terça-feira, 6 de outubro de 2009

ORNITOLOGIA (2ª. Emenda)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Com o registo de muitas “visitas” sempre aguardadas pelos observadores de aves, algumas habituais mas outras mais inesperadas, lá terminou mais um emocionante mês de Setembro que também já começou a trazer-nos de regresso a avifauna que encontra o necessário acolhimento na “mesa farta” deste estuário e na amenidade do nosso Inverno.

Desta vez, durante as muitas (e “obrigatórias”) saídas de campo pelas margens ou em pleno estuário para acompanhar os movimentos migratórios em curso, dirigi especial atenção para a recolha de imagens que ilustrassem os representantes das limícolas, mas também não pude deixar de aproveitar as circunstâncias para registar outros factos mais relevantes.

Apesar de não terem sido “descobertas” novas espécies desde a última emenda, em «Novos Dados», será feita referência ao reaparecimento de um dos maiores símbolos da nossa avifauna e também será salientada a primeira observação de outra ave, já registada nos limites do Parque Natural, mas nunca nas margens do estuário. Também serão agora publicadas imagens (muito modestas) de quatro espécies que já foram apresentadas mas sem qualquer fotografia a acompanhá-las, outras que apenas vêm melhorar a qualidade das anteriores ou mostrarem detalhes que importa evidenciar e, por fim, e mais uma vez, fotos de duas espécies com indícios de terem nidificado na região.



NOVOS DADOS


Pandion haliaetus (Águia-pesqueira)






































Aqui lembro que (em 15 de Março) quando apresentei esta ave, referi que neste estuário a espécie estava apenas representada, salvo duas excepções muito pontuais e datadas de 2001 e 2003, por apenas um indivíduo invernante que tinha deixado de ser observado no Cávado desde 2007, terminando o respectivo texto com uma advertência para a possibilidade de jamais voltarmos a vê-lo por cá. Nas últimas datas em que foi avistada anotei que, ao contrário do que se tinha verificado nos anos anteriores, a ave fracassava sucessivamente as suas tentativas para capturar as presas (peixe) e, não tendo conhecimento sobre a longevidade da espécie, coloquei a hipótese de tal facto poder estar relacionado com a idade adiantada do animal (já era visto na região, pelo menos, desde 1998) e que isso lhe estaria a diminuir as aptidões. Assim, com a própria sobrevivência em risco, admiti o seu desaparecimento.

Em 18 de Setembro último, como era habitual, pouco antes do final da manhã, eis que toda a avifauna do estuário levantou voo. Desde a margem esquerda, próximo da Pousada da Juventude em Fão, peguei nos binóculos e tentei perceber, por entre os milhares de pontinhos concentrados nas alturas, qual o motivo de tal agitação. Não havia como enganar: - a “nossa” Águia-pesqueira tinha regressado! Desde então, praticamente montei vigília ao estuário colocando-me diariamente próximo da ponte de ferro por onde a águia passava impreterivelmente quando voltava dos planos de água entre o sapal. Mas os dias passavam e aquela visão teimava em não repetir-se, até que no dia 24, pelas 11.30 horas, ali estava ela de novo, imponente e ao alcance da modesta lente da minha máquina fotográfica.
(Apresentação da espécie na Parte VIII.)


Cuculus canorus (Cuco)



















Embora esteja indicada em toda a literatura como uma ave eclética, frequentadora de vários tipos de habitats, no concelho de Esposende nunca tinha registado a sua presença fora dos perímetros florestais ou agro-florestais. Assim, entendo que deve ser assinalada a observação do indivíduo representado na foto (*) obtida na margem direita do estuário pousado numa estaca sobre as águas do Cávado.
( * Apesar da desastrosa qualidade do registo fotográfico, optei por fazê-lo acompanhar estas palavras em virtude da apresentação da espécie, na Parte XV, não ter sido ilustrada. Como quase se percebe, esta imagem foi colhida às 07.45 horas com os primeiros raios de sol a incidirem na face oposta desta ave “sui generis” – dia 21 de Setembro de 2009.)



OUTRAS ESPÉCIES JÁ ENUNCIADAS CUJA APRESENTAÇÃO NÃO FOI ILUSTRADA COM FOTOGRAFIAS


Tyto alba (Coruja-das-torres)



















A óbvia dificuldade em fotografar estas aves (e as suas congéneres nocturnas) justificou uma das duas excepções para que, na respectiva apresentação, esta espécie não fosse acompanhada por uma fotografia, mas antes por uma bela ilustração desenhada pela Sofia.
De qualquer modo, alguns espécimes (pelo menos dois) têm feito incursões diárias na malha urbana de Fão, nomeadamente num espaço arborizado que serve de dormitório a centenas de estorninhos e num campo agrícola adjacente que se estende até ao rio (em torno da Alameda do Bom Jesus). Assim, julgo que com alguma atenção, paciência, persistência e uma boa dose de sorte, serão possíveis muito melhores resultados do que aquele que aqui apresento.
Fica o desafio.
(Apresentação da espécie sem foto na Parte XIV.)


Jynx torquilla (Torcicolo)






































No dia anterior a estes dois míseros registos, supostamente esta mesma ave “posou” para mim a cerca de três metros de distância, bem exposta, demoradamente e com uma luz muito favorável, mas os meus binóculos, único equipamento óptico de que dispunha, ainda não estão equipados com obturador. Depois, no dia 13 de Setembro, já só foi possível encontrar o indivíduo numa atitude bastante mais prudente ao longo da ribeira entre o Cais do Caldeirão e a Pousada da Juventude em Fão.
Saliente-se ainda que não era por mim avistado no estuário qualquer representante desta espécie já desde o longínquo ano de 2003.
(Apresentação da espécie sem foto na Parte XVI.)


Saxicola rubetra (Cartaxo-do-norte)





































Apesar da SPEA a considerar uma ave estival rara em Portugal, aponta-a como migradora de passagem comum. Assim, e tendo sido muito escassos os registos da sua passagem pelo estuário propriamente dito, em Setembro deste ano optei por procurar estas aves em zonas mais próximas de terrenos de cultivo, nomeadamente pela vala que acompanha o Cávado ao longo dos campos das Pedreiras em Fão e na margem oposta pelos terrenos agrícolas a jusante da ponte de ferro até aos antigos estaleiros de Esposende. Tanto na primeira zona como na segunda, mas particularmente nesta, foi possível perceber que, de facto, os efectivos que por aqui passam nesta altura do ano não são tão reduzidos como referi no texto de apresentação desta espécie.
Aproveitei também para testar as indicações de que estas aves, à semelhança do Cartaxo-comum e de outros congéneres mais próximos, regressam repetidamente ao mesmo poleiro após as breves investidas na direcção do solo onde se alimentam de insectos. Além da confirmação, a experiência ainda resultou em várias fotografias de qualidade razoável, nas quais incluo estas duas e as do Chasco-cinzento (mais abaixo), obtidas praticamente no mesmo local a partir do interior do meu automóvel que coloquei estrategicamente a servir de esconderijo.
De referir ainda que vários “primos” destes, os Piscos-de-peitos-azul, também se demoraram por ali mas com muito menor ousadia.
(Apresentação da espécie sem foto na Parte XIX.)



ESPÉCIES JÁ ENUNCIADAS CUJA APRESENTAÇÃO FOI ILUSTRADA DEFICIENTEMENTE


Alcedo atthis (Guarda-rios)





























































Este tornou-se quase num ritual iniciático obrigatório no seio dos fotógrafos da natureza amadores. Atrevo-me a dizer que quase deixará de poder ser tratado como tal aquele que não tenha no mínimo um registo razoável desta a quem podemos chamar como a mais fotogénica e exuberante das aves e que na minha terra é mais conhecida pelo sugestivo nome de ‘Pica-peixe’.
Assim, com os primeiros dias de Setembro a trazê-los das zonas de reprodução mais recônditas, finalmente cedi. Fascinado pelos excelentes resultados obtidos por vários amigos destas coisas, segui-lhes os passos e lá aperfeiçoei o meu esconderijo de longa data onde me dispus a permanecer quase imóvel durante o tempo de espera que fosse preciso. E foram precisas quase três longas e pacientes horas para poder experimentar a inebriante sensação de fitar estas pérolas cintilantemente coloridas a menos de dois metros de distância durante mais do que um demorado e proveitoso minuto – inenarrável!
(Apresentação da espécie na Parte XV.)


Oenanthe oenanthe (Chasco-cinzento)























































Na minha humilde opinião as duas imagens (obtidas em Abril de 2009) que acompanham a apresentação desta espécie (em 27 de Junho) não estão mal conseguidas, aliás ambas exibem com relativa nitidez o “manto” acinzentado pelo dorso da ave, prenúncio da aproximação da época reprodutora. Com a exposição destas três fotos (de Setembro último), além de pretender ilustrar a particularidade a que me referi nesta emenda no Cartaxo-do-norte (acima), tenho a intenção de mostrar a ave noutras perspectivas e, acima de tudo, com outra “roupa”, ou seja, a parte superior com a cor arruivada própria da ave em plumagem de Inverno, bem distinta das primeiras. Deste modo, e dirigindo-me em especial aos menos familiarizados com a observação da avifauna, assinalo que, tanto nesta como em muitas outras espécies, as mesmas aves podem apresentar características diferentes conforme a época do ano em que são encontradas, pelo que na escolha de um bom guia de campo deveremos ter sempre este aspecto em consideração.
(Ver comparação na apresentação da espécie na Parte XIX.)


Phylloscopus trochilus (Felosa-musical)























































Além da fotografia que acompanhou a apresentação desta espécie (em 6 de Julho) não estar bem conseguida em termos estéticos, também não é reveladora de alguns detalhes importantes para a sua identificação que, como disse então, não é muito fácil de concretizar. Assim, depois de no passado mês de Setembro ter conseguido registar com muitas fotografias a passagem pelo Cávado de diversos bandos bem compostos destas aves, seleccionei estas três para, analisando as imagens, focar a atenção em alguns pormenores exclusivos e importantes na determinação da espécie, a saber: - logo na primeira foto que, pela intensidade da cor amarela no peito e no ventre, mostra-nos um juvenil, note-se a lista supraciliar (sobre o olho) tão evidente (enquanto na muito parecida Felosa-comum essa marca raramente passa para trás do olho e é, em regra, mais discreta); - depois, nas outras duas imagens, repare-se na tonalidade alaranjada das patas claras (ao passo que na outra congénere as patas são quase sempre negras ou mais escuras).
(Apresentação da espécie na Parte XX.)



ESPÉCIES COM FORTES INDÍCIOS DE TEREM NIDIFICADO NA REGIÃO NA ÚLTIMA ÉPOCA NESTA REGIÃO


Aix sponsa (Pato-carolino)





































Depois de no Verão de 2006 ter sido detectada a presença de um juvenil desta espécie exótica na estreita linha de água entre o Cais do Caldeirão e a Pousada da Juventude em Fão, assinalo desta vez com mais fotos a repetição da observação em Setembro de 2009.
(Não devem ser retiradas daqui conclusões precipitadas).
(Consultar o que está referido na apresentação da espécie em 7 de Março e considerar a hipótese de fuga ao cativeiro).
(Apresentação da espécie na Parte VII.)


Buteo buteo (Águia-de-asa-redonda)










































































Quando apresentei um outro estudo por mim desenvolvido sobre as aves desta região, subordinado ao tema da Nidificação (em 2008), referi que, pelos indícios detectados até então neste concelho, esta espécie seria apenas «provavelmente nidificante» nas encostas dos Montes de Faro e de S. Lourenço e também nalgumas áreas florestais de maior dimensão.
Se querer, por precaução, adiantar-me muito nesta matéria, posso acrescentar que, seguindo a mesma metodologia usada para a elaboração do último Atlas das Aves Nidificantes em Portugal, entretanto foram detectadas novas evidências da reprodução desta espécie num local muito próximo do estuário do Cávado.
(Parâmetro 15 – Ave adulta a sair de local onde existe um ninho (ninhos em sítios altos ou em buracos de conteúdo de difícil observação, ou a incubar).
(Apresentação da espécie na Parte VIII.)