terça-feira, 20 de novembro de 2012

OBSERVAÇÃO DE AVES (OUTUBRO 2012) (Anexo)


Confirmação da ocorrência de uma nova espécie de CHARADRIIFORMES


Família Laridae

No decorrer do presente ano já fiz aqui três abordagens à família das Gaivotas (Laridae), designadamente por altura dos meus primeiros registos no estuário do Cávado e nos habitats envolventes da Gaivota-de-bico-riscado (Larus delawarensis), em fevereiro, da Gaivota-pequena (Hydrocoloeus minutus), em abril, e da Gaivota-de-audouin (Larus audouinii), em maio. Assim, deixo aqui as hiperligações para aqueles textos, nos quais faço um enquadramento sobre a presença destas aves e das restantes congéneres já identificadas na região.

No final de setembro último fui alertado pelo Gonçalo Elias, coordenador do projeto Aves de Portugal, para o facto de Braga estar entre os apenas dois distritos costeiros nacionais sem qualquer registo conhecido da ocorrência da rara Gaivota-prateada (Larus argentatus), ave considerada até muito recentemente conspecífica da “omnipresente” Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis) e da qual dificilmente se distingue. Apesar disso, não faltam no litoral de Esposende habitats típicos para a ocorrência desta espécie o que justificava da minha parte algum esforço de procura.

Nestas circunstâncias, e volvidos poucos dias, encontrei uma “suspeita” naquele grupo de gaivotas que habitualmente se concentram no pequeno sapal da margem direita a montante da ponte de Fão, o que me levou a dirigir-me ao Fórum Aves com estas palavras:
 

«Há uns dias o Gonçalo “desafiou-me” para procurar a Gaivota-prateada aqui pelo distrito de Braga onde ainda não temos registos da espécie. Também tenho estado atento aos recentes registos de alguns indivíduos pelo litoral nacional abaixo, o que, definitivamente, me levou a algum esforço de procura destas aves entre os grandes bandos de gaivotas sempre estacionados no estuário do Cávado.

Assim, na manhã de hoje, dia 18 de outubro, encontrei nesta zona húmida um suspeito adulto junto a uma fuscus anilhada:

 
















Mais próximo:

 
















Relativamente à comum michahellis esta nossa ave apresentava:

- Cinzento do dorso notoriamente mais claro;

- Menor projeção das primárias;

- Silhueta mais atarracada;

- Pernas cor de rosa;

 
















- Olho de cor mais pálida sem anel orbital vermelho;

- Pinta do bico menos marcada, sem vestígios de preto e apenas na mandíbula inferior.

 
















Será que finalmente encontrei uma Larus argentatus no litoral de Esposende?»


Durante a longa discussão que entretanto se gerou, no seio da qual até se colocou no campo das hipóteses estarmos perante uma ainda mais rara Gaivota-prateada-americana (Larus smithsonianus), confirmou-se que a ave apresentada era um adulto de Gaivota-prateada (Larus argentatus), mais precisamente da subespécie argenteus.

No dia seguinte, enquanto prosseguia na procura de outras aves desta espécie, relocalizei, ao que tudo indica, o mesmo indivíduo a 3 kms de distância (em linha reta) na praia da Apúlia. Retomei, assim, a minha intervenção no Fórum Aves:


«Enquanto seguia as vossas intervenções, ontem, dia 19, resolvi dar um salto à praia de Apúlia – Esposende (na mesma quadrícula UTM do estuário do Cávado – NF19) muito visitada por gaivotas e limícolas mais associadas ao meio marinho e com alguns afloramentos rochosos (quiçá encontrarei por aqui um dia o Cal. maritima).

Pouco depois das 8 h parei junto de um bando de ‘fuscas e michas’ que não totalizava mais de 70 aves. E, imediatamente, mais uma suspeita:

 
















Meia dúzia de metros ao lado outra que me deixou com muitas dúvidas:

 
















Para o 3º inverno da esquerda ser ‘micha’, já não poderia ter as patas cor de carne, pois não? Ou ainda vai a caminho do 3º inverno e aquilo deverá pintar? …/…»


Nesta segunda abordagem, além de ter ficado confirmada, mais uma vez, a presença da ‘raridade’, ficou claro que as possibilidades de confusão com a abundante Gaivota-de-patas-amarelas nos aconselham a alguma prudência na identificação destas aves quando não há registos fotográficos concludentes, pois, conforme referiu o Pedro Ramalho naquele debate:


«Lá está a armadilha clássica, se tem patas rosas e é adulta, ou quase adulta é argentatus! O problema como já foi falado é que as micha podem ficar com as patas amarelas só no fim do 4º ano…»

 
Submetidos aos Comité Português de Raridades, a estes dois registos foram atribuídos os códigos CPR K138 e K139, respetivamente.

Na desatualizada informação do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, não consta o nome desta espécie, porém a União Internacional para a Conservação da Natureza conferiu-lhe o estatuto de conservação global de Pouco Preocupante. No portal desta autoridade está assim identificada a sua distribuição na Europa:

 















Apesar de estar coincidente com o que apresenta a Birdlife International, esta gravura apenas nos dá uma ideia aproximada da distribuição real da espécie e não separa as áreas de ocorrência de cada uma das duas subespécies, a argentatus, da Escandinávia, e a argenteus, que, segundo Catry P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL – ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL, “… nidifica nas Ilhas Britânicas, em França, nos países banhados pelo mar do Norte e na Islândia e apresenta hábitos sedentários ou dispersivos de curta distância”. Nesta obra também é referido que esta espécie é uma invernante rara ou acidental.



 
















Fica, assim, arrolada a 10ª espécie de gaivota do meu inventário para a minha área em estudo (quadrícula UTM NF19 nos limites do Parque Natural do Litoral Norte).

Além das três espécies que constam nas fotos até aqui apresentadas, durante o último mês de outubro ainda foi registado no estuário do Cávado um número elevado de Guinchos (Chroicocephalus ridibundus), entre os quais se viram, no dia 24, cinco Gaivotas-de-cabeça-preta (Ichthyaetus melanocephalus) que repousavam na margem direita a jusante da ponte de Fão. A Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus) que surge na primeira imagem estava marcada com uma anilha branca e letras a preto com a inscrição R: J5X.