado que observei foi sempre localizado numa zona muito restrita situada ao lado do passadiço que contorna as traseiras do Hotel do Pinhal, não muito longe do actual miradouro, onde abundam colónias de formiga preta;
6 – (Tolerância à nossa presença) Parecem tímidos; logo que se apercebem da nossa aproximação, torcem o pescoço (daí o nome) e fogem rapidamente para uma árvore onde “desaparecem” camuflados;
7 – (Outros dados de interesse) Devido à capacidade que têm de passarem despercebidos perante os nossos olhos, ser-nos-ia muito útil conhecermos a vocalização característica da espécie para melhor detectarmos a sua presença por entre a folhagem das árvores em que se escondem.


Picus viridis (Peto-verde)























1
– Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Nenhuma;
5 – É relativamente frequente avistá-los, sobretudo isolados, ao longo de toda a margem esquerda do Cávado nas mesmas circunstâncias referidas para a espécie anterior, desde o juncal em torno do mesmo miradouro até ao clube náutico e também desde o relvado adjacente à pousada da juventude até à zona do Caldeirão; além disso, ainda se distribui amplamente por todo o pinhal, em particular próximo de clareiras, campos agrícolas ou mesmo áreas ajardinadas;
6 – Tímidos, contudo, não raras vezes, se formos discretos, aproximam-se e por breves instantes permanecem imóveis a fitar-nos, como que a avaliarem o grau de ameaça que lhes representamos, após isso, fogem de imediato para bem longe até se ocultarem por entre o arvoredo mais próximo ou na vegetação rasteira num ponto bem afastado;
7 – A cor verde predominante das suas penas favorece-o ao mantê-lo bem disfarçado quando se encontra junto ao solo a alimentar-se demoradamente, mas em contra-partida, enquanto se movimentam nos ramos dos pinheiros ou a treparem os seus troncos numa trajectória tipo parafuso, são facilmente detectados, tanto mais que quando o fazem costumam emitir vocalizações bem audíveis e prolongadas que lembram risadas bem-dispostas.


Dendrocopus major (Pica-pau-malhado-grande)























1
– Pouco preocupante;
2 – Residente;
3 – Comum;
4 – Nenhuma;
5 – Na floresta (em particular onde abundam árvores menos sãs, como no pinhal da restinga, por exemplo) ou nos jardins mais tranquilos, frequenta quase exclusivamente os troncos das árvores que “pica” à cata de suculentas larvas de insectos; nos meses mais frios, que coincidem com a redução deste recurso, é mais comum vê-los incansáveis a bicar pinhas para lhes extrair as nutritivas sementes; ainda se fazem anunciar pelo som das suas vocalizações e tamboriladas características que se propagam pelo pinhal por muitas centenas de metros; também trepa os troncos do mesmo modo que o Peto-verde (em parafuso), num aparece/desaparece que nos deixa confusos enquanto tentamos adivinhar onde vão surgir a seguir; quando a ave nota a nossa presença torna-se curioso perceber que, mantendo sempre o corpo oculto, vão espreitando de um lado e do outro num autêntico jogo das escondidas;
6 – Muito tímidos e desconfiados, pelo que para favorecer as possibilidades de se aproximarem de nós (nunca nós deles), deveremos ter conhecimento prévio dos locais que frequentam com maior regularidade, assim, devidamente camuflados, podemos esperar que a sorte os “traga” até junto de nós; dificilmente param, reduzindo ainda mais as oportunidades de registo fotográfico;
7 – No seio do pinhal de Ofir estão instalados muitos postes telefónicos antigos em madeira e é raro encontrar algum que não esteja escavado por estas aves.