“Não está na natureza dos seres humanos serem frangos em esplêndidos aviários. Cada pessoa merece poder deslocar-se facilmente de e para o mundo complexo e primordial em que nasceu. Precisamos de ter a liberdade de deambular por terras que não são de ninguém mas que são protegidas por todos, cujos horizontes inalterados sejam os mesmos que delimitavam o mundo dos nossos antepassados milenares. Só naquilo que resta do Éden, fervilhando com formas de vida independentes de nós, é possível experimentar o tipo de maravilhamento que moldou a psique humana na sua origem.”
Enquanto me deleitava com a leitura de «A Criação» de E. O. Wilson, não pude deixar de me questionar se no cantinho do planeta que me foi destinado (e que também escolhi) para viver ainda subsistiriam territórios, nem que fossem apenas fragmentos, onde pudéssemos vadiar em absoluta liberdade, tal como o autor aponta no excerto que serve de introdução a esta minha reflexão.
Quis desesperadamente convencer-me que sim e logo procurei identificá-los nos múltiplos cenários que começaram a desfilar perante os meus pensamentos. Foram surgindo alguns candidatos mas não foi difícil eleger aquele que, de certa forma, melhor representava natureza quase virgem e pura vastidão: - a extensa Praia de Ofir no colo quente das suas dunas e refrescada pelo Atlântico. Quem nunca experimentou a deliciosa liberdade de a percorrer só por percorrer, só para a contemplar, só para a sentir, sem fins, sem destino, sem barreiras? Um autêntico luxo ao nosso dispor, sem dono e de todos.
Ou será que não?
Já não são novidade para ninguém os fenómenos erosivos que estão a assolar progressivamente o nosso litoral. As causas naturais perfilam-se como as mais prováveis para justificar avanço do mar, todavia, não será de menosprezar a acção nefasta do homem enquanto agente amplificador deste processo. A comunidade científica não se cansa em avisar-nos de que já não restam dúvidas quanto à sua irreversibilidade, desdobra-se a aconselhar-nos sobre a necessidade urgente de recuarmos na ocupação do litoral e, sobretudo, é clara quando assume que ao afrontarmos o poder da Natureza, edificando nos frágeis e instáveis sistemas dunares, contribuímos para o aumento da vulnerabilidade daquelas formações geológicas que se assumem como o primeiro e mais eficaz travão contra os riscos de catástrofe associados à erosão. Portanto, seria de todo recomendável salvaguardarmos a integridade daquelas barreiras naturais, mantendo tanto quanto possível toda a sua dinâmica de mobilidade das areias, simplesmente retidas pela vegetação nativa, na medida em que essa é a característica fundamental para que nos sirvam de defesa contra os galgamentos oceânicos.
Mas não!
Os invasores do nosso litoral, além de impunes, são ainda privilegiados com o especial aval das autoridades para desvirtuarem toda a ecologia e morfologia costeira com grotescas intrusões visuais completamente ineficazes – estou a referir-me, como já terão notado, àqueles gigantescos sacos de areia que, arriscadamente empilhados na Praia da Sra. da Bonança em Fão, logo cederam às “carícias” das primeiras maresias, expondo-lhes o «aldeamento» ao próprio atrevimento.
No entanto, como por agora (!) a factura da frustração não tem sido paga pelo erário público, mas antes pelos abastados locatários do condomínio fechado, os nossos autarcas vão assobiando para o ar, inocentes. E indiferentes. Indiferentes, quando em concreto toda a população é parte lesada na história e há responsáveis, que não o ICNB, pelo licenciamento daquelas construções.
Senão, vejam.
- Com aquela infra-estrutura não terá sido usurpado o nosso direito à paisagem, entendida como parte integrante do nosso imaginário colectivo?
- Já alguém terá avaliado convenientemente os riscos de deslizamento daquelas areias que, nada consolidadas, estão na iminência de causarem trágicos acidentes pessoais?
- E se, simplesmente, me apetecer fazer uma caminhada pela praia desde Fão até à Apúlia? Não terei, apenas enquanto humilde fangueiro, a legitimidade de o fazer? E por onde, se a passagem me foi vedada?
- Porquê Abril? Para ter o direito de exigir “a liberdade de deambular por terras que não são de ninguém mas que são protegidas por todos”.
Enquanto me deleitava com a leitura de «A Criação» de E. O. Wilson, não pude deixar de me questionar se no cantinho do planeta que me foi destinado (e que também escolhi) para viver ainda subsistiriam territórios, nem que fossem apenas fragmentos, onde pudéssemos vadiar em absoluta liberdade, tal como o autor aponta no excerto que serve de introdução a esta minha reflexão.
Quis desesperadamente convencer-me que sim e logo procurei identificá-los nos múltiplos cenários que começaram a desfilar perante os meus pensamentos. Foram surgindo alguns candidatos mas não foi difícil eleger aquele que, de certa forma, melhor representava natureza quase virgem e pura vastidão: - a extensa Praia de Ofir no colo quente das suas dunas e refrescada pelo Atlântico. Quem nunca experimentou a deliciosa liberdade de a percorrer só por percorrer, só para a contemplar, só para a sentir, sem fins, sem destino, sem barreiras? Um autêntico luxo ao nosso dispor, sem dono e de todos.
Ou será que não?
Já não são novidade para ninguém os fenómenos erosivos que estão a assolar progressivamente o nosso litoral. As causas naturais perfilam-se como as mais prováveis para justificar avanço do mar, todavia, não será de menosprezar a acção nefasta do homem enquanto agente amplificador deste processo. A comunidade científica não se cansa em avisar-nos de que já não restam dúvidas quanto à sua irreversibilidade, desdobra-se a aconselhar-nos sobre a necessidade urgente de recuarmos na ocupação do litoral e, sobretudo, é clara quando assume que ao afrontarmos o poder da Natureza, edificando nos frágeis e instáveis sistemas dunares, contribuímos para o aumento da vulnerabilidade daquelas formações geológicas que se assumem como o primeiro e mais eficaz travão contra os riscos de catástrofe associados à erosão. Portanto, seria de todo recomendável salvaguardarmos a integridade daquelas barreiras naturais, mantendo tanto quanto possível toda a sua dinâmica de mobilidade das areias, simplesmente retidas pela vegetação nativa, na medida em que essa é a característica fundamental para que nos sirvam de defesa contra os galgamentos oceânicos.
Mas não!
Os invasores do nosso litoral, além de impunes, são ainda privilegiados com o especial aval das autoridades para desvirtuarem toda a ecologia e morfologia costeira com grotescas intrusões visuais completamente ineficazes – estou a referir-me, como já terão notado, àqueles gigantescos sacos de areia que, arriscadamente empilhados na Praia da Sra. da Bonança em Fão, logo cederam às “carícias” das primeiras maresias, expondo-lhes o «aldeamento» ao próprio atrevimento.
No entanto, como por agora (!) a factura da frustração não tem sido paga pelo erário público, mas antes pelos abastados locatários do condomínio fechado, os nossos autarcas vão assobiando para o ar, inocentes. E indiferentes. Indiferentes, quando em concreto toda a população é parte lesada na história e há responsáveis, que não o ICNB, pelo licenciamento daquelas construções.
Senão, vejam.
- Com aquela infra-estrutura não terá sido usurpado o nosso direito à paisagem, entendida como parte integrante do nosso imaginário colectivo?
- Já alguém terá avaliado convenientemente os riscos de deslizamento daquelas areias que, nada consolidadas, estão na iminência de causarem trágicos acidentes pessoais?
- E se, simplesmente, me apetecer fazer uma caminhada pela praia desde Fão até à Apúlia? Não terei, apenas enquanto humilde fangueiro, a legitimidade de o fazer? E por onde, se a passagem me foi vedada?
- Porquê Abril? Para ter o direito de exigir “a liberdade de deambular por terras que não são de ninguém mas que são protegidas por todos”.
25 DE ABRIL SEMPRE, INCÚRIA NUNCA MAIS!