terça-feira, 31 de maio de 2011

FLORA DOS SISTEMAS DUNARES DO LITORAL NORTE (Preâmbulo e Introdução)

Preâmbulo
 
Em Maio de 2008, enquanto experimentava as minhas primeiras publicações neste blogue, senti necessidade de aqui expor algumas imagens da flora dunar do litoral norte, como meio de representar uma fracção da extensa lista da biodiversidade que corre graves riscos de desaparecer daqueles habitats naturais devido à acelerada disseminação de espécies vegetais infestantes exóticas.

As parcas palavras com que apresentei o assunto e a modesta qualidade das fotografias apresentadas, que praticamente só eram acompanhadas pelos respectivos nomes científicos e, nalguns casos, os vernáculos, não me faziam admitir, então, o alcance daquele pequeno passo. Os motores de busca desta prodigiosa ferramenta a que chamamos internet haveriam de trazer a esta “página” inúmeros estudiosos ou simples curiosos e apreciadores do mundo fascinante das plantas. Seguiu-se a referência àquele texto ilustrado em estudos mais ou menos elaborados sobre botânica, a constante, enriquecedora e gratificante troca de correspondência com outros interessados em flora ibérica, ainda o convite aceite para colaboração regular numa publicação periódica de dimensão nacional relacionada com a Natureza e a menção de «Verdes Ecos» em diversos sítios da Web e numa rubrica televisiva de cariz ambientalista.
 
Como facilmente se percebe, tudo isto manteve-me ainda mais entusiasmado para investir no desenvolvimento deste projecto pessoal. Mesmo assim, não era minha intenção fixar-me numa abordagem superficial a um tema que me é tão caro. Mantive o objectivo de aprofundar os conhecimentos sobre a peculiar ecologia das comunidades vegetais da nossa faixa costeira, elaborar breves fichas sobre a caracterização de várias das espécies identificadas na região e apresentá-las neste blogue devidamente ilustradas. Mas quando o trabalho de pesquisa já tinha produzido matéria suficiente para publicar os primeiros resultados, em Junho de 2010 é-me dirigido o desafio para os apresentar em forma de “Bilhetes de Identidade” no programa Biosfera da RTP.
 
Depois da exibição de uma série de dez rubricas sobre o referido assunto, com uma pelo meio dedicada ao estuário do Cávado e à sua avifauna, ficou concluída em Abril último a minha participação no referido programa televisivo, pelo que, finalmente, julgo já ser oportuno iniciar a apresentação daquele meu estudo sobre a FLORA DOS SISTEMAS DUNARES DO LITORAL NORTE. A seguir apenas darei lugar à “introdução” mas espero, já a partir de Junho, apresentar aqui uma espécie diferente todos os meses.


 
No final desta introdução estão indicadas as minhas principais referências bibliográficas e fontes de consulta, pelo que nas próximas apresentações mensais remeterei sempre o leitor para esta página.
 
Para qualquer efeito, autorizo a utilização das ilustrações e dos conteúdos apresentados neste e nos próximos textos a publicar sob o mesmo título, desde que a obra seja citada da seguinte forma: Silva, J. A. (2011). Flora dos Sistemas Dunares do Litoral Norte. in www.verdes-ecos.blogspot.com



 
Introdução
 
As costas marítimas em geral e os sistemas arenosos do litoral em particular são meios muito hostis para a vida, tanto a animal como a vegetal. Factores como a constante e acelerada alteração do próprio substrato (instabilidade e mobilidade das areias), a elevada permeabilidade do solo e a sua fraca humidade (pouca disponibilidade de água doce), os altos teores de sal existentes no solo e no ar (acção abrasiva), a luminosidade excessiva (sol intenso), as grandes amplitudes térmicas (temperaturas altas durante o dia e muito baixas à noite), os fortes ventos frequentes da vertente norte (poder de derrube e soterramento) ou a baixa percentagem de matéria orgânica (carência de nutrientes), são adversidades que rivalizam com as condições verificadas nas proximidades estéreis dos vulcões ou gélidas das altas montanhas e das regiões árcticas.
 
Mas estes obstáculos naturais não foram suficientes para evitarem a proliferação da biodiversidade. As plantas, cujos caules e raízes impedem a migração das areias, fixando-as, foram capazes de desenvolverem diversos mecanismos para se adaptarem, colonizarem e formarem os habitats costeiros que comummente conhecemos por dunas.
 
Apesar de um sem número de ameaças de origem antrópica, como a erosão costeira provocada pela subida do nível do mar e pela alteração dos caudais dos rios que deixaram de fornecer sedimentos às praias, o pisoteio e a circulação de veículos com a correspondente destruição directa do coberto vegetal, a invasão de plantas exóticas que cada vez mais ocupam a área da flora autóctone com graves prejuízos para esta e, fundamentalmente, o (des)ordenamento do território que privilegia a edificação em zonas sensíveis, no litoral norte ainda podem ser encontrados alguns habitats naturais de alto valor ecológico, tais como:
 

          - Vegetação anual das zonas de acumulação de detritos pela maré;

          - Dunas móveis embrionárias;

          - Dunas móveis do cordão dunar («dunas brancas»);

          - Dunas fixas com vegetação herbácea («dunas cinzentas»);

          - Depressões húmidas intradunares;

          - Dunas arborizadas das regiões atlânticas («pinhais»).


 
E é no litoral português que se desenvolvem as mais belas dunas cinzentas do continente europeu e com maior variedade de espécies!


 
REFERÊNCIAS:
 
Sistemas Dunares do Litoral de Esposende. Universidade do Minho. Pedro T. Gomes, Ana C. Botelho, G. Soares de Carvalho, 2002. Braga.
 
Plano Sectorial da Rede Natura 2000, Fichas de Caracterização Ecológica e de Gestão (ICNB).
 
Plano de Ordenamento e Gestão do Parque Natural do Litoral Norte – Fase 1 – Parte I: Descrição – Volume III: Caracterização Biológica – Julho 2007.
 
Tipos de vegetação e adaptações das plantas do litoral de Portugal continental. COSTA, J.C. (2001) – In Albergaria Moreira, M.E., A. Casal Moura, H.M. Granja & F. Noronha (ed.) Homenagem (in honorio) Professor Doutor Soares de Carvalho: 283-299. Braga. (UM).
 
El endemismo lusitano de Jasione l. (Campanulaceae) – M.T. Leitão & J. Paiva – 1988 – Centro de Fitossistemática e Fitoecologia do INIC – Instituto Botânico, Coimbra. Portugal.
 
www.biorede.pt/
 
www.asturnatura.com/
 
www.jb.utad.pt/
(Flora Digital de Portugal)