segunda-feira, 28 de junho de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (MAIO 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

Definitivamente, e conforme augurava o mês de Abril, a última temporada de migrações de passagem (pré-nupcial) trouxe um número anormalmente reduzido de aves limícolas a esta zona húmida. Na mudança de mês, os Pilritos-d’areia (Calidris alba) ainda surgiram com as habituais tonalidades mais alouradas da plumagem estival e os bandos de Pilritos-comuns (Calidris alpina) até se avolumaram ligeiramente;



















depois, alguns Pernas-verdes (Tringa nebularia), com as suas típicas vocalizações a ecoarem de todos os quadrantes do estuário, criaram uma atmosfera mais melodiosa para a chegada dos sempre escassos mas mais vistosos Pernas-vermelhas (Tringa totanus);



















os discretos e imutáveis Maçaricos-das-rochas (Actitis hypoleucos) distinguiram-se bem entre as curtas fileiras das transformadas Tarambolas-cinzentas (Pluvialis squatarola), grande parte delas com o peito e o ventre já tingido de negro;





































e, aqui e ali, os pequenos grupos de Rolas-do-mar (Arenaria interpres);























































juntamente com os Fuselos (Limosa lapponica), ainda pintaram as margens de brilhantes tons acobreados, enquanto bisbilhotavam incessantemente as margens à cata de nutritivas poliquetas;









































































mas faltou a agitação dos grandes “pelotões” que caracterizam este período do ano, nomeadamente os Maçaricos-galegos (Numenius phaeopus), cujos efectivos se resumiram a pouquíssimas dezenas.

Notou-se também a ausência de espécies menos comuns que nos costumam visitar nestes movimentos migratórios e que são sempre motivo de atenção especial. Mas, mesmo assim, ao razoável número de Borrelhos-grandes-de-coleira (Charadrius hiaticula), em trânsito, e de Borrelhos-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), intensamente ocupados com a prole, no dia 21 ainda vieram juntar-se-lhes “meia-dúzia” de raros Borrelhos-pequenos-de-coleira (Charadrius dubius).
























































Não termino a abordagem aos Charadriiformes, sem antes deixar um apontamento, em forma de interrogação, sobre umas das suas famílias mais bem representadas do nosso litoral: - já alguém terá notado na acentuada diminuição dos bandos de gaivotas (Larus spp)?

Entretanto, a época avançava e, até ao final do mês, alguns espécimes invernantes teimaram em permanecer por cá, sendo bom exemplo disso um ou outro Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo), alguns pares de Garças-reais (Ardea cinerea) e duas ou três Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta) que, quais bailarinas, ostentarem uma grande graciosidade, agora ainda mais evidenciada pelos belos “trajes” nupciais.
































































































































Durante todo o mês, os inúmeros casais de Patos-reais (Anas platyrhynchos) semi-domesticados da zona ribeirinha de Fão competiam pelo título de maior ninhada e, durante isso, um Pato-ferrugíneo (Tadorna ferruginea), muito mais tímido do que o que aqui ocorreu em Março (não é impossível que seja o mesmo mas mais reservado), procurou companhia entre os bandos de P.-reais mais bravios estacionados mais próximo da foz. Mas o registo mais curioso entre os anatídeos ocorreu no dia 17 com a passagem de um Cisne-mudo (Cygnus olor) sobre o mar, o qual, embora perseguido pelas impertinentes gaivotas, acabou por interromper a rota (para norte) e aproveitou a serenidade do Cávado para descansar entre nós. De referir que este, não é o mesmo indivíduo que está “atracado” nos cais de Fão há vários meses e, apesar da proximidade, nunca foram vistos juntos.























































No topo da cadeia alimentar confirma-se a tendência (quase certeza) da fêmea de Tartaranhão-dos-pauis (Circus aeruginosus) em mudar o seu estatuto para residente;



















e, enquanto aguardamos pela chegada de um macho que lhe siga o exemplo, ainda foi testemunhada no dia 21 a passagem fugaz pelo estuário de uma Ógea (Falco subbuteo), cujo registo fotográfico, apesar de medíocre, deve ser aqui exposto dada a raridade do acontecimento.



















Mas este é também, e por excelência, o mês das aves nidificantes e, como não poderia deixar de ser, a ordem dos passeriformes é a que aqui está melhor representada. A confirmação absoluta das Lavercas (Alauda arvensis) enquanto reprodutoras nos sistemas dunares adjacentes ao Cávado, marcou a abertura dos “trabalhos”;









































































e, entre as que se destacaram em empenhamento na construção de ninhos mais sólidos, surgiram as Andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica);























































ou as primas Andorinhas-dos-beirais (Delichon urbica);





































em oposição às Alvéolas-amarelas (Motacilla flava) que, indiscretas, trocaram o tempo investido na robustez dos berços pelas artes da corte.























































Enquanto os Rabirruivos-pretos (Phoenicurus ochruros) davam nas vistas com as suas “roupas novas”, os Tordos-músicos (Turdus philomelos) e os coloridos Piscos-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), sempre a partir do recato de uma sombra, exibiram um reportório musical extenso;



















ao passo que os Cartaxos-comuns (Saxicola torquatus), sem grandes pudores, estiveram entre os que demonstraram maiores aptidões para criarem descendência.













































































































A inacessibilidade dos refúgios das atarefadas Fuinhas-dos-juncos (Cisticola juncidis) quase não deixou perceber por onde as suas crias se esconderam e igualmente prudentes entre os silvados, mas sempre bem afinadas, estiveram as Felosas-poliglotas (Hippolais polyglotta).





































Nas zonas de maior influência agro-florestal tornou-se difícil de ver uma Toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla) ou Toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala) sem um “petisco” bem suculento no bico e pronto a ser digerido pelos esfomeados ocupantes dos seus ninhos;





































e em igual labuta pelo pinhal andaram as Trepadeiras-comuns (Certhia brachydactyla), os Chapins-reais (Parus major) e as hordas de Chapins-pretos (Parus ater).



















Também notado foi o aumento do frenesim entre os Gaios (Garrulus glandarius) ou os constantes movimentos de vaivém das Pegas (Pica pica) entre os campos agrícolas e o estuário e daqui para o pinhal.



















Entre muitas outras, espécies como o Pardal-montês (Passer montanus), a Escrevedeira-de-garganta-preta (Emberiza cirlus), o Chamariz (Serinus serinus), o Pintarroxo (Carduelis cannabina) ou o Verdilhão (Carduelis chloris),



















apesar de se terem manifestado muito prudentes antes de avançarem para os ninhos, evitando denunciar a sua localização, também deram sinais de nidificação comprovada na região.

Noutras ordens o emparelhamento também se verificou, destacando-se pelo alargamento na área de distribuição as Perdizes-comuns (Alectoris rufa) que depois de introduzidas na zona de caça entre Fão e Apúlia, encontram-se agora disseminadas pelos sistemas dunares, pelas margens do rio e até visitam algumas zonas ajardinadas nas residências de veraneio.





































Os Pombos-torcazes (Columba palumbus) continuaram tão namoradeiros quanto cautelosos, pelo que, para ilustrar a família, recorri à boa vontade de um iridescente Pombo-correio (variedade domesticada do pombo-das-rochas Columba livia) que, exausto, pouco se importou com a minha aproximação;





































mas mais entusiasmante foi a eficácia do esconderijo que improvisei para “apanhar em cheio” estas exuberantes, tímidas e cada vez mais raras Rolas-bravas (Streptopelia turtur).



























































































Ao contemplar os intermináveis exércitos de Andorinhões-pretos (Apus apus) a devorarem insectos sobre as nossas povoações, pus-me a reflectir sobre as consequências que para nós, humanos, adviriam de um mero, mas iminente, decréscimo das suas populações…



















… e os cada vez mais longos finais de tarde acabariam por evidenciar a aproximação ao Verão. No dia 20 começaram a regressar à parte baixa do estuário os primeiros juvenis de Guarda-rios (Alcedo atthis) sempre atentos aos laboriosos progenitores. Na noite de 23 foi ouvida a melancólica canção de uma Coruja-do-mato (Strix aluco) pousada no pequeno Caniçal de Fão e o constante “ressonar” das exigentes crias de Coruja-das-torres (Tyto alba) lá para os lados da floresta de pinheiro e folhosas, “obrigaram-me” a empreender as habituais incursões nocturnas, mata adentro, na pista dos Noitibós (Caprimulgus europaeus) que tanto me seduzem e cuja chegada foi assinalada pelas suas incomparáveis vocalizações na madrugada do dia 8 (o registo visual da sua presença fica, por enquanto, com esta “quase” fotografia).



















Fascinantes!