quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (JANEIRO 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

Conforme se esperava, a humidade e o frio de mais um rigoroso mês de Janeiro sempre nos trouxeram as habituais aves aquáticas, sobretudo as hordas de anatídeos que ocuparam o estuário em toda a sua extensão. Relativamente ao mês anterior, o número de Patos-reais (Anas platyrhynchos) aumentou consideravelmente, no entanto, além destes, só os pequenos Marrequinhos (Anas crecca) aqui ocorreram em grandes bandos – numa contagem, que certamente pecou por defeito, apurei o número de 76 indivíduos “estacionados” apenas entre a ponte de Fão e a da A28 (enquanto muitos outros se abrigavam no sapal mais a jusante).
























































De qualquer modo, excluindo obviamente a família Laridae (gaivotas), a espécie mais abundante neste meio voltou a ser o Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) que totalizou um número certamente superior ao meio milhar. A grande quantidade destes exímios “pescadores”, que passam os dias numa roda-viva entre as águas envolventes aos recifes e o estuário, é evidenciada principalmente ao final do dia quando os inúmeros bandos de muitas dezenas de indivíduos rumam para os seus dormitórios no vizinho concelho de Barcelos ao longo do Cávado.





































Continuando no plano de água, entre os vários ajuntamentos constituídos por aquelas três espécies, ainda puderam ser registadas, embora com escassez, as presenças dos Mergulhões-de-pescoço-preto (Podiceps nigricolis) e dos Mergulhões-pequenos (Tachybaptus ruficollis), bem como de algumas Piadeiras (Anas penelope), mas o mais relevante, porque normalmente surgem neste estuário apenas em casais isolados, foi a permanência desde o início do mês de um pequeno grupo de cinco Patos-trombeteiros (Anas clypeata).



















E também foram muitas as aves que procuraram a orla sobre influência directa do rio mas já em terra mais ou menos firme. Refiro-me às limícolas, algumas por enquanto pouco representadas, como os Pilritos-comuns (Calidris alpina), os Maçaricos-das-rochas (Actitis hypoleucos), as Rolas-do-mar (Arenaria interpres) ou os quatro precoces Maçaricos-galegos (Numenius phaeopus) registados no dia 25; outras mais comuns e sempre esperadas nesta época, como as Narcejas (Gallinago gallinago) ou os Pernas-verde (Tringa nebularia); e ainda outras mais características do frio como as Tarambolas-cinzentas (Pluvialis squatarola) ou os Abibes (Vanellus vanellus) que neste Inverno foram especialmente abundantes.



















Mas todo este vasto “desfile alado” perderia muita da sua elegância sem a presença das várias garças que, como não poderia ter deixado de acontecer, eram facilmente vistas perfiladas ao longo do rio. Até há poucos anos, salvo uma ou outra ocorrência ocasional, apenas éramos visitados no Inverno pelas grandes Garças-reais (Ardea cinerea) e pelas sempre graciosas Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta).



















Agora, e com um aumento bem notado de ano para ano, as Garças-boieiras (Bubulcus ibis) estão a tornar-se num dos membros mais numerosos das nossas grandes aves. O bando misto destas duas espécies cor de neve, que empresta um ar natalício a um único freixo na margem direita, onde invariavelmente se acomodam para passar a noite, duplicou em relação ao último Inverno – o número total já compreende entre 60 a 70 indivíduos.





































De assinalar com especial destaque, foi a passagem de uma Cegonha-branca (Ciconia ciconia) que no dia 24 sobrevoou o Cávado de sul para norte tendo, aparentemente, pousado nos campos de Gandra (apesar da larga distância a que detectei o indivíduo, aqui junto duas imagens que documentam o, ainda, invulgar registo).





































Quanto à situação dos mais confiáveis bioindicadores da nossa avifauna, que é como quem diz, as Rapinas, nem tudo foram boas notícias. Apesar dos Peneireiros-vulgares (Falco tinnunculus) insistirem em justificar o nome vernáculo;



















do Gavião (Accipiter nisus) se “exibir” repetidamente com manobras aéreas arriscadas dignas de um autêntico F16;



















das Águias-de-asa-redonda (Buteo buteo) continuarem a vigiar com assiduidade as áreas influenciadas pela actividade agrícola ou o Pinhal da Restinga, onde mais uma vez surgiu aquele espécime invernante; dos dois (macho e fêmea) Tartaranhões-dos-pauis (Circus aeruginosus) “patrulharem” todo o dia, a poucos metros de altura, o solo do prado juncal e do sapal;



















a “nossa” Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) deixou de ser avistada já desde o longínquo dia 16 de Dezembro último.

Ficou-nos, por consolação, a célebre Coruja-do-nabal (Asio flammeus), agora muito mais discreta e que, desde as pequenas cheias da passagem de ano, que inundaram parcialmente o seu terreno de caça, alargou a área de ocorrência para os campos de Gandra, regressando à margem esquerda apenas com a luz ténue do final do dia.



















Quanto aos passeriformes, foi registado um elevadíssimo número de Tentilhões (Fringilla coelebs) e Felosas-comuns (Phylloscopus collybita), entre outras espécies também típicas desta época, como, por exemplo, as Lavercas (Alauda arvensis), as Petinhas-dos-prados (Anthus pratensis), as Alvéolas-cinzentas (Motacilla cinerea), os Tordos-músicos (Turdus philomelos), ou as sóbrias Ferreirinhas (Prunella modularis).



















Nas aves residentes, também se notou um acréscimo na abundância dos coloridos Piscos-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula).



















Entre os mais reservados frequentadores do pinhal e das galerias ripícolas, merece especial destaque a presença bem notada de pequenas populações de Trepadeiras-comuns (Certhia brachydactyla), Chapins-rabilongos (Aegithalos caudatus) ou ainda de Toutinegras-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla).



















Antes de terminar, não podia deixar de me referir ao registo de alguns Chapins-azuis (Parus caeruleus) mais a montante no Marachão (já fora da área em estudo), os quais poucas vezes têm sido por mim detectados na região; e ainda outra ave que, apesar de comum e muito atraente, é uma espécie exótica e cujo impacto da sua proliferação no nosso território ainda estará por analisar: - refiro-me aos Bicos-de-lacre (Estrilda astrild).