quarta-feira, 12 de maio de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (ABRIL 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

De certa forma o último mês caracterizou-se pela ocorrência de algumas aves menos esperadas na nossa região durante a Primavera e pela quase ausência de outras normalmente mais assíduas nesta época. De igual modo, optei por também inverter a ordem habitual de apresentação das espécies assinaladas, fazendo a introdução, desta vez, pelos passeriformes.

Embora não corresponda à primeira vez que registo por cá esta espécie em Abril, foi com surpresa que logo ao décimo dia avistei na margem direita, em duas zonas bem afastadas do estuário, dois Picanços-barreteiros (Lanius senator), um mais a nascente e o outro junto ao Forte de São João Baptista. Saliente-se ainda que decorridas mais de duas semanas, no dia 28, voltei a observar um indivíduo na restinga, mas apesar de me ter empenhado com demorada atenção em localizar o par, na esperança de, por fim, confirmar a possível (?) nidificação entre nós, acabei por não o(a) encontrar.





































Mais juntos das parceiras estiveram alguns Chascos-cinzentos (Oenanthe oenanthe) que a partir do dia 10, e pelo menos durante duas semanas, se distribuíram pelos blocos de pedra ao longo da marginal de Esposende, contudo, ainda que os machos se apresentassem vistosamente trajados para o casamento, não detectei qualquer indício de que se tenham reproduzido.





































Mas seriam necessariamente outras as espécies que viriam a fazer do Cávado a sua maternidade e não estas duas, das quais apenas se esperavam uns breves vislumbres nas suas curtas estadias ou passagens pós-nupciais de Setembro. Assim, comportamentos como o visível aumento da actividade entre os chapins, nomeadamente o agora mais conspícuo Chapim-de-poupa (Parus cristatus), e as Trepadeiras-comuns (Certhia brachydactyla), ou a constante labuta das Alvéolas-amarelas (Motacilla flava) que, acabadas de chegar com os primeiros dias quentes do início do mês, logo começaram a procurar alimento para a prole…









































































… ou a súbita dedicação das irrequietas Carriças (Troglodytes troglodytes) às artes do canto e das danças de sedução…





































… o empenhamento das discretas Ferreirinhas (Prunella modularis) em encontrarem os melhores materiais para o berço das suas crias…























































… o perfil ainda mais exibicionista e cada vez mais vigilante dos Cartaxos-comuns (Saxicola torquatus), constantemente colocados num poleiro estratégico…



















… o asseio dos Pardais-comuns (Passer domesticus), sempre disponíveis para partilharem umas poças de maré com as namoradas…























































… ou ainda a intensa saturação das plumagens coloridas dos fringilídeos como os Chamarizes (Serinus serinus), os Verdilhões (Carduelis chloris)…























































e os vaidosos Pintarroxos (Carduelis cannabina)…



















… foram sinais evidentes de uma ampla actividade reprodutora nesta zona húmida e nos meios circundantes.

Menos esperada foi a presença, no dia 26, de um par de Pintassilgos (Carduelis carduelis) pela linha de água que acompanha o Cávado junto aos campos agrícolas das Pedreiras, numa zona em que são mais facilmente avistados em Novembro.

E ainda antes de passarmos à ordem seguinte, não podia deixar de aqui realçar o registo de um pequeno fenómeno aberrante (albinismo) ocorrido numa das espécies que nos são mais familiares, o Melro-preto (Turdus merula), em que um dos seus representantes, apesar do nome, anda completamente vestido de tons claros (talvez por isso, raramente se tivesse afastado das dunas brancas onde passava bem despercebido quando imóvel).





































Entretanto e finalmente, o avançar da estação trouxe-nos um decréscimo acentuado no número de outras aves que buscam paragens mais setentrionais para criarem a próxima geração, tais como os Corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo), as Garças-reais (Ardea cinerea) e as Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta), contudo, todas estas espécies ainda eram representadas por alguns indivíduos isolados nos últimos dias do mês.

Em sua substituição surgiram outras cuja chegada já tardava. Depois dos últimos dias de Fevereiro nos terem trazido as primeiras Andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica), não foi notado entre estas e nas semanas seguintes um grande aumento, mas em Abril os seus efectivos já eram definitivamente os habituais para a época. E a estas vieram juntar-se logo no início do mês, no dia 1, as primeiras Poupas (Upupa epops), depois, no dia 6, os Andorinhões-pretos (Apus apus) e as Andorinhas-dos-beirais (Delichon urbica) apenas se fizeram notar nos últimos dias, depois dos Pombos-torcazes (Columba palumbus), que já preenchiam todo o pinhal, terem começado a mostrar, orgulhosos, os seus primeiros borrachos.



















Ainda entre os columbídeos e enquanto as primas não chegavam, foi interessante testemunhar algumas Rolas-turcas (Streptopelia decaocto) a manifestarem-se de tal modo curiosas com a minha última lente que não resistiram em quase espreitar para dentro dela.





































Com o aproximar do final do mês, durante o qual não foi visto um único Guarda-rios (Alcedo atthis) a jusante da ponte velha, haveriam de chegar-nos outras interessantes revelações. Enquanto a fêmea de Tartaranhão-dos-pauis (Circus aeruginosus), agora sozinha, continuava incansável na captura das suas presas favoritas pelo juncal, na área agro-florestal entre Fão e Apúlia, confirmou-se que algumas Perdizes-comuns (Alectoris rufa) escaparam à última época de caça e agora formam pares românticos enquanto se passeiam livremente pelos campos profusamente floridos.





































Seguindo agora para o meio aquático, é de referir que este foi um mês de Abril algo atípico. Os Patos-reais (Anas platyrhynchos) ainda fizeram questão de assinalar bem cedo que já estávamos na Primavera e algumas Galinhas-d’água (Gallinula chloropus), aproveitando o facto das chuvas abundantes do último Inverno terem transformado o «Caniçal de Fão» numa lagoa, também não quiseram perder a oportunidade de ali se reproduzirem…



















... ou de darem umas escapadinhas até ao rego que se desvia do Cávado na margem esquerda, agora também transformado em caniçal…



















… contudo, das migradoras de passagem quase que nem sinal havia. No dia 9 até foram avistados três Pernas-vermelhas (Tringa totanus) no sapal junto à foz e, na semana que nos haveria de trazer muitas dezenas de fotógrafos da natureza a Fão, ainda foram observados muitos Garajaus-comuns (Sterna sandvicensis) no mar bem próximo da praia ou no estuário.





































Mas, e os outros? Corriam notícias da recente entrada em actividade de um vulcão islandês com um nome impronunciável que estava a causar alterações no tráfego aéreo. Estariam também as aves a serem afectadas pelas cinzas vulcânicas? Ou eram as temperaturas anormalmente baixas e a chuva ou as alterações climáticas as responsáveis pela demora? Seja qual for a resposta, o facto é que os primeiros bandos de Pilritos-comuns (Calidris alpina) …





































… de Rolas-do-mar (Arenaria interpres) …





































… e de Borrelhos-grandes-de-coleira (Charadrius hiaticula) …























































… só chegaram na última semana, durante a qual, já dia 27, acabou por ser avistado, lá bem alto, a passagem de um mísero grupo com três Maçaricos-galegos (Numenius phaeopus) … só!

Mas aí, já esta briosa mãe justificava a opção do nosso Parque Natural ter adoptado como símbolo o Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus).