domingo, 20 de janeiro de 2013

OBSERVAÇÃO DE AVES (DEZEMBRO 2012) (Anexo)

Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de GAVIIFORMES

Família Gaviidae

Os últimos dias de novembro já anunciavam o invulgar fluxo de Mobelhas (família Gaviidae) que se verificaria nas semanas seguintes um pouco por toda a faixa costeira portuguesa. As três espécies desta família que ocorrem no território nacional são aqui consideradas invernantes raras ou acidentais e o número de registos conhecidos destas aves no litoral de Esposende é tão escasso que se resume ao avistamento de uma mobelha-pequena (Gavia stellata) em frente à foz do Cávado em 06.12.2004 (por Gonçalo Elias) e de duas mobelhas-grandes (Gavia immer), uma em janeiro de 2007 (in Noticiário 264) e outra entre 24.12.2010 e 01.01.2011, por mim observada neste estuário e sobre a qual desenvolvi aqui um pequeno texto.

Mas, conforme referi, no último inverno estas cifras viriam a sofrer importantes alterações. Após Thijs Valkenburg me ter informado de que no dia 1 de dezembro tinha avistado uma mobelha-pequena (Gavia stellata) a passar em voo para sul relativamente perto da restinga do Cávado, passei a dedicar-me ao registo fotográfico de aves “suspeitas” que surgiam sobre o mar. Então, na manhã do dia 7 de dezembro de 2012 passou um indivíduo no mesmo sentido entre os recifes e a praia, permitindo-me algumas imagens que, apesar da longa distância, revelavam caraterísticas suficientes para identificar a ave.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Submetidas à apreciação no Fórum Aves, estas imagens causaram um consenso que veio de encontro à minha convicção, ou seja, estava perante o meu primeiro registo de uma Mobelha-pequena (Gavia stellata), neste caso um juvenil. Em menos de um mês, outro indivíduo desta espécie foi por mim detetado na foz do Cávado, mas este registo já só constará na lista das aves observadas em janeiro de 2013. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) atribuiu o estatuto de conservação global de «Pouco Preocupante» a esta espécie de ampla distribuição no hemisfério norte,

Assim, apenas me resta observar na minha área em estudo a Mobelha-árctica também conhecida por Mobelha-de-garganta-preta (Gavia arctica). Em relação à mobelha-grande (Gavia immer), não foram necessários muitos dias para observar a primeira de três que acabariam registadas até ao início de janeiro. No dia 15 avistei uma na margem do juncal voltada para a doca de pesca.


 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No dia 26, acompanhado por Thijs Valkenburg, Fábia Azevedo e Flávio Oliveira, observei um juvenil entre o juncal e a restinga que ali se manteve durante várias semanas.


 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E, entretanto, mais mobelhas haveriam de aparecer ...

 

Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de GRUIFORMES

Família Gruidae

Melhor do que com palavras, apresento, antes de mais, um mapa de distribuição da mais recente espécie de ave arrolada para o estuário do Cávado.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esta imagem, extraída do portal da IUCN, corresponde à área de ocorrência do Grou-comum (Grus grus) na Península Ibérica onde, segundo Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL, “… são aves associadas aos grandes espaços com baixa ocupação humana e relativamente abertos do interior sul de Portugal”, portanto, em nada parecidos com os habitats que podem encontrar no litoral norte.

Foi, pois, com toda a perplexidade que recebi a comunicação do Sérgio Esteves referente ao avistamento de um juvenil desta espécie que no dia 13 de dezembro de 2013 sobrevoou o juncal ao largo de Esposende e, sem pausas, seguiu na direção do mar até sair do seu alcance visual. Nas circunstâncias narradas e considerando que aquele é o mês em que se verifica o maior número de chegadas a Portugal destas aves provenientes da Escandinávia ou de outros países do norte da Europa, onde se reproduzem, julguei que a ave tinha simplesmente desenhado uma rota errática, mas que naturalmente continuaria à procura de um dos seus locais tradicionais de invernada no Alentejo. Não obstante, ainda naquela data, contornei todo o estuário e a área agrícola que se estende para nascente até à arriba fóssil, mas nem um vislumbre tive de tão grande ave, admitindo, assim que jamais a pudesse vir a localizar.

Até que, novamente no dia 26 e com os meus já referidos acompanhantes, percebemos que um grou tinha pousado em pleno juncal. Manifestando um comportamento muito prudente nos primeiros dias da sua “estadia”, a ave apenas se deixava fotografar ao longe, mas as imagens revelavam que efetivamente se tratava de um imaturo da espécie observada no dia 13.



 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nos dias seguintes, durante as várias tentativas que fiz no sentido de fotografar a ave com melhor definição, esta afastava-se quase sempre para os tais espaços mais abertos da zona agrícola a montante de Esposende onde parecia encontrar abrigo e eventualmente algum alimento.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fica assim inscrito no meu inventário para o estuário do Cávado o Grou-comum (Grus grus), espécie bem disseminada por vastas regiões da Eurásia, mas extinta enquanto reprodutora no nosso país.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apesar de tão alargada área de distribuição global, a população invernante que nos visita está classificada de «Vulnerável» no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Além do Grou-comum, no século XIX ainda ocorreu em Portugal o Grou-pequeno (Grus virgo sin. Anthropoides virgo), espécie que, com excepção nalguns países de leste, praticamente se extinguiu na Europa.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A fuga ao cativeiro deverá ser a explicação mais acertada para a ocorrência de uma destas aves no estuário do Cávado entre outubro e dezembro de 2004 (na última foto).