domingo, 20 de novembro de 2011

OBSERVAÇÃO DE AVES (OUTUBRO 2011) (Anexo)

Confirmação da ocorrência de nova espécie de CHARADRIIFORMES

 
Família Stercorariidae
 
Relativamente à família dos Moleiros (Stercorariidae), na Parte III do estudo sobre a avifauna do estuário do Cávado e habitats envolventes que aqui apresentei em 2009, apenas identifiquei o Alcaide ou Moleiro-grande (Stercorarius skua) como presente nesta região. Teria sido conveniente, porém, acrescentar que ainda surgem regularmente na costa nacional, e necessariamente ao largo de Esposende, mais três destas espécies pelágicas (de alto-mar). Além do migrador de passagem pouco comum a comum (*) Moleiro-pomarino ou M-do-árctico (Stercorarius pomarinus) e do migrador de passagem raro (*) Moleiro-rabilongo ou M-de-cauda-comprida (Stercorarius longicaudus), ambos pouco esperados nas proximidades das praias, ainda há a considerar o migrador de passagem comum e invernante pouco comum (*) Moleiro-pequeno ou M.-parasita (Stercorarius parasiticus), acerca do qual se encontram várias referências à possibilidade de surgir em frente à foz dos nossos rios. Por tal, já há alguns anos e sobretudo a partir de Setembro reservo parte do tempo dedicado à observação de aves a tentar registar a presença nesta região de espécies de hábitos marinhos, designadamente esta última.
 
Este ano apenas detectei na manhã do primeiro dia de Outubro um moleiro em fase escura (para complicar), de tamanho ligeiramente menor do que a Gaivota-de-asa-escura que perseguia insistentemente no extremo da restinga e apresentando uma pequena mas bem visível mancha alar na parte superior, o que me fez concluir tratar-se do “pomarino” ou do “pequeno” (fiquei inclinado para este). Mas como a identificação in loco dos moleiros não é tarefa para os meus inexperientes olhos, procurei socorrer-me da fotografia para uma análise mais cuidada dos registos. Nesta primeira experiência do ano apenas acertei o foco nas nuvens. No dia seguinte, novamente a partir da restinga a meio caminho entre a foz e o esporão norte de Ofir passou outro moleiro, afortunadamente em fase clara e a cerca de 30 metros da praia. As fotos obtidas foram submetidas à apreciação no FórumAves.





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Embora estes “supercropes” não pareçam elucidativos, notem as análises que me chegaram de dois ilustres amigos:
 
- «Pela asa estreita, comprida e "pontiaguda", pela transição bem definida entre a axila escura e o abdómen claro. O aparente colar escuro é interrompido... eu diria Stercorarius parasiticus (Moleiro pequeno/parasitico).»
 
(Hélder Vieira)

 
- «… a primeira coisa a notar é que é um adulto, mas nota a cauda com as duas penas centrais compridas mas sem espátulas e não excessivamente compridas, nota que tem flash branco na parte inferior das asas o que elimina rabilongo, mas que o flash na parte superior é pouco extenso o que elimina pomarino, nota a barriga clara, com castanho só na parte terminal o que elimina rabilongo, que de resto seria cinzento e não castanho, outra coisa util é usar as gaivotas para tentar obter referencias de tamanho, o pomarino é mais ou menos do tamanho de uma fuscus, mas o parasiticus é mais pequeno mais do tamanho de uma gaivota-de-cabeça-preta, um pouco maior, mas atenção que há sobreposição de tamanhos.
A chave para se ser feliz com os moleiros é assumir que não se consegue nunca fazer a identificação de todos os adultos e que se só se consegue fazer identificação dos juvenis que estejam a uma distancia razoável e mesmo assim... portanto não se deve perder tempo e saúde a tentar fazer a identificação de aves distantes.
Com aves a uma distancia razoável a 1º coisa a fazer é determinar a idade, em adultos a escolha na pratica é entre o parasitico e o pomarino já que o rabilongo não oferece grande dificuldade se as características chave forem bem vistas, agora para fazer a separação de pomarinos de parasiticos, a coisa pode ser muito fácil ou nem por isso, se for um pomarino com as colheres bem visíveis o problema esta resolvido, o problema é se as colheres estiverem partidas o formato da cauda à distancia pode parecer igual à do parasiticos, para separar os adultos sem a cauda um conjunto de características deve ser avaliado, mas principalmente o tamanho, se a ave passar por gaivotas e for muito mais pequeno não é um pomarino, se não for muito mais pequeno pode ser pomarino, mas é preciso muito cuidado com a avaliação do tamanho é preciso ter a certeza que as aves que estão a ser usadas para comparação estão muito próximas do moleiro. O flash na parte de cima da asa do pomarino adulto é consistentemente maior que no pequeno mas é preciso alguma experiência para ver isso à distancia, as características da plumagem podem ser difíceis de avaliar numa ave em voo especialmente se a distancia for a normal.
Em suma, aproveitem bem as aves adultas com as caudas inteiras, para fazerem um estudo do tamanho, modo de voo, forma, desenho, etc...»
 
(Pedro Ramalho)

 
PEREMPTÓRIO! Não me restam, assim, quaisquer dúvidas de que devo inscrever o Moleiro-pequeno ou M.-parasita (Stercorarius parasiticus) na listas das aves da minha área de estudo.
 
No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, apenas podemos encontrar o S. skua, porém a União Internacional para a Conservação da Natureza define o estatuto de conservação a nível global do Moleiro-pequeno de «Pouco Preocupante». Este também não consta na Lista de Aves referenciadas para o Parque Natural Litoral Norte na respectiva caracterização biológica. Também se espera para breve a sua inclusão na “lista de aves do distrito de Braga” do portal Aves de Portugal.


 
(*) Segundo Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. Assírio & Alvim, Lisboa.