domingo, 18 de outubro de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXIX)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Aves Limícolas (continuação)


Ordem Charadriiformes

Família Scolopacidae
(quinze espécies)
NOTA: Conforme referi na última série publicada, devido à extensão da lista de aves desta Família a ocorrerem na área em estudo, dividi a sua apresentação por três fases. Segue-se a segunda com seis espécies pertencentes a quatro Géneros, o Philomachus, o Gallinago, o Limosa e o Numenius.



Philomachus pugnax (Combatente)



















1 – (Estatuto de conservação) Em Perigo; consta no anexo A-I da Directiva Aves;
2 – (Quando observar) Nos meses de Setembro entre os anos de 1998 e 2000 surgia um indivíduo isolado no estuário e posteriormente só voltou a ser registada a ocorrência de um par que permaneceu por cá alguns dias em Setembro de 2008 (na foto);
3 – (Abundância) Nada a acrescentar; a SPEA considera-os Invernantes raros e Migradores de Passagem comuns;
4 – (Espécies parecidas) A silhueta dos juvenis apresenta algumas semelhanças com a dos também raros Pilritos-de-bico-comprido, dos quais se distinguem principalmente pelo tamanho (nota-se que o Combatente é maior), ainda pela cor das patas e pela dimensão do bico (características apenas observáveis a curta distância); de entre outras espécies de ocorrência regular nesta região, ainda devemos ter alguma atenção às possibilidades de confusão com o Perna-vermelha e o Perna-verde (a apresentar na próxima série), ambos de patas também compridas e o corpo com um aspecto geral e tamanho similares, apesar das diferenças na postura; apenas nesta espécie se podem ver as penas dorsais a levantarem-se como na foto;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Nas poucas presenças registadas neste estuário foram sempre encontrados em lodaçais a descoberto durante a vazante, nos três primeiros anos eram vistos ao longo da marginal do núcleo turístico de Ofir e, no último, pela estreita zona de influência das marés ao longo da zona ribeirinha de Fão entre o Cortinhal e a pousada da juventude;
6 – (Tolerância à nossa presença) Aparentemente, quanto maior é o porte das limícolas mais tímidas se tornam, todavia, no caso particular dos espécimes fotografados, não percebi que manifestassem grande perturbação com a minha aproximação;
7 – (Outros dados de interesse) No mundo das aves grande parte dos machos alterna as cores da sua plumagem mediante a época do ano em que se encontram; o mesmo sucede com muitas limícolas cujas penas adquirem tonalidades mais vistosas conforme nos aproximamos da época nupcial; no caso dos Combatentes essas alterações ainda são mais evidentes, pois desenvolvem penachos de cores variadas na cabeça e pelo pescoço, contudo, infelizmente, esse “espectáculo” só pode ser presenciado nas latitudes onde se reproduzem, mais a norte (não será impossível que num qualquer mês de Março ou Abril passe por aí um macho atrasado mas já devidamente trajado); também de salientar que os machos são substancialmente maiores que as companheiras.


Gallinago gallinago (Narceja)





































1 – A população reprodutora está Criticamente em Perigo, contudo os visitantes têm o estatuto de Pouco Preocupante, constando, aliás, na lista de espécies cinegéticas (caçadas entre 1 de Novembro e 21 de Fevereiro);
2 – Sobretudo Invernantes e Migradores de Passagem; um ou outro espécime pode ser encontrado pelas margens do Cávado ao longo de todo o ano, mas apenas começam a ser vistos em maior número a partir de finais de Agosto até Março ou Abril (raramente em Maio) até que quase deixam de ser avistados em Junho e Julho;
3 – Comuns, apesar de serem extremamente discretas; a SPEA atribui-lhes o estatuto de Invernantes e Migradores de Passagem abundantes e Residentes raros;
4 – Inconfundível com o seu bico desproporcionalmente comprido (ainda existe outra Narceja mais pequena que só muito raramente é encontrada no nosso País);
5 – Frequentam alguns terrenos agrícolas se estiverem alagados mas preferem o estuário que ocupam quase na totalidade; alimentam-se nos lodaçais e abrigam-se por toda a extensão das ervas altas do prado juncal onde são encontradas com maior regularidade; aqui só são detectadas quando, na iminência de serem calcadas, saltam como uma mola para um voo apressado em ziguezague como um míssil acompanhado de uma vocalização áspera e tão característica que facilmente identificamos a espécie sem ter necessidade de olharmos para a ave;
6 – Dificilmente se deixam avistar enquanto caminham ou se alimentam nas lamas do estuário ou nas terras de cultivo, pois têm o hábito de se esconderem quando pressentem o perigo e, além disso, a sua plumagem é muito eficaz a camuflá-las; nos raros encontros com a ave imóvel, esta mantém-se sempre aninhada junto ao solo não proporcionando boas condições para a fotografarmos com sucesso;
7 – Nada a acrescentar.


Limosa limosa (Maçarico-de-bico-direito)





























































1 – Pouco Preocupante;
2 – Migradores de Passagem; partem para norte desde Fevereiro até Abril e regressam em trânsito para o sul do nosso País em Setembro mantendo-se por cá alguns indivíduos até meados de Novembro;
3 – Geralmente comum; enquanto nalguns anos podem ser avistados bandos numerosos, noutros apenas são encontrados alguns espécimes isolados; a SPEA considera-os Invernantes e Migradores de Passagem abundantes;
4 – Em plumagem de Inverno são muito parecidos com os Fuselos dos quais se distinguem em vários aspectos mas, nos casos em que a ave permanece pousada, são quase imperceptíveis mesmo se analisados a uma distância de poucas dezenas de metros; de qualquer forma, em voo, o Maçarico-de-bico-direito exibe uma distintiva barra preta larga na ponta da cauda e barras alares brancas bem visíveis, emprestando-lhe um aspecto geral mais colorido; na plumagem nupcial, com a cabeça e o pescoço “tingidos” de ruivo e o ventre branco, detectável nalguns indivíduos mais atrasados em Abril, torna-se mais fácil diferenciá-los dos Fuselos que nessa altura já apresentam toda a parte inferior do corpo arruivada (ver nesta espécie, já a seguir, a 4ª. imagem);
5 – São incansáveis a perscrutarem os lodaçais do estuário com o bico “gigante” que fazem penetrar profundamente na lama à procura de alimento; as grandes dimensões do corpo e o bico e as pernas compridas fazem com que sejam encontrados sem dificuldade, nomeadamente na margem direita a jusante da ponte de ferro até aos antigos estaleiros, entre canais no sapal ou ainda no lodaçal sob o miradouro da restinga;
6 – Típica ave pernalta muito prudente e sempre alerta que quase nunca permite aproximações inferiores a 20 metros; as dimensões destas aves e o costume que têm de palmilharem as águas rasas junto à margem, favorece quem pretenda fotografá-las;
7 – Nada a acrescentar.


Limosa lapponica (Fuselo)









































































1 – Pouco Preocupante, mas consta no anexo A-I da Directiva Aves; está definida como espécie de conservação prioritária para o Parque Natural do Litoral Norte;
2 – Migradores de Passagem; as datas de ocorrência nesta região coincidem com as do congénere anterior; também pode ser encontrado neste estuário um ou outro indivíduo errante no decorrer dos meses de Inverno;
3 – Comum mas notoriamente mais abundante que o Maçarico-de-bico-direito; por sua vez a SPEA classifica-os como Invernantes e Migradores de Passagem (apenas) comuns (note-se que a outra Limosa é tida por esta organização como abundante, ou seja, numa primeira análise os dados nacionais parecem surgir invertidos em relação à realidade regional);
4 – Ver igual número da ave anterior; quando ambas as espécies se juntam pode notar-se que o Fuselo é ligeiramente mais pequeno;
5 – São avistados em circunstâncias idênticas às da mesma congénere com quem também partilha o habitat;
6 – Comportamento semelhante ao do Maçarico-de-bico-direito;
7 – Não é raro encontrar qualquer uma destas Limosas a formarem bandos mistos com outras limícolas mais pequenas.


Numenius phaeopus (Maçarico-galego)





































1 – Vulnerável;
2 – São principalmente Migradores de Passagem mas também Invernantes; os grandes bandos em trânsito para norte surgem em particular durante os meses de Abril e Maio e regressam para o sul no decorrer de Setembro, por vezes ainda antes em Agosto e mesmo em Julho; o número de indivíduos que se mantêm por esta zona húmida durante os meses de Inverno é muito reduzido;
3 – Comum nos dois períodos migratórios anuais; a SPEA considera-os Invernantes raros e Migradores de Passagem comuns;
4 – Nas observações de campo não é fácil distingui-los dos Maçaricos-reais que são maiores (para perceber esta diferença seria necessário que surgissem dois ou mais indivíduos de ambas as espécies lado a lado, o que nunca presenciei em mais de vinte épocas migratórias); ainda podem ser distinguidos analisando o tamanho do bico, contudo, é através da verificação da presença de listas ao longo da coroa, no M.-galego, ou a ausência dessa característica, no M.-real (ver as imagens) que se torna mais fácil a tarefa de identificar a espécie (nos casos em que for possível o registo fotográfico este método é quase infalível);
5 – Servem-se das margens, dos lodaçais e dos areais abundantes neste estuário para descansarem e restabelecerem forças nas suas longas odisseias entre o norte da Europa e o continente africano; aparentemente não se demoram muitos dias na região mas os seus bandos, por vezes bem compostos, sucedem-se uns após os outros durante várias semanas, anunciando a passagem com sonoras vocalizações características (trinados ou gorjeios) que emitem enquanto sobrevoam o rio e as praias à procura de pouso ou refúgio; apesar de também estarem “equipados” com grandes bicos, não sondam tão freneticamente as lamas mais profundas como as duas espécies anteriormente apresentadas, optando sobretudo por usufruírem do tempo para repousarem;
6 – Muito prudentes, raramente permitem aproximações inferiores a uns seguros 20 metros, mas são aves elegantes e de tamanho considerável que nos podem proporcionar alguns registos fotográficos interessantes;
7 – Relativamente à ave acima apresentada em grande plano, deve ser referido que nesta espécie é mais vulgar o bico ser mais comprido do que o deste exemplar, aliás, tal já se nota na imagem das duas silhuetas em voo.


Numenius arquata (Maçarico-real)





































1 – Pouco Preocupante;
2 – Migradores de Passagem e Invernantes ocasionais;
3 – Neste estuário é muito mais escasso que o M.-galego, apesar de serem considerados pela SPEA como Migradores de Passagem e Invernantes comuns; é possível que o número de registos da sua ocorrência nesta zona húmida esteja ligeiramente subestimado devido à possibilidade de serem confundidos com os congéneres anteriores;
4 – Ver igual número do M.-galego;
5 – Também são semelhantes ao outro Numenius no comportamento e na escolha do habitat, contudo, ao contrário dos M.-galegos, que são muitas vezes encontrados em bandos, os M.-reais tem sido sempre observados isolados ou aos pares;
6 – É claramente a ave limícola de compleição mais pesada, com o corpo a atingir quase o tamanho das vulgares gaivotas mas com as patas muito mais compridas; estas características, aliadas ao enorme bico, tornam-na uma ave distinta e fácil de notar; assim, apesar de serem pouco tolerantes à nossa presença, com maior ou menor aproximação, a grande dimensão da ave apresenta-se sempre como um factor favorável a quem pretenda fotografá-la;
7 – Nada a acrescentar.