domingo, 10 de agosto de 2008

PROPAGANDA VERDE

Num destes dias entreguei-me à tarefa de contar o número de vezes que, apenas durante o último mês, se repetiu a expressão “alterações climáticas” no site de propaganda, erro (desculpem, engano-me sempre), queria dizer, na página de Notícias do Gabinete de Relações Públicas da Câmara Municipal de Esposende e, com uma simples ferramenta informática, contei-a 10 (dez) vezes.

Pois é, desde que o Sr. Al Gore lançou para a ribalta mundial aquele tema que, como sabemos, obteve a simpatia imediata das "massas“, os responsáveis políticos pela nossa autarquia também quiseram entrar na moda e aderiram definitivamente ao “discurso verde” e tantas vezes repetem palavras “amigas do ambiente” que qualquer dia até eu próprio vou acreditar que ninguém se preocupa mais do que aqueles senhores com a preservação do nosso património natural. O “truque” é simples, em grande aparato mediático e de forma repetida anunciam-se umas campanhas que fiquem bem nas fotografias, seguidas de frases “gordas” do género “Eco-oficinas de Verão para crianças, jovens, adultos e idosos”; “SOS Litoral”; “Hora verde com...”; “Quem quer salvar o Planeta”; “SOS TERRA, o clima está a mudar”; ”Dia a dia, pense verde todo o ano” e por aí em diante. Então, nas efemérides tipo 5 de Junho (Dia Mundial do Ambiente) ou 28 de Julho (Dia Nacional da Conservação da Natureza) juntam-se umas criancinhas ou uns velhinhos de modo a parecerem muitos e... flash... evocam a causa ambiental como sua. Entretanto, nas comemorações anuais do Dia da Árvore (21 de Março), encenam-se umas florestações com a plantação de umas quantas árvores num qualquer jardim público, como se dali se pudesse esperar pelo desenvolvimento de uma floresta (que é o que verdadeiramente o planeta precisa para combater o fenómeno nefasto a que me referi quando abri esta intervenção), muda-se a denominação dos serviços municipalizados de águas e saneamento para o nome do município seguido da palavra “ambiente”, aliando ainda outras tantas operações de “eco-cosmética” que mais não são do que meros embustes e… quem é que teria a ousadia de questionar a “costela verde” dos nossos autarcas?

RESPOSTA: Qualquer pessoa responsável com um mínimo de inteligência, atenta e verdadeiramente sensível e preocupada com as reais e gravíssimas agressões ambientais que por cá abundam e teimam em perpetuar-se.

Mas, referir-me ao assunto desta forma tão vaga, sem concretizar os aspectos, factos ou episódios a que me estou a referir, não é seguramente a forma mais séria para expor qualquer pensamento critico-construtivo. Assim, vou dedicar os próximos textos deste modesto espaço de opinião a substanciar estas minhas primeiras palavras sobre o tema (devidamente documentado e sem exercícios de retórica oca).


Desde já,

PRIMEIRA EVIDÊNCIA

Corria o mês de Fevereiro último, quando o referido Gabinete de Relações Públicas anunciava o estabelecimento de um protocolo entre a autarquia esposendense e a prestigiada associação FAPAS – Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (ONGA* sedeada na cidade do Porto) com o objectivo de «assegurar a realização do Projecto de Educação Ambiental/Educação para o Desenvolvimento Sustentável; Alterações Climáticas e Biodiversidade, bem como outras actividades na Área da Conservação da Natureza e Biodiversidade, em escolas do concelho».

Registei e decidi que, desde então, ficaria atento e seguiria de perto todos os eventos que resultassem daquele protocolo (não deu muito trabalho – foi só um único). Mesmo assim, qual voyeur, fui espreitar a acção de sensibilização ambiental (???) que aquela associação promoveu com o patrocínio da Câmara Municipal de Esposende e que contou com a participação de 80 (oitenta, vejam bem) crianças de um jardim-de-infância (dia 21 de Fevereiro – isto foi publicitado pelo tal gabinete). A iniciativa consistiria no arranque de Chorão-das-praias (planta infestante exótica) e posterior plantação de Estorno (espécie de planta nativa) numa praia das Marinhas.

Em termos propagandísticos, isto foi suficiente para obter umas fotos de muitas criancinhas com bonés bem fotogénicos e um vasto texto, na tal página electrónica do tal gabinete, onde constava, entre outras frases – «Considerando a relevância local dos sistemas dunares e o facto das alterações climáticas constituírem um dos maiores desafios para o Homem, este projecto tem como principal objectivo a adopção de atitudes e comportamentos com vista à redução das emissões dos gases que aumentam o efeito de estufa e a melhoria de habitats, através da realização de actividades de intervenção local, com vista à manutenção da biodiversidade dunar.» (LINDO).

Em termos reais, peço-vos que tentem perceber qual o efeito dos cento e sessenta rebeldes pezinhos dos figurantes (erro) queria dizer, das criancinhas, por cima a flora dunar autóctone – apenas vos adianto que nos 31 dias de um qualquer mês de Agosto é difícil haver tanto pisoteio e, consequentemente, perda de comunidades vegetais essenciais para a fixação dunar, como puderam constatar in loco os alunos da turma de Técnico de Turismo Ambiental e Rural da Escola Profissional de Esposende que também foram chamados a participar e que nada puderam fazer para evitar o dano. Agora, peço-vos ainda para que um dia em que estiverem perante um Chorão-das-praias tentem arrancá-lo – se for adulto com alguma robustez, certamente conseguirá concretizar a remoção da planta, mas também vai perceber que a tarefa exige um esforço que não está seguramente ao alcance de uma criança em idade do ensino primário sequer. Então, o que estavam aquelas crianças de um jardim-de-infância ali a fazer?

Esta história fez-me lembrar aqueles tempos em que o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto líder de um determinado partido político e querendo fazer-se passar por ambientalista muito preocupado com a biodiversidade, foi visitar um dos nossos ex-libris ecológicos, o Parque Natural do Douro Internacional, mas, para abreviar aquele aborrecimento, lembrou-se de percorrer as arribas durienses de helicóptero – resultado – poucos foram os Grifos e outras rapinas protegidas por Lei que por ali se reproduziram naquele ano!!!…

Na tropa dizia-se: - « Quem não sabe ... »

Outra evidência, JÁ A SEGUIR.




* ONGA – Organização Não Governamental de Ambiente