sábado, 24 de outubro de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXX)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


Aves Limícolas (conclusão)

Ordem Charadriiformes

Família Scolopacidae
(quinze espécies)
NOTA: Conforme referi nas duas últimas séries publicadas, devido à extensão da lista de aves desta Família a ocorrerem na área em estudo, dividi a sua apresentação por três fases. Termino com a terceira, constituída por cinco espécies pertencentes a três Géneros, o Tringa, o Actitis e o Arenaria.


Tringa erythropus (Perna-vermelha-escuro)

1 – (Estatuto de conservação) Vulnerável;
2 – (Quando observar) Em Novembro de 1999 surgiram dois indivíduos desta espécie no estuário onde se mantiveram até ao mês de Janeiro seguinte; desde então apenas foram detectados alguns espécimes isolados em migração pós-nupcial, ou seja, em Agosto, Setembro e Outubro (até ao ano de 2003);
3 – (Abundância) Raro; a SPEA atribuiu-lhe o estatuto de Invernante pouco comum e Migrador de Passagem comum;
4 – (Espécies parecidas) O Perna-vermelha, de dorso acastanhado, é muito parecido mas não é tão esbelto e, apesar do nome, nos períodos em que se encontra entre nós a plumagem da parte superior é cinzenta mais clara; por comparação fotográfica percebe-se perfeitamente o bico mais comprido e fino do P.-v.-escuro apenas com a mandíbula inferior vermelha, ao passo que no outro se nota com nitidez a base vermelha e a ponta escura;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Os poucos indivíduos assinalados foram sempre encontrados no canal que atravessa o estuário desde as traseiras do Hotel do Pinhal até à Estalagem do Parque do Rio, percorrendo as margens lodosas e fazendo incursões água adentro de modo semelhante ao Perna-verde (ver fotos deste);
6 – (Tolerância à nossa presença) Parecem muito tímidos e, caso não houvesse um esconderijo montado na zona que frequentavam, julgo que nem a 50 metros de distância os teria observado;
7 – (Outros dados de interesse) Talvez devido à escassez das duas “visitas” a este estuário, não consta na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte publicada no âmbito do respectivo Plano de Ordenamento.


Tringa totanus (Perna-vermelha)






































1 – A população nidificante está Criticamente em Perigo, mas os visitantes têm o estatuto de Pouco Preocupante;
2 – Migradores de Passagem pré e pós-nupciais e Invernantes ocasionais; estranhamente, até ao ano de 2001, eram observados alguns indivíduos errantes durante o mês de Junho;
3 – Pouco comuns nesta zona húmida em particular; a nível nacional a SPEA considera-os Invernantes e Migradores de Passagem abundantes;
4 – Considerar o que está mencionado em igual número da congénere anterior;
5 – Coincidentes com os Pernas-vermelhas-escuros também nas áreas que frequentam mas mesmo quando são vistos a caminharem pela água, fazem-no sempre muito junto à margem; ainda é vulgar encontrá-los em areais húmidos onde também se alimentam;
6 – Igualmente tímidos;
7 – Nada a acrescentar.


Tringa nebularia (Perna-verde)










































































1 – Vulnerável; está definida como espécie de conservação prioritária para o PNLN;
2 – Presentes neste estuário durante todo o ano mas principalmente nos meses de Inverno;
3 – Comuns mas nunca numerosos; a SPEA também os considera Invernantes e Migradores de Passagem comuns;
4 – Nenhuma outra espécie dificulta particularmente a identificação desta, apesar da sua silhueta ser semelhante à dos dois Pernas-vermelhas acima apresentados;
5 – Pouco gregários; são quase sempre encontrados isolados de outros da própria espécie mas não é raro serem acompanhados por um Maçarico-das-rochas, uma Tarambola-cinzenta ou em redor de um Guincho, por exemplo; pontuam por todo o estuário, sobretudo onde hajam águas rasas nas quais parecem “bailar” com elegância para trás e para diante em perseguição das suas minúsculas presas, por vezes com as asas abertas como as Garças-brancas-pequenas;
6 – Todas as aves do género Tringa são muito vocais quando percebem a nossa aproximação, ou seja, não se limitam a fugir quando pressentem o perigo, afastam-se fazendo ecoar por todo o estuário um alerta muito sonoro que põe todas as restantes “em sentido”; apesar disso e sendo também uma espécie relativamente cautelosa, por vezes os Pernas-verdes concentra-se de tal modo na cata do alimento que, se formos pacientes e discretos, parecem ignorar-nos;
7 – Ao terminar a apresentação do género Tringa, entendo que será interessante fazer-vos acompanhar-me num raciocínio que tive de concretizar quando registei a presença de um bando constituído por mais de dez aves todas iguais que descansavam no areal da restinga do Cávado numa tarde de Setembro em 1999 e que então identifiquei com sendo da espécie Tringa glareola (Maçarico-bastardo); nessa altura coloquei a mim próprio algumas reservas naquele reconhecimento em virtude destas raras limícolas serem muito parecidas com a Tringa ochropus (Maçarico-bique-bique) e a minha inexperiência aliada à modesta qualidade do equipamento óptico ao meu dispor não me permitirem adiantar muitas certezas; alguns dos apontamentos que então registei com toda a segurança foram os de que aquelas aves tinham o corpo de tamanho exactamente igual ao do muito familiar entre nós Maçarico-das-rochas (ver abaixo) mas, além das penas do dorso apresentarem um raiado branco, as suas patas amareladas eram maiores do que as deste; com esta descrição em mente, comparei os guias de aves de que dispunha e restaram-me três hipóteses possíveis de confusão: - a Seixoeira (cujas patas são mais curtas), o juvenil do Combatente (apesar deste ter o corpo maior e os seus tons castanho-claro não serem notados nas aves em análise) e, finalmente, o já mencionado M.-bique-bique (cujas patas são esverdeadas e escuras); desde então, sempre inclinado a confirmar a presença daquela espécie, aguardei por outros períodos migratórios para perceber se se repetiria o episódio, mas jamais isso voltou a suceder, restando-me, deste modo, uma pequena dúvida que em rigor não me permite atestar em absoluto a ocorrência desta espécie na região; o Maçarico-bastardo não consta no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (LVVP) nem na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte mas está confirmado pela SPEA como Migrador de Passagem pouco comum.


Actitis hypoleucos (Maçarico-das-rochas)























































1 – Tanto a população residente como a visitante são Vulneráveis;
2 – São principalmente Invernantes mas também residentes pois são observados pelas margens do Cávado ao logo de todo o ano, contudo, além de se notar uma óbvia diminuição na época nupcial, entre Junho e Julho, nunca foram detectados indícios claros de reprodução nesta região;
3 – Nunca abundam nem formam bandos mas, como são aves conspícuas, tornam-se aparentemente vulgares; a SPEA considera-os Residentes comuns e Migradores de Passagem abundantes;
4 – De entre as espécies de ocorrência confirmada neste estuário nenhuma se assemelha a esta mas, ainda assim, devem ser consideradas as que estão referidas no número 7 da ave anterior; ver também a seguinte;
5 – Observa-se frequentemente a caminhar pelas margens do rio ou ali parada em cima de um pequeno calhau ou tronco a balançar constantemente a cabeça e a cauda para cima e para baixo; por vezes são vistos nas praias nomeadamente onde hajam rochedos ou algum quebra-mar; também surgem com muita regularidade nos cais das faixas ribeirinhas de Fão e de Esposende; bem distribuídos por todas estes locais;
6 – Sobretudo naquelas zonas mais urbanizadas aproximam-se de nós sem grandes cautelas (mas qualquer ave aprecia que sejamos discretos);
7 – À semelhança do que já referi com o Pilrito-comum, também é muito útil ter memória das dimensões desta ave tão familiar que assim pode servir-nos de espécie padrão quando comparamos no meio natural outras menos habituais por estas paragens.


Arenaria interpres (Rola-do-mar)













































































































1 – Pouco Preocupante;
2 – Sobretudo Migradora de Passagem pré-nupcial (Abril e Maio); apesar disso não deixa de ser vulgar o trânsito para sul de várias aves a partir de Agosto mas principalmente em Setembro; ainda há uma pequena população Invernante, pois, nos meses de Novembro até Janeiro, também é possível encontrarem-se alguns indivíduos no estuário mas nesta altura distribuem-se mais pelas praias marítimas;
3 – Comuns mas já houve anos (o Inverno de 2001, por exemplo) em que os seus bandos foram abundantes; a SPEA define-as como Invernantes comuns e Migradores de Passagem abundantes;
4 – Se as patas estiverem “mergulhadas” na água ou ocultadas por um qualquer obstáculo, poderá ocorrer a muito remota possibilidade do juvenil ou do adulto em plumagem de Inverno ser confundido com o Maçarico-das-rochas com o qual partilha um característico “babete” bem desenhado mas, com um mínimo de experiência, logo se dissiparão quaisquer dúvidas; para lá disso, e sobretudo em plumagem de Verão, é inconfundível;
5 – Incansável a percorrer as margens do Cávado, em particular a direita, onde não pára de revolver habilmente pedras, paus e algas acumuladas na linha das marés sob as quais cata pequenas presas; comporta-se de igual modo nas praias e não é raro ser encontrada nas marginais artificializadas de Fão e Esposende;
6 – Relativamente tolerantes à nossa aproximação e muito fotogénica em plumagem estival; é costume vê-las a menos de meia dúzia de metros de distância em perseguição dos “apanhadores de isca” a bisbilhotarem as covas deixadas abertas por estes (quase como as Garças-boieiras fazem em relação à passagem do gado ou dos tractores agrícolas);
7 – As duas últimas fotos correspondem a indivíduos em “traje” nupcial.