domingo, 28 de fevereiro de 2010

A FEW WORDS (I)

Num concelho com tantos quilómetros de ricos e coloridos sistemas dunares, (ainda) orlados por refrescantes matas de pinheiro e de folhosas, onde os rios não se lançam ao mar sem antes formarem serenos estuários com os seus férteis sapais e prados de juncos, onde as pequenas zonas húmidas, caniçais e ribeiros surgem por todo o lado sob a omnipresente protecção dos bosques policromáticos de amieiros, freixos e salgueiros, onde os recifes marinhos fervilham de vida …





































… nos seus outdoors, é assim que a nossa autarquia se ilustra:



















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… vá lá, até aqui … para postal serve...




















… mas um GREEN (golfe) associado à palavra NATUREZA?!?!?!?!...



terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Se o PDM fosse seropositivo, seria tantas vezes violado?

Desde já devo avisar que a verborreia que estou prestes a regurgitar não vai ser muito elegante. Se calhar será conveniente ter já uma idadezinha avançada para continuar a ler estes desabafos. É que isto está a sair-me por impulso logo após me ter esbarrado numa fotografia publicada na recém criada comunidade on-line de fangueiros (habitantes de Fão, no concelho de Esposende, de onde sou natural e onde ainda pretendo continuar a viver). Por estar intitulada “Festival Ofir 2009”, não restam dúvidas, a imagem refere-se ao evento musical que decorreu numa noite do último Verão, ao lado de uma discoteca cá do burgo e que trouxe até aqui uma artista brasileira sobejamente conhecida pelos seus ritmos tropicais, aos quais ainda há quem chame de música. Até aqui, vá lá, cada um come daquilo que quer. Mas o que de facto me provocou uma aterragem forçada foi ter percebido que, em grande plano, surge naquela fotografia panorâmica alguém com muitas responsabilidades na gestão do território deste concelho: - o próprio edil local.
Agora atentem a esta imagem obtida em 2005 ao lado da mesma discoteca. Nem eu, que passo por ali tantas vezes, sei bem o que isto era. Naquela altura já ali haviam outros parques de estacionamento com lugares suficientes para lotar duas vezes aquele espaço de diversão nocturna, portanto, sem querer lançar palpites sobre o destino dos camiões de areia que dali saíram ou sobre a proveniência dos materiais que ali foram depositados como aterro, entre os quais telhas de amianto, questionei-me sobre as razões que poderiam justificar o desbaste de uma mancha de pinhal equivalente a uns de três campos de futebol. Questionei-me e questionei a quem deveria zelar pelo cumprimento do Plano Director Municipal que classificava aquele ex-pinhal como Reserva Ecológica Nacional, ou seja, o mesmo senhor que surge em grande plano na fotografia acima descrita. Apesar das perguntas terem seguido por carta registada, nunca obtive directamente a resposta que me era devida enquanto munícipe cumpridor e responsavelmente preocupado. Então, conforme diz o povo, meti a boca no trombone, que é como quem diz, convoquei a comunicação social local, regional e nacional e expus o atentado. Então sim, com a barraca montada, tanto o autarca como o director da então área de paisagem protegida do litoral de Esposende, lá se deram ao aborrecimento de se explicarem. O segundo, logo sacudiu a água do capote, escudando-se no argumento de que aquele local e os outros que surgem nas restantes imagens aqui apresentadas se localizavam fora das áreas da responsabilidade do Instituto da Conservação da Natureza (mesmo sabendo, obviamente, que em pouco mais de um ano a área protegida se estenderia até ali quando viesse a ser reclassificada como parque natural). Quanto ao destinatário da minha missiva, até aí reservado ao silêncio, sempre prestou o esclarecimento aos média de que a autarquia tinha conhecimento do crime e que já tinha accionado os meios legais para obrigar o autor a corrigir o dano.

E esperei. Esperei. E esperei, até que, volvidos mais de três anos, renasceu-me a esperança com a chegada de algumas máquinas ao local: “agora sim, finalmente vão reconstituir a duna e reflorestar a área” pensei, ingenuamente. Mas logo as minhas expectativas se frustraram. Toda aquela aparatosa artilharia apenas serviu para proceder ao abate integral do coberto arbóreo (não sobrou uma semente), à remoção de centenas de camiões de areia (tão valiosa) e à terraplanagem do pinhal contíguo, triplicando a área arrasada. E recordo, mais uma vez, de que me estou a referir a solos da Reserva Ecológica Nacional. Mas para quê esta intervenção gigantesca, se até então ainda nem me tinha apercebido sequer de qualquer uso que justificasse a primeira parte do desmanche? A resposta chegou-me em forma de anúncio publicitário: - “Festival Ofir 2009 – Sábado 25 de Julho – 12 horas de Concertos – Espaço de 22.500 metros quadrados ao ar livre ”! Agora sou eu que vou repetir o conteúdo do cartaz: doze horas de concertos musicais, justificaram o abate de centenas de árvores num perímetro de vinte e dois mil e quinhentos metros quadrados, ficando aquele espaço, nas restantes oito mil setecentas e quarenta e oito horas do ano, reduzido a uma pista de aviação. “Estupendo!” – pensaram todos. “A partir de então os esposendenses passariam a ter um recinto de espectáculos digno dos melhores palcos. Com excepção de duas pessoas, todos os esposendenses ficariam orgulhosos de tão grandioso projecto!

As duas pessoas que não gostaram nada daquilo foram, como já devem ter calculado, o que escreveu a carta, ou seja, eu próprio que não tenho emenda, e o que a recebeu e respondeu muito preocupado à comunicação social de que tudo faria para que o determinado no PDM fosse cumprido e a disposição daqueles solos regressassem à situação original de terreno florestal, ou seja, o próprio edil. Aliás, edil este, que tão preocupado tem andado com as «alterações climáticas», que enche a boca toda quando se refere abstractamente a «defesa do ambiente», a «protecção da natureza», a «conservação dos recursos», a «valorização do património natural», a «preservação da biodiversidade»… e depois, bem animado, pisa em cima de 22.500 metros quadrados de solo roubado à natureza.

É PRECISO TER LATA!!!




NOTAS:

(foto 2) O empresário que promoveu o evento ficou simplesmente obrigado a devolver o “verde” ao local com a plantação de pinheiros-mansos. Até agora, conforme a segunda imagem documenta, plantou alguns pés de pinheiro-bravo na orla do espaço. Haja fé, talvez alguma brasileira volte cá em 2010.

(foto 3) A terceira imagem revela uma mega exploração de inertes situada ali próximo, mascarada de reconversão de uma área florestal em terreno de uso agrícola (mais uma descarada violação ao PDM) e que de certa forma reproduz o cenário verificado ao lado da discoteca.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (JANEIRO 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

Conforme se esperava, a humidade e o frio de mais um rigoroso mês de Janeiro sempre nos trouxeram as habituais aves aquáticas, sobretudo as hordas de anatídeos que ocuparam o estuário em toda a sua extensão. Relativamente ao mês anterior, o número de Patos-reais (Anas platyrhynchos) aumentou consideravelmente, no entanto, além destes, só os pequenos Marrequinhos (Anas crecca) aqui ocorreram em grandes bandos – numa contagem, que certamente pecou por defeito, apurei o número de 76 indivíduos “estacionados” apenas entre a ponte de Fão e a da A28 (enquanto muitos outros se abrigavam no sapal mais a jusante).
























































De qualquer modo, excluindo obviamente a família Laridae (gaivotas), a espécie mais abundante neste meio voltou a ser o Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) que totalizou um número certamente superior ao meio milhar. A grande quantidade destes exímios “pescadores”, que passam os dias numa roda-viva entre as águas envolventes aos recifes e o estuário, é evidenciada principalmente ao final do dia quando os inúmeros bandos de muitas dezenas de indivíduos rumam para os seus dormitórios no vizinho concelho de Barcelos ao longo do Cávado.





































Continuando no plano de água, entre os vários ajuntamentos constituídos por aquelas três espécies, ainda puderam ser registadas, embora com escassez, as presenças dos Mergulhões-de-pescoço-preto (Podiceps nigricolis) e dos Mergulhões-pequenos (Tachybaptus ruficollis), bem como de algumas Piadeiras (Anas penelope), mas o mais relevante, porque normalmente surgem neste estuário apenas em casais isolados, foi a permanência desde o início do mês de um pequeno grupo de cinco Patos-trombeteiros (Anas clypeata).



















E também foram muitas as aves que procuraram a orla sobre influência directa do rio mas já em terra mais ou menos firme. Refiro-me às limícolas, algumas por enquanto pouco representadas, como os Pilritos-comuns (Calidris alpina), os Maçaricos-das-rochas (Actitis hypoleucos), as Rolas-do-mar (Arenaria interpres) ou os quatro precoces Maçaricos-galegos (Numenius phaeopus) registados no dia 25; outras mais comuns e sempre esperadas nesta época, como as Narcejas (Gallinago gallinago) ou os Pernas-verde (Tringa nebularia); e ainda outras mais características do frio como as Tarambolas-cinzentas (Pluvialis squatarola) ou os Abibes (Vanellus vanellus) que neste Inverno foram especialmente abundantes.



















Mas todo este vasto “desfile alado” perderia muita da sua elegância sem a presença das várias garças que, como não poderia ter deixado de acontecer, eram facilmente vistas perfiladas ao longo do rio. Até há poucos anos, salvo uma ou outra ocorrência ocasional, apenas éramos visitados no Inverno pelas grandes Garças-reais (Ardea cinerea) e pelas sempre graciosas Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta).



















Agora, e com um aumento bem notado de ano para ano, as Garças-boieiras (Bubulcus ibis) estão a tornar-se num dos membros mais numerosos das nossas grandes aves. O bando misto destas duas espécies cor de neve, que empresta um ar natalício a um único freixo na margem direita, onde invariavelmente se acomodam para passar a noite, duplicou em relação ao último Inverno – o número total já compreende entre 60 a 70 indivíduos.





































De assinalar com especial destaque, foi a passagem de uma Cegonha-branca (Ciconia ciconia) que no dia 24 sobrevoou o Cávado de sul para norte tendo, aparentemente, pousado nos campos de Gandra (apesar da larga distância a que detectei o indivíduo, aqui junto duas imagens que documentam o, ainda, invulgar registo).





































Quanto à situação dos mais confiáveis bioindicadores da nossa avifauna, que é como quem diz, as Rapinas, nem tudo foram boas notícias. Apesar dos Peneireiros-vulgares (Falco tinnunculus) insistirem em justificar o nome vernáculo;



















do Gavião (Accipiter nisus) se “exibir” repetidamente com manobras aéreas arriscadas dignas de um autêntico F16;



















das Águias-de-asa-redonda (Buteo buteo) continuarem a vigiar com assiduidade as áreas influenciadas pela actividade agrícola ou o Pinhal da Restinga, onde mais uma vez surgiu aquele espécime invernante; dos dois (macho e fêmea) Tartaranhões-dos-pauis (Circus aeruginosus) “patrulharem” todo o dia, a poucos metros de altura, o solo do prado juncal e do sapal;



















a “nossa” Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) deixou de ser avistada já desde o longínquo dia 16 de Dezembro último.

Ficou-nos, por consolação, a célebre Coruja-do-nabal (Asio flammeus), agora muito mais discreta e que, desde as pequenas cheias da passagem de ano, que inundaram parcialmente o seu terreno de caça, alargou a área de ocorrência para os campos de Gandra, regressando à margem esquerda apenas com a luz ténue do final do dia.



















Quanto aos passeriformes, foi registado um elevadíssimo número de Tentilhões (Fringilla coelebs) e Felosas-comuns (Phylloscopus collybita), entre outras espécies também típicas desta época, como, por exemplo, as Lavercas (Alauda arvensis), as Petinhas-dos-prados (Anthus pratensis), as Alvéolas-cinzentas (Motacilla cinerea), os Tordos-músicos (Turdus philomelos), ou as sóbrias Ferreirinhas (Prunella modularis).



















Nas aves residentes, também se notou um acréscimo na abundância dos coloridos Piscos-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula).



















Entre os mais reservados frequentadores do pinhal e das galerias ripícolas, merece especial destaque a presença bem notada de pequenas populações de Trepadeiras-comuns (Certhia brachydactyla), Chapins-rabilongos (Aegithalos caudatus) ou ainda de Toutinegras-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla).



















Antes de terminar, não podia deixar de me referir ao registo de alguns Chapins-azuis (Parus caeruleus) mais a montante no Marachão (já fora da área em estudo), os quais poucas vezes têm sido por mim detectados na região; e ainda outra ave que, apesar de comum e muito atraente, é uma espécie exótica e cujo impacto da sua proliferação no nosso território ainda estará por analisar: - refiro-me aos Bicos-de-lacre (Estrilda astrild).