sexta-feira, 22 de maio de 2009

GESTOS

Neste ano em particular não podia deixar de aqui assinalar o 22 de Maio – Dia Internacional da Biodiversidade – não por ser especial simpatizante de dias comemorativos, mas em virtude de em 2009 a data ser dedicada a um tema que considero muito oportuno – “As Espécies Exóticas Invasoras” – cuja acção nefasta, sobretudo das acácias e dos chorões-das-praias, tanto tem depauperado a muito valiosa Diversidade Biológica da nossa região (lembro que onde surgem estas espécies não indígenas nunca se desenvolvem quaisquer outras comunidades vegetais).

Assim, convoco-vos para uma singela reflexão sobre dois exemplos paralelos que demonstram com nitidez a importância dos pequenos gestos.

No início deste mês prendeu-me a atenção uma pertinente intervenção no meu jornal diário, o Novofangueiro, claro, na qual se exortava à acção colectiva da população para embelezar a área residencial da minha terra com janelas e varandas floridas. Para estimular esse exercício de cidadania activa dos meus conterrâneos, o autor do texto socorreu-se com perspicácia daquela história sobre a salutar vaidade de uma senhora que, num qualquer bairro como tantos outros, colocou à janela um vaso com flores, contagiando por essa via a ambição das vizinhas em fazer sucessivamente melhor, o que resultou na transformação de “uma rua cinzenta e triste” num local aprazivelmente colorido.

Imediatamente, não pude deixar de notar a curiosa analogia entre esta imagem e algo que já estava a ocorrer, não num lugar distante ou fictício, mas precisamente no nosso torrãozinho. Conforme o que também foi noticiado no mesmo jornal, os associados da Assobio têm desenvolvido acções de controlo das infestantes acácias, por cá ainda conhecidas por austrálias (Acacia logifolia), que perigosamente, dado serem uma das maiores ameaças à biodiversidade, proliferam pela margem esquerda do Cávado. Com os seus modestos recursos, a intenção daquela associação, além do combate efectivo ao problema, centra-se sobretudo em dar resposta às orientações da União Internacional para a Conservação da Natureza que alertam para a necessidade de mais e melhor informação, sensibilização e educação da população sobre este tema ainda desconhecido de muitos.

Então, à medida que aquela acção foi ganhando alguma visibilidade, pelo consequente impacto na paisagem, logo foi despertada a curiosidade na vizinhança que se questionou sobre os objectivos daquela conduta que já tinha, mais do que o aval, o próprio apoio prévio do Parque Natural. Em resposta, foi sendo transmitido que para lá dos benefícios directos no equilíbrio ambiental, ainda havia a considerar o interesse nada negligenciável e barato em aproveitar a lenha resultante daquele abate para as nossas lareiras ou churrasqueiras domésticas. Atiçada a desejável cobiça, prontamente surgiram os primeiros interessados, seguidos por outros e, esperamos, por outros ainda que, sucessivamente contagiados pelo gesto inicial, contribuam na luta contra esta ameaça à biodiversidade, transformando uma “floresta” monótona e enfadonha num mosaico fecundo de comunidades de vida variada.






NOTA: Da última vez que neste espaço abordei directamente o tema «biodiversidade», ilustrei o texto com uma colorida forma larvar da borboleta Papilio machaon, obtida na Mata de Folhosas e Pinheiro localizada na ameaçadíssima área florestal entre Fão e Apúlia. Aqui podemos ver a larva da Borboleta-das-eufórbias (Hyles euphorbiae) da família das Esfinges (Sphingidae), ainda comum nos nossos sistemas dunares e intimamente dependente da existência de plantas do género das Eufórbias de que se alimentam. Ora, como o habitat onde estas espécies vegetais se desenvolvem está a ser substituído a um ritmo vertiginoso por Chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), será de esperar o rápido abandono desta borboleta que, enquanto parte considerável da dieta dos Noitibós (ver o post anterior), também fará com que estas aves desapareçam dos nossos céus crepusculares…