Desde já devo avisar que a verborreia que estou prestes a regurgitar não vai ser muito elegante. Se calhar será conveniente ter já uma idadezinha avançada para continuar a ler estes desabafos. É que isto está a sair-me por impulso logo após me ter esbarrado numa fotografia publicada na recém criada comunidade on-line de fangueiros (habitantes de Fão, no concelho de Esposende, de onde sou natural e onde ainda pretendo continuar a viver). Por estar intitulada “Festival Ofir 2009”, não restam dúvidas, a imagem refere-se ao evento musical que decorreu numa noite do último Verão, ao lado de uma discoteca cá do burgo e que trouxe até aqui uma artista brasileira sobejamente conhecida pelos seus ritmos tropicais, aos quais ainda há quem chame de música. Até aqui, vá lá, cada um come daquilo que quer. Mas o que de facto me provocou uma aterragem forçada foi ter percebido que, em grande plano, surge naquela fotografia panorâmica alguém com muitas responsabilidades na gestão do território deste concelho: - o próprio edil local.
Agora atentem a esta imagem obtida em 2005 ao lado da mesma discoteca. Nem eu, que passo por ali tantas vezes, sei bem o que isto era. Naquela altura já ali haviam outros parques de estacionamento com lugares suficientes para lotar duas vezes aquele espaço de diversão nocturna, portanto, sem querer lançar palpites sobre o destino dos camiões de areia que dali saíram ou sobre a proveniência dos materiais que ali foram depositados como aterro, entre os quais telhas de amianto, questionei-me sobre as razões que poderiam justificar o desbaste de uma mancha de pinhal equivalente a uns de três campos de futebol. Questionei-me e questionei a quem deveria zelar pelo cumprimento do Plano Director Municipal que classificava aquele ex-pinhal como Reserva Ecológica Nacional, ou seja, o mesmo senhor que surge em grande plano na fotografia acima descrita. Apesar das perguntas terem seguido por carta registada, nunca obtive directamente a resposta que me era devida enquanto munícipe cumpridor e responsavelmente preocupado. Então, conforme diz o povo, meti a boca no trombone, que é como quem diz, convoquei a comunicação social local, regional e nacional e expus o atentado. Então sim, com a barraca montada, tanto o autarca como o director da então área de paisagem protegida do litoral de Esposende, lá se deram ao aborrecimento de se explicarem. O segundo, logo sacudiu a água do capote, escudando-se no argumento de que aquele local e os outros que surgem nas restantes imagens aqui apresentadas se localizavam fora das áreas da responsabilidade do Instituto da Conservação da Natureza (mesmo sabendo, obviamente, que em pouco mais de um ano a área protegida se estenderia até ali quando viesse a ser reclassificada como parque natural). Quanto ao destinatário da minha missiva, até aí reservado ao silêncio, sempre prestou o esclarecimento aos média de que a autarquia tinha conhecimento do crime e que já tinha accionado os meios legais para obrigar o autor a corrigir o dano.
E esperei. Esperei. E esperei, até que, volvidos mais de três anos, renasceu-me a esperança com a chegada de algumas máquinas ao local: “agora sim, finalmente vão reconstituir a duna e reflorestar a área” pensei, ingenuamente. Mas logo as minhas expectativas se frustraram. Toda aquela aparatosa artilharia apenas serviu para proceder ao abate integral do coberto arbóreo (não sobrou uma semente), à remoção de centenas de camiões de areia (tão valiosa) e à terraplanagem do pinhal contíguo, triplicando a área arrasada. E recordo, mais uma vez, de que me estou a referir a solos da Reserva Ecológica Nacional. Mas para quê esta intervenção gigantesca, se até então ainda nem me tinha apercebido sequer de qualquer uso que justificasse a primeira parte do desmanche? A resposta chegou-me em forma de anúncio publicitário: - “Festival Ofir 2009 – Sábado 25 de Julho – 12 horas de Concertos – Espaço de 22.500 metros quadrados ao ar livre ”! Agora sou eu que vou repetir o conteúdo do cartaz: doze horas de concertos musicais, justificaram o abate de centenas de árvores num perímetro de vinte e dois mil e quinhentos metros quadrados, ficando aquele espaço, nas restantes oito mil setecentas e quarenta e oito horas do ano, reduzido a uma pista de aviação. “Estupendo!” – pensaram todos. “A partir de então os esposendenses passariam a ter um recinto de espectáculos digno dos melhores palcos. Com excepção de duas pessoas, todos os esposendenses ficariam orgulhosos de tão grandioso projecto!”
As duas pessoas que não gostaram nada daquilo foram, como já devem ter calculado, o que escreveu a carta, ou seja, eu próprio que não tenho emenda, e o que a recebeu e respondeu muito preocupado à comunicação social de que tudo faria para que o determinado no PDM fosse cumprido e a disposição daqueles solos regressassem à situação original de terreno florestal, ou seja, o próprio edil. Aliás, edil este, que tão preocupado tem andado com as «alterações climáticas», que enche a boca toda quando se refere abstractamente a «defesa do ambiente», a «protecção da natureza», a «conservação dos recursos», a «valorização do património natural», a «preservação da biodiversidade»… e depois, bem animado, pisa em cima de 22.500 metros quadrados de solo roubado à natureza.
É PRECISO TER LATA!!!
NOTAS:
(foto 2) O empresário que promoveu o evento ficou simplesmente obrigado a devolver o “verde” ao local com a plantação de pinheiros-mansos. Até agora, conforme a segunda imagem documenta, plantou alguns pés de pinheiro-bravo na orla do espaço. Haja fé, talvez alguma brasileira volte cá em 2010.
(foto 3) A terceira imagem revela uma mega exploração de inertes situada ali próximo, mascarada de reconversão de uma área florestal em terreno de uso agrícola (mais uma descarada violação ao PDM) e que de certa forma reproduz o cenário verificado ao lado da discoteca.
As duas pessoas que não gostaram nada daquilo foram, como já devem ter calculado, o que escreveu a carta, ou seja, eu próprio que não tenho emenda, e o que a recebeu e respondeu muito preocupado à comunicação social de que tudo faria para que o determinado no PDM fosse cumprido e a disposição daqueles solos regressassem à situação original de terreno florestal, ou seja, o próprio edil. Aliás, edil este, que tão preocupado tem andado com as «alterações climáticas», que enche a boca toda quando se refere abstractamente a «defesa do ambiente», a «protecção da natureza», a «conservação dos recursos», a «valorização do património natural», a «preservação da biodiversidade»… e depois, bem animado, pisa em cima de 22.500 metros quadrados de solo roubado à natureza.
É PRECISO TER LATA!!!
NOTAS:
(foto 2) O empresário que promoveu o evento ficou simplesmente obrigado a devolver o “verde” ao local com a plantação de pinheiros-mansos. Até agora, conforme a segunda imagem documenta, plantou alguns pés de pinheiro-bravo na orla do espaço. Haja fé, talvez alguma brasileira volte cá em 2010.
(foto 3) A terceira imagem revela uma mega exploração de inertes situada ali próximo, mascarada de reconversão de uma área florestal em terreno de uso agrícola (mais uma descarada violação ao PDM) e que de certa forma reproduz o cenário verificado ao lado da discoteca.