terça-feira, 27 de dezembro de 2011

OBSERVAÇÃO DE AVES (NOVEMBRO 2011) (Anexo)

Confirmação da ocorrência de nova espécie de PODICIPEDIFORMES

 
Família Podicipedidae
 
A família dos Mergulhões (Podicipedidae) conta com três espécies de ocorrência regular no nosso país e ainda outra indicada como acidental. Assim, conforme se esperava com a aproximação do frio, no dia 24 do último mês de novembro assinalei no estuário do Cávado a presença de 7 (sete) Mergulhões-pequenos (Tachybaptus ruficollis) e a chegada dos 2 (dois) primeiros Mergulhões-de-pescoço-preto (Podiceps nigricollis) que se preparavam para passarem o inverno na amenidade desta zona húmida. A terceira espécie, o Mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus), apenas foi por mim registada nesta área entre o final de julho de 1998 e a primeira metade de fevereiro de 1999.
 
Mas nas primeiras horas do dia 18 de novembro deparei-me com um mergulhão a descansar na margem direita junto ao cais da antiga draga (a montante da doca de pesca) cuja silhueta logo me despertou o interesse. No instante em que estabeleci contacto visual com a ave, esta logo se afastou pela água até ao juncal em frente, onde desapareceu e jamais a encontrei. Dada a falta de luz, não fui muito bem sucedido na recolha das imagens daquele momento, contudo, estas ainda se revelaram aceitáveis para poder dirigir-me à informada e competente comunidade do Fórum Aves deste modo:

 
“Viva caríssimos!
Umas das especialidades invernantes aqui no estuário do Cávado são os Mergulhões-de-pescoço-preto (Podiceps nigricollis). São aves graciosas e muito conspícuas facilmente observáveis a partir da marginal de Esposende. Por tal estou muito habituado a observá-las e já tive a felicidade de as fotografar inúmeras vezes a poucos metros de distância (recorrendo a abrigo, claro). Este ano estão a tardar. Mas na manhã do dia 18 deste mês de Novembro deparei-me com esta ave isolada:





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Logo num primeiro momento estranhei o aspecto geral mais comprido da ave (talvez mais esguia) e à medida que ia obtendo estas imagens fiquei ainda mais intrigado com alguns pormenores, designadamente o bico grosso e a testa baixa. Apesar daquele pescoço “sujo”, haverá alguma hipótese de estarmos perante um Podiceps auritus?”

 
As respostas não tardaram e também não permitem que restem dúvidas:
 
António A. Gonçalves “… pelo formato da cabeça e do bico e o padrão da cabeça eu digo que sim…”
 
Flávio Oliveira “… também me parece P. auritus. Pela grande simetria entre parte superior e inferior do bico (não parece virado para cima na ponta) e pela transição nítida entre o preto e o branco da cabeça/face…”
 
Rui Caratão “… Espero que se aguente por aí no Inverno...”
 
Gonçalo Elias “… E vai mais uma espécie para o distrito. Sugiro envio de mail (com foto) para a mailing list das raridades…”
 
Pedro Ramalho “… Confirmadíssimo…”
 
Carlos Pacheco “… manda também para o CPR, não te esqueças…”
 
João Ferreira “…Grande Malha…”
 
Luís Gordinho “… Muito bom Jorge. O pescoço (e a face) "sujos" a que fazes referência poderão ser restos da plumagem de juvenil… é sempre 1 bicho giro de se ver cá... ”

 
Inscrevo, assim, o Mergulhão-de-pescoço-castanho (Podiceps auritus) na lista das aves da minha área de estudo.
 
Esta espécie, que não consta no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, está definida com o estatuto de conservação global de «Pouco Preocupante» pela União Internacional para a Conservação da Natureza. A imagem seguinte, extraída do sítio electrónico desta organização, ilustra a distribuição europeia deste mergulhão proveniente dos longínquos países bálticos que, como se pode ver, não é ocorrência regular no território continental nacional.



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa, referem que até 2007 apenas havia dois registos da sua presença entre nós (01-11-1993 – estuário do Minho – FJ Arcas, JM Arcas, MC Jamardo, D Vieites, DR Vieites; 07-01-2006 – Lagoa de Óbidos – H Cardoso e outros) e, desde então, apenas tenho conhecimento das duas ocorrências constantes da última Tabela de Registos do Comité Português de Raridades (24-12-2010 – lagoa Grande – Lagoa de Albufeira – Sesimbra – P Fernandes; 13 a 17-02-2011 – praia do Quebrado, Peniche V Maia, P Ramalho) e de outra apenas indicada no Raridades Online (05-02-2011 – cais comercial de Faro – M Mendes).
 
Assim, o Mergulhão-de-pescoço-castanho também não está indicado na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte na respectiva caracterização biológica. Na última actualização da lista de aves do distrito de Braga do portal Aves de Portugal, já está mencionada esta ocorrência.
 
Esta observação foi submetida para homologação ao Comité Português de Raridades, tendo-lhe sido atribuído o código CPR J074.