quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

ORNITOLOGIA (parte III)


OBSERVAÇÃO DE AVES
Estuário do Cávado


De seguida vou desenvolver algumas ideias sobre espécies cuja ocorrência na nossa área não é facilmente detectada, refiro-me às Aves Marinhas ou Oceânicas que, com excepção do Corvo-marinho também frequentador de águas interiores, passam em migrações sucessivas ou invernam ao largo da costa relativamente distantes da praia, tornando-se necessário o uso de telescópio e um pouco mais de perseverança (e em alguns casos experiência) para se observarem e identificarem.


Ordem Procellariiformes

Família Procellariidae

(uma espécie)


Calonectris diomedea (Pardela-de-bico-amarelo ou Cagarra)

1 – Vulnerável;
2 – Invernante;
3 – Raro;
4 – Muito difícil, normalmente são avistados a distâncias significativas e mesmo com bons telescópios é muito provável que se confunda a silhueta desta ave com outra qualquer, até mesmo com as abundantes gaivotas;
5 – Observado ao largo no mar pela linha do horizonte;
6 – Nada a referir, além de que a partir de terra é praticamente impossível de fotografar;
7 – Os vultos dos espécimes que detectei na nossa costa foram identificados em simultâneo por pessoa experiente que me acompanhava. Pela bibliografia consultada é provável a ocorrência nesta área de outras Pardelas.


Família Hydrobatidae
(uma espécie)


Oceanodroma leucorhoa (Painho-de-cauda-bifurcada)

1 – Pouco preocupante (IUCN);
2 – Invernante;
3 – Ocasional;
4 – Muito difíceis, normalmente não ocorrem a distâncias que permitam uma identificação correcta;
5 – Ao largo da costa;
6 – Nada a referir, além de que a partir de terra é praticamente impossível de ser reconhecido;
7 – O único espécime que detectei em Ofir encontrava-se exausto pousado na praia, coincidindo este episódio com um período de tempestades em Dezembro de 2000. Pela bibliografia consultada é mais provável a ocorrência nesta área do Painho-de-cauda-quadrada (Hydrobates pelagicus) cuja presença ou passagem nunca foi por mim verificada.


Ordem Pelecaniformes

Família Sulidae
(uma espécie)


Morus bassanus (Ganso-patola)















1 – Pouco preocupante;
2 – Invernante e migrador de passagem a partir de finais de Agosto; na Primavera é mais comum vê-los a dirigirem-se para Norte e em Setembro a tomarem o sentido contrário;
3 – Comum;
4 – Relativamente fácil se prestarmos atenção ao comportamento da ave durante alguns minutos, dissipando-se as dúvidas que possam surgir pela remota mas possível confusão com as abundantes gaivotas, logo que se presenciem os seus mergulhos característicos;
5 – Observado ao largo no mar pela linha do horizonte, não sendo raro a aproximação até às zonas de recife (por exemplo, Pena e Cavalos de Ofir);
6 – A partir de terra é praticamente impossível de fotografar (ver modo de obtenção da foto aqui apresentada, no texto que publiquei neste espaço em 14 de Junho do ano passado);
7 – É uma ave de grandes dimensões podendo surgir no nosso alcance visual nas cores quase totalmente branca ou preta (escura), em voos próximos da água interrompidos por rápidos mergulhos entrando na água como “mísseis” na captura do alimento (peixe).


Família Phalacrocoracidae
(uma espécie)


Phalacrocorax carbo (Corvo-marinho-de-faces-brancas)














































































1
– Pouco preocupante;
2 – Invernante, os primeiros indivíduos começam a chegar ao nosso estuário nos primeiros dias de Setembro, a quantidade de espécimes vai aumentando nos meses seguintes até às muitas centenas, decrescendo esse número a partir de Março até Abril, deixando de se detectar a sua presença em Maio;
3 – Muito abundante;
4 – Relativamente fácil, embora possa ser confundido com o Corvo-marinho-de-crista (P. aristotelis), referenciado por outros observadores como ocorrente na área;
5 – Surge em todos os planos de água desde o mar ao estuário, estendendo-se para montante ao longo do Cávado onde passa o período nocturno. Por cá, passa os dias a alimentar-se enquanto mergulha prolongadamente atrás de presas (enguias, solhas, etc) com as quais habitualmente se debate quando emerge tentando engoli-las inteiras. Nos intervalos para descanso, demora-se pelas “ilhas” do rio formando longas filas pretas compostas por vários indivíduos que em posição vertical secam as penas mantendo as asas bem abertas. Momentos antes, durante e logo após o ocaso, podemos assistir a um dos espectáculos mais interessantes proporcionados pela nossa avifauna, refiro-me ao recolher de inúmeros e enormes bandos que em formações extensas se dirigem para nascente onde pernoitam pelas margens do Cávado – a título de curiosidade, refiro que numa contagem feita há precisamente um ano atrás (7Fev08), apenas entre as 18.00 e as 18.05 horas, passaram sobre a Ponte de Fão 12 (doze) bandos destas aves num total de 239 (duzentos e trinta e nove) indivíduos, a dirigirem-se para sudeste;
6 – Pouco tolerante, porem alguns indivíduos podem permitir-nos aproximações suficientemente boas para se obterem registos fotográficos interessantes. Como utilizam poisos habituais, temos ainda a possibilidade de preparar esconderijos próprios para os fotografar sem causar incómodos;
7 – Desde há doze anos até agora é notório o aumento do número de aves desta espécie que ocorrem na região.


Ordem Charadriiformes

Família Stercorariidae

(uma espécie)


Stercorarius skua (Moleiro-grande)




































1
– Pouco preocupante;
2 – Invernante e migrador de passagem;
3 – Pouco comum;
4 – Se observados de perto, o que não será uma situação muito provável, são muito fáceis de reconhecer, contudo, as distâncias a que estas aves passam da nossa costa tornam quase impossível aquela tarefa, mesmo fazendo uso de bons telescópios;
5 – Se de facto estivermos interessados em observar estas aves, devemos empreender uma viagem de barco para lá da meia dúzia de milhas a partir da praia, até um bom local de pesca, aí basta alimentarmos algumas gaivotas com pedaços de sardinha ou outro qualquer isco de modo a provocar aquele alarido típico e se os Moleiros, também conhecidos pelos pescadores por Alcaides, não estiverem longe, logo atacarão as “primas” com tal ímpeto e insistência que a estas não lhes restará outra alternativa e regurgitarão aquele alimento – aliás, vejam bem a estrutura do primeiro nome científico destas aves que decompondo dará qualquer coisa como – esterco oral (curiosidades…);
6 – Sem dados de relevo, mas devo referir que as fotos aqui apresentadas são de um indivíduo que em Outubro de 2004 foi resgatado das águas do Cávado com uma asa ferida e devidamente entregue na sede do Parque Natural;
7 – Alguns pescadores da região gostam de contar interessantes histórias sobre estas e outras aves marinhas, alcunhando-as de múltiplos modos muito curiosos.



Família Alcidae
(três espécies)

Antes de enunciar as aves desta família que ocorrem nesta zona do Atlântico, devo começar por introduzir uma nota prévia, ou seja, para um simples observador amador a silhueta das três espécies que passam pela nossa costa é tão semelhante que, quando verifico a ocorrência de uma delas, limito-me a registar a passagem de um alcídeo, a menos que esteja acompanhado por alguém suficientemente experiente que as distinga. De qualquer forma, os rigores do Inverno fazem com que não seja raro encontrarem-se nas nossas praias alguns espécimes feridos, exaustos ou já desfalecidos e, nessas circunstâncias, é de facto muito fácil identificar a ave.
Acerca desta família, os dados de que disponho através da minha observação directa na região não vão muito além da experiência que obtive nos dias RAM de que já falei neste blog em Junho último.
Assim, no caso particular destas aves predominantemente invernantes, apenas vou fazer acompanhar o nome de cada uma das espécies com o respectivo estatuto de conservação.


Uria aalge (Airo ou Arau-comum)

1 – Quase ameaçada, saliente-se ainda que consta no anexo A-I da Directiva Comunitária 79/409/CEE (Directiva Aves, cuja definição já explanei no texto que publiquei neste espaço em 15Abr2008).


Alca torda (Torda-mergulheira)

1 – Pouco preocupante.


Fratercula arctica (Papagaio-do-mar)

1 – Pouco preocupante.