sábado, 23 de julho de 2011

OBSERVAÇÃO DE AVES (MAIO 2011) (2º. Anexo)

Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORME (Correcção)
 
Família Alaudidae
 
Na sequência do meu primeiro registo da Cotovia-de-poupa no estuário do Cávado, verificado em Dezembro de 2010, no início do presente ano desenvolvi aqui um apontamento sobre esta Família de aves que podemos dividir em dois grupos: as Calhandras e as Cotovias. Relativamente às segundas, importa referir, novamente, que das quatro espécies existentes em Portugal Continental, apenas a já referida Galerida cristata (Cotovia-de-poupa), e a Alauda arvensis (Laverca) já foram por mim confirmadas neste estuário. Quanto às outras duas “cotovias”, é de salientar que a Lullula arborea (Cotovia-dos-bosques ou Cotovia-pequena) pode ser encontrada no concelho de Esposende, mas fora dos limites do Parque Natural do Litoral Norte, enquanto a última, a Galerida theklae (Cotovia-escura ou Cotovia-do-monte), apenas ocorre no sul e no interior do nosso país.
 
Relativamente às “calhandras”, em Janeiro referi muito sumariamente que “se distribuem sobretudo pelo sul e interior do País”. Porém, se quisesse ter desenvolvido um pouco mais o assunto, deveria ter dito que, além de uma espécie já extinta entre nós, há a considerar a ocorrência no nosso território da Melanocorypha calandra (Calhandra-real), residente rara a pouco comum, da Calandrella rufescens (Calhandrinha-das-marismas), residente rara e localizada, e da Calandrella brachydactyla (Calhandrinha), estival pouco comum. De qualquer forma, entendia que a distribuição de todas elas no litoral norte seria altamente improvável.
 
Mas já então constava nos meus apontamentos a interrogação acerca do registo de alguns espécimes desta Família que encontrava no início de cada período estival muito localizadamente no cordão dunar junto ao estuário do Cávado. Apesar de há vários anos os anotar no meu caderno de campo como Lavercas, ainda não tinha rejeitado completamente a hipótese de se tratarem das menos rara das calhandras. Até que desde há um ano sucedeu-se uma série de factos que me trouxeram até esta “correcção”.
 
Em 19 de Maio de 2010, desloquei-me à restinga do Cávado para registar em fotos a presença dos tais alaudídeos que ainda me intrigavam. Naquela data, já o irreversível processo do avanço do mar, tinha destruído metade daquele areal, onde em primaveras anteriores cheguei a observar em simultâneo 4 (quatro) alaudídeos (muito provavelmente mais) nos seus característicos voos acompanhados de incessantes vocalizações. Conforme o que mencionei aqui, confirmei em absoluto a reprodução dos apenas dois espécimes então detectados (talvez devido à grande perda de habitat), apresentei-os como Lavercas, mas, entre as imagens obtidas, repetiram-se algumas como esta:



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As manchas escuras de cada lado do pescoço, difícil de detectar no campo mas muito bem expostas aqui, quase me levaram a concluir tratar-se da Calhandrinha, no entanto, preferi aguardar antes assumir essa decisão como certa.
 
Entretanto são publicadas as duas últimas grandes obras de referência da ornitologia nacional: - ATLAS DAS AVES NIDIFICANTES EM PORTUGAL. (1999-2005) - Equipa Atlas (2008) - Instituto da Conservação da Natureza, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim. Lisboa, e AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. Assírio & Alvim, Lisboa. Enquanto no segundo livro apenas é admitida a “quase” ausência da Calhandrinha no litoral norte, o primeiro já confirma a sua distribuição nas dunas de Esposende.
 
Depois disso, em 19 de Abril último, a “atenta” teleobjectiva do poveiro Sérgio Silva, captou aqui perto, nas dunas da Aguçadoura – Póvoa de Varzim, uma ave, que identificou como Calhandrinha (ver aqui), muito semelhante às que tenho observado junto à foz do Cávado.
 
E, por fim, após uma primeira publicação neste blogue (entretanto cancelada) desta foto:



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
obtida em 27 de Maio de 2011, chegou-me a experimentada, insuspeita e muito oportuna opinião do Pedro Ramalho, das Caldas da Rainha, a corrigir-me a identificação da ave, confirmando-se, assim, em absoluto, a presença da Calandrella brachydactyla (Calhandrinha) na área em estudo.
 
De salientar que na única deslocação ao seu frágil habitat de ocorrência, no último mês de Maio apenas observei o indivíduo fotografado e respectivo(a) parceiro(a), os quais frequentavam precisamente o mesmo local onde o ano passado atestei a sua reprodução.
 
Esta espécie, que consta no Anexo A-I da Directiva Aves, é apresentada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal com o estatuto de conservação «Pouco Preocupante», no entanto, o supramencionado livro Aves de Portugal refere-se ao notado declínio das suas populações na Península Ibérica.
 
Tanto no portal avesdeportugal, como na «Lista de espécies de aves referenciadas para o Parque Natural do Litoral Norte», não está indicada a sua ocorrência no estuário do Cávado.

 
NOTA IMPORTANTE:
 
Assim, é necessário corrigir que as quatro primeiras fotos que na XVIII parte do meu estudo sobre a Ornitologia do Estuário do Cávado acompanham a apresentação da Laverca correspondem em concreto à Calhandrinha.
 
Também deve ser corrigida a confirmação das Lavercas enquanto reprodutoras nos sistemas dunares adjacentes ao Cávado, que, em Junho de 2010, aqui referi. Passam, assim, as Calhandrinhas a serem consideradas nidificantes nesta região.
 
E, por fim, na última “Actualização anual da lista das espécies de aves por mim identificadas no Estuário do Rio Cávado, nos habitats terrestres envolventes e ao largo no meio marinho (dentro dos limites do Parque Natural do Litoral Norte)”, aqui publicada, a Laverca deve ser considerada apenas Invernante.