Confirmação da ocorrência de duas novas espécies de PASSERIFORMES
Género Anthus (Petinhas)
Na lista das ocorrências registadas em Dezembro de 2010, quando me referi à Anthus spinoletta (Petinha-ribeirinha), apresentei quatro fotografias de um indivíduo desta espécie, às quais juntei outras seis de uma ave cuja hipótese de se tratar de uma Anthus petrosus (Petinha-marítima) não tinha sido por mim rejeitada. Face a esta indecisão, submeti aquelas imagens, obtidas nos molhes de pedra junto à foz do Cávado, à apreciação de um vasto número de pessoas interessadas ou com conhecimentos em ornitologia.
(visualizar fotos com melhor definição aqui – procurar em Família Motacillidae)
De entre todas as análises ou observações que me chegaram – e agradeço aqui o amplo conjunto de respostas muito válidas e algumas extremamente bem desenvolvidas e fundamentadas – nenhuma contraria a minha convicção, ou seja, não se encontra nas imagens qualquer elemento que exclua a hipótese de ser efectivamente uma A. petrosus.
Ainda assim, entendi que, por si só, a mera avaliação das características físicas da ave não seria suficiente para atestar em absoluto a sua identificação, pelo que continuei a vigiar o pássaro que, para além dos ditos molhes, apenas frequentava os poucos afloramentos rochosos contíguos. E foi precisamente a circunstância deste indivíduo prolongar a sua permanência no habitat típico da A. petrosus durante dois meses (observada em 3 de Dezembro de 2010, em 14 e em 31 de Janeiro de 2011) que me convenceu em definitivo para a identificação desta espécie.
Uma pesquisa aturada de imagens através de motores de busca na sempre questionável internet, levou-me repetidamente a portais de origem escandinava, nos quais encontrei várias aves da subespécie A. p. littoralis em plumagem de inverno e em tudo semelhantes ao indivíduo em análise.
Fica, assim, registada de modo consistente a ocorrência na foz do Cávado da Anthus petrosus (Petinha-marítima). Além de não constar na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte (PNLN) na respectiva caracterização biológica, esta espécie também não está indicada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, no entanto, a União Internacional para a Conservação da Natureza classifica o seu estatuto de conservação de «Pouco Preocupante». Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa, referem-se a esta ave como invernante rara.
Conforme já referi anteriormente, este registo foi submetido ao CPR.
À semelhança dos dois meses anteriores, em Janeiro estas aves continuaram nos campos de cultivo de Gandra, contudo, talvez repelidas pelas rapinas, foram observadas com maior regularidade entre os bandos mais pacíficos das espécies aquáticas (patos, garças, gaivotas e limícolas) que frequentam a orla da ínsua sob a ponte velha e a margem direita para jusante.
Família Corvidae
Entre os sete corvídeos de ocorrência regular no nosso país, quatro estão indicados na LISTA DAS ESPÉCIES DE AVES DO DISTRITO DE BRAGA apresentada pelo portal de referência dos ornitólogos nacionais http://www.avesdeportugal.info/: o Garrulus glandarius (Gaio), a Pica pica (Pega). a Corvus corone (Gralha-preta) e o Corvo (Corvus corax). As duas primeiras espécies são residentes comuns nesta região e, por serem conspícuas, têm sido sempre referenciadas nas minhas listas mensais. Por sua vez, as gralhas-pretas, que desde há mais de vinte anos não passam de uma raridade regional (mais informação aqui), estão representadas no estuário do Cávado desde Novembro de 2010 por um pequeno grupo de três indivíduos.
À semelhança dos dois meses anteriores, em Janeiro estas aves continuaram nos campos de cultivo de Gandra, contudo, talvez repelidas pelas rapinas, foram observadas com maior regularidade entre os bandos mais pacíficos das espécies aquáticas (patos, garças, gaivotas e limícolas) que frequentam a orla da ínsua sob a ponte velha e a margem direita para jusante.
Na manhã do dia 21 de Janeiro, ao tentar obter algumas fotos que melhor documentassem o registo da ocorrência das gralhas, sempre muito esquivas, acabei por perceber que, além de um tartaranhão, outro corvídeo de igual cor negra as perseguia insistentemente. Embora isto decorresse a largas dezenas de metros de afastamento, era bem notória a diferença de envergadura entre as três gralhas e este recém-chegado. Após largos minutos de atenta observação, identifiquei algumas características (maior tamanho e robustez da cabeça e do bico) distintivas da quarta e última espécie acima mencionada.
O registo fotográfico possível, apesar da longa distância, revelou que efectivamente estava perante um Corvus corax (Corvo), residente pouco comum «Quase Ameaçado» no território nacional e não mencionado na Lista de Aves referenciadas para o PNLN.
Na LISTA SISTEMÁTICA DAS AVES DE PORTUGAL CONTINENTAL esta ave está classificada na categoria de «espécies registadas num aparente estado selvagem», no entanto, na minha própria lista de aves do estuário do Cávado, e até a obtenção de outros dados, vou incluir o registo desta na categoria de «espécies naturalizadas que ocorrem ou ocorreram apenas como resultado de uma introdução, fuga ao cativeiro ou possivelmente provenientes de populações selvagens mas com a situação não avaliada pelo comité português de raridades», em virtude ser pouco provável a sua presença num meio tão pressionado como o do litoral norte e estar enraizado nesta região o costume de manter corvídeos enjaulados para fins ornamentais que, não raras vezes, escapam àquela condição. Este espécime em particular aparentava não estar familiarizado com a presença humana.