Confirmação da
ocorrência de uma nova espécie de CHARADRIIFORMES
Família Laridae
No
decorrer do presente ano já fiz aqui três abordagens à família das Gaivotas (Laridae), designadamente por altura dos meus primeiros registos no
estuário do Cávado e nos habitats envolventes da Gaivota-de-bico-riscado (Larus delawarensis), em fevereiro, da Gaivota-pequena (Hydrocoloeus minutus), em abril,
e da Gaivota-de-audouin (Larus audouinii),
em maio.
Assim, deixo aqui as hiperligações para aqueles textos, nos quais faço um
enquadramento sobre a presença destas aves e das restantes congéneres já
identificadas na região.
No
final de setembro último fui alertado pelo Gonçalo Elias, coordenador do
projeto Aves de Portugal,
para o facto de Braga estar entre os apenas dois distritos costeiros
nacionais sem qualquer registo conhecido da ocorrência da rara Gaivota-prateada
(Larus argentatus), ave considerada
até muito recentemente conspecífica da “omnipresente” Gaivota-de-patas-amarelas
(Larus michahellis) e da qual
dificilmente se distingue. Apesar disso, não faltam no litoral de Esposende
habitats típicos para a ocorrência desta espécie o que justificava da minha
parte algum esforço de procura.
Nestas
circunstâncias, e volvidos poucos dias, encontrei uma “suspeita” naquele grupo
de gaivotas que habitualmente se concentram no pequeno sapal da margem direita
a montante da ponte de Fão, o que me levou a dirigir-me ao Fórum Aves
com estas palavras:
«Há uns dias o
Gonçalo “desafiou-me” para procurar a Gaivota-prateada
aqui pelo distrito de Braga onde ainda não temos registos da espécie. Também
tenho estado atento aos recentes registos de alguns indivíduos pelo litoral
nacional abaixo, o que, definitivamente, me levou a algum esforço de procura
destas aves entre os grandes bandos de gaivotas sempre estacionados no estuário
do Cávado.
Assim, na manhã de hoje, dia 18 de outubro, encontrei nesta zona
húmida um suspeito adulto junto a uma fuscus anilhada:
Mais próximo:
Relativamente à comum
michahellis esta nossa ave apresentava:
- Cinzento do dorso
notoriamente mais claro;
- Menor projeção das
primárias;
- Silhueta mais
atarracada;
- Pernas cor de rosa;
- Olho de cor mais pálida
sem anel orbital vermelho;
- Pinta do bico menos
marcada, sem vestígios de preto e apenas na mandíbula inferior.
Será que finalmente
encontrei uma Larus argentatus no litoral de Esposende?»
Durante
a longa discussão que entretanto se gerou, no seio da qual até se colocou no
campo das hipóteses estarmos perante uma ainda mais rara
Gaivota-prateada-americana (Larus
smithsonianus), confirmou-se que a ave apresentada era um adulto de Gaivota-prateada
(Larus argentatus), mais
precisamente da subespécie argenteus.
No dia seguinte, enquanto prosseguia na procura de outras
aves desta espécie, relocalizei, ao que tudo indica, o mesmo indivíduo a 3 kms
de distância (em linha reta) na praia da Apúlia. Retomei, assim, a minha
intervenção no Fórum
Aves:
«Enquanto seguia as vossas intervenções, ontem, dia 19, resolvi dar um salto à praia de
Apúlia – Esposende (na mesma quadrícula UTM do estuário do Cávado – NF19) muito
visitada por gaivotas e limícolas mais associadas ao meio marinho e com alguns
afloramentos rochosos (quiçá encontrarei por aqui um dia o Cal. maritima).
Pouco
depois das 8 h parei junto de um bando de ‘fuscas e michas’ que não totalizava
mais de 70 aves. E, imediatamente, mais uma suspeita:
Meia dúzia de metros ao
lado outra que me deixou com muitas dúvidas:
Para o 3º inverno da
esquerda ser ‘micha’, já não poderia ter as patas cor de carne, pois não? Ou
ainda vai a caminho do 3º inverno e aquilo deverá pintar? …/…»
Nesta
segunda abordagem, além de ter ficado confirmada, mais uma vez, a presença da ‘raridade’, ficou claro que as
possibilidades de confusão com a abundante Gaivota-de-patas-amarelas nos
aconselham a alguma prudência na
identificação destas aves quando não há registos fotográficos concludentes,
pois, conforme referiu o Pedro Ramalho naquele debate:
«Lá está a armadilha clássica, se tem patas rosas e é adulta,
ou quase adulta é argentatus! O problema como já foi falado é que as micha
podem ficar com as patas amarelas só no fim do 4º ano…»
Submetidos
aos Comité Português de Raridades, a estes dois registos foram atribuídos os
códigos CPR K138 e K139,
respetivamente.
Na
desatualizada informação do Livro Vermelho
dos Vertebrados de Portugal, não consta o nome desta
espécie, porém a União Internacional para a Conservação da Natureza conferiu-lhe
o estatuto de conservação global de
Pouco Preocupante. No portal desta
autoridade está assim identificada a sua distribuição na Europa:
Apesar
de estar coincidente com o que apresenta a Birdlife International, esta
gravura apenas nos dá uma ideia aproximada da distribuição real da espécie e
não separa as áreas de ocorrência de cada uma das duas subespécies, a argentatus, da Escandinávia, e a argenteus, que, segundo Catry
P., Costa H., Elias G. & Matias R. 2010. em AVES DE PORTUGAL
– ORNITOLOGIA DO TERRITÓRIO CONTINENTAL, “… nidifica
nas Ilhas Britânicas, em França, nos países banhados pelo mar do Norte e na
Islândia e apresenta hábitos sedentários ou dispersivos de curta distância”.
Nesta obra também é referido que esta espécie é uma invernante rara ou acidental.
Fica,
assim, arrolada a 10ª espécie de gaivota
do meu inventário para a minha área em estudo (quadrícula UTM NF19 nos limites do Parque
Natural do Litoral Norte).
Além das três espécies que constam nas fotos até aqui apresentadas,
durante o último mês de outubro ainda foi registado no estuário do Cávado um
número elevado de Guinchos (Chroicocephalus ridibundus), entre os
quais se viram, no dia 24, cinco Gaivotas-de-cabeça-preta (Ichthyaetus melanocephalus) que repousavam na margem direita a
jusante da ponte de Fão. A Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus) que surge na primeira imagem estava marcada com uma
anilha branca e letras a preto com a inscrição R: J5X.