quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ORNITOLOGIA (parte XXIV)

OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado



Ordem Passeriformes

Família Passeridae

(duas espécies)


Passer montanus (Pardal-montês)





































1 – (Estatuto de conservação) Pouco Preocupante;
2 – (Quando observar) Residente, mas o número de registos de ocorrências flutua significativamente de uma época para a outra ou mesmo entre anos consecutivos; tendem a ser mais facilmente avistados durante a Primavera;
3 – (Abundância) Pouco comum;
4 – (Espécies parecidas) Distingue-se do Pardal-comum, com o qual partilha muitas afinidades, principalmente por apresentar a coroa castanha e pela pinta preta nas faces;
5 – (Habitat e circunstâncias em que se observam) Associam-se frequentemente aos bandos de Pardais-comuns (motivo pelo qual passam muitas vezes despercebidos), podendo mesmo surgirem nos nossos jardins e parques arborizados, mas é mais vulgar encontrá-los em meios de maior influência rural com a presença de árvores e menor pressão urbana; apresentam-se, assim, como bons locais de observação, por exemplo, a orla da mata de pinheiro e folhosas entre Fão e Apúlia e ambas as margens do estuário, pelos campos de cultivo de Gandra, ao longo do pinhal em Ofir e também na área agrícola das Pedreiras em Fão;
6 – (Tolerância à nossa presença) Apesar de reservarem sempre uma distância mínima de uns dez metros, são relativamente pouco tímidos;
7 – (Outros dados de interesse) Ao contrário do parente Pardal-comum (e de grande parte das aves em geral), nesta espécie não se verifica dimorfismo sexual, ou seja, o macho e a fêmea são semelhantes.


Passer domesticus (Pardal-comum
ou Pardal-dos-telhados)

























































































1 – Pouco Preocupante;
2 – Residente;
3 – Muito abundante;
4 – Ver igual número da espécie anterior;
5 – Com excepção do meio aquático propriamente dito, as capacidades adaptativas destas aves permitiram-lhes colonizarem todos os nichos ecológicos naturais, semi-naturais e, sobretudo, os artificiais; as árvores que envolvem o «Fojo», próximo da ponte em Fão, são poiso habitual para pernoita de hordas destes pássaros – em menos de uma hora de observação é possível contabilizar mais de um milhar indivíduos a recolherem para aquele local, chegando a ser estridente o som das suas vocalizações enquanto “protestam” com aqueles que vão sucessivamente chegando;
6 – É manifestamente a espécie mais associada ao meio urbano e nem evitam sequer uma visita aos beirais das nossas janelas na procura de migalhas;
7 – Na observação da fauna selvagem é-nos muito útil conhecer previamente algumas “espécies de referência” para assim pudermos estabelecer comparações que nos ajudem a identificar um determinado animal até então desconhecido e, no caso da avifauna, o Pardal-comum, bem conhecido de todos, com um comprimento de cerca 15 cm (informação apresentada em qualquer guia de campo), surge-nos sempre como uma dessas espécie de tamanho padrão – por exemplo, no caso das cotovias em geral, a memória da dimensão do pardal pode auxiliar-nos a distinguir uma Cotovia-pequena (cerca de 15 cm) da congénere Laverca ou do parecido Trigueirão (substancialmente maiores com 18 cm); o mesmo ocorre com o também muito familiar Melro-preto que, conforme já referi anteriormente, é decisivo na distinção entre um Tordo-músico (mais pequeno) e a Tordeia (visivelmente maior); assim, antes de iniciarmos as primeiras visitas de campo, pode ter muito interesse a anotação numa “cábula” do comprimento de espécies como esta ou outras igualmente comuns, como os 31-35 cm do Pombo-da-rocha (ou doméstico), os 55-62 cm do Pato-real, os 50-56 cm da Águia-de-asa-redonda, os 33-36 cm do Peneireiro-vulgar, os 16-19 cm do Pilrito-comum, os 54-60 da Gaivota-de-patas-amarelas, entre outros.



Família Emberizidae
(três espécies)


Emberiza cirlus (Escrevedeira-de-garganta-preta)















































































1 – Pouco Preocupante;
2 – Residente com nidificação comprovada mas aparentemente mais numerosa no Inverno;
3 – Relativamente comum;
4 – Caso exiba a cabeça com nitidez, o macho torna-se inconfundível, contudo as fêmeas de quase todas as “escrevedeiras” (no caso do Trigueirão, também o macho) são muito parecidas; assim, neste aspecto em particular, deveremos ter em atenção as outras espécies que surgem comprovadamente na região (aqui mencionadas) e ainda a Cia (Emberiza cia) que na caracterização biológica do Parque Natural Litoral Norte está referenciada na respectiva Lista de Aves (pessoalmente, neste concelho, apenas confirmo a sua ocorrência nos Montes de Faro e de S. Lourenço);
5 – Ocorrem sobretudo no pinhal entre o Hotel Ofir e a restinga, nos matos rasteiros atrás do Hotel do Pinhal ao longo do passadiço, ou ainda nos limites da Mata de Pinheiro e Folhosas entre Fão e Apúlia pela orla dos campos de cultivo; embora sejam aves conspícuas, nota-se mais facilmente a sua presença na época da reprodução quando as crias perseguem os progenitores; normalmente as aves adultas, ainda antes de serem avistadas, detectam-se pelos característicos chamamentos agudos “tzi tzi tzi tzi tzi” a partir de um poleiro;
6 – Quando pousadas no alto do ramo de um pinheiro ou de um fio eléctrico, são muito tolerantes, mas esse ângulo não proporciona bons planos a quem pretenda fotografar estas aves;
7 – Nada a referir.


Emberiza schoeniclus (Escrevedeira-dos-caniços)
























1 – As aves visitantes (subespécie E. s. schoenniclus) têm o estatuto de Pouco Preocupante, todavia as populações residentes no nosso País (subespécie E. s. lusitanica endémica da Península Ibérica) estão classificadas como Vulneráveis; é uma espécie definida como de conservação prioritária para o Parque Natural Litoral Norte, onde a sua nidificação já terá sido confirmada (não pessoalmente, mas indicado na respectiva caracterização biológica e corroborado no Atlas das Aves Nidificantes em Portugal);
2 – Principalmente Invernante; nos anos de 1998 e de 2002 confirmei a permanência de pelo menos um casal ao longo de todo o período de reprodução da espécie no juncal do Cávado;
3 – Rara;
4 – Considerar precisamente o mesmo que foi referido na espécie anterior;
5 – São vistos pontualmente nas zonas de menor acessibilidade no estuário a equilibrarem-se no topo de um junco;
6 – À distância de uns seguros 20 metros deixam-se observar tranquilamente e bem expostas;
7 – A possibilidade desta espécie nidificar nesta região demonstra, por si só, a grande importância desta pequena zona húmida que é o Estuário do Cávado e toda a sua esfera de influência – no território nacional esta espécie apenas se reproduz regularmente na Ria de Aveiro e no litoral minhoto e no norte de Espanha tem-se verificado um decréscimo acentuado na sua área de distribuição (in Atlas das Aves Nidificantes em Portugal).


Emberiza calandra (Trigueirão)



















1 – Pouco Preocupante;
2 – Praticamente toda a literatura consultada classifica esta espécie como uma das residentes mais comuns no continente europeu e, por tal, até à recente publicação pelo ICNB do Atlas das Aves Nidificantes em Portugal, sempre estranhei o facto de nunca ter observado estas aves em todo o litoral norte do nosso País (precisamente o que está indicado naquele livro); no início do mês de Maio último, numa altura em que procurava Lavercas pelas dunas em Ofir, mais precisamente na zona da restinga, obtive a fotografia que acompanha estas palavras, a qual, apesar da possibilidade de confusão com algumas cotovias, expõe evidentemente um Trigueirão e que, até à data, constitui o único momento em que registei a ocorrência desta espécie na região;
3 – Nada a acrescentar;
4 – As fêmeas das outras “escrevedeiras” são muito parecidas, mas o Trigueirão tem uma aparência visivelmente mais robusta (ver o que mencionei no ponto nº. 7 do Pardal-comum e estabelecer respectivas comparações);
5 – Nada a acrescentar;
6 – O único espécime observado fitou-me curioso e demoradamente num poleiro bem exposto a cerca de 10 metros de distância;
7 – Numa última revisão, a comunidade científica designou esta ave, que não consta na Lista de Aves do PNLN, com o nome específico acima indicado, porém, na grande maioria da literatura disponível no mercado ainda consta o sinónimo Miliaria calandra.