quinta-feira, 19 de agosto de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (JULHO 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

No segundo dos três meses de travessia do deserto quase me proibi de percorrer as margens do estuário, não apenas pelo menor interesse do ponto de vista ornitológico, mas porque me fere a alma testemunhar alguns dos comportamentos do crescente número de veraneantes menos sensibilizados para os valores naturais em presença nesta zona húmida. De qualquer modo, no âmbito de uma acção de erradicação de acácias que nos dias 9 e 10 juntou membros da “Assobio” (associação de defesa do ambiente) aos da “BTCV” (associação britânica de voluntariado para a conservação), lá me demorei algumas horas no juncal, onde não pude evitar umas espreitadelas para algumas espécies mais interessantes.

Então, nestas circunstâncias, ainda foi possível observar os suspeitos do costume, que é como quem diz, a fêmea de Tartaranhão-dos-pauis (Circus aeruginosus) e o Gavião (Accipiter nisus) a causarem agitação geral na característica monotonia dos céus estivais, onde os bandos de Garajaus-comuns (Sterna sandvicensis) se fizeram ouvir com exuberância. Mas foram as rápidas e repetidas investidas de uma Ógea (Falco subbuteo) que maior pavor provocaram nas indígenas que debandavam a cada passagem de tão vigorosa voadora. Por sua vez, a Garça-imperial (Ardea purpurea), presença assídua neste estuário há já vários anos a partir dos primeiros dias de Julho, permaneceu imperturbável perante o alvoroço provocado pelo falconídeo, demorando-se nas águas rasas em poses erectas à cata de um qualquer petisco.

Apesar da relevância destes últimos nomes e à medida que a temperatura subia, era na zona agro-florestal estendida para sul até ao caniçal da Apúlia que se encontravam os maiores motivos de interesse. Aqui, onde os Petos-verdes (Picus viridis) e os Pica-paus-malhados-grandes (Dendrocopos major) passavam os dias a gargalhar e a tamborilar, seria necessário esperar pelas luzes dos pirilampos para perceber que o dia não acaba com o ocaso. Num ambiente menos sujeito às pressões provocadas pelo veraneio desregrado e sob o coberto protector da escuridão, os sons provenientes da mata de pinheiro e folhosas denunciavam uma animada actividade nocturna. Desde os chilreios roucos das Corujas-das-torres (Tyto alba) nos limites dos campos de cultivo, até às notas melancólicas das Corujas-do-mato (Strix aluco) vindas das profundezas do denso pinhal, passando pelos breves vislumbres dos Bufos-pequenos (Asio otus) nos caminhos que o atravessam, foram vários os motivos para um passeio ao luar dos últimos dias do mês … até porque os Noitibós (Caprimulgus europaeus) não se cansavam de me chamar!



NOTA: Para favorecer estas curtas palavras, optei por aqui apresentar apenas uma ilustração de uma das espécies mencionadas no texto, difícil de registar em fotografia, neste caso a Ógea (Falco subbuteo), da autoria da Sofia e que a compôs tendo por base uma foto de Ravi Namita Medha, disponível no sítio
www.birdsisaw.com.