domingo, 12 de abril de 2009

ORNITOLOGIA (parte XI)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Com certeza que aqueles que me acompanham desde o início neste “ensaio sobre observação de aves” e que estão minimamente familiarizados com a literatura ou estudos da especialidade, esperarão que neste momento, conforme a sequência convencionada, me dedique às famílias das aves vulgarmente chamadas de Limícolas (Borrelhos, Pilritos, Maçaricos e afins) pertencentes à segunda maior ordem de espécies que ocorrem nesta região, os Charadriiformes, onde também se incluem os já aqui referidos (na parte III) Moleiros e Alcídeos.
Todavia, em virtude de (a título meramente pessoal) considerar as Aves Limícolas como o ex-líbris da avifauna local e, nesse sentido, querer reservá-las para a conclusão deste trabalho, optei por não respeitar a dita sequência normal, seguindo, desta feita, pelas suas “primas” ainda da mesma ordem e que também nos são muito familiares nestas paragens: - as assíduas e omnipresentes Gaivotas.
Compreendo que para os mais distraídos relativamente a estas coisas das aves, aqueles densas concentrações de gaivotas pelas “ilhas” que se vão estendendo pelo curso final do Cávado ou ao longo da linha de costa pelas praias, devem constituir algo de muito monótono, repetitivo e entediante. Mas se porventura tivéssemos a real noção da variedade de espécies que ali podem estar presentes ou o significado das diferentes plumagens que os vários exemplares vão apresentando, certamente que apreciaríamos aquele cenário com outra sensibilidade e interesse.
Assim, deixo a seguir uma modesta contribuição para que, da próxima vez que se depararem com uma colónia de gaivotas, consigam interpretar o que está diante dos vossos olhos e as contemplem com as devidas atenções.


Ordem Charadriiformes

Família Laridae

(cinco espécies)


Larus ridibundus (Guincho)

















































































































































1 – (Estatuto de conservação) Pouco preocupante;
2 – (Quando observar) Embora sejam mais numerosos no Inverno, podem ser observados indivíduos migradores ao longo de todo o ano com relativa abundância, notando-se um decréscimo a partir de Abril e um claro aumento de afluência a partir de Setembro;
3 – (Abundância) Comum;
4 – (Espécies parecidas) De entre aquelas espécies que aqui vão ser abordadas e que, como está referido logo no início, são simplesmente aquelas cuja presença já confirmei pessoalmente na área em estudo, não existe qualquer outra que se lhe assemelhe, no entanto, está indicada na «Lista de espécies de aves referenciadas para o PNLN» (fonte ICNB) a rara Gaivota-de-cabeça-preta, também conhecida por Gaivota-do-mediterrâneo (Larus melanocephalus), que no aspecto geral apresenta características praticamente idênticas (consultar guias);
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Distribui-se amplamente por todo o estuário, praias, mar, zonas urbanas adjacentes e também campos agrícolas, nomeadamente do lado de Gandra, onde é habitual acompanharem os tractores dos agricultores enquanto estes lavram as terras;
6 – (Tolerância à nossa presença) Em todas as circunstâncias atrás expostas parecem ignorarem ou não se incomodarem com a presença humana, sendo muito permissivas à nossa aproximação, especialmente se lhes oferecermos algum alimento que estão sempre prontos a aceitar; não será difícil obterem-se fotos com qualidade muito superior às que aqui exponho e em poses bem mais graciosas;
7 – (Outros dados de interesse) A plumagem desta ave evolui ao longo do ano; após o primeiro Inverno de vida, fase em que o padrão das penas se resume a uma pintalgado confuso em tons de cinzento acastanhado, e ainda que também se verifiquem outras alterações na coloração das suas penas, a mais evidente é a que ocorre desde o final do mês de Fevereiro, quando começa a apresentar um “capuz” castanho-escuro por toda a cabeça quase até à nuca, o qual vai desaparecendo com a chegada do Inverno até ficar reduzido a uma simples pinta na parte de trás de cada olho (ver na última foto essa transformação bem ilustrada).


Larus canus (Gaivota-parda)






































1 – Não consta no LVVP; pouco preocupante (IUCN);
2 – Invernante; podem ser vistos principalmente a partir de Novembro até Janeiro;
3 – Rara;
4 – Para efeitos de comparação ou identificação, será com dificuldade que encontraremos uma família de aves que justifique tanto o recurso a guias da especialidade como a das gaivotas, portanto, e como não é meu objectivo fazer aqui uma apresentação muito exaustiva das características específicas de cada uma delas, as advertências que adiantarei permanecerão sempre francamente insuficientes; neste caso em particular, há a assinalar parecenças com as substancialmente maiores Gaivotas-de-patas-amarelas e Gaivota-de-asa-escura, principalmente no caso dos imaturos quando as suas plumagens não vão muito além de um sarapintado cinzento acastanhado aparentemente sem padrão; além desta óbvia diferença de tamanhos, devo também deixar referido que, de entre as gaivotas de bico amarelo, esta é das poucas cujo adulto não apresenta a pinta vermelha na mandíbula inferior;
5 – Estuário e praia onde se misturam por entre os bandos de outras gaivotas;
6 – Sobretudo aqueles espécimes que frequentam a zona ribeirinha de Fão, parecem ignorarem ou não se incomodarem com a nossa aproximação, mantendo-se perfeitamente ao alcance para umas boas “macros”;
7 – Tal como os Guinchos, no primeiro Inverno ainda não está desenvolvida a plumagem de adulto e é só a partir do segundo que a cabeça começa a perder aquele “tingimento” acinzentado até ficar totalmente branca, enquanto a coloração das asas acompanha esta evolução até ficar com um cinzento “liso”.


Larus cachinnans (Gaivota-de-patas-amarelas)























































1 – Pouco preocupante;
2 – Residente, embora se perceba um aumento significativo no Inverno;
3 – Abundante;
4 – Considerar o que está mencionado em igual número da espécie anterior; os juvenis ou imaturos desta espécie (na tal fase “sarapintada”) podem ser confundidos com os da Gaivota-parda (de menores dimensões), da Gaivota-de-asa-escura (ligeiramente mais pequena), ou ainda da Gaivota-grande (notavelmente bem maior), no entanto, nestes dois últimos casos percebem-se perfeitamente os tons bem mais escuros da parte superior; na fase adulta, o cinzento-claro do dorso e das asas também as distingue bem do cinzento-escuro ou quase preto destas duas espécies;
5 – Frequenta principalmente as praias e o estuário mas também todas as outras zonas naturais, semi-naturais e mesmo as densamente humanizadas, pois, sendo omnívoras oportunistas, associam-se com facilidade ao homem, aproveitando-se dos respectivos detritos orgânicos ou lixos que lhes podem servir como alimento (ainda que, naturalmente, não seja essa a sua dieta original);
6 – Quase podemos afirmar que só falta entrarem-nos pela casa adentro, tal tem sido o sucesso da sua expansão e adaptação ao homem e aos seus edifícios (p.ex. infra-estruturas portuárias, pontes, telhados); e quem nunca viu uma concentração de gaivotas a perseguir os barcos de pesca ou a atirarem-se às buchas de pão lançamos ao rio?;
7 – Certamente já viram imagens desta ave à qual lhes são atribuídos outros nomes científicos como Larus argentatus, Larus michahellis ou ainda Larus cachinnans michahellis, entre outros; não querendo intrometer-me na polémica entre biólogos, considero importante deixar aqui esclarecido muito resumidamente que a Larus cachinnans é uma subespécie da Larus argentatus que possui as patas rosas; sendo mais rigoroso, em Portugal Continental podemos observar a subespécie Larus cachinnans lusitanicus; também já aqui me referi a particularidades da evolução da plumagem desta espécie, mas convém acrescentar que a passagem de juvenil para adulto é ainda mais gradual do que as duas anteriores, pois esta apenas atinge a maturidade por volta do quarto ano de vida, depois de sucessivas alterações de padrões intermédios cada vez mais claros.


Larus fuscus (Gaivota-de-asa-escura)






















































1 – Pouco preocupante;
2 – Principalmente invernante, mas também ocorre por cá durante o Verão depois de um acentuado decréscimo durante a Primavera, altura em que a sua presença se resume praticamente a imaturos e indivíduos em migração;
3 – Abundante mas em menor número que a Gaivota-de-patas-amarelas;
4 – Considerar o que está mencionado em igual número da espécie anterior;
5 – Podem ser observadas a sobrevoar todas as povoações litorais, ou ainda pousadas pelos areais das praias marítimas e fluviais e também não se coíbem em frequentarem meios mais humanizados;
6 – Parte significativa dos seus indivíduos permite com relativa facilidade que nos aproximemos, enquanto descansam permanecendo expectantes;
7 – Na Europa existem três subespécies – L.-f.-fuscus, L.-f.-intermedius e L.-f.-graellsii, sendo esta última a mais comum no nosso País; o adulto em plumagem de Inverno apresenta estrias de cor escura bem marcadas a partir da cabeça e prolongando-se pelo pescoço até ao peito; ao inverso dos juvenis da Gaivota-de-patas-amarelas, até atingirem a plumagem de adulto, o padrão malhado, embora semelhante, vai-se tornando cada vez mais escuro com as partes inferiores mais brancas.


Larus marinus (Gaivota-grande ou Gaivotão-real)
1 – Não consta no LVVP; pouco preocupante (IUCN);
2 – Invernante;
3 – Rara;
4 – Ter atenção às espécies atrás mencionadas anteriormente, especialmente a mais pequena Gaivota-de-asa-escura;
5 – Esporadicamente, naquelas formações de gaivotas que em linha se estendem pelas “línguas” de areia nas praias ou no estuário, com auxílio de binóculos, apercebemo-nos de um ou outro espécime com as asas muito escuras substancialmente maior que as restantes, nestes casos, poderemos estar perante um exemplar da espécie em apreço que, como foi dito, muito dificilmente se distingue das suas congéneres; com ajuda de um telescópio podem ser avistadas em maior número ao longo da linha do horizonte no mar, todavia, nestas circunstâncias, se não dispusermos de termo de comparação por perto (p.ex. uma Gaivota-de-asa-escura), a tarefa de identificação será ainda mais complicada;
6 – Nas escassas ocorrências que registei, nunca me foi possível aproximar de uma destas aves, o que, aliás, apenas me estaria acessível se naquele momento pudesse recorrer a uma embarcação;
7 – Nada a acrescentar.