sábado, 11 de outubro de 2008

MICOLOGIA (parte I)

Enquanto membro da Assobio – Associação de Defesa e Valorização do Ambiente, do Património Natural e Construído que praticamente desde a sua fundação dedica especial atenção aos recursos fúngicos (cogumelos) da nossa região, dinamizando actividades nesta área de estudo (micologia), não podia deixar passar este Outono sem centralizar neste tema os próximos textos deste modesto blog.

Quem nunca reparou naqueles pequenos seres que nos fazem lembrar as “Casas dos Estrunfes” da nossa infância e que começam a surgir logo que as temperaturas descem, os índices de humidade aumentam e a duração dos dias diminui? (Mesmo para quem nunca percorre as nossas matas, nos finais de Agosto ou princípios de Setembro, é frequente brotarem uns cogumelos rechonchudos na Alameda do Bom Jesus em Fão – apreciem as suas formas curiosas – estabeleceram associações mutuamente benéficas com aquelas árvores velhinhas.)

Efectivamente, no Litoral Norte de Portugal somos testemunhas de uma enorme abundância e diversidade de espécies de fungos típicos dos pinhais que por aqui ainda sobrevivem ao avanço do betão, do alcatrão e ao processo invasivo das acácias.

Mas afinal, perguntam muitos, como é que surgiu em nós (na Assobio) este interesse por um tema tão pouco familiar na nossa região? É muito fácil de explicar. Os nossos associados, enquanto amantes do convívio ao ar livre e observadores atentos da biodiversidade, não puderam ficar alheados mas antes curiosos quando, nos passeios outonais, lhes surgiam no caminho os cogumelos, com as suas formas, tamanhos e cores tão variadas quanto apelativas. Acresce que pelo menos cerca de 20 (vinte) espécies dos cogumelos silvestres comestíveis são frequentes na nossa terra (posso referir nomes genéricos de alguns, como os: - Boletus, Lepiotas, Coprinos, Xerocomus, Suilos, Lactários, Rússulas, Cantarelos, Pleurotus, Lepistas, Tricolomas, o Hydnum Repandum, Amanitas – cuidado com estes, Armilárias, entre outros) os quais, alguns de nós, já os colhiam pela sua comestibilidade.

Aqui devo fazer a seguinte advertência sobre a COMESTIBILIDADE DOS COGUMELOS: – não é difícil confundir um cogumelo tóxico por um comestível e isto pode tornar-se numa situação perigosa, inclusivamente conduzir a casos de morte, pelo que quando um amador pretende iniciar-se na apanha de cogumelos silvestres, por cautela, é conveniente fazer-se acompanhar POR ESPECIALISTA OU PESSOA EXPERIENTE.

Então, conscientes de que a colheita de cogumelos silvestres constitui sempre uma interferência no curso normal da natureza, até porque nos estamos a referir às estruturas reprodutoras dos fungos, responsavelmente assumimos que os nossos vagos conhecimentos empíricos não eram suficientes para impedir alguns efeitos nefastos sobre o meio ambiente. Foi assim que procuramos ajuda e começamos a participar nas actividades de uma das duas associações micológicas portuguesas – A Marifusa (a outra denomina-se A Pantorra), cujos especialistas nos transmitiram valiosos conhecimentos acerca da ecologia dos fungos e generosamente envolveram-se também nas iniciativas que nós próprios acabamos por promover – este ano, à semelhança dos últimos Outonos, vamos promover as nossas Jornadas Micológicas (VII Edição) e, mais uma vez, a população será oportunamente convidada a participar.

A partir daqui o objectivo da Associação Assobio é divulgar boas práticas sobre o modo de recolher os cogumelos para que as pessoas não destruam um valioso património que a floresta nos dá para nosso deleite e que é importante do ponto de vista ambiental e ecológico preservar.

E é precisamente acerca da ecologia dos fungos e a sua importância na manutenção do equilíbrio florestal e ambiental que dedicarei o próximo texto deste espaço.

Até já.




NOTA: A fotografia que ilustra o texto – um pequeno grupo de Boletus – foi obtida no jardim da Alameda do Bom Jesus em Fão, cujas árvores, por via da presença daquele fungo, fizeram um autêntico seguro de saúde.