quarta-feira, 16 de julho de 2008

NIDIFICAÇÃO (parte IV)

(Continuação)


Quando um determinado “estudo” é realizado por apenas uma pessoa, como foi o caso do que resultou nas relações/listas que apresentei, é provável que nele ocorram algumas lacunas de informação. Se esse mesmo trabalho é executado por alguém sem preparação académica e desenvolvido para além da sua actividade profissional, as omissões tornam-se uma inevitabilidade. É precisamente aqui que me situo, ou seja, tudo aquilo que expus carece de validação da comunidade científica, até porque a recolha/análise dos dados não foi exaustiva e sistemática, mas estou certo do interesse que aqueles conteúdos possam representar para uma futura pesquisa que se queira dotada de maior rigor. Então, aqui adianto o meu modesto contributo.

Efectivamente, na minha procura incessante por literatura sobre a ecologia da minha região, constatei que não abunda informação sobre as espécies nidificantes no litoral norte do País ou, se existe, não está disponível fora dos herméticos circuitos académicos ou universitários. Ainda assim, nas Fichas de Caracterização Física e Biológica do Parque Natural Litoral Norte que acompanham a proposta do respectivo Plano de Ordenamento, podemos ter acesso a alguma informação relevante sobre esta matéria. Além disso, através das publicações dedicadas à divulgação científica, tanto de âmbito nacional como europeu, podemos perceber que a lista que apresentei poderá ser um pouco mais extensa.

Face ao exposto, não queria concluir a minha exposição sobre o tema da Nidificação no Litoral de Esposende, resultado da minha experiência particular, sem a completar com outros dados que obtive a partir do estudo daquelas obras divulgadas ou editadas e publicadas *.

Assim:

ORDEM CICONIIFORMES

Família Ciconiidae
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Cegonha-branca (Ciconia ciconia) – esta espécie que vulgarmente procria no nosso País desde o extremo sul até à região da Ria de Aveiro, não consta nos compêndios sobre a avifauna que ocorra regularmente no Minho, contudo, desde o Verão de 2001, altura em que observei vários indivíduos (até catorze em bando) a sobrevoarem o Estuário do Cávado, todos os anos tenho avistado em voo alguns espécimes no início da época de reprodução na parte sudeste do estuário, de onde se dirigem sempre para sul e ligeiramente para montante; julgo que se tratam dos indivíduos que nos últimos anos têm construído ninho nos limites do concelho de Barcelos com Esposende, relativamente próximo do curso do Cávado (no mês em que publico este texto, ainda se podem encontram no local em referência três adultos, estando o ninho constantemente ocupado por um deles, sendo frequentemente visitado pelo par e o outro permanece nas imediações).
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ORDEM ACCIPITRIFORMES

Família Accipitridae
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Tartaranhão-dos-pauis (Circus aeruginosus) – tenho avistado um ou talvez mais indivíduos desta espécie a sobrevoar o Estuário do Cávado e os campos agrícolas de Gandra durante a época estival desde o ano de 2000; no ano seguinte, a primeira ocorrência (fêmea) foi por mim notada no decorrer do mês de Março ainda antes época de nidificação, não sendo raro desde então acontecer este tipo de registos; esta espécie de Tartaranhão, também conhecida pelo nome vernáculo de Águia-sapeira, está definida como de conservação prioritária para a área do PNLN – Parque Natural Litoral Norte, sendo também considerado que a sua reprodução será possível no importante biótopo do Caniçal em Agra da Apúlia onde a espécie encontra condições favoráveis.
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Açor (Accipiter gentilis) – aqui confesso que para identificar convenientemente algumas aves de rapina ao vivo, enquanto voam, me deparo quase sempre com algumas dificuldades e esta espécie em particular é um desses casos; de facto, é muito provável que já tenha avistado espécimes destes a capturar outras aves e pequenos mamíferos pelo Estuário do Cávado, isto é, repetem-se os episódios em que de repente, naquele meio ou nas clareiras e campos agrícolas que pontuam pela zona florestal entre Fão e Apúlia, surge um predador alado num voo rápido investindo um ataque na direcção do nível do solo onde “desaparece” entre os juncos ou outra vegetação, demora-se alguns instantes e volta a surgir com uma presa nas garras, ausentando-se rapidamente sobre o Pinhal de Ofir ou no sentido dos Montes de Faro ou S. Lourenço, no entanto, tudo isto se passa em alguns instantes que, para os menos preparados, impede a distinção desta espécie com outras rapinas como, por exemplo, o Gavião (Accipiter nisus) que, embora mais pequeno, pode perfeitamente ser confundido; concretizando, ainda que nos meus registos não tenha confirmado a ocorrência do Açor nos limites do PNLN, com base na literatura consultada, é crível que isso aconteça, estando definida como uma ave de conservação prioritária para esta área protegida, onde a sua reprodução será provável no importante biótopo da Mata Dunar de Pinheiro e Folhosas situada na referida zona florestal.
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ORDEM GALLIFORMES

Família Phasianidae
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Codorniz (Coturnix coturnix) – espécie cinegética cujos exemplares são dificilmente localizados sem o auxílio de algumas técnicas venatórias; mesmo assim, são já vários os registos de ocorrência destas aves que tenho efectuado ao longo de todo o perímetro do Estuário do Cávado na parte final dos períodos estivais (nunca na época das duas possíveis posturas por volta de Maio ou Junho), levando a crer que se tratam de indivíduos migradores que regressam de norte com destino aos climas mediterrânicos com Invernos mais amenos, no entanto, por abundarem nestas paragens habitats favoráveis para a sua reprodução (por exemplo, campos abertos de milho), não excluo a probabilidade ser mais uma das aves nidificantes desta região (toda a literatura consultada a indica com tal para o nosso País).
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ORDEM CHARADRIIFORMES

Família Scolopacidae
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Maçarico-das-rochas
(Actitis hypoleucos) – ave muito fácil de localizar nas margens do Rio Cávado e que aqui pode ser observada durante todo o ano, mesmo na época da nidificação, contudo, não é fácil determinar a existência de indícios que confirmem a sua reprodução (há alguma literatura que faz referência à possibilidade desta ser um espécie nidificante no nosso País).
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ORDEM STRIGIFORMES

Família Strigidae
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Mocho-d’orelhas (Otus scops) – as aves desta família têm hábitos principalmente crepusculares e nocturnos, com excepção do Mocho-galego (Athene noctua) que também desenvolve alguma actividade diurna; por tal, a presença, tanto destes dois mochos, como do Bufo-pequeno (Asio otus), todos “aparentados”, mas este último de tamanho maior, não é fácil de detectar até porque os seus cantos ou chamamentos não são como as características vocalizações da Coruja-do-mato que praticamente todos conhecemos dos contos infantis; embora pessoalmente apenas seja testemunha da ocorrência do Mocho-galego nesta zona do País, ainda que fora dos limites do Parque Natural em áreas urbanizadas, a bibliografia que consultei refere-se a estas três espécies com nidificantes no nosso território; além disso, nas já referidas Fichas de Caracterização Física e Biológica, está indicado que no PNLN se desenvolvem condições favoráveis para a possível nidificação do Bufo-pequeno.
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ORDEM CAPRIMULGIFORMES

Família Caprimulgidae
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Noitibó (Caprimulgus europaeus) – pelos mesmos motivos que apresentei para a anterior família de aves, não posso garantir que já tenha observado esta espécie nesta área protegida, apesar dos seus chamamentos serem bem distintivos ou característicos; no entanto, tenho conhecimento que em campanhas de anilhagem efectuadas por técnicos do ICNB no Caniçal da Apúlia se comprovou a sua ocorrência naquele biótopo e que na já mencionada Mata Dunar de Pinheiro e Folhosas está confirmada a reprodução desta espécie de conservação prioritária.
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ORDEM PASSERIFORMES

Família Alaudidae
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Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) – desta família apenas tenho atestada a ocorrência da Laverca (Alauda arvensis) nos limites do PNLN, porém, como esta apresenta várias semelhanças com as Cotovias, suas congéneres, foram múltiplas as ocasiões em não pude confirmar a presença da Cotovia-de-poupa ou da Cotovia-pequena (Lullula arbórea) por existir a possibilidade de confusão na identificação da espécie; portanto, além da Laverca, ainda é provável que as outras duas espécies aqui em destaque também se reproduzam nesta região, conforme o que está exposto em vários dos livros que consultei e na lista anexa à Ficha de Caracterização Biológica do PNLN.
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Família Turdidae
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Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) – é relativamente frequente observar alguns indivíduos desta espécie no Juncal do Estuário do Cávado durante os meses de Setembro e Outubro ou ainda de Fevereiro e Março, mas parecem-me sempre indivíduos que estão de passagem na sua rota migratória, pois nunca demonstram evidências ou indícios de nidificação; de salientar contudo que, com base nas mesmas fichas de caracterização do PNLN, esta espécie de conservação prioritária encontrará boas condições para possível reprodução no Caniçal em Agra da Apúlia.
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Família Sylviidae
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Rouxinol-pequeno-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus) – toda a bibliografia que conferi refere-se a esta espécie com o estatuto de Comum para todo o território nacional e, efectivamente, como já comprovei, se fizermos uma visita de campo ao Baixo Vouga Lagunar na região de Aveiro, apercebemo-nos dessa abundância; no entanto, o mesmo já não posso citar quando me quero referir ao PNLN, aliás, nem sequer tenho confirmado nos meus registos que esta espécie aqui ocorra, mas isso deve-se principalmente ao facto desta ave se prestar a ser facilmente confundida por outras Felosas (Acrocephalus sp.), porquanto nos finais da época estival não é raro observar espécimes em tudo iguais a este Rouxinol (querendo ser rigoroso, nunca o atestei, mas estou quase seguro que ocorra no Estuário do Cávado e Caniçal da Apúlia, bem como num pequeno charco não natural situado nas imediações na zona florestal); além disso, as Fichas de Caracterização do PNLN indicam que esta espécie de conservação prioritária para a área poderá encontrar condições favoráveis para provável nidificação no Caniçal em Agra da Apúlia.
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Família Emberizinae
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Escrevedeira-dos-caniços (Emberiza schoeniclus) – na terceira parte deste texto referi que já presenciei episódios com indivíduos desta espécie a frequentar local no Estuário do Cávado onde provavelmente existia ninho, o que por si só não atesta a sua reprodução, contudo, as citadas Fichas de Caracterização do PNLN confirmam que esta espécie de conservação prioritária nidifica no Caniçal em Agra da Apúlia.
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Finalmente, ainda antes de seguir para o texto com que vou concluir esta série e que publicarei nos próximos dias, devo dizer que reconheço que o tema da nidificação é muito vasto, com matéria suficiente para ocupar este blog durante largos meses. Aspectos como a configuração do ninho (em forma de taça, cavidades no solo, buracos em troncos…); os materiais utilizados (ervas, musgos, penas, paus, teias, pedras…); a quantidade e descrição dos ovos e o número de posturas anuais; o período de incubação; o aspecto geral das crias e a sua alimentação; o número de dias que decorrem desde o nascimento até ao primeiro voo; os meses determinados para a procriação (em geral entre Abril e Junho, talvez Julho no máximo); entre outros inúmeros motivos, poderiam também aqui ser desenvolvidos, mas tudo aquilo são informações que permanecem praticamente imutáveis dentro da mesma espécie quer ela se reproduza aqui ou, por exemplo, no Algarve, e um dos meus objectivos com este trabalho limitava-se simplesmente à exposição de algumas das particularidades regionais (litoral do concelho de Esposende) relacionadas com o assunto. Portanto, para obter aquele tipo de informações poderá socorrer-se a bibliografia que está abaixo indicada, contactar-me através da minha morada electrónica, ou então, já que está no meio, visite o excelente blog
http://www.fao-natural.blogspot.com/.

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* Além do livro referido na primeira parte deste trabalho, ainda dispus para consulta:

- Guia de Campo das Aves de Portugal e da Europa – textos de John Gooders e ilustrações de Alan Harris – Temas e Debates (Edição de Junho de 1996);

- Guia Fapas das Aves de Portugal e da Europa – textos de Bertel Bruun, Hakan Delin e Lars Svensson e ilustrações de Arthur Singer e Dan Zetterstrom – editado por Fapas – Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens e publicado pelo Pelouro do Ambiente da Câmara Municipal do Porto (2ª. Edição revista em 1995);

- Aves do Mundo (Colecção Segredos da Natureza) – de Colin Harrison e Alan Greensmith – Bertrand Editora (Venda Nova 1996);

- Aves Canoras (Colecção Mundo Verde) – de Jurgen Nicolai (colaboração Einhard Bezzel) – Everest Editora;

- Photographic Guide to the Birds of Britain & Europe – by Hakan Delin and Lars Svensson – Chancellor Press (London 1996);

- Onde Observar Aves no Sul de Portugal – de Helder Costa – Assírio e Alvim (edição Lisboa em Março de 2003);

- e ainda inúmeras pesquisas em revistas e sites da especialidade com destaque para a informação disponibilizada pelo ICNB – Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade e pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.
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(Continua)