quinta-feira, 15 de maio de 2008

Globalização ?

Ontem, pela manhã, num dos meus percursos através da orla marítima, deparei com um exemplar de Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) que jazia já sem vida na Praia de Ofir. Uma imagem avassaladora para quem, como eu (e penso que todos nós), está mais sensível às questões relacionadas com a conservação da fauna selvagem, tanto mais que estava perante uma espécie ameaçada (a título informativo, adianto que em apenas 20 anos os efectivos da população mundial desceu para menos de metade) e que já percorre os nossos oceanos desde tempos pré-históricos (há cem milhões de anos).

Estes animais são pelágicos, ou seja, passam praticamente toda a vida em alto mar, com excepção das épocas de reprodução em que se aproximam da costa, o que não era certamente o caso deste espécime pois, embora a sua distribuição geográfica abranja as nossas latitudes, no Atlântico nidifica principalmente nas praias do Caribe, da América do Sul, ou pontualmente na costa Africana. Quanto aos hábitos alimentares, a dieta desta tartaruga é constituída principalmente por invertebrados de corpo mole e gelatinoso, tunicados e alforrecas ou medusas.


Enquanto contemplava as dimensões majestosas daquele animal, interrogava-me também acerca das causas da sua morte que pareciam (a mim que sou um leigo) ter uma origem muito recente. Além das causas naturais, concorrem inúmeros factores de ameaça à vida das tartarugas, desde logo o enredamento nas artes de pesca abandonadas apresenta-se como um aspecto a considerar, mas foi outra a hipótese que me pôs a reflectir no assunto e resultou neste breve texto: - a omnipresente poluição marinha.

Uma ideia habitualmente usada para definir a globalização é aquela em que se faz referência ao batimento de asas de uma borboleta na China que provocou uma tempestade na Europa. Este fenómeno – para mim uma triste realidade cujos efeitos nefastos são cada vez mais evidentes, mas que não os posso aqui desenvolver por este não ser o espaço apropriado – também se pode aplicar aos graves problemas com o lixo que produzimos. Fora da época estival, altura do ano em que “já não temos que lavar os dentes da frente para disfarçar as mós podres”, qualquer indígena que percorra a linha das marés nas nossas praias marítimas ou fluviais se apercebe (ou então tropeça) das enormes quantidades de resíduos que por ali se vão acumulando e aquilo representa apenas uma ínfima parte do que está a boiar no mar. Obviamente, aqueles “presentes” não nos são todos “oferecidos” por quem nos visita no Verão ou nos fins-de-semana mais quentes. Se um dia for a Barcelos (ou pode ser em Fão junto à ponte) e, por mero descuido, ali abandonar um pequeno saco plástico, existe a probabilidade do mesmo ir parar ao Rio Cávado e, através dele, ser transportado para o mar e, como aquele material dificilmente se deteriora, seguir até outras paragens mais longínquas (por exemplo o Caribe, quem sabe?) – quase a história do lepidóptero.



Ora, imagine-se uma tartaruga a deambular feliz pelo imenso mar azul à procura do seu alimento (medusas, recorda-se?... seres gelatinosos, transparentes) algures nos trópicos e que se depara com a imagem de um invólucro a flutuar de aspecto semelhante ao seu petisco favorito mas com umas pequenas letras a fazer referência publicitária a um qualquer estabelecimento comercial da cidade do galo… Como, já confirmou a comunidade científica, para aqueles seres ancestrais, saco plástico ou medusa têm exactamente o mesmo aspecto, não é raro confundi-los e ingeri-los: - um simples saco plástico é suficiente para obstruir o estômago daqueles seres marinhos, o que lhes representa uma condenação à morte, lenta e dolorosa.

Urge então a implementação de programas de educação ambiental dirigidos especialmente às populações ribeirinhas de modo a evitar a proliferação destes lixos – a ideia de que o rio tudo leva tem de acabar. Somos nós, meros cidadãos, a origem de muitos dos graves problemas de poluição marítima – sejamos responsáveis, podemos e devemos contribuir activamente para a preservação da fauna marinha – basta manter os resíduos dentro dos respectivos circuitos de recolha.

PS: Com circuito de recolha de resíduos não quero dizer enterrá-los nas margens do Cávado ou nas praias.