sexta-feira, 16 de abril de 2010

OBSERVAÇÃO DE AVES (MARÇO 2010)

Resumo das minhas notas de campo sobre observação de aves no Estuário do Cávado e habitats envolventes

Já há vários anos, durante o Inverno, tenho avistado ocasionalmente ali para os lados da foz uma potente rapina a investir em acto de caça sobre pombos, no entanto, devido à rapidez com que surgia e logo desaparecia, nunca pude atestar em absoluto a espécie em presença, restando-me apenas a sugestão de que naqueles episódios estava perante uma ave da ordem dos Falcões ou afins. Mas, neste ano, o mês que nos haveria de trazer a Primavera, pelo menos oficialmente, iniciou-se com a revelação que há muito tempo eu ansiava por confirmar. Logo no primeiro dia, ainda o sol acabava de nascer, testemunhei o enérgico ataque de uma rapina sobre um bando de limícolas que “pastavam” tranquilamente no sapal junto ao Forte de São João Baptista, tendo a presa sido atingida e colhida com extrema eficácia e, num ápice, enquanto as quatro asas se debatiam num alvoroço, a assaltante retirou-se, servida, na direcção do pinhal de Ofir. Embora com a mudança de vítima, este “abraço” foi em tudo semelhante às cenas verificadas noutros Invernos e, novamente, não consegui in loco identificar a responsável por todo aquele caos alado. Mas desta vez estava munido de máquina fotográfica, pude registar parte da acção em imagem e já não restam quaisquer dúvidas: - inscreva-se, finalmente, na lista da avifauna local o Falcão-peregrino (Falco peregrinus).





















































No que diz respeito ao estatuto de conservação, esta espécie da Ordem dos Falconiformes, Família Falconidae, é apontada no LVVP como «Vulnerável» e consta no anexo A-I da Directiva Aves. A SPEA classifica-a como Residente e Invernante «Pouco Comum» e não está indicada na «Lista de aves referenciadas para o Parque Natural do Litoral Norte».

Desde aquela data já dediquei muitas horas à observação de aves no local de tão ilustre aparição. Como é óbvio, algumas espécies interessantes foram entretanto registadas, como vamos ver na amostra patente mais abaixo neste texto, mas jamais tal espectáculo se repetiu na minha presença. Por duas vezes, ainda neste mês, vi um “falcão” (ou talvez um Accipiter sp.) a sobrevoar o pinhal vindo de sul e a dirigir-se para o estuário, no entanto, ainda não desenvolvi perícia suficiente para distinguir com facilidade a ave em apreço das suas congéneres confirmadas ou de ocorrência provável na região, nomeadamente os mais pequenos F.-tinnunculus (Peneireiro-vulgar), F.-subbuteo (Ógea) ou F.-columbarius (Esmerilhão).

Durante os primeiros dias, para lá do Fórmula 1 das rapinas, ainda se assinalou entre estas a presença do mesmo par de Tartaranhões-dos-pauis (Circus aeruginosus) mas no final do mês já só a fêmea era observada, principalmente entre pontes, ficando vaga a zona mais extensa do juncal a jusante e que até então era dominada pelo macho. (Parece que afinal não marcaram a data do “casamento” para este ano).

Voltando à refeição do “peregrino”, que é como quem diz, às limícolas, destaca-se entre as mais habituais e que têm sido mencionadas durante os últimos meses, um claro aumento no número de Pilritos-comuns (Calidris alpina), apesar de contarem com uma baixa, como se vê acima, e de Pilritos-d’areia (Calidris alba) que nos fascinam com os seus voos sincronizados.
























































As Rolas-do-mar (Arenaria interpres) também se prestaram a grandes ajuntamentos mas, durante os momentos de descanso, trocavam as areias a descoberto na maré vaza pela robustez dos rochedos.





































Por sua vez, enquanto os Borrelhos-grandes-de-coleira (Charadrius hiaticula) sem distribuíram por entre os bandos de pilritos, os recém-chegados Borrelhos-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) arredaram-se do bulício dos primos para namorarem em zonas mais sossegadas do sapal.





































Continuou a ser bem visível uma grande abundância de Corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) e até as Garças-reais (Ardea cinerea) e as Garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta) parecem não ter vontade de nos deixarem.





































Ao invés, as Garças-boieiras (Bubulcus ibis), mais apressadas, aproveitaram o final do mês para regressarem aos seus locais de reprodução.

À boleia destas, debandaram também todas as espécies de patos invernantes, restando-se entre nós, além dos inevitáveis Patos-reais (Anas platyrhynchos), o mesmo Pato-ferrugíneo (Tadorna ferruginea) que nos tinha chegado na mudança do mês.
























































Merecem também especial referência as distintas Gaivotas-do-mediterrâneo (Larus melanocephalus) que, juntamente com vários Garajaus-comuns (Sterna sandvicensis), aqui se mantiveram vários dias a recuperarem forças depois dos fortes temporais que as fizeram abrigar-se no Cávado.



























































































Entre os passeriformes que deveriam estar a chegar de África para criarem descendência, limitei-me a registar que mais nenhuma espécie se juntou às Andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica). De qualquer modo, já se notou um certo “nervosismo” próprio da época por entre as nidificantes residentes, em particular as cada vez mais agitadas e barulhentas Pegas (Pica pica), talvez em marcação territorial, ou então os Chapins-reais (Parus major) nas suas incansáveis tentativas de vocalizarem algumas notas melodiosas…





















… apenas ao alcance dos mais afinados como os Fringilídeos. Entre estes, e à medida que o número de Tentilhões (Fringilla coelebs) diminuía, sucediam-lhes os coloridos Chamarizes (Serinus serinus) e Pintarroxos (Carduelis cannabina) sempre na busca do melhor dos poleiros.




















A Primavera chegava…