terça-feira, 16 de novembro de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (OUTUBRO 2010) (Anexos)

Certamente que no novo modelo por mim adoptado recentemente para enumerar as aves que observo no estuário do Cávado durante o mês anterior (lista anotada e ilustrada), não seria conveniente incluir o registo de novas espécies, devido à quantidade de informação com que assinalo essas ocorrências. Por tal, sempre que for “presenteado” com novas inscrições na minha lista, como os casos que se seguem, irei fazê-lo em anexos à lista principal (num post separado).

Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de PASSERIFORME

Na manhã de 28 de Outubro, dia de algum sol mas com a maré pouco favorável para procurar limícolas ou outras aves aquáticas, aproveitei a disponibilidade para dirigir a atenção à zona sul do estuário, onde já se “instalaram” os habituais e indesejados passarinheiros em busca de fringilídeos, sobretudo os do género Carduelis.

À “boleia” destes tentei, de certa forma, avaliar o estado das populações de Pintassilgos (Carduelis carduelis) e, principalmente, averiguar se ainda era detectada a passagem dos raros Lugres (Carduelis spinus). Os primeiros, apesar da aparente diminuição, ainda vão sendo capturados e casualmente observados, no entanto não tem havido qualquer notícia da ocorrência dos segundos. Recordo que, conforme indiquei logo na Parte I do meu estudo sobre a avifauna do Estuário do Cávado, aqui apresentado no decorrer do ano de 2009, além daquelas duas, também podem ser encontradas nas imediações desta zona húmida outras cinco espécies da família Fringillidae: - os Tentilhões (Fringilla coelebs), cuja chegada se aguarda para breve, os Chamarizes (Serinus serinus), os Pintarroxos (Carduelis cannabina) e os Verdilhões (Carduelis chloris), todos comuns e registados em Outubro último,




















e, para completar o total de sete aves já identificadas, ainda há a apontar os ocasionais Bicos-grossudos (Coccothraustes coccothraustes), que não observo por cá há já vários anos. Saliente-se, contudo, que em Junho deste ano a “teleobjectiva” atenta do Sérgio Esteves, um dos mais dedicados, hábeis e bem sucedidos fotógrafos da natureza da nossa região, captou o invulgar encontro com um indivíduo desta espécie no pinhal de Fão.

Mas, tal como referia no início, naquele dia montei abrigo numa zona muito concorrida para a passagem destas aves coloridas. Intimamente, não exclui a hipótese de reencontrar alguma das menos comuns ou até de descobrir a presença de uma das restantes três espécies de fringilídeos que ocorrem regularmente no território continental nacional. O Cruza-bico (Loxia curvirostra) será aquela que menor probabilidade terá de ser avistada no litoral, dada a sua tendência para frequentar serras altas como as do nosso Parque Nacional. Mas ainda havia a considerar a remota possibilidade de surgirem nos habitats característicos desta região, onde a água é um elemento abundante, o Tentilhão-montês (Fringilla montifringilla), até agora ausente destas paragens, e outro sobre o qual já desenvolvi aqui algumas linhas, o Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula).


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nunca avistado por mim a sul da mata do Camarido em Caminha, ainda assim mantinha a secreta esperança de um dia acrescentá-lo à minha lista, até que naquele dia de Outono, conforme se pode verificar nas imagens, me surgiu esta tímida fêmea que, apesar das cautelas, ainda se deixou fotografar durante alguns segundos.

Esta ave não está, obviamente, tão ameaçada como um seu parente próximo, o ilustre Priolo da ilha de São Miguel nos Açores, pois a sua situação é considerada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal como «Pouco Preocupante». De qualquer modo a SPEA classifica-a de residente e invernante pouco comum. Também não consta na Lista de espécies de aves referenciadas para o PNLN, mas esperemos que as suas visitas passem a ser mais frequentes.







Registo da passagem de GAIVINAS e ANDORINHAS-DO-MAR

Dado que em quase 14 anos e até à última passagem migratória apenas tinha identificado neste estuário três das nove espécies de gaivinas e andorinhas-do-mar que, segundo a SPEA, ocorrem regularmente em Portugal Continental, no decorrer da primeira metade de Outubro último dediquei várias horas a fazer registos fotográficos (e nada mais do que isto) dos muitos indivíduos desta família (Sternidae) que eram observados a subir o rio. Assim, através de comparação rigorosa das imagens obtidas, procurei identificar no Cávado alguma das outras seis espécies, sobretudo entre as três mais prováveis.

Desde logo, naquele grupo de nove espécies, todas constantes no ANEXO A-I da Directiva Aves (aves de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de zonas de protecção especial), praticamente declinei a hipótese de ocorrência das mais raras, a saber: - a Gaivina-de-bico-preto (Gelochelidon nilotica), estival e migradora de passagem pouco comum, o Garajau-grande (Sterna caspia), invernante e migrador de passagem pouco comum, e a Gaivina-rosada (Sterna dougallii), migradora de passagem rara. No entanto, considerei que entre as migradoras já habituais e que passavam naqueles dias pela região, ou seja, a Andorinha-do-mar-anã (Sterna albifrons), a Andorinha-do-mar-comum (Sterna hirundo) e o Garajau-comum (Sterna sandvicensis),


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
poderia ser encontrada alguma das restantes três que ainda não estavam “registadas” na lista da avifauna local. A Gaivina-dos-pauis (Chlidonias hybrida), estival e migradora de passagem com estatuto de Criticamente em Perigo e que, segundo alguma literatura fidedigna, apenas é regular no estuário do Tejo, permaneceu por localizar na faixa litoral norte. Por sua vez, a Andorinha-do-mar-árctica (Sterna paradisaea), migradora de passagem pouco comum, conhecida por ser a ave que empreende as mais longas migrações (desde a Gronelândia até à Antárctida), apesar de ter sido vista no final de Setembro para os lados da cidade invicta e de, segundo a informação insuspeita do portal http://www.avesdeportugal.info/, “poder ser observada em passagem pela foz do Cávado”, também não foi por mim detectada no litoral de Esposende, ou, se o foi, não a consegui distinguir da extremamente parecida Andorinha-do-mar-comum.

Faltava analisar a última e a mais forte das possibilidades para inscrever mais uma espécie na nossa avifauna: - a pequena migradora de passagem Gaivina-preta (Chlidonias niger), única ave desta família que apresenta mancha escura nos ombros (verificar nas imagens seguintes).



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desde os primeiros dias do mês, ao lançar um olhar mais atento para o “trânsito” sobre o Cávado, percebia-se, mesmo a longa distância, o corrupio em que andavam umas “gaivotas em miniatura” diante do molhe do Caldeirão em Fão. Estas aves percorriam com determinação toda a extensão do estuário desde a foz até à ponte da auto-estrada de onde retrocediam invariavelmente, mas, ainda antes de se afastarem daquele local, mantinham-se por ali aos círculos a “picar” as águas enquanto se alimentavam de insectos, fazendo deste o melhor local para as observar e confirmar em absoluto a sua ocorrência na área em estudo.

A par da Andorinha-do-mar-árctica, a Gaivina-preta está entre as várias espécies da Ordem dos Charadriiformes que não surgem no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, no entanto, a UICN considera o seu estado de conservação a nível mundial como «Pouco Preocupante». A SPEA também a classifica de Migradora de Passagem «Comum» mas, ainda assim, não consta na «Lista de aves referenciadas para o Parque Natural do Litoral Norte» na respectiva caracterização biológica.

E eu próprio, empenhado em saber mais sobre estas aves tão interessantes, prometi a mim mesmo estar mais atento à sua passagem nas próximas migrações…